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"Sporting? Gelson não é inferior aos grandes jogadores da I Liga"

Bento Valente, ex-coordenador técnico do Sporting e atual diretor técnico da formação do 1.º de Agosto, diz acreditar que o avançado angolano "vai vingar no futebol português".

"Sporting? Gelson não é inferior aos grandes jogadores da I Liga"
Notícias ao Minuto

08:30 - 16/11/16 por Carlos Pereira Fernandes

Desporto Bento Valente

Aos 20 anos, Gelson Dala deixa o 1.º de Agosto para dar início à sua primeira aventura fora de Angola. O jovem avançado, agora pertencente aos quadros do Sporting, parte com a confiança em alta, isto após se sagrar, não só campeão, como melhor marcador do Girabola, com 23 golos em 26 jogos.

Em entrevista ao Desporto ao Minuto, Bento Valente, ex-coordenador técnico dos leões e atual diretor técnico da formação do 1.º de Agosto, explica aquilo que Gelson poderá dar à equipa de Jorge Jesus, mas também os potenciais benefícios da crescente rivalidade nos escalões mais jovens do futebol português.

Vai demorar, mas Gelson vai vingar no futebol português"

Como apresenta Gelson para quem ainda não o conheça?

O Gelson é um jogador bastante evoluído tecnicamente, muito rápido, inteligente… É muito jovem ainda, tem 20 anos. Considero que tem todos os predicados necessários para que, se tiverem paciência e lhe derem tempo, venha a ter sucesso no Sporting. É um jogador com muita qualidade, que irá certamente adaptar-se rapidamente ao futebol português.

Quais são os primeiros aspetos a que terá de dedicar maior atenção em Portugal?

O Gelson tem de se habituar aos novos métodos e ao modelo de jogo do Sporting. Tem de perceber rapidamente que a forma como se joga em Portugal é diferente da forma como se joga em Angola. Tem de fazer um esforço para se adaptar a uma nova realidade, mas tem condições para vir a singrar rapidamente, desde que lhe deem tempo. Não é um jogador que considere que venha a entrar rapidamente na equipa, porque tem de adquirir métodos de trabalho. Vai demorar algum tempo, mas com a qualidade que ele tem, vai vingar no futebol português.

Conhecendo-o como conhece, Gelson terá paciência para esperar pelo seu momento?

Certamente que tem. Falei com ele ainda esta semana, dei-lhe a entender qual será a realidade que vai encontrar no Sporting. É um miúdo muito humilde, com um caráter excelente. Está a sentir isto como sendo a oportunidade da vida dele. Tenho a certeza de que vai fazer tudo para poder ser feliz no Sporting e agradar a toda a gente.

Encontra algum jogador em Portugal com quem o possa comparar?

Não o comparo a ninguém, o Gelson é o Gelson. O que posso dizer é que, a nível técnico, tem muita habilidade natural, é muito rápido e tem tudo para vingar no futebol português rapidamente. Tecnicamente, não é inferior aos grandes jogadores que atuam nos melhores clubes portugueses.A formação do Sporting não está em decadência”

Deixou o Sporting há quase dois anos. Sente que a formação continua a ser um dos pontos fortes do clube?

A formação do Sporting passou por um período complicado, mas já está ultrapassado. Exemplo disso é o Gelson Martins, que está agora a aparecer. Outros estão na calha, como Matheus Pereira, Palhinha, Podence e muitos outros. Penso que, rapidamente, esses jogadores vão vingar no futebol português. O Sporting é um clube muito grande e, obviamente, só um atleta com a dimensão, por exemplo, do Gelson, é que consegue passar logo para a equipa principal. Os outros talvez precisem de mais algum tempo. Mas certamente que, com a qualidade que o Sporting tem na formação, irá ter muito talento no futuro.

Há quem considere que o Benfica tem vindo a ultrapassar o Sporting nas camadas jovens. Partilha dessa opinião?

A formação do Benfica organizou-se muito bem, evoluiu e aproximou-se da realidade do Sporting. Mas isso não significa que a formação do Sporting esteja em decadência, bem pelo contrário. Sinto que, neste momento, as coisas estão é mais divididas. O Sporting talvez estivesse mais organizado a nível do recrutamento e conseguisse captar mais jogadores para os seus planteis. O Benfica percebeu isso, penso que bem, e é de salutar para o futebol português. Fez um grande esforço e reforçou a estrutura do Seixal, onde trabalham pessoas de muita qualidade. As duas formações estão equiparadas e isso é bom para o futebol português. Enquanto que há uns dez ou 15 anos era só o Sporting a trabalhar a sério no futebol de formação, agora já há bastantes clubes e o Benfica é um dos que mais investiu nessa área.

Essa competitividade poderá levar o futebol português a dar um passo em frente, apesar de, recentemente, ter atingido o maior feito da sua história?

Portugal sempre teve qualidade a nível da formação. Existe um leque grande de jogadores que poderão beneficiar a seleção nacional e serão, certamente, o futuro da equipa. A seleção está a fazer um grande trabalho, está a aproveitar o bom trabalho que tem sido feito nos clubes, não só no Sporting, no Benfica e no FC Porto, como no Vitória de Guimarães ou no Sporting de Braga. Os clubes perceberam que o futuro passa pela formação e isso fará com que a seleção tenha, à sua disposição, um leque de jogadores de grande qualidade. O Europeu foi ganho há poucos meses e grande parte dos jogadores eram muito jovens. Seguramente que outros vão seguir o mesmo caminho, porque o trabalho está a ser bem feito. A formação portuguesa, se não é a melhor do mundo, anda lá muito perto. O jogador português apresenta-se cada vez com mais qualidade.

O Bento chegou a trabalhar com o Manchester City. Como é que um futebol financeiramente poderoso como, por exemplo, o inglês, acaba por não conseguir produzir tantos valores como o português?

O segredo está na qualidade dos jogadores. Por muito investimento que se faça, se não tivermos os grandes talentos, não é por isso que se vão conseguir excelentes resultados. O elo mais forte é o jogador e Portugal tem, sempre teve e vai continuar a ter, um leque de jogadores muito talentosos e muito bem trabalhados, e isso dá frutos. Noutros países, como por exemplo Inglaterra, há talento, mas não tanto como em Portugal, em Espanha ou nos países latinos. Tudo passa pela qualidade do próprio atleta. Já nasce com ele. Além disso, Portugal tem grandes técnicos. Os treinadores portugueses são reconhecidos como de topo mundial e têm feito um grande trabalho no aproveitamento desses talentos.

Os jogadores angolanos são diamantes em bruto”

Encontrou qualidade semelhante à portuguesa em Angola?

Aqui há muito talento. O jogador angolano é um jogador de grande habilidade natural. Se calhar, podia ser melhor trabalhado. Quando vim para cá, trouxe treinadores portugueses que considero de grande qualidade com o objetivo de desenvolver esse talento que existe aqui. São diamantes em bruto, mas com muito para trabalhar em termos táticos e de método de treino. Estamos a alterar muitos hábitos nos jogadores. Estou aqui há dois anos e o trabalho começa a dar os seus primeiros jogadores para o futebol profissional do 1.º de Agosto. O que desejo é que surjam outros clubes que comecem a trabalhar como trabalha o 1.º de Agosto e que possa haver maior competitividade nos campeonatos, porque isso vai fazer com que estes jogadores, que são mesmo muito talentosos, consigam desenvolver-se. É essa a minha expetativa e é para isso que trabalho.

A ida para o 1.º de Agosto foi uma aposta pessoal?

Sim. Apresentaram-me aquilo que queriam fazer e senti que era um bom projeto. Estive no Sporting com muito orgulho. Estive lá 16 anos e sinto um carinho muito grande pelo clube. Mas senti que era o momento de partir e de fazer um trabalho, não só para benefício próprio, mas, acima de tudo, para abrir portas para outros treinadores portugueses. Para que as pessoas possam ver que os técnicos portugueses têm muita qualidade. Foi isso que mais me entusiasmou ao vir para Angola. No princípio, não foi fácil mudar hábitos de trabalho, mas teve de se alterar muita coisa e criar métodos. No princípio houve alguma resistência, mas, agora, as pessoas começam a entender os benefícios deste tipo de trabalho e os outros clubes já estão interessados em perceber a forma como o 1.º de Agosto está a trabalhar. Verificam os frutos do trabalho do 1.º de Agosto e começam a imitá-lo. Penso que o futuro de Angola será muito bom. Trabalhando bem, com pessoas de grande qualidade, tudo me leva a crer que estes jogadores possam, daqui a uns anos, ir para a Europa e ter excelentes prestações.

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