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"Sporting? Provavelmente acharam que não provei o que tinha a provar"

Nem uma lesão complicada impediu Gil Santos de ir atrás dos seus sonhos. O avançado português de 19 anos foi para Espanha à procura da sorte, depois de ter passado pela formação do Sporting. Em entrevista ao Desporto ao Minuto, Gil fala sobre os maus momentos passados mas olha para o futuro com ambição e determinação.

"Sporting? Provavelmente acharam que não provei o que tinha a provar"
Notícias ao Minuto

08:01 - 11/09/17 por Francisco Amaral Santos c/ Carlos Pereira Fernandes

Desporto Gil Santos

Gil Santos é a prova de que a persistência e a determinação constituem dois elementos fundamentais para ultrapassar as lesões. O jovem avançado de 19 anos está agora em Espanha, onde esta temporada vai jogar no Laracha por empréstimo do Deportivo, depois de ter feito formação no Oeiras e Sporting. 

Depois de uma primeira fase de adaptação à realidade espanhola, Gil está agora determinado em convencer os responsáveis do emblema espanhol que vieram a Portugal buscá-lo.

Em entrevista ao Desporto ao Minuto, Gil Santos fala no momento difícil que teve de atravessar, fruto da lesão, e garante estar agora mais maduro a todos os níveis. 

Como a  grande maioria dos jogadores, a ambição está mais do que presente e Gil Santos só querer parar no topo do futebol europeu.

Os meus pais vieram para cá uns três dias e uma das imagens que ficou foi que estava tudo bem e normal, mas quando eles foram embora…

Quais as primeiras impressões da chegada a Espanha e ao Deportivo? 

Eu venho de uma situação um bocado complicada por causa da lesão que tive. Se me perguntassem há um ano atrás, se queria estar onde estou, provavelmente diria que não, mas observando e percebendo o que se passou neste último ano, chego à conclusão que esta oportunidade foi muito boa para mim. Dificilmente dentro de Portugal teria uma oportunidade tão boa. Tenho 19 anos, é a primeira vez que estou a viver sozinho… Nos primeiros tempos foi um bocado difícil porque estava na residência que o clube tem e era complicado porque apenas tínhamos o quarto. Tinha pouco espaço para mim e pouca privacidade. Também tenho carro há um ano e tal e não o ter aqui foi complicado. Estar longe da família, da namorada… foi bastante complicado no primeiro mês. Mas depois, trouxe o carro, aluguei uma casa e tem sido boa esta experiência de independência. Ao início foi muito complicado.

A distância da família também não ajuda...

A minha namorada não pode vir, e a despedida foi tão difícil como a da família. Mas da família lembro-me de uma coisa em particular. Os meus pais vieram para cá uns três dias e uma das imagens que ficou foi que estava tudo bem e normal, mas quando eles foram embora… parece que nos caiu um peso em cima. Parecia que estávamos naquela fase de negação e depois veio aquele choque de realidade. É aquela imagem de ver a família a chorar. Custa sempre. Hoje em dia com a internet, consigo falar com a minha namorada e com a minha família, mas sinto falta da comida da minha mãe. Aqui em Espanha come-se bem, mas a comida é feita à base de fritos e nós jogadores temos de ter algum cuidado. Mas esta é uma experiência que me vai fazer crescer.

Sente que podia ter tido outras oportunidades no Sporting? 

Na minha primeira época de juniores, provavelmente aquela de maior reconhecimento e melhor época que tive, estava com perspetivas de ficar no Sporting por mais alguns anos, mas acontece que no penúltimo jogo da época contra o Rio Ave, tive um incidente que acabou por resultar em oito meses de paragem. Para mim, no meio do azar até tive sorte. Como não chegou a afetar o menisco, e foi apenas no tendão, agora não tenho queixas nenhumas no joelho. O que foi mais difícil foi a parte psicológica, não a parte física. Acho que poderia ter tido um acompanhamento psicológico melhor, e não tive, e a lesão mandou-me abaixo rotinas, disciplina… Isso é que foi complicado e depois voltar após oito meses não foi fácil. Em casa, a lidar com a pressão se ficas ou não ficas, é muito complicado.

Em relação ao Sporting... Provavelmente as pessoas de lá acharam que eu não provei o que tinha a provar, e a tal renovação de contrato que já se pensava no ano anterior, acabou por não acontecer. Ainda pensei em ficar lá a fazer a pré-época à experiência para a equipa B, mas achei muito arriscado. Entretanto nesse primeiro ano de júnior, e antes da lesão, já tinha recebido algumas propostas para sair para fora do país e uma delas era precisamente do Deportivo. Na altura recusei, mas depois da lesão o Depor continuou a acreditar em mim e apresentou um projeto, com condições muito boas, que na minha situação dificilmente conseguiria encontrar noutro lugar, muito menos em Portugal.

Sente que a lesão o deixou mais forte mentalmente? 

Sim, completamente. Também temos de analisar o tipo de lesão. Quando rasgas o músculo, sabes que ficas parado mas que vais recuperar. O problema das lesões como aquela que eu tive, é que só percebemos se ficamos bem no fim. E isso mexe muito com o psicológico de um jogador. Depois, estás muito tempo parado e começas a perder rotinas: não te deitas cedo, deixas de comer bem… Acabas por desleixares-te. Agora que olho para trás, sinto que fui muito profissional no meu tratamento, mas acho que precisava de um maior apoio psicológico. Dentro ou fora do clube. O mais difícil já passou. Saí do clube do meu coração, e agora vim para um clube muito bom, mas fui emprestado. Tive de dar um passo atrás para dar dois à frente, mas é bom recomeçar do zero e penso que a lesão foi boa. Na nossa profissão, temos de trabalhar sempre. Quer estejamos lesionados ou não temos de trabalhar sempre. Nem lesionados temos descanso (risos).

No final da época, espero ter convencido os responsáveis do Deportivo

Que diferenças encontrou em Espanha?

A primeira coisa que reparei foi na intensidade de jogo. Aqui, os espanhóis dão maior importância à parte técnica, mas falta a parte física, pelo menos nos escalões jovens. Em Portugal, sentia que os campeonatos eram muito renhidos, aqui o que sinto é que há muitos jogadores com muita qualidade, mas depois não dão tanta importância à parte física e isso acaba por se revelar na intensidade.

Em relação aos clubes, estava no Sporting, que é um dos clubes de topo de Portugal, mas quando cheguei ao Deportivo fiquei muito satisfeito com as condições que encontrei. Nós no Sporting tínhamos muita coisa, mas a maior parte das vezes não podíamos utilizar tudo, só a equipa A ou a equipa B poderiam usar. Aqui há material suficiente para todos e todos têm acesso às mesmas condições de trabalho. Mas agora mudei-me para o Laracha, por empréstimo, que fica aqui numa localidade próxima, porque o Deportivo B subiu à segunda divisão B e ficou definido que os jogadores nascidos em 98 iriam ser emprestados. É uma oportunidade para nos mostramos. É um campeonato onde me posso destacar para mais tarde ascender dentro do Deportivo.

Quais os objetivos para esta temporada? 

De momento, ainda não fui inscrito, devido a burocracias, mas deve resolver-se nos próximos dias. A equipa já vem do ano passado, tem jogadores novos, e tenho que lutar por um lugar. Mas primeiro, tenho que ganhar confiança, depois da confiança sentir-me satisfeito com aquilo que faço nos treinos. Vou ter oportunidades para jogar, e tenho que mostrar serviço, com golos e assistências. No final da época, espero ter convencido os responsáveis do Deportivo.

A motivação está no auge? 

Ao início estava a ser complicado, mas agora estou muito motivado. Agora estou mais integrado, até ao nível pessoal, e mais adaptado. Até não tinha uma boa impressão dos galegos, mas descobri que são pessoas simpáticas e disponíveis.

Mantém contacto com Bruno Gama e Luisinho, jogadores portugueses que também alinham no Deportivo? 

Pessoalmente, nunca tive contacto com eles. Mas estão aqui dois portugueses comigo - o Pedro Martelo e o Ricardo Benjamin -, eles já treinaram com a equipa A e sei que principalmente o Bruno Gama dá-lhes muito apoio e boleias. Sei perfeitamente que, se eu precisasse, que fariam o mesmo. Não conheço tão bem o Lusinho, mas pelo que ouço falar o Bruno Gama é muito disponível e mantém contacto com eles.

Olha para eles como uma motivação para chegar à equipa principal?

Claro. Lembro-me que o Luisinho quando foi para o Benfica perdeu o lugar para o Melgarejo, por opção do treinador. Entretanto veio para aqui e agarrou o lugar, e agora é muito querido pelos adeptos. Sinto que na Corunha há muito reconhecimento.. Se for jogador do Deportivo, toda a gente te conhece. O Depor, na Corunh,a é o clube da região. Por exemplo, no outro dia fui à segurança social tratar de uns assuntos, e por acaso surgiu em conversa que eu jogava do Deportivo, e começaram logo a tratar-me de outra forma. Há muito carinho por parte dos adeptos.

Como é essa relação com os adeptos? 

Há sempre reconhecimento. Nos jogos, quando estava a aquecer ou mesmo a jogar, ouvia os adeptos a falar 'Olha o português'. Sinto que há sempre reconhecimento por parte de toda a gente.

Sporting? Se for licenciado em Havard, não é mesma coisa que ser licenciado numa faculdade portuguesa

Ter jogado no Sporting pesa no currículo? No bom sentido... 

É muito diferente um jogador sair do Oeiras ou sair do Sporting. Eu podia ter ido mais cedo para o Sporting, mas meu pai não me deixou por causa dos estudos. Claro que no currículo pesa. Se for licenciado em Havard, não é mesma coisa que ser licenciado numa faculdade portuguesa. Fiz muitos golos pelo Sporting, fui campeão nacional e isso conta muito para o nosso percurso. Não é qualquer um que joga no Sporting. O Sporting está entre as melhores academias do mundo.

Ambiciona um regresso? 

Não é bem um desejo, mas se for a melhor opção para mim, claro que gostaria de representar o Sporting, numa equipa B ou A. O Sporting é o meu clube e se houvesse essa oportunidade, claramente que gostaria de voltar.

Quais as metas que espera cumprir? 

A Premier League era uma liga que gostava de disputar e que me daria uma grande visibilidade. Um dos meus sonhos é ser reconhecido pelos esforços que fiz. Saber que mais tarde, quando acabar a carreira, que as coisas que abdiquei pelo desporto valeram a pena. Sentir que representei um grande clube, joguei nas melhores ligas da Europa. Gostava de chegar a profissional de um clube de topo de uma das melhores ligas. Gostava de chegar à Premier League, ou até mesmo ao Championship. Um dos meus sonhos é ser reconhecido.

E um regresso a Portugal, está no horizonte? 

Tenho um contrato de dois anos e poderá ser renovado mediante objetivos. O tempo o dirá. Se calhar no final do ano, as coisas não correrem tão bem ou se correrem muito bem, pode sempre surgir uma proposta de Portugal. É sempre o nosso país. Na altura decidirei.

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