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"Doping? Quando há dinheiro envolvido as coisas complicam-se"

Em entrevista ao Desporto ao Minuto, Yazaldes Nascimento, velocista português, analisa o escândalo de doping que afeta a Rússia e que ameaça manchar os Jogos Olímpicos e mostra confiança nas hipóteses dos atletas portugueses no Rio de Janeiro.

"Doping? Quando há dinheiro envolvido as coisas complicam-se"

Afastado por lesão dos Jogos Olímpicos, Yazaldes Nascimento, detentor da terceira melhor marca nacional nos 100 metros, será um atento espectador da competição, ainda que à distância.

Em entrevista ao Desporto ao Minuto, o velocista analisa as possibilidades dos atletas portugueses, com um olhar crítico sobre o escândalo de doping que se abateu sobre a Rússia.

Ver os Jogos Olímpicos de fora será mais ou menos complicado do que se participasse?

Claro que queremos sempre estar na competição. Conheço todos os atletas que vão aos Jogos Olímpicos, muitos treinam comigo. Claro que queria estar a viver o sonho olímpico, todos treinamos com essa ambição. Não vai ser fácil, mas irei ver as provas todas e torcer pelos meus companheiros de seleção.

É possível Portugal trazer medalhas do Rio de Janeiro?

Sim, claro, acredito que é possível.

E quem está em melhor posição para conquistar medalhas?

Podemos trazer várias medalhas, tanto no atletismo, como na canoagem... Também a Telma Monteiro, que tem passado por um último ano bastante complicado, mas tem uma grande força de vontade. Tem todas as condições para ser uma atleta excecional. No BTT também temos um atleta bastante forte, assim como no Taekwondo.

E no atletismo, que vive mais de perto?

O Nelson Évora é sempre um candidato a alguma coisa, apesar do Campeonato da Europa não lhe ter corrido bem. Teve um pequeno toque, mas é um atleta excecional. Já foi campeão olímpico, do mundo, no ano passado ganhou uma medalha de bronze no Campeonato do Mundo. É um competidor feroz, temos sempre de contar com ele. A Ana Cabecinha, que foi quarta no ano passado, na marcha, também pode lutar por uma medalha. Tem força e motivação suficiente para isso.

Tudo o resto depende muito daquilo que irá acontecer nas qualificações, que são sempre complicadas neste tipo de competições. Principalmente nos lançamentos, onde vamos ter o Tsanko Arnaudov, que foi medalha de bronze no Europeu. Se ele conseguir fazer uma boa qualificação e entrar forte é possível. Ele tem 21.06 de recorde pessoal, se o conseguir bater é possível que consiga uma medalha. A Patrícia Mamona foi campeã da Europa e irá ter algumas concorrentes bastante boas, mas, com um bom salto, também é possível.

Era importante ganhar medalhas também para captar mais atenção para todas estas modalidades?

Isso seria bom para todas as outras modalidades. O futebol vive num mundo à parte. Não digo que as outras modalidades sejam esquecidas, mas não têm o mesmo protagonismo. Compreendo, eles movem, entre outras coisas, milhões. Têm direitos televisivos, enquanto que as nossas competições não rendem tanto, tirando as Ligas Diamante e os Jogos Olímpicos. Temos atletas medalhados a participar em campeonatos nacionais, nos quais não se paga entrada, e os estádios estão basicamente vazios. Competimos quase sem público, é uma realidade completamente diferente. Se conseguíssemos ganhar medalhas seria fantástico porque poderia chamar mais público e mais apoios para todas as modalidades. Isso ia refletir-se na preparação para Tóquio.

Apesar da falta de apoios, temos vários atletas medalhados. Como é que isso se explica?

Em primeiro lugar, é o trabalho dos técnicos. Dizemos que não temos apoio, mas nos técnicos isso ainda é pior. Começa muito pelo trabalho que é desenvolvido nas escolas, muitas vezes são os próprios professores que estão ligados a modalidades. Além disso, temos muito talento. Só assim conseguimos explicar o facto de termos tantas medalhas e sermos tão competitivos em Mundiais e Europeus. Não nos podemos comparar com as maiores potências, mas, contra orçamentos maiores do que os nossos e redes de atletas maiores, conseguimos fazer resultados fantásticos.

Os Jogos Olímpicos estão a ficar bastante marcados pelo escândalo de doping na Rússia. Enquanto atleta, alguma vez sentiu que poderia existir um esquema tão complexo?

Nunca sentimos isso. Todos os atletas treinam bastante e acredito que o talento faz sempre a diferença. Mas, às vezes, notamos que há evoluções que não são normais. Mas não se pode logo dizer que o atleta está dopado. Cada vez há mais controlos, há mais incentivos para os atletas não entrarem por esse caminho.

Mesmo assim o combate ao doping ainda tem um longo caminho pela frente?

A luta contra o doping é sempre complicada. Às vezes dizemos que, se enchêssemos um estádio com atletas não dopados e outro com atletas dopados e fizessem marcas excecionais, era o segundo que iria estar cheio, porque as pessoas querem ver espetáculo. Existe muito dinheiro envolvido a esse nível. Não digo que os melhores do mundo se dopem. Por exemplo, não acredito que o Bolt se dope. Tem características físicas fora do normal. Alguns acabam por cair nessa malha porque há muito dinheiro envolvido. Tem a ver com patrocínios, com entradas em Ligas Diamante, que têm prémios bastante grandes… Aí, a diferença entre ser primeiro ou terceiro é de milhares de euros e há atletas que não lidam bem com isso.

Deviam ser tomadas medidas mais radicais para que isso não se repetisse?

É sempre complicado. Podia-se criar uma política onde o doping é completamente proibido e qualquer atleta que tenha um controlo positivo é irradiado do desporto. Mas, olhando para o caso da Rússia, há muita gente a lucrar com isso, desde farmacêuticas a federações. Não sei se o exemplo que estão a tentar dar é o melhor, porque há sempre uns pobres coitados que não fizeram nada e que serão prejudicados. Querem mostrar às federações que não podem entrar neste ciclo de criação de protocolos de doping. Acho que estão a querer mandar uma mensagem para as federações, porque acredito que haja muita gente envolvida nisto.

Este tipo de situações mancha a reputação das modalidades?

Tem de se repensar a política que se quer ter para o desporto e não deixar que se passe a imagem que passou, por exemplo, com o ciclismo. Chega a uma altura em que se passa a imagem de que estão todos dopados e isso deve ser a principal preocupação do Comité Olímpico Internacional.

E como vê o combate ao doping em Portugal?

Em Portugal temos tido um trabalho bastante bom nessa área. Todos os atletas são controlados. Mesmo em termos mundiais existe isso, mas há sempre maneiras de fugir. Quando há muito dinheiro envolvido, as coisas tornam-se bastante complicadas.

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