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Saída de Lage, salário de Mourinho e (ainda) Félix: O que disse Rui Costa

Rui Costa fala pela primeira vez em entrevista à TVI/CNN após o começo da sua candidatura à presidência do Benfica, cargo onde se encontra atualmente e onde quer continuar por mais um mandato.

Saída de Lage, salário de Mourinho e (ainda) Félix: O que disse Rui Costa

© Global Imagens

Davide Rodrigues Araújo
25/09/2025 21:17 ‧ há 1 semana por Davide Rodrigues Araújo

Desporto

Benfica

Rui Costa fala em direto, esta quinta-feira, pela primeira vez à comunicação social, em entrevista à TVI/CNN, após ter iniciado a sua campanha de recandidatura ao cargo de presidente do Benfica, que irá ser votado pelos sócios no próximo dia 25 de outubro.

 

"Não é perder ou ganhar as eleições que me preocupa. Estou aqui para ganhar as eleições. Acima de tudo porque acredito no meu projeto, nunca disse que não ao Benfica, não é agora que o vou fazer, tal como não o disse há quatro anos, numa altura mais difícil da história do clube", começou por dizer o presidente do Benfica.

"Sobre os resultados, é evidente que estas duas semanas contrariam tudo o que fizemos desde o início da época, numa época que tem sido atípica devido ao que aconteceu neste defeso, vindos de um Mundial de Clubes, que foi importante para o Benfica, mas retira-nos a possibilidade de dar férias aos jogadores e de dar uma pré-época ao plantel, e sabíamos que íamos ter dificuldades, nomeadamente físicas. Os dois objetivos de início de época, que eram a conquista da Supertaça e a entrada na Liga dos Campeões, foram alcançados e, quando menos fazia esperar, tivemos três resultados atípicos, onde a responsabilidade é sempre minha", continuou.

Sobre o investimento avultado feito no defeso de transferências deste verão, o candidato às presidenciais encarnadas não hesitou em dizer que o desgaste foi notório no início da época.

"José Mourinho entrou há uma semana, ainda não teve tempo para trabalhar a equipa. O problema não era Bruno Lage, é físico e emocional. É muito evidente o desgaste. Começámos a época com 10 dias de férias! Alguma coisa tinha de ser mudada, por isso despedi Bruno Lage. Falar dele, para mim, é difícil. Sei o que ele procurou dar ao Benfica. Compreendemos ambos que era a melhor solução. Não houve nenhum plano para o afastar, ele sabe que isso era impensável", explicou.

"Bruno Lage abdicou do contrato que tinha até final da época, recebendo apenas até ao dia em que esteve à frente da equipa de futebol. Mostrou a grande qualidade humana que tem. A minha relação com ele é excelente, de dois amigos que tiveram de separar as águas numa relação profissional", declarou Rui Costa, antes de revelar as razões que levaram ao despedimento de Lage.

"Teve a ver com o jogo. Acabamos a relação no Qarabag [2-3], nunca o fiz [contactos anteriores com Mourinho]. A questão do Mário Branco de que já tinha feito a cama a Lage não faz o mínimo sentido. São coisas que não fazem parte do que se passou. Nunca assisti a nada e falo com os dois diariamente, em nenhuma circunstância vi uma má relação entre o meu treinador e o meu diretor-geral. Há razões para o jogo [com o Santa Clara] ter sido na sexta-feira, tão simples como alterar a primeira jornada. Foram tomadas todas as providências para regressarem. Não houve esse desaguizado, não se passou", confirmou.

Rui Costa ainda afirmou que não foram os jogadores a 'fazer a cama' ao treinador Bruno Lage e que, a questão de o jogo frente ao Santa Clara ter sido sexta-feira e não sábado, não teve peso na decisão.

"Contrato de José Mourinho? Nem estou autorizado por ele a dizer quanto ganha. Quanto ganha o treinador do FC Porto ou Sporting? Perguntaram-lhes isso? Um treinador desta envergadura paga-se! Estava disponível no mercado, mas não deixa de ser um dos maiores treinadores do mundo e mais titulados. Não me parece correto vir para a televisão dizer quanto o meu treinador ganha. É um contrato valioso, mas não está acima do que foi Roger Schmidt, por exemplo", esclareceu o presidente encarnado.

"José Mourinho teve a perceção exata do momento do Benfica, tanto que aceitou uma cláusula que é rara. É menos de metade do salário que ele tem anualmente o valor dessa cláusula. Foi uma medida fantástica na altura que o Benfica vive. Mourinho respeitou o momento que o Benfica vive", referiu antes de falar das palavras de Luís Filipe Vieira contra ele.

"Não vou responder diretamente por uma razão muito simples. Tenho a responsabilidade de dignificar o Benfica. A única coisa que tenho para dizer é que é uma pena. Não venho lavar roupa suja, nem para fazer duelos individuais. Com todo o respeito que tenho de ter por todos os benfiquistas, venho para justificar o meu mandato. Haverá um debate com todos os candidatos e lá estarei. Nunca mais falei com Luís Filipe Vieira, começaram os ataques pessoais e nunca me verão responder...", atirou.

"Se o traí? De todo! Entrei como presidente do pé para a mão e o que importava era que se apresentasse um novo presidente e foi o que fiz. Eu disse que estava impreparado para ser presidente e deturparam as minhas palavras. Quem é o ser humano que está preparado para ser o presidente da maior instituição desportiva do país? No dia em que sou confrontado com essa situação... Tive de alterar toda a minha vida pessoal, da família, é difícil", confessou Rui Costa.

Quando questionado sobre se José Mourinho era ou não um trunfo eleitoral, o líder benfiquista foi direto e perentório na resposta.

"O meu trunfo não é Mourinho, o Rui Costa não vai levar Mourinho para casa se sair do Benfica. Tudo serve para julgar em período eleitoral! No ano passado, ficou o dissabor de não termos ganho mais, mas estivemos até ao último dia para ganhar tudo. Nunca deixámos de ser competitivos. No meu mandato fizemos o melhor ciclo europeu a nível de pontuação. Temos de melhorar, sei o que é preciso melhorar e reforçar o que foi bem feito. O Benfica está hoje muito mais pronto para o futuro do que quando eu entrei. Quando entrei no Benfica, tinha 64 jogadores na folha salarial do clube, temos 26. No plantel que herdei, tínhamos 13 jogadores acima dos 30 anos!", ripostou e de seguida abordou a sua relação com Pedro Proença, atual presidente da FPF.

"Tive a oportunidade de explicar aos benfiquistas. Todos os clubes da Liga e Liga 2 deram-lhe este apoio. Percebo os adeptos do Benfica, mas, ao apoiar este projeto, considerei que era o melhor projeto para o futebol português. Considero que o futebol português está em grande mudança e o Benfica jamais pode estar ausente dessas decisões. Não convidei ninguém para o camarote, é o presidente da FPF, tem lugar nos camarotes das equipas que estão nas provas europeias", disse Rui Costa.

O presidente das águias abordou os temas dos mercados dos últimos anos, com os principais focos a serem a transferência falhada de João Félix para o Estádio da Luz e a perda de João Neves para o PSG.

"Houve uma grande expetativa, procurámos que fosse uma certeza . É impossível combater com clubes árabes. O João Félix estava determinado a vir para o Benfica durante as negociações com o Chelsea até chegar a proposta da Arábia. Por mais vontade que tenha de trazer João Félix ou os próximos Félix, não posso combater com os clubes árabes", esclareceu sobre a grande 'novela' deste verão.

"O Benfica necessita todos os anos de fazer vendas, quem disser o contrário está a mentir. Os clubes portugueses não sobrevivem sem vender ativos. Há momentos em que temos mais necessidade do que outros e, nesse, o Benfica estava necessitado, mas fez de tudo para ficar com João Neves, mas apareceram valores incomportáveis. João Neves foi vendido barato, para os adeptos não tem preço, mas no mercado não é assim. Há dois anos, a transferência mais alta que houve foi o Álvarez do Man. City para o Atlético por 70 milhões. Quando se diz que o João não queria sair do Benfica, não queria o Rui Costa em 1994, não queria o Abel Xavier... Mas há coisas que não conseguimos acompanhar. Temos de respeitar a situação de cada jogador e era inevitável. Custou-me muito perdê-lo", consentiu Rui Costa antes de revelar que o teto salarial do clube da Luz está "entre os quatro e os 4,5 milhões de euros" brutos.

"Bruno Lage não colocou o lugar à disposição depois do Mundial de Clubes, nem se falou nisso. O que contabilizámos foi os dias para a Supertaça. Não me lembro de ter essas pessoas nas reuniões. Ouço tanta coisa...", anunciou antes de falar da discórdia entre o antigo treinador e Kokçu na competição.

"O jogador é um bom miúdo, mas dentro do campo tranforma-se. Já tinha tido um episódio com Schmidt e na seleção, resolvemos a situação internamente, não compactuo com indisciplina, mas aceito as desculpas do jogador. Chegámos a Lisboa e o problema foi resolvido doutra maneira. Estamos a falar de um problema de um jogador, não de problemas disciplinares", rematou.

"Não tenho problemas absolutamente nenhuns. A minha reunião com Bruno Lage acontece depois do jogo, conversa muito suave, mas naquele momento havia um treinador e um presidente. O Bruno inevitavelmente como qualquer pessoa tinha a preocupação do momento eleitoral e como seria o seu futuro. Houve uma conversa entre mim e ele antes de começar a época, havia a preocupação dele sobre as eleições. Nunca me pediu nada. Abdicou de receber pela seriedade dele", admitiu Rui Costa.

"Parte-se de um princípio: tem que ser bom. Dependendo do treinador e da equipa escolhemos o perfil. Um dos perfis que tentámos diferenciar no verão foi ter um meio-campo mais compacto em termos fisicos, com o Ríos e o Barrenechea pese embora acredite que estão a ganhar o seu espaço e perceber como funciona o futebol português. Um internacional colombiano e um que vai ser chamado à Argentina, são jogadores de enorme qualidade. O perfil de um jogador de uma equipa grande é ser um ótimo jogador", disse sobre o mercado de verão.

Após este tema ficar fechado, Rui Costa foi questionado acerca das mudanças na estrutura benfiquista nos últimos tempos, alegando-se que foram despedidos mais vice-presidentes do que campeonatos conquistados.

"As demissões que houve não foram pelas mesmas razões. Saíram dois vice-presidentes e o presidente da Mesa da AG. As pessoas entram e saem. Noronha Lopes esteve no Benfica 48 dias! Eu entrei da manhã para a noite e assumi tudo e, ao longo destes quatro anos, houve inúmeras alterações. O meu chefe de gabinete (Nuno Costa) é conhecido por toda a gente, é escalpelizado. Faz um trabalho excelente como chefe de gabinete e não mais do que isso. Faz as suas funções como qualquer outro funcionário. Esta semana até ouvi que foi ele que despediu o Bruno Lage", revelou.

Sobre a Liga dos Campeões e se umas meias-finais eram um objetivo com a chegada de José Mourinho, Rui Costa falou sobre Schmidt e ainda sobre o panorama atual do desporto europeu.

"É um dos sonhos que sempre tive como presidente. Estivemos muito perto, com muita expetativa pelo menos, no primeiro ano de Roger Schmidt [em 2022/23], tivemos muita esperança, até pelo caminho que estávamoas a percorrer. Quando se tem um treinador como José Mourinho.... Mas sem tirar mérito as suas conquistas, estamos a falar de um outro calendário competitivo. Nessa mesma altura fui campeão europeu e não estavam os tubarões todos. Não havia Manchester City nem PSG, o Bayern estava em queda. São tempos diferentes, sem tirar mérito. José Mourinho mostrou que era possível e essa é a nossa ambição que nos traz. Um treinador desta envergadura paga-se", assumiu.

O presidente e candidato a um novo mandato no Benfica acabou a entrevista com um dos temas que mais tem sido discutido nos últimos tempos: os direitos televisivos.

"É dos temas que mais nos preocupam. Enquanto Benfica, consideramos que uma melhoria para toda a gente trazia uma melhor competitividade para o futebol português e o maior beneficiado disso seria para o Benfica, mas o que assusta é que as promessas iniciais de que todos os clubes iriam lucrar estão longe de ser verdade", garantiu.

"Terminamos o contrato atual em 2026 e já temos propostas um pouco acima do que temos hoje, mas também ainda não as aceitámos. Consideramos que podemos chegar mais longe e o Benfica não vai abdicar de nada. Sozinhos conseguimos mais do que no conjunto e vamos defender esta causa até ao fim. Neste momento, não há nenhuma janela que nos mostre que o futebol português vai beneficiar e está até a andar para trás em toda a Europa", terminou.

[Notícia atualizada às 22h19]

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