Procurar

"Mal seja possível vou buscar João Neves. É a reencarnação de Eusébio"

Em entrevista exclusiva concedida ao Desporto ao Minuto, Cristóvão Carvalho dá o seu parecer sobre a polémica candidatura de Luís Filipe Vieira e ainda dá a conhecer o regresso para o qual abrirá a exceção no Benfica.

"Mal seja possível vou buscar João Neves. É a reencarnação de Eusébio"

© Reprodução/CRISTÓVÃO CARVALHO

Cristóvão Carvalho é um dos seis candidatos assumidos às eleições do Benfica, que vão acontecer no próximo dia 25 de outubro. Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o advogado de 52 anos explicou o problema da formação e revela que de que forma tenciona gerir o clube da Luz.

 

Do nome sonante para substituir Bruno Lage ao regresso emocional que será a exceção à regra no Benfica, Cristóvão Carvalho aborda aina as recentes acusações de Luís Filipe Vieira que visam Pedro Proença, agora presidente da Federação Portuguesa de Futebol.

É feito o apelo aos sócios para o voto, mesmo se não houver voto eletrónico, do qual deixou clara a sua posição sobre o tema.

Disse que o Benfica tem de ter um treinador à altura para levar a equipa a conquistar uma Liga dos Campeões. Qual é a avaliação que faz do trabalho de Bruno Lage?

Quem ganhar as eleições no dia 25 - espero que seja eu -, se houver uma segunda volta será 15 dias depois, chegará ao Benfica e encontrará uma realidade em andamento. Com jogadores contratados, treinador contratado com uma planificação feita e com a época a decorrer. Nessa matéria eu tenho de ser responsável como é óbvio.

E essa responsabilidade implica-me que eu tenha de dar todo o apoio a quem está neste momento, para ter resultados. E nessa perspectiva é o que eu irei fazer, inquestionavelmente, porque eu tenho imenso respeito pelo Bruno Lage. Sempre me tratou muito bem e é um treinador competente, mas não é o treinador que eu acho que é necessário para o meu projeto. Para mim, o treinador é a peça principal para criar um projeto europeu. E Bruno Lage não tem essa característica. Terá outras. O meu objectivo para Bruno Lage é ganhar o campeonato e ganhar a Taça de Portugal.

O Benfica tem de ser campeão este ano. O Benfica tem de interromper imediatamente o ciclo do Sporting e tem de ser campeão este ano. O Benfica para o ano tem de estar na Champions. Tem de ser campeão. Se o Bruno Lage estiver a cumprir esse objectivo muito bem. Se não estiver a cumprir vai mudar. Mesmo que ele seja campeão nacional e ganhe a Taça de Portugal, não renovo com Bruno Lage. Porque nessa altura eu já terei aquele treinador que ambiciono e vou começar a trabalhar com ele o mais rápido possível para construir uma equipa para ganharmos a Liga dos Campeões. Isso é um facto e não será o Bruno Lage. Eu sou claríssimo sobre essa matéria.

Se as coisas não continuarem como estão, irá mudar a meio caminho. Por mim continuará, porque preciso de tempo para preparar essa equipa e esse treinador tem de ser um galvanizador. Tem de ser um treinador com muita experiência, muito carisma, muito carácter e muita competência.

Já tem algum nome alinhado?

À data de hoje, não sei como será daqui a três ou quatro meses, porque os treinadores entram e saem, eu só vejo uma pessoa e se eu ganhar as eleições, que acho que vou ganhar, uma das primeiras coisas que irei fazer é imediatamente abrir a porta, que está entreaberta. A minha equipa já bateu à porta, já disse o que queria e a porta ficou entreaberta. Parou-se por ali, porque não é o momento.

Aquilo que eu farei é, imediatamente na semana a seguir, sentar-me com Jurgen Klopp e convencê-lo que eu tenho um projeto para que ele venha treinar o Benfica e ganhar uma Champions. Eu acredito que o vou convencer.

Já estabeleceu um primeiro contacto?

Já. A porta está entreaberta. Jurgen Klopp foi o único treinador que eu vejo e que já disse uma coisa que me encheu o coração, que ele disse-me: "Eu gostava de treinar o Benfica". Ele disse isto. Não foi agora. Num projeto de continuidade, num projeto de segurança, com as pessoas certas e com a equipa certa, ele é o treinador certo para o meu projeto.

Até porque tem características muito próprias de alguém que gosta de criar e montar projetos. Ele seria essa pessoa inspiradora. Eu estou convencido que em cinco ou seis anos ele nos levava a ganhar a 'orelhuda'. E esse é o meu objetivo e eu aponto sempre para o alto. Se não puder ser o Jurgen Klopp, será um treinador a esse nível. Isso não tenho dúvidas nenhumas. A peça fundamental para se ganhar uma Champions é um treinador que seja motivador. Não só da equipa como dos adeptos. Porque o Benfica é muito grande e a pressão é muito grande.

Tem de ser um treinador que tenha este nível de reconhecimento para poder alavancar um projeto desta dimensão e para eu também poder motivar a minha equipa. E eu prometo que, quando as coisas não correrem tão bem, eu não o vou abandonar. Nós temos um projeto de continuidade.

Eu sou um tipo muito pragmático. E a isto nós vamos fazer um projeto para continuar até ao fim. Só se ganha com continuidade, certeza e segurança. Não é ao sabor do vento. No final, a cada quatro anos, os sócios têm a possibilidade de acreditar no meu projeto e não acreditar. Por isso é que o associativismo é bom. Eu acredito que eu vou vencer.

Tem um plano B pensado caso Klopp não seja possível?

Eu sou um homem absolutamente determinado. Se eu começasse a pensar num plano B já estava a fragilizar o meu plano A. Nunca fiz isso. Porque o plano B, na minha cabeça, existe só para razões estatísticas. Eu luto até ao fim sobre o plano A. E quando eu estou convicto raramente falho.

Se falhar, tenho tempo de rapidamente arranjar um plano B. Mas não penso nisso. Nem tenho plano B. O meu programa é este. Pode-me acontecer que o treinador não esteja disponível nessa altura, por exemplo.

Este é o que está disponível e é aquele que eu e a minha equipa identificámos entre o perfil de sete ou oito treinadores, como sendo o ideal para o projeto que nós temos. Que é construir de baixo. E com os recursos controlados que nós temos. Com a capacidade de investimento que o Benfica tem. É a pessoa certa para isso. Eu acho que o vou convencer e a porta já ficou aqui entreaberta. Quando ele vir as pessoas, a segurança, a questão financeira, o desafio que lhe vamos lançar, a equipa de scouting que vamos construir altamente profissional, que o Benfica não tem que deixou de ter. Quando ele vir a nossa formação. Quando ele vir que só temos campeões na nossa formação. Tivemos MVP's.

Esses jogadores não chegaram à equipa principal porquê? Têm de entrar imediatamente. E quando ele vir isto e quando ele sentir e estiver cá connosco, tenho a certeza que ele vai ficar encantado. E vai nos levar a ganhar uma Liga dos Campeões. Tenho a certeza.

Como é que olha para a formação? Há de facto uma queda na aposta ou é circunstancial?

Todos esses setores do desporto do Benfica vêm numa sequência que é de uma falta de liderança dentro do clube. E quando isso acontece, as estruturas, por muito fortes que elas sejam, com o passar dos anos vão-se desgastando. Por muito competente que nós sejamos numa determinada função, se não tivermos um líder que nos apoie em determinados momentos de dificuldade, nós vamo-nos desmotivando.

E isso tem acontecido em toda a estrutura do Benfica. Por isso é que tem havido esta sangria de saída de pessoas para o futebol europeu e para a Arábia Saudita. Porque são bons profissionais e saem porque o Benfica não tem uma liderança.

Tínhamos um scouting fantástico e foi completamente depauperado. Ninguém liga aos relatórios de scouting. Na academia aconteceu exatamente a mesma coisa. Nós tivemos a melhor academia do mundo. E perdemo-la. Não somos os melhores e podíamos ser.

O trabalho na academia até é razoavelmente bem feito porque nos escalões de formação o Benfica foi campeão. Nós temos aqui jogadores fantásticos. E porquê que se faz uma crítica ao Bruno Lage que não leva os jogadores jovens? Não lhes dão espaço para poderem crescer e perdoarem ainda alguns erros dentro da equipa. Porque a equipa está com muitas contratações novas. Neste momento, não sei quem é que vai subir à equipa principal. Se calhar ninguém. Isso é inadmissível.

Estamos a vender os jogadores a outras equipas e deviam passar pela equipa principal do Benfica. Esse é o problema de base. O Benfica não tem ali seis a oito jogadores estáveis, ao nível do Otamendi. Jogadores que já se saiba que são titulares e que nem há conversa. Podia-se imprimir aquilo e, se não houvesse lesões, funcionava para a época toda. E isto é que permite os jovens de entrar.

Provavelmente o treinador não tem espaço para isso porque está pressionado por outros interesses, nomeadamente pôr os jogadores a jogar, porque é preciso vendê-los no final da época. E um jovem não se vende ao final do primeiro ano. Nem todos são João Neves, nem todos são João Félix, nem todos são António Silva. Alguns precisam de mais tempo. Percebe-se que são jogadores que têm qualidade, mas não precisam de tempo, de confiança até de compreensão física, que hoje o futebol é um futebol mais de contacto. Os nossos jovens não vêm ainda com essa possibilidade.

Por isso é que eu disse que têm de estar lá dois ou três anos, que é para atingirem o ponto máximo e se decidir se é um jogador que fica no plantel, ou é um jogador que podemos vender e realizar mais valias para poder acertar as nossas contas.

A nossa academia, por este caminho, fazemos jogadores até a última camada jovem antes de chegar ao plantel principal e vendemos os jogadores e não entra nenhum. Ou então entra um ou dois só para não dizer mal. Está tudo errado. Isto tem de ser mudado.

Falando ainda de formação, faz parte do seu projeto a 'política de regressos' de jogadores formados no Benfica? Que jogador faria regressar ao Benfica?

Por regra, jogador que saiu do Benfica não volta ao Benfica. Por regra. Esta tem de ser a regra. E nós temos de seguir regras. Pode haver quem concorda e quem não concorda. Quem saiu do Benfica, já saiu num determinado momento, com um determinado valor e com uma determinada perspectiva. Continua a ser alguém que será sempre muito acarinhado por nós. Sempre. João Félix, Bernardo Silva, João Neves... muito acarinhados, mas saíram do Benfica. Tiveram esse caminho. Voltarem ao Benfica, é voltarem na emoção. Eu não faço contratações por emoção. Eu não brinco com a emoção dos sócios.

Se houver uma situação excepcional onde esse jogador seja elencado pelo critério de scouting do Benfica por toda a estrutura profissional do Benfica que ele é o melhor para aquele momento vir para o Benfica, pode ser contratado. Caso contrário não. Com uma exceção.

Tenho um jogador que, se eu for presidente do Benfica, assim que eu possa vai voltar ao clube. Porque foi o maior erro cometido pelo Benfica nos últimos 30 anos. [Bernardo Silva?] Não. João Neves foi o pior erro cometido nos últimos 30 anos no Benfica.

Pelo valor vendido ou pelo timing?

Não vai nascer nos próximos 30 anos um jogador como o João Neves no Sport Lisboa e Benfica. E não é pelas questões técnicas. É por tudo que simboliza a volta. Ali está a mística do Benfica. Ele seria aquele que iria aglutinar e seria o sonho dos outros todos que estão a fazer o caminho na academia para verem o João, que sente e respira o Benfica. Não vai nascer um jogador daqueles. Um jogador ao nível de um Toni, de Humberto Coelho, de Coluna, de Eusébio... Assim que eu puder, vai voltar ao Sport Lisboa e Benfica e vai ficar na história do Benfica. E tudo farei para que ele nunca mais saia deste clube. Será um jogador inspirador, que permitirá aos colegas dizerem que, se o João ali chegou, eu também vou chegar.

Porque isto é fundamental acontecer. E foi o pior erro. Ele foi vendido por uma situação de absoluta necessidade e urgência financeira do Benfica. Isto não podia ter acontecido. Foi um erro. É talvez o único erro que eu não desculparei a Rui Costa.

Será o seu capitão de equipa quando regressar?

Será... Será... Eu estou aqui a pensar no que é que eu vou dizer. É tão forte o sentimento, mas não quero parecer aqui muito fora da realidade. Mas será... A reencarnação do Eusébio no Benfica.

Eu não vou permitir que este erro continue muito por mais tempo. Custa-me muito ver o João Neves jogar em França e fazer o que ele está a fazer. E eu sinto que o Benfica precisa dele.

Já algo falado como com Klopp?

 Não. É algo que está na minha cabeça e na minha equipa, só isso. E de todos os benfiquistas que conhecem o João Neves e que conhecem o Benfica, eu acho que todos têm esta opinião que eu tenho.

Eu posso ter sido um bocadinho mais assintoso no que estou aqui a dizer, mas eu penso que isto é... Não tem a ver com as coreografias técnicas do jogador, que são boas. Tem a ver com a mística. Isso é muito importante. Aquele jogador é fundamental. A garra, a energia, a dedicação, a entrega.

Há jogadores que nem é questão técnica, é tudo isso. Até temos outro no plantel, que nem é português, mas todos gostamos muito por isso. Pela garra, pela entrega, pela dedicação. E o João representava isso e foi nascido na nossa casa. É o nosso produto. Ele será o inspirador dos jovens. Porque eu tenho de convencer os jovens, quando chegam ali a entrar no clube, não querem ir embora no primeiro ano. E o João é a pessoa que personifica todos esses valores. Nasceu com eles. Foram-lhe incutidos.

Além de, tecnicamente, era um jogador que ainda estava em formação e vê-se que agora está a melhorar. E no Benfica também o podia fazer. Mas vê-se essa personificação. E houve uma pessoa no Benfica, que é um ídolo nosso, que disse isto à presidência. Foi Fernando Chalana. Fernando Chalana disse: "Atenção, nós temos um Messizinho na nossa Academia". Há uma entrevista dele a dizer isto. O Benfica sabia o que é que tinha ali.

E quando jogou na equipa principal, nós vimo-lo jogar e percebemos o que é que estava ali. Em 30 anos, não vai voltar a nascer um jogador com estas características. Como pessoa e como benfiquista. Por isso, o João vai voltar ao Benfica. Não tenham dúvidas nenhuma. O João vai voltar ao Benfica.

Qual é a posição do Cristóvão sobre o tema da centralização dos direitos televisivos?

Primeiro é preciso estar no processo. De onde saiu. Isto é a primeira regra. Nós não podemos defender os direitos do Benfica não estando dentro do procedimento. Ninguém vai perceber o que é que o Benfica saiu.

Assim que eu chegar, vou entrar imediatamente para ter uma reunião e apresentar quem é a minha equipa que irá representar o Benfica. Em segundo lugar, tudo o que basicamente, na nossa convicção e por tudo o que estudámos e pelas pessoas com quem já falámos e os parceiros que já temos sobre essa matéria, tudo o que está neste momento em cima da mesa sobre os direitos televisivos, nada disso irá para a frente porque não tem qualquer sustentabilidade, porque os projetos foram apresentados noutra época, noutra altura. Não vamos criticar. Não estou aqui para criticar ninguém. São coisas apresentadas há uma série de anos. A realidade mudou. O valor em causa dos 300 milhões já é um valor absolutamente irreal.

Estamos a ver o que é que está a acontecer no resto da Europa. O decreto lei vai cair, vai ser revogado. O governo quer soluções, não quer problemas. É óbvio que agora já se percebeu que não vai funcionar. Tem de ser pensada uma nova solução para os direitos televisivos.

Uma nova solução é uma solução que, provavelmente, não passa por nada do que se está a falar agora, que é negociar com as operadoras, com o cartel da Sport TV. Já se percebeu que o caminho não é por aí. E o Benfica tem uma realidade muito diferente dos outros clubes.

O Benfica não pode entrar numa negociação dos direitos televisivos com uma espada sobre a cabeça, que é a de abdicar de algum valor para os outros clubes. E o Benfica não pode ser colocado nesta posição de dizer não. Não me vou colocar nessa posição. Ou o Benfica é chamado de alguma forma a resolver o problema dos outros clubes? Tem essa obrigação? Não tem. Quem tem de resolver os problemas do futebol português são as instituições. É a Liga e a Federação. Não é o Benfica. O Benfica tem de defender os seus interesses.

E eu nunca aceitarei uma narrativa que diz que o Benfica é superior aos outros e quer ganhar mais que os outros. Eu nunca tenho essa narrativa, não aceito essa narrativa. Não sei se sou maior ou se sou menor. Eu sei aquilo que sou. 400 mil e que eu quero chegar a 1 milhão [de sócios]. Isto para mim é o que tem valor.

É isto que eu vou colocar na minha negociação. Se eu estou a construir uma equipa, que quero que seja campeã europeia em cinco ou seis anos, que vou investir num treinador dos melhores do mundo, se não o melhor do mundo, que vou constituir cinco a sete jogadores de referência que terão ordenados elevados, que necessite de ter receitas otimizadas.

Eu proponho-me, em seis ou sete anos, a chegar a 700 milhões de euros. E a receita destes direitos é a receita fundamental do clube. Eu vou me sentar e dizer que a minha solução para o Benfica é esta. Vou apresentar uma solução diferente de todas as outras. Eu tenho de chegar lá e dizer Eu tenho 400, 500, 600 mil sócios.

Estes sócios têm todos a BTV. A BTV é livre para todos e os sócios do Benfica têm direito à BTV grátis. Cada sócio do Benfica nos sete cantos do mundo e de Portugal, tem de ver a BTV grátis. E tem de ver os jogos do Benfica grátis. Isto é o que eu tenho. E portanto, tenho estes sócios para vos oferecer, operadora. Como é que vocês querem trabalhar? E além disso, quero mais. Quero, nas plataformas de streaming, vender estes jogos para todo o mundo. E ainda mais. Nas modalidades, vamos escolher uma ou duas, no máximo, em que essas serão para jogarem na primeira Liga Internacional Europeia. Vamos fazer esse investimento.

E também quero que estas equipas sejam vendidas e os jogos sejam vendidos lá para fora e aqui internamente. Esta é a solução que eu tenho. Só há duas soluções. Quanto é que aquilo vale para nós? Nós definimos o valor. Se as operadoras aceitarem, e é interessante o Benfica estar nesta solução e receber esse valor, o Benfica entra. Se não for... Nós fazemos internamente e resolvemos as soluções internamente. Não vou aceitar outra coisa que não seja isto, porque é absolutamente fundamental para o Benfica.

Isto não é um problema do Benfica. É um problema da Liga e da Federação. Agora, se nós, com estas condições, for aceitável e acharem que o Benfica é interessante na solução, porque o Benfica alavanca os outros clubes, muito bem.

Se não for o caso, nós vamos fazer internamente. Já fazemos em 50% dos jogos, passamos a fazer nos outros. 'Mas depois vem a FIFA e a UEFA'. Deixa-os vir. Eu quero ver vir a FIFA e a UEFA tirar-nos ou não nos deixar participar nos campeonatos. Eu quero ver como é que ficava o campeonato português.

Mas para isto precisa de pessoas que saibam o que é que estão a fazer e que sentem mais a negociação e sabem o que é que estão a negociar. E não haja interesses, compadrios, favores e esquemas. Isto comigo não vai acontecer.

Acha que Luís Filipe Vieira tem legitimidade para se candidatar às presidenciais do Benfica?

Aquilo que nos é dado a conhecer é que não existe nenhum constrangimento estatutário. Portanto, formalmente, a minha resposta é sim. Não existe constrangimento. Agora, aquilo que, em função da saída do Benfica e dos processos que estão a decorrer e do arrastar do nome do Benfica para a lama, se ele se deveria candidatar ou não, no interesse do Benfica. Isso tenho imensas dúvidas.

Eu acho que, se o Luís Filipe Vieira vem para estas eleições para fazer uma vendetta com o Rui Costa, que é o que tem dito nas entrevistas, aí eu acho que ele deve repensar e o Benfica não serve para isso. O Benfica não precisa disso.

Se ele vem para acrescentar, trazer um grande projeto, trazer um projeto inovador, que o apresente, até agora não apresentou, e isso, como benfiquista, deixa-me cético. Então temos aqui um candidato, tem uma media brutal, dá entrevistas de quase duas horas, a falar sobre tudo e mais alguma coisa, mas ideias sobre o Benfica, bola!

A manutenção do estádio está horrível, tem razão, mas o Benfica precisa é de ganhar em campo. Precisa resolver o problema financeiro. Ideias sobre isso? Bola!

Quem é que traz de novo? Quais as soluções enquanto vocês mudam? O que é que ele pensa sobre os direitos televisivos? É ele que vai negociar porque ele é que sabe. Ele sabe e eu também sei, mas tem soluções? Qual é o caminho? Bola! Até agora não vimos nada, vamos esperar para ver.

Estamos a começar, mas se é isto, ele que venha, que apresente as ideias, os sócios cá estarão para responder. Agora, se isso beneficia o Benfica com o passado que ele teve no Benfica e os últimos mandatos? Claramente que não beneficia, não é disso que o Benfica precisa.

E se for essa a solução para o Benfica, mesmo que ele ganhe as eleições, o que eu não acredito de todo, o Benfica não vai crescer em rigorosamente nada. Em resultados não vai crescer, porque a metodologia que ele diz que vai trazer são esquemas, corrupção, compadrios, almoços com concorrentes, decidir quem é que vai para a Liga, decidir quem é que vai para o Conselho de Arbitragem... isto não é o Benfica, o Benfica não pode ser isto, isto é o Benfica do passado, já acabou.

Os Benfiquistas não querem isso, os benfiquistas querem competência, transparência, lisura, equipas competitivas, contas certas e o Benfica é a ganhar. Querem uma equipa forte, hegemónica, avassaladora, que entra em campo para dar espetáculo. Ganhar não chega para os benfiquistas, tem-se a ganhar com classe, com respeito pelos sócios, galvanizar os sócios, fazer grandes exibições. Isto é o ADN do Benfica e é isto que eu vou trazer.

É isto que Luís Filipe Vieira vai trazer? Não vejo isso e, se for pelo registo que indiquei, também não faz falta nenhuma ao futebol português, muito menos ao Benfica. 

As declarações de Vieira sobre Pedro Proença, que falam num clima de medo... acha que existe esse clima de medo no futebol português?

O futebol português ainda tem muitos resquícios do passado, do apito dourado e esquemas... Ainda tem, ainda existe. Se eu acho que foi bonito a forma da passagem da eleição de Pedro Proença da Liga para a Federação, não foi! Inaltece o futebol português? Não inaltece! É assim que deve ser o futebol? Não é assim que deve ser o futebol!

E o silêncio de Pedro Proença, relativamente a isso, também é uma coisa que eu acho estranho, e gostaria que Pedro Proença, depois das acusações diretas que Vieira lhe fez, viesse a campo dizer qual é a realidade, se é assim ou não é, e confirmasse ou não confirmasse.

Depois dessa entrevista ter acontecido, aquilo que eu disse foi que, a ser verdade o que Luís Filipe Vieira disse, Pedro Proença tinha que se demitir já. Foi gravíssimo e nós não ouvimos nada... Apresentou uma queixa de crime, o que é isso? Nada! E portanto continua-se aqui neste lodo.

Eu quando chegar ao Benfica espero acabar com isso. Isto não inaltece a Benfica, rigorosamente nada, e não me inaltece a mim estar a criticar Pedro Proença ou outra pessoa qualquer. Eu quero é melhorar o futebol português, e se as pessoas não estão no lugar certo, têm de sair.

Como está até agora, se é isto que eu quero para o futebol português, e consequentemente para o Benfica? Não. Eu quero lisura, transparência, honestidade e carácter nas pessoas. Só assim é que nós crescemos. Estes esquemas foram passado, já acabaram, estamos todos cansados disso, os benfiquistas estão cansados.

Queremos ideias novas, coisas novas, fazê-las de forma diferente. Isto é a tendência no futebol europeu e até no futebol português. Devagarinho, mas começa a ser essa a tendência, e o Benfica não pode outra vez andar nesses compadrios, também não deve ser tolerante com eles, e também não se deve deixar de ser enganado. Terá de reagir, que é outra coisa que o Benfica não faz, que é ter uma voz firme, quando sente que está a ser prejudicado e o Benfica tem muita força para isso, mas não o tem feito.

A comunicação do Benfica é miserável nessa matéria, e também há um grande trabalho a fazer. Eu não vou entrar em compadrios, não faço questão de ser amigo de ninguém nem ser visita de casa de ninguém. Eu estou ali para defender os interesses pessoais do Benfica e é isso que vou fazer em todas as instituições.

Qual será a relação com Pedro Proença?

É muito simples, no dia que eu ganhar as eleições, quer o presidente da Liga quer da Federação serão duas pessoas a quem eu solicitarei uma reunião para me apresentar com os membros da minha equipa e dizer àquilo que venho, que será para representar Benfica com transparência, honestidade, caráter e defenderei intransigentemente os interesses do Benfica.

Se respeitarem o Benfica institucionalmente, eu respeitá-los-ei. Se não o fizerem, podem contar comigo com a minha oposição e com a força de todos os benfiquistas. Não vamos deixar que prejudiquem o Benfica por manobras de bastidores. Isso comigo não vai acontecer e na primeira vez vão levar comigo até ao final.

Se me respeitarem, deixem-me fazer o meu trabalho, que eu deixarei que eles façam o deles e entendemo-nos perfeitamente. Nos momentos próprios, o Benfica estará representado, quando achar que deve estar, defendendo os seus interesses. É tão simples quanto isso.

E com os presidentes dos clubes rivais? Admite sentar-se lado a lado da tribuna nos dérbis e nos Clássicos?

O Benfica é um clube que vem do povo. É um clube respeitador de todas as pessoas. Enquanto os meus rivais me respeitarem, terão o meu respeito institucional. Ponto final. No dia em que deixarem de respeitar, eu reagirei da mesma moda.

Os clubes têm um interesse comum que é fazer com que o futebol português se eleve para patamares mais elevados, sendo obviamente mais competitivo. Isso será impossível de acontecer se não conversarmos. Conversas são fundamentais. Definir uma planificação, uma estratégia e definir isso porque há interesses comuns.

Uma coisa é dentro de campo. Dentro de campo, nós queremos ganhar sempre. Outra coisa é a base que nós temos de fazer. O futebol português cometeu um erro enormíssimo que é preciso rapidamente resolver. E isso vai implicar, por exemplo, uma união muito forte dos três 'grandes'. O futebol português nunca devia ter permitido chegar ao ponto de só ter uma equipa na Champions. E não fez nada.

As nossas instituições não fizeram nada. Os três 'grandes', que são quem tem acesso à Champions, têm de rapidamente assumir este papel e pressionar essas instituições a liderar este projeto. E nisso temos de estar de acordo. Portugal tem de ter duas equipas a entrar na Champions e eventualmente uma terceira. Porque isto é fundamental para a nossa competitividade no futebol. E não foi feito nada.

Parece que fica só uma equipa e ninguém faz nada. E esta é uma das batalhas que eu vou imediatamente dizer para criar um grupo de trabalho, junto da Federação e da Liga, para lutar por isto e não permitir que isto aconteça. Porque um clube destes três, ficando um ano fora da Champions, é absolutamente regressivo. Quer para a competitividade, quer para os direitos desportivos, quer para os sócios. Isto não pode acontecer.

E aí implica que é fundamental dos três 'grandes', sob determinadas matérias, conversarem. Isso é uma coisa. Outra coisa é a rivalidade em campo. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Mas somos rivais, não somos inimigos.

Qual a sua mensagem para os sócios e os adeptos do Benfica aqui para as eleições de 25 de Outubro?

A primeira mensagem que eu tenho para eles é que devem estar satisfeitos porque existem várias alternativas que eles podem escolher. Depois, peço fundamentalmente que os sócios não liguem tanto à notoriedade dos candidatos, mas sim aos projetos que estão a apresentar. Notoriedade não implica competência. E o Benfica precisa de pessoas competentes, porque notáveis são os sócios. Nós somos meros instrumentos que nos propomos a fazer algo.

Eles têm a possibilidade de escolher entre um velho Benfica e um novo Benfica. O meu projeto está num novo Benfica. Eu estou a dá-lo a conhecer, eles que o analisem e que dêem uma oportunidade a pessoas novas como eu, mas com grande capacidade, com grandes equipas, com grandes instrumentos financeiros e com ideias novas para o Benfica virado para o mundo.

Que olhem para isto e que arrisquem, não tenham medo de nos dar esse voto. E fundamentalmente que votem. Votam muito para que as pessoas. Que façam esse esforço, que no dia vão aos sítios votar, se não for possível o voto eletrónico, que a abstenção no Benfica tem de baixar significativamente.

Não podemos ter mais de 70% de abstenção. Portanto, que votem. E que não tenham medo de votar em projetos como o meu. Porque são projetos muito bem estruturados, muito bem pensados e com pessoas, todas elas, muito competentes. Que eles facilmente podem saber quem são, de onde vierem, o que é que já construíram. Porque o Benfica precisa urgentemente deste resgate e destas pessoas, destas ideias, absolutamente disruptivas de um futebol do passado para construirmos um futebol do futuro.

E o futebol do futuro do Benfica é um Benfica europeu. É um Benfica ali a bater-se nas Champions, quartos-finais, meia-final e depois saltamos à final e vamos lá e acabamos com a maldição do Béla Guttmann e trazemos a 'orelhuda'. E isto vai-vos encher de orgulho, mas também vai potenciar o Benfica para caminhos fantásticos.

É onde o Benfica merece estar. Foi onde ele esteve, de onde o tiraram e onde eu o quero levar. Eles que não tenham medo de votar em projetos como o meu, que são muito mais sustentados do que aqueles que se dizem notáveis.

O que diria o Cristóvão que se inscreveu há mais de 20 anos como sócio a este Cristóvão que agora é candidato à presidência do Benfica?

Diria que, se não fosse na altura a insistência de um senhor, o Sr. Mocho, que era um benfiquista dos sete costados... Na altura, com 80 anos e muito apaixonado, colocou-me a proposta de sócio em cima da mesa e disse: 'Daquilo que eu já falei consigo que chegou à empresa há três dias, você é dos maiores benfiquistas que eu conheço, tem aqui a proposta e assine', eu hoje não estava aqui.

Essa proposta na altura foi inspiradora e permitiu-me chegar ao Benfica e perceber o que é o associativismo e o que é o amor das pessoas pelo Benfica. E outra coisa muito importante que eu fiz também ao longo do tempo, porque eu sou de fora de Lisboa, portanto eu conheço o Benfica fora de Lisboa. E tenho imensa pena que os benfiquistas que gravitam aqui à volta não saiam de Lisboa e vejam o que é o amor pelo Benfica, o que é o amor das pessoas por este clube, que é uma coisa inimaginável.

E, portanto, dir-lhe-ia, nessa altura: 'Continua, vai em frente, o Benfica precisa de ti'. E é isso que eu estou a fazer.

Leia AQUI a primeira parte da entrevista de Cristóvão Carvalho ao Desporto ao Minuto.

Nas próximas semanas o Desporto ao Minuto vai publicar as entrevistas feitas aos candidatos à presidência do Benfica. Até ao momento, Rui Costa e João Noronha Lopes não manifestaram disponibilidade em responder às nossas perguntas.

Leia Também: "Rui Costa e Vieira são passado no Benfica. E Noronha não vai ser futuro"

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com

Recomendados para si