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"Vieira falou em clima de medo, mas Pedro Proença mete medo a alguém?"

Em entrevista exclusiva concedida ao Desporto ao Minuto, João Diogo Manteigas esclarece as mudanças que irá promover caso seja eleito presidente do Benfica. De Bruno Lage a Jorge Mendes e Luís Filipe Vieira, o advogado não deixa nada por dizer.

"Vieira falou em clima de medo, mas Pedro Proença mete medo a alguém?"

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Francisco Amaral Santos e Rodrigo Querido
10/09/2025 06:49 ‧ há 20 horas por Francisco Amaral Santos e Rodrigo Querido

Desporto

Exclusivo

João Diogo Manteigas é um dos seis candidatos assumidos às eleições do Benfica, que vão acontecer no próximo dia 25 de outubro. Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o advogado de 42 anos explicou as razões para entrar na corrida eleitoral e revela que de que forma tenciona gerir o clube da Luz. 

 

Da continuidade (ou não) do treinador Bruno Lage às relações institucionais que querem manter com os líderes dos rivais Sporting e FC Porto, João Diogo Manteigas também comenta as recentes acusações de Luís Filipe Vieira que visam Pedro Proença, agora presidente da Federação Portuguesa de Futebol. 

João Diogo Manteigas pede, ainda, a existência de debates entre os candidatos e assume uma posição clara no que toca à polémica em torno do voto eletrónico. 

Que avaliação faz do trabalho de Bruno Lage? Vai mantê-lo no cargo caso seja eleito?

Eu tenho sempre um plano B e um C, como eu acho que qualquer outro candidato tem. Sigo a mesma linha desde sempre. O insucesso ou o sucesso de Bruno Lage tem de ser analisado do ponto de vista de gestão desportiva e do mandato desportivo. O insucesso de Bruno Lage na época passada, tirando a Taça da Liga e a Supertaça já este ano, mede-se pelos atos de gestão desportiva da direção. Bruno Lage entra numa altura extremamente complicada, depois de Roger Schmidt ter sido despedido. Não me parece adequado dizer que Bruno Lage é o culpado de tudo e mais alguma coisa. Já sabemos que treinadores entram e saem. A questão é que não me parece lógico Bruno Lage ser o culpado do insucesso desportivo. Também é, ele e os jogadores. Mas a direção também e em primeira linha. É a direção que faz o planeamento desportivo.

Se se despede um Roger Schmidt na altura em que se despede e depois entra Bruno Lage, que, segundo se sabe nem sequer era o plano B nem C, não estou à espera de defender o presidente da direção por contraponto ao treinador. Bruno Lage é uma consequência da gestão desportiva da direção. Chegando a outubro, quem estiver no Benfica é o treinador do Benfica, seja Bruno Lage ou outro. Ainda para mais, há contratos que têm de ser cumpridos. Quem estiver no cargo de treinador tem um contrato que deve ser cumprido. Mas a primeira coisa que devemos fazer, as primeiras reuniões que vamos ter, é relativamente ao modelo desportivo que queremos aplicar e se ele está de acordo com o modelo desportivo. Podendo ele, obviamente, dar a sua contribuição.

Bruno Lage é um treinador que percebe perfeitamente o nosso modelo porque foi um treinador de formação. Não obstante agora parecer não aplicar muito esse modelo, mas ele conhece o Benfica e percebe aquilo que nós vamos querer propor. Se estiver de acordo, perfeito. Se não estiver de acordo, há o plano B, há o plano C e há o plano D. Não há problema nenhum. Agora que é o treinador do Benfica é, e vai ser respeitado.

Neste momento existe seis candidatos às eleições. Isso é bom ou mau sinal para o futuro do Benfica?

É um sinal de vitalidade, claro. É um sinal de democracia e de que o Benfica está extremamente vivo. Faz sentido existirem seis candidatos e se existirem mais, há mais. O Benfica nunca viveu isto porque vivíamos num regime fechado. Os estatutos de 2010 eram uma manta de retalhos e não permitiam que uma pessoa com menos de 25 anos de sócio efetivo, ou seja cerca de 43 anos, se pudesse candidatar. Não tinha cabimento nenhum. Os estatutos, e a própria gestão que foi sendo feita ao longo dos anos pelos presidentes e vice-presidentes, foi num sentido de não ser permitido que uma movimentação externa pudesse ter sucesso para esse efeito. É um sinal que me agrada bastante. Estou sempre a defender as outras candidaturas e a promovê-las. Esta é a única forma dos sócios do Benfica se inteirarem e se informarem para depois poderem votar em consciência e não voltarmos àquela questão de se o Benfica estiver a ganhar está tudo bem e de se o Benfica estiver a perder, está tudo mal. A avaliação não deve ser feita desta maneira.

E esse papel de promover um debate entre todos os candidatos deveria ser feito pela BTV?

A BTV tem de desempenhar esse papel, sobretudo, a dois níveis: entrevistas com cada um dos candidatos, que acho que foi feito em 2021, e debates. Devem haver debates um para um entre candidatos e pode até existir um debate entre todos que eu acho que não vai surtir grande efeito. Se a BTV não quiser assumir esse papel... Não nos podemos esquecer de uma coisa. Quem manda na BTV? É a direção, é a administração da própria BTV e que são os mesmos membros da SAD. Eu não fico chateado se a BTV não o fizer. A questão é que a BTV, por si própria, devia fazê-lo, mas não me surpreende se não o fizer. Acho que vai fazer entrevistas e que vai fazer debate porque, efetivamente, fê-lo em 2021. A BTV tem de ser o canal que vai promover em primeira mão esses debates. Se a BTV não o fizer, é porque houve uma decisão interna nesse sentido para defender quem lá está dentro. Se não for feito na BTV, deve ser feito em canais generalistas. 

Caso as eleições vão a uma segunda volta, está disposto a coligar-se com algum dos outros candidatos?

No meu entendimento, acho que ninguém ganha à primeira volta. Nem mesmo o Rui Costa que é o incumbente. Nós vamos mesmo, literalmente, até o fim. Sempre disse isso. Não temos interesse absolutamente nenhum em juntar-nos a outra lista porque temos muita experiência na área, um modelo e um projeto de marca, de pessoas competentes para o efeito. Não faria sentido eu estar aqui quase a fazer agora um ano, e depois ter que abdicar para uma outra candidatura. Não tenho nada contra outras candidaturas, mas não abdico do meu projeto e das minhas pessoas e da minha visão de Benfica para um outro.

O que eu acho que pode acontecer no Benfica é que quem for à segunda volta, vai haver uma junção de votos. Por isso é que gosto que este modelo tenha sido implementados nos novos estatutos, a par das listas separadas aos órgãos sociais. Na primeira volta pode haver uma maior dispersão dos votos, concordo, mas na segunda volta vai haver uma maior uniformização de votos. Isso vai fazer com que o futuro presidente do Benfica seja, quase por consenso, o presidente que todos querem. Porque vai haver uma concentração de votos.

Imaginemos que o Rui Costa e eu passamos à segunda volta. Eu parto do pressuposto que os sócios da mudança vão votar em mim. Não tenho que me juntar a elas, não tenho que puxar ninguém da lista dos outros para virem ter comigo. Se as pessoas quiserem mudar, votam no João. Se não quiserem mudar, votam no Rui. Mas quem for, quem ganhar é, sem sombra de dúvida, a maior uniformização de votos. Há uma maior expressão no sentido de votos.

Luís Filipe Vieira tem legitimidade para se voltar a candidatar ao Benfica dado que está envolvido em alguns processos judiciais?

A legitimidade formal tem, a legitimidade moral não. É uma questão de ele se deitar com a sua própria consciência. Formalmente pode ser candidatado. Acho que é arriscado e que os sócios têm que perceber esse risco. Meto-me sempre nos sapatos das outras pessoas. Se estivesse no lugar dele, candidatar-me-ia ao Benfica se não tivesse o fardo em cima de mim que tem de resolver, que é ser absolvido de tudo o que são processos relacionados com o Benfica. Aí, sim, apresentava-me eleições, mas não é o que vai acontecer agora. Luís Filipe Vieira tem processos em curso em que pode ser absolvido. Mas acho que paira essa nuvem de incerteza sobre ele. Não conviveria bem em apresentar-me eleições sem saber o que é que vai acontecer.

Imagine-se que ele é acusado e que é condenado. O que é que vai acontecer? Acho que os sócios do Benfica não se dedicaram a pensar bem nisso porque Luís Filipe Vieira não tem avançado. Disse que é candidato, mas não tem progredido em nada. Aparece sempre a falar em televisões e não conseguimos perceber bem se é mesmo candidato ou não. Eu vejo outros candidatos, como eu, irem às casas, a dar entrevistas, a mostrarem projetos, pessoas. Eu não vejo Vieira a fazer isso, sinceramente. E também não vejo o Rui Costa porque deve, certamente aparecer agora. Mas não vejo isso acontecer no mesmo plano de igualdade com o Luís Filipe Vieira. Tenho dúvidas que ele seja oficialmente candidato no final. Até lá, acho que as pessoas devem avaliar o risco que pode ser a candidatura dele

E poderá Luís Filipe Vieira, como o próprio disse há uns anos, ter uma luz e acabar por retirar esta candidatura até outubro?

Tenho a ideia de que Luís Filipe Vieira é uma pessoa que ouve muito pouco as pessoas estão à volta dele. A gestão do Benfica foi evidentemente assim, num regime muito presidencialista e centrado nele. É uma pessoa que tomava decisões isoladas, o que não é mau. É uma pessoa que decidia. Pode-se depois avaliar se tomava decisões más ou boas, mas decidia. Para mim, o Luís Filipe Vieira é uma pessoa um bocadinho individualista. Acho, porém, que tem pessoas à volta dele inteligentes e muito válidas. Acho que, no final, vão ter a capacidade e a ombridade de avaliar o risco. Ninguém que seja de boa fé quer estar ao lado de alguém que tem, como disse, uma nuvem negra sobre se vai ser condenado ou não, porque vai ter que passar aqueles passos dos processos judiciais. O risco existe.

Luís Filipe Viera tem de ser confrontado com o facto de poder vir a ser condenado em processos que lesaram o Benfica. Há um dos processos, no qual ele foi detido, em que há o risco de ele ter lesado o Benfica. Há coisas que eu acho que as pessoas que estão à volta dele devem, em última análise, falar com ele, medirem bem os prós e os contras. Acredito que vão chegar a um consenso relativamente ao facto dele poder vir prejudicar a imagem do Benfica. Isso pode pesar no final. Se Vieira vai concordar ou não com isso, não faço a mínima ideia. Acho que isso não vai ser nada benéfico para o Benfica.

Também vimos que Luís Filipe Vieira só queria debater com Rui Costa e João Noronha Lopes. Isso não pode acontecer. Se é candidato, Vieira tem de debater com o João Diogo Manteigas, com o Cristóvão e com o Martim. Somos todos candidatos. Nós já temos a dificuldade de ter de lidar com uma candidatura que não está em pé de igualdade, que é o Rui Costa. Está dentro de uma fortaleza chamada Benfica. Eu apresento um projeto, o Rui Costa apresenta o Sudakov. Não é a mesma coisa. Já temos de dar de barato essa desigualdade. Era o que faltava agora mais um candidato ou outro a dizer que só vai debater com aquele ou com aqueloutro. Não. Quero ter o mesmo direito também. Dentro daquilo que é o campo de igualdade, tem de ser igual para todos. Uns não são filhos e outros enteados.

E qual a sua posição sobre o voto eletrónico?

A nossa posição é pública. Nós somos defensores do voto físico. Quando foram alterados, os estatutos impuseram o voto físico como voto primário. Há uma exceção. Em atos eleitorais pode ser aplicado o voto eletrónico, desde que o comprovativo seja depositado em urna. Uma pessoa vai chegar, vai votar eletronicamente, sai um talão e é aqui que acho que a redação foi infeliz. Está escrito que tem de ter uma urna para depositar o voto. Acho que aí é impraticável. Para haver voto eletrónico tem de haver vários pressupostos. As candidaturas têm de estar todas de acordo, por unanimidade. João Noronha Lopes não concordou, portanto já não há unanimidade. Além disso, quando se vota eletronicamente, tem de se depositar em urna. Isto é logisticamente quase impossível. Não em Portugal Continental, mas nas ilhas e no estrangeiro.

Eu dou sempre um exemplo. Se somos sócios do Benfica, somos todos iguais. Há cinco sócios do Benfica na Mongólia. Como é que se mete uma urna na Mongólia? Um outro exemplo mais prático: Há não sei quantos imigrantes sócios do Benfica na área de Boston, que é gigantesca. Como é que se mete uma urna em Boston? Vai ser colocada onde? Vai haver mais do que uma? Há uma dificuldade logística não foi pensada no processo da revisão estatutária. O que é que a nossa candidatura apresentou como solução foi boletins de votos. Ou seja, os cadernos eleitorais têm de ser fechados com informação fidedigna: número de sócio, nome e morada atualizada. Entregam às candidaturas os cadernos eleitorais fechados e nós mandamos os boletins de votos para a 1.ª e para a 2.ª volta para as pessoas, tal como acontece com os imigrantes na política. Recebem os boletins, preenchem e mandam. A nossa preocupação é para os sócios que estão lá fora.

Em Portugal, o presidente da MAG só tem de colocar o máximo número de urnas em todo o lado. Não é como ele disse uma vez, que era uma por capital distrito. Se estiver no Algarve e a viver em Sagres, se calhar não vou a Faro para votar, mas já vou a Portimão ou a Lagos. Se estiver na Vila Real de Santo António não vou a Faro, mas já vou a Tavira. Tem de haver urnas em todo o lado de Portugal Continental. E o voto físico lá de fora, para os imigrantes, é boletins. Não há outra maneira. Não vou defender o voto eletrónico como outro candidato porque o voto físico foi aquilo que foi pré-determinado pelos sócios. Se não há acordo pelo voto eletrónico, temos de encontrar soluções. Eu não fico parado à espera que os outros entendam.

O presidente da MAG levantou duas questões contra a nossa solução dos boletins. A primeira estava relacionada com o número de candidatos, que ainda não está fechado. A outra era o tempo porque o clube tinha de esperar que as pessoas mandassem os boletins assinados. Se calhar não se fecham as urnas no dia 25 de outubro, mas uns dias mais tarde. É agir como nas legislativas. O Benfica é o reflexo da sociedade. O que mais me interessa é ouvir os sócios. Houve sempre essa preocupação. Como é que vou votar? Quando é que vou votar? Eletrónico ou não? Agora já não vou votar? Andámos a acompanhar a par e passo as oscilações de posicionamento. Éramos nós o bom saco de pancada.

Tentamos ir ao encontro de todos. Acho errado que um sócio tenha muito mais facilidade em votar em Portugal Continental do que na Madeira, nos Açores e no estrangeiro. Podem dizer que não vão chegar a todos, mas tenho de tentar chegar a todos. Foi isso que eu acho que as outras candidaturas não tiveram em preocupação. Urnas colocadas no estrangeiro implica representantes de todas as listas no estrangeiro. Isto também tem um custo para nós e estou disposto a assumi-lo. Mas eu tenho de ter a certeza que a maioria dos sócios vota. Não podemos andar a bater no peito a dizer que somos todos do Benfica e que somos os maiores do mundo para depois, neste exato momento em que temos que provar que somos os maiores do mundo, falhamos. E falhamos porque há cinco candidatos de seis que entendem que não vale a pena não chegar a todo lado. Deve ser ao contrário. Os seis têm que tentar chegar a todo lado.

Que relação é que terá com Pedro Proença se for eleito presidente do Benfica?

Completamente institucional. A primeira coisa que farei é marcar uma reunião na Federação para nos apresentarmos e dizer quais são os nossos objetivos e os nossos pressupostos. A Liga e a Associação de Futebol de Lisboa integram a Federação. Pedro Proença é o presidente de tudo o que é o movimento associativo do futebol em Portugal. Representa-nos a todos. Sou muito crítico de Pedro Proença, mas o facto de eu ser crítico não significa que não me tenha de sentar à mesa com ele para lhe explicar o que é que eu quero e o que é que o Benfica quer. Mas sempre apontando-lhe as críticas que lhe apontei ao longo dos últimos anos. Já criticava Pedro Proença quando estava na Liga. Acho que fez um trabalho que poderia ter sido muito melhor. Não vou sentar-me à mesa para o criticar olhos nos olhos. Não teria problemas em fazê-lo, mas não é assim que eu trabalho.

Quero também reunir-me com o presidente da Liga e o presidente da Associação de Futebol de Lisboa para explicar-lhe qual é o projeto do Benfica. Quero também propor uma visão diferente na AFL e que o Benfica volte a ser o clube com mais peso na AFL dado que, neste momento, é o Belenenses. Quero ir à Liga perceber qual é a visão de Reinaldo Teixeira, porque o Benfica tem lugar na direção. Quero sugerir e colocar à disposição a nossa visão para um modelo alternativo de alteração dos quadros competitivos. Quero perceber a centralização dos direitos audiovisuais. Até gostava de ter ao mesmo tempo uma reunião com o Dr. Reinaldo e Pedro Proença.

E não há um clima de medo como sugeriu recentemente Luís Filipe Vieira?

Não há clima de medo nenhum. O que existe no futebol português, desde sempre, é compadrios. As pessoas nos assentos das grandes corporações, como a Liga e a Federação, acordam determinadas coisas, politicamente falando. Luís Filipe Vieira arranjou um discurso para surgir no meio das eleições do Benfica para atrair popularidade e centralizar a atenção daqueles que são mais fora de Lisboa. Eu também faço isso com Pedro Proença. Luís Filipe Vieira não chegou e inventou a roda. Qualquer benfiquista não morre de amores por Pedro Proença, não é preciso Vieira dizer isso. Pedro Proença mete medo a alguém? Por amor de Deus, basta olhar para a figura do presidente da Federação Portuguesa de Futebol. Não acho que ele meta medo a ninguém. O caminho não é assim que deve ser feito.

Quando critico Pedro Proença, ou outra figura qualquer, aponto o caminho, faço uma crítica construtiva e explico porque é que Proença deve ser criticado em relação ao Benfica. Não vou para a televisão numa entrevista dizer ele mete medo. Mete medo a quem? Ele cria um clima de medo nos clubes por causa de arbitragem? Mas porquê? Se calhar os clubes têm é de ter medo dos árbitros. Ou é o Pedro Proença que anda a influenciar árbitros para prejudicar as arbitragens? Não tem cabimento nenhum. Ao final do dia, bem desconstruído, as pessoas percebem que esse argumento de medo não faz sentido absolutamente nenhum.

Outro exemplo. O Dr. Reinaldo, quando ganha as eleições na Liga, era supostamente um candidato de Pedro Proença. E depois tem um discurso, na parte final, que é corrosivo com Pedro Proença. Portanto, esse clima de medo hoje em dia não existe. Até porque há transparência, já há informação a mais, conseguimos perceber determinadas coisas. Luís Filipe Vieira, parece-me a mim, vive num tempo diferente daquele em que ele ainda era Presidente. Hoje em dia já não há lugar a esse tipo de discurso.

Mas Benfica e Sporting estiveram ao lado da candidatura de Pedro Proença à FPF...

O Benfica deveria ter apoiado Nuno Lobo na corrida à liderança da FPF por duas razões. Primeiro, porque o Benfica tem de apoiar o candidato, seja a que entidade for, que entenda que tem o melhor projeto. Não deve apoiar figuras. E foi isso que o Rui Costa respondeu, dizendo na Assembleia-Geral que apoiava o projeto de Pedro Proença.

Em outubro de 2023, Nuno Lobo reuniu-se com Rui Costa e Nuno Costa. Na altura, disseram que apoiavam a sua candidatura à FPF. Eu não concordo com o procedimento. Quem toma a decisão não é o presidente do Benfica. Primeiro tem de haver uma reunião de direção, na SAD e no clube, e daí tem de sair um resultado. O Benfica, na minha opinião, deve chamar os candidatos para apresentarem os seus projetos. E depois deve ser feita uma Assembleia-Geral. Quem manda são os sócios e temos de respeitar a vontade deles. Quem tem que decidir em quem é que o Benfica vota são os sócios. A maioria dos benfiquistas não gosta de Pedro Proença e a direção vota nele? Posso votar em branco, mas vou perguntar aos sócios do Benfica o que eles querem. É um risco o que vou dizer, mas acho que a maioria votaria no Nuno Lobo.

Mas a realidade foi diferente. Rui Costa não fez uma reunião de direção no clube, na SAD não sei, para haver sentido de voto do Benfica. E também não fez uma Assembleia-Geral. O presidente do Benfica não tem de tomar determinadas decisões no campo político e institucional em detrimento dos sócios, sabendo que a figura que vai apoiar não é unânime no Benfica. Se quisesse pensar nas eleições, tinha feito a AG e ficava a ganhar. Nem nisso foram inteligentes. Rui Costa preferiu apoiar o projeto de Proença, algo que terá, certamente, contrapartidas, do que perguntar aos sócios o que eles querem.

Quem é presidente e diretor do Benfica tem de exercer uma liderança servidora. Nós estamos ali para servir os outros. Eu não estou ali para me servir a mim próprio. Eu estou ali para seguir aquilo que me pedem. O que é que eu quero? Quero um Benfica a ganhar, a liderar, ao lado dos presidentes dos outros clubes, das Federações, da Liga e da AFL. Eu quero saber o que é que se está a passar, quero ter um dedo e ter intervenção nisso. Quero que me ouçam e também quero, obviamente, ouvir os outros.

E o Benfica perdeu esse poder de intervenção?

Completamente. O Benfica ganha e perde por causa da conjuntura toda. Outro dia, numa entrevista, perguntaram-me se eu entendia que em Portugal se joga em campo e fora de campo. Claro que sim. Benfica, FC Porto, Sporting, Sporting de Braga, Vitória SC, entre outros, têm todos de exercer a sua influência positiva naquilo que são os destinos do futebol. Todos têm de mandar em conjunto.

E que tipo de relações terá com Sporting e FC Porto, caso seja eleito?

A relação será puramente institucional. Não tenho de ser o melhor amigo de ninguém. Não venho para ser presidente do Benfica e ganhar amizades. Não venho para dividir, venho para congregar. O Benfica tem de manter o respeito institucional por todos, se não lhe faltarem ao respeito. André Villas-Boas é uma pessoa educada enquanto presidente do FC Porto, tirando aquela carta que fez chegar à Liga este ano. 

Venho para o futebol para defender o Benfica de forma intransigente. Isso não significa que tenha de atropelar alguém. Tenho de me sentar à mesa e ter uma relação, seja com quem for, de defesa dos interesses do meu clube e da minha SAD. O facto de Villas-Boas dizer que quer conversar mais é bom. Eu não sou nada daquele tipo de perfil de liderança de porta fechada, a não ser que ele nos falte completamente ao respeito. 

Há um peso em cima da relação entre FC Porto e Benfica por causa do processo do Porto Canal. O FC Porto vai ter de pagar por aquela vergonha que fez ao Benfica. À parte disso, vamos conseguir falar. Tenho noção de que Villas-Boas tem ideia da gravidade dos factos que o FC Porto cometeu, embora não  estivesse lá na altura.

E como será a relação com Jorge Mendes, quem tem sido parceiro estratégico do Benfica nos últimos anos?

Eu não gosto de ter o Benfica dependente de nada, seja em transferências, patrocínios ou em relações institucionais. Tem de haver uma liberdade no mercado. Percebo, embora não concorde, que Jorge Mendes se tenha tornado num parceiro estratégico do Benfica ao longo dos anos. Existia e ainda há uma relação pessoal muito próxima com Luís Filipe Vieira. Com Rui Costa a relação intensificou-se ainda mais. Quando era presidente do Benfica, Vieira tinha relações idênticas com outros empresários. A força que Jorge Mendes tem não tem só no Benfica, é em todo o lado. E isso é visível. 

O setor vai mudando ao longo do tempo relativamente aos agentes de futebol. Hoje em dia, onde é que os agentes de futebol mais apostam com a última alteração regulamentar? Venda de jogadores, representando o clube vendedor. É onde podem ganhar mais dinheiro nas comissões. É normal que Jorge Mendes apareça nas vendas mais importantes do Benfica, é aí que se ganha dinheiro. Se não corto com o contrato de Bruno Lage, não vou cortar com o contrato, só por que sim, de Jorge Mendes com um jogador.

Há uma dependência muito grande de um determinado número de grandes jogadores do Benfica com o Jorge Mendes. Parece que a Gestifute é privilegiada por comparação a potenciais outros jogadores de outros empresários. Parece-me que o Benfica fomentou essa dependência inconscientemente em relação aos jogadores, mas conscientemente em relação à figura que é o empresário. Isso não pode acontecer. O Benfica deve ter relações privilegiadas com toda a gente, seja ele quem for. Não é porque um vende mais que o outro ou um compra mais que o outro. A ideia que tenho, e posso estar enganado, é que Jorge Mendes foi muito mais um parceiro estratégico na venda do que na entrada de jogadores. Isso não pode acontecer. Jorge Mendes não pode só tirar valor desportivo, tem de trazê-lo.

O Benfica passar alguns dos seus jogadores para o Jorge Mendes não é o caminho. Ele é que tem de fazer esse trabalho. Se ele consegue convencer o jogador a assinar por ele, ou os pais, é um trabalho que tem de ser feito por ele. Se jogador A ou B passa para Jorge Mendes, é com intuito de o vender no futuro. Não é o Benfica que tem de promover esse trabalho pelo Jorge Mendes. A relação com Jorge Mendes terá de ser uma relação igual com todos.

Que mensagem quer deixar aos sócios e adeptos do Benfica para as eleições de 25 de outubro?

Acho que os sócios, na sua maioria, querem mudar. É a ideia que tenho e isso vai ver-se no dia das eleições. Tenho sentido isso. A nossa candidatura, além de ir até ao fim, demonstra que quer um Benfica ganhador e a liderar institucionalmente. Estamos a ser validados e confirmados como uma candidatura com muita experiência, especializada, com muita competência e muita paixão. A mensagem que tenho para os benfiquistas é que só juntos é que conseguimos ganhar e só assim é que o Benfica vencerá. Essa certeza terá de ser validada no dia 25. Na comunicação com os sócios, dizemos que temos a  capacidade que é necessária para alterar o que está mau no Benfica e continuar a ganhar.

O que diria o João Diogo que se inscreveu como sócio em 1984 ao que agora se candidata à presidência do Benfica?

Boa sorte [risos]. O Benfica de 1984 não é o de 2025. De 1994 para a frente, o Benfica deixou de ser o Benfica que eu conhecia até então. Não me lembro de tudo para trás. O meu benfiquismo consciente começa nos finais dos anos 80, com muito impacto no início dos anos 90, depois de João Santos ter ganho as eleições em 1987. Mas há um declínio quando Manuel Damásio ganha as eleições que depois se propicia para Vale e Azevedo num momento de convulsão total. Depois aparece Manuel Vilarinho que traz Luís Filipe Vieira. Seguem-se 18 anos de presidência de Vieira em que o Benfica ganhou, mas muito pouco para 18 anos. Ele teve condições para ganhar mais. Nunca perdi a minha paixão intensa pelo Benfica, se não também não seria candidato. Mas reconheço que o Benfica de 1984 não é o de 1994 e o Benfica de 1994 não é o de 2025. Acho que o Benfica tem todas as condições para voltar a ser o Benfica que foi de 1984 a 1994.

Leia AQUI a primeira parte da entrevista de João Diogo Manteigas ao Desporto ao Minuto

Nas próximas semanas o Desporto ao Minuto vai publicar as entrevistas feitas aos candidatos à presidência do Benfica. Até ao momento, Rui Costa, Luís Filipe Vieira e João Noronha Lopes não manifestaram disponibilidade em responder às nossas perguntas. 

Leia Também: "Representamos uma rutura geracional com o passado recente do Benfica"

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