"A humildade de Marco Silva surpreendeu-me bastante"

Em entrevista exclusiva concedida ao Desporto ao Minuto, Gonçalo Pereira, atualmente ao serviço dos finlandeses do KPV, conta como tem sido a sua aventura no norte da Europa e fala sobre os projetos que tem para o futuro.

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Rodrigo Querido
12/11/2024 07:16 ‧ há 4 semanas por Rodrigo Querido

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Gonçalo Pereira partiu de Castro Verde há 35 anos e iniciou a carreira no futebol profissional em 2011 como analista no Estoril, na altura orientado por Marco Silva. De lá para cá já se passaram mais de dez anos e o agora treinador está no KPV, da Finlândia.

 

Com larga experiência no futebol da Escandinávia - já passou por Suécia e Noruega, além da Finlândia -, o treinador falhou por pouco a promoção ao escalão principal finlandês com uma equipa que deu nas vistas na Taça da Finlândia, ao eliminar três equipas da primeira divisão até cair nos quartos de final.

Em entrevista exclusiva concedida ao Desporto ao Minuto, Gonçalo Pereira falou sobre como tem sido a experiência no futebol escandinavo e sobre quais são os seus projetos para o futuro.

Fomos a equipa na Finlândia que mais pontos por jogo teve

O KPV causou impacto ao chegar aos quartos de final da Taça, depois de afastar duas equipas do principal escalão, e esteve à beira da promoção ao principal escalão. Como tem sido essa aventura na Finlândia?

Sinceramente quase não tive tempo para perceber porque o campeonato acabou há pouco tempo. A verdade é que foi um ano muito positivo, não só em termos de resultados, mas mesmo para o clube si. O clube passou por uma reestruturação e às vezes não se consegue logo na primeira época estar ao nível esperado. Acabámos por conseguir ter um grupo de jogadores bastante jovens. A idade média andava, acho que era 20.4 ou 20.5, se eu não estou em erro. Mas conseguiu-se um grupo bastante engraçado, com algum talento para conseguir uma a boa época. Acabámos por chegar aos quartos de final da Taça e perdemos aos 90'+2. Foi uma uma experiência que, entre aspas, nos colocou no mapa desportivo finlandês. 

Ao mesmo tempo, conseguimos ser muito competitivos no campeonato. Acabámos empatados com o primeiro e acabámos por não subir devido à diferença de golos. Fomos uma equipa bastante competitiva. Fomos a equipa na Finlândia que mais pontos por jogo teve. Acabou por ser muito positivo, apesar de, no final, não temos conseguido a subida.

Ficou triste por não ter conseguido a promoção? O KPV marcou mais de 60 golos e teve uma percentagem de vitórias acima dos 60 por cento...

Não vou dizer que quem chega à parte das decisões em condições de ganhar que depois não olha para a competição com o objetivo de ser campeão e subir direto. Ia estar a mentir. A verdade é que nunca foi objetivo desde o início, mas foi algo que fomos tentando fazer os jogadores acreditar com os resultados. No início não tivemos a percentagem de vitórias que tivemos no final. Fizemos 69% de vitórias e 84,4% de jogos sem perder. 

Isso foi-nos fazendo acreditar ao longo dos jogos. Fica sempre aquele amargo de boca, mas a verdade é que temos de olhar para a época com olhos de ver. O processo foi bastante bom e a verdade é que, a nível global, o clube está vivo outra vez. A ligação entre adeptos, cidade e clube voltou ser bastante forte. Isso para o clube é o mais importante. Lógico que acaba sempre por ficar um amargo de boca quando chega o último jogo, em que se pode ser campeão e não és.

Remontemos ao início da carreira. Como foi trabalhar com Marco Silva no Estoril?

Eu era bastante novo, tinha 22 anos, se não estou em erro. Foi muito bom ter contacto direto com um contexto profissional, ainda que fosse na área da análise de jogo. Nessa altura, o Marco começa a época como diretor desportivo e passa a treinador em meados de setembro. Foi também o começo da carreira dele. A verdade é que, para mim, sendo o primeiro contacto com futebol profissional e apanhando uma pessoa que estava a começar, foi importante porque, se calhar, deu-me a oportunidade, tanto a mim como aos colegas que lá estavam, de fazer outro tipo de coisas e a minha opinião ser ouvida também. Aquilo que mais mais me surpreendeu foi, e eu costumo dizer muitas vezes, a humildade que o Marco teve em perguntar a opinião a amigos que vinham da faculdade. Marcou-me bastante.

O que ele fazia depois com a informação eu já não sei (risos). Mas fazia-nos sentir parte daquele que foi o processo do Estoril ser campeão na II Liga e acabar por ser promovido. Depois há duas épocas seguintes fantásticas do Marco no Estoril, e nós acabámos por sair. O percurso que ele faz é extraordinário e eu fico bastante contente por esse sucesso.

O Marco Silva faz parte desta nova geração de novos treinadores portugueses, como o Rúben Amorim ou o Paulo Fonseca. Acredita que estes treinadores mais novos podem ter tanto sucesso como Jorge Jesus ou José Mourinho?

Esta geração já está a ter resultados. O Rúben já foi campeão duas vezes, vai agora para o Manchester United, que é um dos maiores clubes do mundo. O Paulo Fonseca já tem provas mais do que dadas em diversos campeonatos, já foi campeão em dois países diferentes e está agora num clube gigantesco. O Marco, a seu tempo, acabará por lá chegar. Optou por fazer outro tipo de carreira e é ir muito cedo para a Premier League. Tem querido manter-se por lá e tem-no conseguido num mercado nada fácil, porque é contexto muito competitivo. Está fazer o seu caminho e estabilidade que ele está a ter agora no futebol, conduzi-lo-á a ter melhores projetos no futuro.

Para terminarmos, quais os objetivos que esse jovem que nasceu há 35 anos em Castro Verde tem a médio e longo prazo na sua carreira?

Esse jovem que saiu de Castro Verde, saiu com as ideias muito bem delineadas e as coisas na cabeça muito claras. Queria ser treinador de futebol desde muito cedo e fui atrás dos estudos e de ter as competências necessárias. Acabei por tomar também um decisão, aos 25 anos, que foi a de imigrar porque eu não queria estar seguir o percurso de 99% dos treinadores em Portugal que é treinar camadas jovens até aos 40 anos e depois, com muita sorte, apanharam o projeto. Fui tentar entrar no futebol profissional o mais rápido possível para ter outros tipos de experiências, não só termos de desenvolvimento pessoal, mas também em termos de desenvolvimento profissional. Até agora tenho conseguido.

Continuo a fazer o meu percurso em crescendo, felizmente. Comecei como adjunto, já dei o passo para treinador principal. Os projetos que tenho tido também têm sido sempre melhores. É isso que quero que possar ser. Quero fazer disto vida, o meu sustento, e que os desafios que venham a aparecer que me preencham e criem alguma ilusão e motivação para conseguir seguir nesta vida. No futebol é sempre muito difícil, mas tenho o objetivo de chegar a uma equipa que participe em competições europeias. E quanto mais cedo melhor.

E já existiram propostas para sair do KPV com quem tem contrato até 2025?

Abordagens acabam sempre por surgir. Por uma razão ou por outra nunca foram para a frente. Felizmente, têm existido contactos, mas nada que tenha justificado largar tudo para me lançar noutro mercado.

Leia Também: "Gyokeres melhor do que Haaland? Tenho reticências em relação a isso"

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