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O muro que cresce em Chicago. Obra de Trump? Não, de João Meira

João Meira está na MLS onde veste a camisola do Chicago Fire. Em entrevista ao Desporto ao Minuto, o defesa de 30 anos revela as diferenças que encontrou nos EUA, faz um balanço da carreira e explica como ficou conhecido como 'The Wall'.

O muro que cresce em Chicago. Obra de Trump? Não, de João Meira
Notícias ao Minuto

08:00 - 30/08/17 por Francisco Amaral Santos c/ Carlos Pereira Fernandes

Desporto Entrevista

A MLS está em crescimento e os jogadores portugueses começam a deixar sua marca em terras do Tio Sam. João Meira é um deles e veste atualmente a camisola do Chicago Fire, equipa que alinha na série Este e que está determinada em chegar ao play-off.

Em entrevista ao Desporto ao Minuto, o defesa central de 30 anos garante que a experiência fora de Portugal o tornou num jogador mais completo, ao mesmo tempo que confessa que as saudades da família fazem com que pondere o seu futuro e um eventual regresso à Europa.

Ainda assim, João Meira elogia a competitividade da MLS e garante que poucas equipas em Portugal conseguiriam derrotar as formações que alinham no campeonato norte-americano.

Mesmo à distância, o jogador natural de Setúbal afirma-se atento à atualidade desportiva portuguesa e não deixa de acompanhar a fase menos positiva do Belenenses. 

Que balanço faz da experiência nos EUA?

No geral, penso que está a correr bem. Sinceramente, já esperava que as coisas corressem bem porque estava preparado para abraçar um projeto no estrangeiro e esta aventura está a ir ao encontro das expectativas que tinha. No primeiro ano, as coisas não correram tão bem como equipa, mas, felizmente, este ano as coisas estão melhores e penso que estamos num bom caminho. Pessoalmente, as coisas o ano passado correram-me bem e este ano melhor ainda. Por isso só posso estar contente.

Sempre tive um bichinho de conhecer um pouco a MLS

Quais foram os argumentos do Chicago Fire que o fizeram rumar ao estrangeiro?

Bem… Eu não renovei com o Beleneneses porque simplesmente queria sair de Portugal e ir para o estrangeiro, não foi por não gostar do clube. Sempre tive um bichinho de conhecer um pouco a MLS porque a imagem que se passava em Portugal é que se tratava de um campeonato em crescimento. Creio que foi uma opção válida que me fez nem pensar duas vezes.

Como correu a adaptação a um país diferente?

Felizmente, correu muito melhor do que aquilo que esperava. Tenho que agradecer isso. Estou numa cidade muito boa, onde não há aquele grande choque da Europa para a América. Há cidades onde se pode sentir esse choque, mas Chicago é uma cidade com muita vida, onde há sempre algo para fazer. Acho que a adaptação foi um pouco mais demorada devido à adaptação ao futebol que se pratica aqui.

Quais as principais diferenças que encontra entre a MLS e a I Liga?

Creio que a grande diferença da MLS para a maioria das Ligas reside no facto de não existir despromoção. Isso dá muito mais competitividade, existe maior investimento e não há tanta pressão no resultado. Aqui há muita qualidade, porque há o play-off. Aqui, praticamente todas as equipas lutam para lá chegar. Uma época que não seja bem conseguida, é não atingir o play-off.

Há sempre alguém à nossa espera no aeroporto ou no hotel para pedir um autógrafo ao Schweinsteiger porque já sabem que ele joga no Chicago Fire

Sente que a chegada de jogadores como Schweinsteiger ajudou a equipa a crescer?

Penso que sim. Antes de ele ter chegado, nós fizemos uma pré-época muito boa e fizemos boas contratações no mercado. Quem veio, veio para acrescentar. No ano passado, existiram muitas dificuldades na adaptação dos novos jogadores ao estilo de jogo que o treinador queria. Agora, com a chegada de jogadores mais maduros, torna-se mais fácil. Não quer dizer que são mais ou menos inteligentes, mas estão mais preparados do que aos colegas do ano passado. Houve essa grande diferença e, claro, o Bastian [Schweinsteiger] veio para ajudar, dentro e fora do relvado.

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A chegada dele causou um grande impacto no próprio clube e na cidade. Os jogadores também sentiram esse impacto?

Sim, claro! O ano passado, também pela classificação que ocupávamos, raramente tínhamos alguém da imprensa a assistir aos nossos treinos. Este ano, praticamente todos os dias, temos pessoas da comunicação social e de várias televisões de Chicago e dos EUA nos treinos. Mas onde se sente mais isso é quando jogamos fora, há sempre alguém à nossa espera no aeroporto ou no hotel para pedirem um autografo ao Bastian [Schweinsteiger] porque já sabem que ele joga no Chicago Fire. Já temos algum apoio, sendo que se tratam de pessoas da Alemanha ou fãs dele que nos vem apoiar a nós . Aqui as coisas funcionam um pouco assim.

Por exemplo, o ano passado recebemos em casa o LA Galaxy e em Chicago vivem muitos mexicanos. Os Galaxy têm o Giovanni dos Santos, que é uma grande estrela mexicana. Estava muita gente, mesmo muita, com a camisola dele para apoiar o Giovanni dos Santos, não era para apoiar mais ninguém. Aqui na MLS as coisas são um pouco diferentes. Aqui as equipas vivem muito pelos jogadores, pelas principais estrelas.

Aqui, privilegia-se quem marca golos

Entretanto também já há quem lhe chame de 'The Wall'. Como surgiu essa alcunha?

Foi uma conversa que tivemos entre nós, os colegas da defesa, e combinamos que iríamos ser o ‘the wall’ e pronto, ficou por aí. Mas houve uma publicação [nas redes sociais] que nós partilhámos e as pessoas começaram a dizer que somos o 'the wall'. Mas em duas ou três semanas, tudo muda e agora neste momento em três jogos sofremos nove golos. Infelizmente não joguei, mas passámos de 'the wall' a não sei o quê… (risos). Esperamos voltar ao passado.

Mas sente que é reconhecido na MLS?

Sim, a imagem melhorou um pouco. O ano passado, apesar de estar bem, a equipa estava em último lugar e há sempre conversas… Aqui é difícil darem grande protagonismo à defesa. Não é como na Europa, aqui privilegiar-se mais quem marca golos. Gostam muito do espetáculo e do golo. Talvez preferem alguém que não seja tão preponderante na equipa mas que faça uma jogada bonita do que alguém que defenda mil e um remates e que passe despercebido no resto do jogo.

Acredita que a MLS pode ser um bom mercado para os jogadores portugueses?

Sinceramente, quando ainda estava em Portugal pensava que as coisas fossem um pouco mais fáceis. O meu conselho, para todos aqueles que venham para a MLS, é que se aconselhem bem, porque isto é um mercado diferente. Não há grandes ajudas do clube na procura de casa e afins. Que venham para cá com um bom contrato. Se vierem com um bom contrato, ainda melhor. Têm que vir com as condições ideais. Caso contrário não vale a pena deixar a Europa. Ao sairmos de Portugal, ou da Europa, para ingressar na MLS temos de ter uma coisa em mente: o nosso nome não vai morrer no circuito, mas vai ser muito difícil voltar à Europa. Eu estou a sentir isso na pele.

Pelo que eu vejo do nível português, diria que eu está muito baixo do que era há dois ou três anos

Mas sente essa dificuldade em voltar à Europa?

Pois… O que eu sei é que estou numa das melhores fases da minha vida, a jogar bem e a ter bons resultados, mas não me surge nada. Diz-se que a MLS tem um ritmo competitivo menor, o que não é verdade e não acredito que haja muitas equipas em Portugal que cheguem aqui e ganhem contra um clube da MLS. Pelo que eu vejo do nível português, diria que eu está muito baixo do que era há dois ou três anos. Há clubes que dizem que vim para MLS perder ritmo, mas continuo a dizer: não vejo esses clubes que falam num certo interesse que sejam superiores à minha atual equipa.

O estilo de jogo é diferente…

Na MLS joga-se muito com o coração. Em Portugal não. Em Portugal joga-se muito para o resultado, porque existe aquele pensamento do ‘se empatar naquele campo, ganhamos em casa e fazemos quatro pontos e já estamos bem’. Na MLS não há tanta pressão com a derrota…Não há dinheiro nenhum que pague o crescimento dos nossos filhosE as saudades da família? Está a ser difícil gerir essa parte emocional?

Está a ficar muito complicado… A minha mulher e os meus filhos não estão cá, o meu filho tem nove meses e já começo a sentir falta do meu filho e da minha filha… Há coisas na vida que não se pagam, não há dinheiro nenhum que o faça e o crescimento dos nossos filhos é uma dessas coisas.

Pondera um regresso a Portugal?

Sinceramente a Portugal não sei, não sei será o meu desejo, mas à Europa sim.

Continua a acompanhar o futebol português?

Sim, claro que sim. Todas as semanas.

Esteve alguns anos no Belenenses. Como avalia a fase que o clube do Restelo está a atravessar?

Não é uma fase fácil. Quando eu saí, creio que as coisas estavam um pouco melhores. Não quer dizer que a equipa não tenha qualidade, até porque, neste mercado, reforçou-se com bons jogadores. Agora, a fase que o clube passa com as crises em relação aos adeptos, a direção e tudo mais, não ajuda em nada e as pessoas têm que perceber isso. Por isso, será muito difícil o Belenenses conseguir bons resultados no futuro.

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Aos 30 anos, o que lhe falta conquistar?

Falta-me ter uma oportunidade num clube que lute para algo mais e que me faça feliz. Ter a oportunidade que nunca tive. Em tudo o que conquistei, nada me foi dado. Foi fruto do meu trabalho, do meu suor, das minhas lágrimas e do meu sangue. Nunca tive a oportunidade de jogar num clube com outra dimensão, e penso que sempre estive preparado e ainda mais hoje que no passado. Se essa oportunidade aparecer, com toda a certeza irei estar à altura da aposta.

Sente-se um jogador mais completo agora?

Muito mais. Sempre me disseram que o central atinge o sbons momentos da sua carreira aos 28 a 31/32 anos, mas nunca acreditei nisso. Mas hoje em dia, estou muito melhor a todos os níveis.

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