A morte de Jorge Costa, esta terça-feira, colocou o mundo do futebol, novamente, em choque, um mês depois do falecimento de Diogo Jota e do irmão André Silva, num acidente de viação, em Espanha.
O diretor do futebol do FC Porto, de 53 anos, sofreu uma fatal paragem cardiorrespiratória na sala de emergência Hospital de São João, em Paranhos, no Porto, já depois de ter se sentido mal no centro de treinos dos dragões, no Olival.
O antigo defesa-central deixou o seu nome cravado com letras de ouro no "clube do seu coração". A nível de conquistas coletivas, nota para uma Taça Intercontinental, uma Liga dos Campeões, uma Taça UEFA, oito campeonatos, cinco Taças de Portugal e cinco Supertaças. No total, foram 383 jogos, 25 golos e 21 troféus conquistados pelo 'Bicho', assim era carinhosamente apelidado no seio portista.
Bruno Moraes partilhou balneário com Jorge Costa no FC Porto e recorda, em conversa exclusiva com o Desporto ao Minuto, a experiência de ser liderado por um dos grandes "símbolos" do clube nortenho.
"No meu percurso enquanto futebolista, não vi muitos como o Jorge Costa, um líder de homens. Tinha uma personalidade vincada, alguém que gostava muito de ganhar e apaixonado pelo FC Porto. Em 2003/04, ele era o capitão e transmitiu-nos os valores do clube pelo exemplo dentro e fora de campo. Tinha acabado de subir ao plantel principal e era formidável a forma, como com o simples olhar, mantinha-nos 'na ordem'. Ao contrário do que muita gente pensa, ele não era muito de gritar", salienta o antigo avançado brasileiro, revelando algumas pormenores da figura, que usou a mítica camisola 2:
"No início, fazia-me confusão a forma como o Jorge Costa era tratado no clube. Tinha privilégios (risos). Os funcionários não lhe tratavam da mesma maneira que os restantes. Eles faziam questão de deixar tudo pronto no seu cesto de equipamento, a roupa exemplarmente dobrada, juntamente com o jornal. Eu não entendia essas regalias, mas dentro de campo vi as razões de tal acontecer. Era um jogador agressivo, corajoso e de uma entrega incrível. Como atacante, era um luxo saber que tinhas um defesa que dava tudo para não sofrermos golo", destaca o brasileiro.
Com sorriso no rosto, Bruno Moraes guarda as melhores memórias do seu "eterno capitão".
"Nos treinos, praticamente ninguém encarava o Jorge no 1x1. Se tivesses um mínimo de inteligência, não te punhas a jeito apanhar ele de frente, pois era um comboio e o impacto não era nada saudável (risos). Estava sempre alegre e ele tinha a noção de que erámos companheiros de equipa. Por isso, em vez de fazer uma falta grosseira, o Jorge preferia puxar a camisola. Fosses novo ou mais experiente no plantel, não deixava ninguém para trás", recorda o antigo jogador.
"Tinha compaixão a falar connosco e a falar com os mais novos, punha-se no nosso lugar, isso foi muito importante para mim, que vinha da equipa B na altura. Não esqueço esses momentos. Na época 2003/04, o José Mourinho era a parte tática do jogo, o Jorge Costa Costa a parte psicológica. As suas palestras tinham uma força... saíamos do balneário com a convicção de que íamos ganhar. Descansa em paz, Jorge", deseja Bruno Moraes.
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