O jornal britânico Daily Mail traz, esta sexta-feira, a público trechos da recém-lançada autobiografia de Carlo Ancelotti, intitulada "The Dream - Winning the Champions League", nos quais o agora selecionador do Brasil 'passa a limpo' alguns dos momentos mais marcantes da carreira, desde logo, a passagem pelo banco do Chelsea, entre 2009 e 2011.
O treinador italiano assume que, na primeira reunião que manteve com o então proprietário dos blues, Roman Abramovich, lhe foi deixado "claro" que o objetivo passava pela conquista da Liga dos Campeões: "Agora, trabalhava para um oligarca russo, de quem me apercebi, de súbito, que esperava que tudo corresse bem, sempre. E, se não corresse, ele queria saber o porquê. O meu trabalho era dar-lhe as respostas".
O 'veterano' deu como exemplo desta pressão total a 'ressaca' de uma (inesperada) derrota sofrida perante o Wigan, por 3-1: "Foi aqui que surgiu a primeira sombra sobre o meu período no clube surgiu. Abramovich estava no centro de treinos, na manhã seguinte, a exigir respostas. O que é que tinha corrido mal? Eu nunca tinha passado por este nível de vigilância, com [Silvio] Berlusconi".
"Ele era um proprietário exigente, e, por vezes, comprava jogador dos quais eu não precisava, e esperava que eu os encaixasse na equipa, ou discutia sobre as táticas, mas, durante um largo período, foi primeiro-ministro de Itália, por isso, não havia microgestão. Tinha coisas mais importantes nas quais pensar", acrescentou.
"Era suposto eu ser o antídoto para Mourinho"
A relação entre Carlo Ancelotti e Roman Abramovich acabaria, de resto, por piorar significativamente, a partir de março de 2010, quando o Chelsea foi eliminado, dos oitavos de final da Liga dos Campeões, pelo Internazionale, formação, então, comandada... pelo treinador português José Mourinho, o seu antecessor e agora treinador do Benfica, que acabaria mesmo por sagrar-se campeão europeu.
"No dia seguinte, Abramovich falou, não apenas para mim, mas também para todo o plantel. O meu problema foi que o triunfo de Mourinho não foi ótimo para a minha relação com Abramovich. Era suposto eu ser o antídoto de Mourinho, calmo, ponderado e capaz de reanimar o plantel, após o drama", atirou.
"De acordo com Abramovich, era suposto Mourinho ser uma força de gastar dinheiro. Ao permitir-lhe perturbar o guião, eu tinha envergonhado o proprietário. O sucesso ou o fracasso na Europa seria a maneira como eu seria avaliado por Abramovich, e a Liga dos Campeões custou-me o emprego", concluiu.
E depois do Chelsea?
Carlo Ancelotti acabaria por ser demitido do comando técnico do Chelsea a 22 de maio de 2011, apesar da conquista de uma Premier League, uma Taça de Inglaterra e uma Supertaça. Seguiram-se 'aventuras' por Bayern Munique, Napoli, Everton e Real Madrid, onde acabaria por passar os melhores momentos da carreira de treinador.
Ao leme dos merengues, o italiano conquistou três Ligas dos Campeões (em 2013/14, 2021/22 e 2023/24), assim como três Supertaças Europeias (em 2014, 2022 e 2024), e outros tantos Campeonatos do Mundo de Clubes (em 2013, 2021 e 2024), no plano internacional. Ao nível nacional, ergueu duas La Ligas, duas Taças do Rei e duas Supertaças de Espanha.
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