"Aprendi muito com Sá Pinto. Foi o primeiro a acreditar em mim..."

Do conforto de uma carreira estável como educador e coordenador pedagógico à incerteza do futebol internacional, o treinador de guarda-redes Ricardo Pereira protagoniza uma história marcada por coragem, persistência e paixão. 

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© Reprodução/Instagram Ricardo Pereira

Lusa
20/05/2025 11:18 ‧ há 6 horas por Lusa

Desporto

Ricardo Pereira

Atualmente no Al-Ain, dos Emirados Árabes Unidos, o português de 51 anos percorreu um caminho singular e desafiante, com passagens por sete países, depois de decidir, já em adulto, mudar radicalmente de vida. 

 

"Despedi-me dois dias depois do nascimento da minha filha. Tinha estabilidade, mas percebi que não conseguia viver longe do jogo", recorda, em entrevista à agência Lusa o ex-educador de infância.

Tudo começou com um "amor inexplicável pela baliza", mas o salto para o futebol profissional implicou riscos consideráveis. Aos 37 anos, já com duas filhas, Ricardo deixou a segurança do mundo académico e partiu para um estágio não remunerado no Benfica.

A partir daí, foi construindo um percurso em crescendo, que o levou à Arábia Saudita, Polónia, Inglaterra, Bélgica, Equador, Espanha e, mais recentemente, aos Emirados Árabes Unidos.

"Durante os cursos no Algarve, cheguei a dormir em tendas. Noutros momentos, metia a mochila às costas e ia estagiar para o estrangeiro", conta, com naturalidade. A resiliência, admite, foi herdada dos pais, peixeiros, que lhe transmitiram desde cedo os valores do esforço, da humildade e da dedicação. 

Hoje, com estatuto reconhecido internacionalmente, depois de ter passado por clubes como o Légia Varsóvia, Nottingham Forest, Standard Liège ou Valladolid, Ricardo Pereira acredita que a chave do sucesso está na forma como conseguiu equilibrar a adaptação cultural com preservação da sua identidade técnica.

"Cada país tem os seus códigos, mas o foco é sempre o ser humano. Tentei respeitar as raízes culturais de cada lugar, adaptar o treino e criar relações de confiança", sublinha.

Essa filosofia permitiu-lhe colaborar com treinadores como Ricardo Sá Pinto, Renato Paiva e Martín Anselmi. Do primeiro não se esquece por lhe ter aberto as portas do futebol profissional.

"Com ele aprendi o que é viver o jogo com intensidade total, exigência máxima e um compromisso absoluto com a organização, estratégia e a paixão. Foi o primeiro a acreditar em mim", conta.

Do atual treinador do Botafogo, com quem privou nos equatorianos do Independiente del Valle, salienta a forma como lhe mostrou "perspetivas interessantes ao nível da organização defensiva, do detalhe e da metodologia". 

Com o atual treinador do FC Porto, com quem venceu também no Independiente del Valle uma Taça sul-americana e uma Supertaça sul-americana, Ricardo Pereira recorda instantes que lhe ficaram marcados na memória.

"O Martín Anselmi é um treinador jovem, ambicioso, com quem partilhei momentos felizes e conquistas importantes. Em jeito de brincadeira costumo dizer que todas as taças que ele levantou como treinador principal... foram ao lado de um treinador de guarda-redes bem português. Tem ideias interessantes e procura agora colocá-las em prática neste seu novo desafio, no futebol português que, como sabemos, tem treinadores muito bem preparados do ponto de vista da organização das suas equipas", explicou.

No centro do seu trabalho está uma visão moderna do papel do guarda-redes.

"Hoje, defender não chega. É preciso decidir, interpretar, antecipar. O guarda-redes moderno é mais inteligente e mais corajoso. Passámos de treinar apenas voos e quedas para criar contextos que exigem leitura e tomada de decisão", explica, realçando o papel dos treinadores especializados nesta evolução. "Já não treinamos apenas o corpo. Treinamos a cabeça para lidar com o caos do jogo."

Sobre a realidade portuguesa, Ricardo Pereira considera que a seleção está bem servida na baliza, com nomes como Diogo Costa, Rui Silva ou José Sá, mas alerta para um problema estrutural.

"Há qualidade nas camadas jovens, mas falta dar minutos. É urgente que jogadores como Francisco Silva, Diego Callai ou Samuel Soares tenham experiências competitivas reais. Precisamos de criar contextos que os preparem e os exponham. Isso passa por nós, treinadores, mas também por quem decide", atirou.

Apesar de estar fora do país há vários anos, admite o desejo de regressar, com condições bem definidas. "Voltar? Sim, com um projeto que me permita potenciar os guarda-redes da equipa principal e preparar os que vêm a seguir. E gostava muito de ajudar os treinadores da formação a terem percursos com progressão. No fundo, trazer para Portugal o que tenho feito lá fora", confessou.

A vida internacional, com todos os seus desafios, trouxe também sacrifícios, especialmente no plano familiar.

"Nunca estivemos realmente separados. A minha família está presente em tudo. Se conquistei títulos, o meu maior troféu é o amor que resiste à distância. Isso vale mais do que qualquer vitória", garantiu.

Entre os episódios mais marcantes da sua carreira, destaca a passagem pelo Valladolid, onde teve papel ativo na contratação do guarda-redes brasileiro John Victor, na altura alvo de críticas.

"Hoje ele é campeão da Libertadores e do Brasileirão. Sempre acreditei nele. Nem sempre as decisões são populares, mas o tempo tende a dar razão quando agimos com critério. Fizemos boas exibições e o John foi um profissional exemplar", referiu.

Sobre os jogadores que mais admira na posição que sempre o fascinou, Ricardo recusa destacar apenas um nome.

"Neuer, Ederson, Alisson, Ter Stegen, Sommer... Todos interpretam o jogo de forma global. Jogam para a equipa. São o que chamo de 'jogadores de equipa que por acaso jogam com as mãos'", brincou.

Leia Também: Adeptos do Esteghlal pedem Sá Pinto de volta: "Se tivesse ficado..."

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