Foi desde pequeno que se iniciou nas lides do futebol. Após um início de carreira numa posição mais recuada, Pedro Marques foi galgando espaços no terreno de jogo de forma progressiva, tal como a sua carreira. E é como goleador que agora se destaca.

Após um início do período de formação na zona de Lisboa, dividido entre Estoril-Praia e Belenenses, o jovem, agora com 25 anos, saltou diretamente para a Academia de Alcochete com 19 anos. E foi com a camisola do Sporting que se começou a destacar como uma das maiores promessas dos leões.

Chegou ao "clube do coração" e conquistou o título de campeão nos juniores. Passou por equipa B, de sub-23 e estreou-se na equipa principal em pleno Estádio de Alvalade, num jogo a contar para a Liga Europa. Mas, e apesar de todo o potencial que era apontado a Pedro Marques, a fixação definitiva nos seniores do Sporting acabou por nunca acontecer.

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o avançado, agora ao serviço dos cipriotas do Apollon, passou em revista a passagem pelo Sporting, que lhe valeu dois jogos e dois golos pela equipa principal. Apesar de garantir que não guarda rancores por não ter tido o sucesso que desejava nos verde e brancos, o dianteiro assume que gostaria de ter tido mais oportunidades.

Estreia pela equipa principal? Foi muito bom ser tão jovem e ter tido essa oportunidade, numa altura em que, se calhar, não se davam oportunidades aos jovens tão rapidamente como se dá agora

Falemos da sua passagem pelo Sporting. Chegou a Alcochete ainda com idade de júnior... Como avalia esse processo de formação do Sporting?

Foi muito positivo, foi isso que me fez tornar num jogador profissional. Cheguei lá com 18 anos. Nesse sentido, também devo muito ao Sporting.

Campeão de juniores, equipa B, sub-23... Fez todo o percurso na formação antes da estreia pela equipa principal na Liga Europa e logo em Alvalade com a camisola do clube do coração. Como recorda esse jogo?

Aconteceu numa altura em que nem estava muito a contar com isso. Estava bastante bem nessa altura e lembro-me muito bem do jogo [ndr: contra o Vorskla, em dezembro de 2018]. Foi muito bom ser tão jovem e ter tido essa oportunidade, numa altura em que, se calhar, não se davam oportunidades aos jovens tão rapidamente como se dá agora.

Pedro Marques no jogo de estreia pela equipa principal do Sporting - 13 dezembro 2018© Getty Images  

Ainda sobre essa passagem pela equipa principal. O que recorda desses tempos?

Lembro-me que houve uma vez, no meu primeiro ano na equipa principal do Sporting, em que treinei a semana toda com o Jorge Jesus para ser convocado para um jogo da Liga Europa, mas depois perceberam que eu não estava inscrito e voltei para a equipa B [risos]. Lembro-me muito bem do meu jogo de estreia e das experiências de aprendizagem que tive, especialmente, no plantel onde estavam Bruno Fernandes, William Carvalho, Bas Dost e Nani. Fiz praticamente a época toda a treinar lá, mas quando não tinha minutos na equipa principal, ia jogar na segunda.

Depois da estreia na equipa principal, esperava fixar-se no plantel?

Depois da estreia, continuei bastante ligado à equipa principal. Na época seguinte, escolhi ser emprestado...

Na época seguinte acaba por sair para os Países Baixos por decisão própria como relatou... Porque é que tomou essa decisão?

Achava que não ia ter grandes oportunidades de jogar como na realidade acabou por acontecer. Na altura, a maior parte dos ponta de lança lesionaram-se, foram vendidos ou até expulsos. Acabou o Pedro Mendes por ter oportunidade nessa época. Com o conhecimento que tinha, acabei por escolher sair e acho que foi bastante positivo para mim. E abriu as portas para mais tarde voltar.

Pedro Marques marcou dois golos pela equipa principal do Sporting, ambos diante do Sacavenense, em jogo da Taça de Portugal© Getty Images  

Depois dos Países Baixos, volta a Lisboa já com o Rúben Amorim na equipa técnica, ele que sempre prezou a aposta na formação. Esperava ter ficado na equipa principal? Na primeira metade da época 20/21 acaba mais por ser opção na equipa B do que na primeira equipa...

Qualquer jogador trabalha para ter a oportunidade. Temos sempre a esperança de que a vamos ter e depois é decisão do treinador de a dar ou não. Às vezes, as situações não são perfeitas, e outras vezes são. Depende de muitos fatores.

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— Sporting CP (@SportingCP) November 23, 2020

Segue-se o Gil Vicente na segunda metade de 2020/21, onde até tem bons números, e o regresso a Lisboa para a participação na pré-época. Mas volta a ser cedido, desta feita ao Famalicão em 2021/22. Aí percebeu que Rúben Amorim não contava consigo?

Na altura, o mister chamou-me para fazer a pré-época, mas, no final, achou que eu não devia continuar. Foi aí que eu percebi que não ia ter seguimento na equipa principal na época que vinha a seguir. Acabou por surgir o empréstimo ao Famalicão. Depois, foi a vida que aconteceu.

Lembro-me que o Sporting até teve algumas dificuldades quando o Paulinho se lesionou, e acredito que eu poderia estar à altura para substituí-lo

Os caminhos da equipa principal também estavam lotados nessa época. Havia Paulinho, Slimani, o Tiago Tomás...

Eu achava perfeitamente que tinha capacidade para ser o sucessor do Paulinho. O Slimani acabou por sair, o TT foi emprestado e ficou apenas o Paulinho. Lembro-me que o Sporting até teve algumas dificuldades quando o Paulinho se lesionou e acredito que eu poderia estar à altura para substituí-lo. O mister Amorim achou por bem que eu não ia ter os minutos suficientes e foi aí que surgiu a solução do Famalicão.

Sente alguma mágoa por não ter tido mais oportunidades para se mostrar na equipa principal do clube do coração?

Não digo mágoa. Toda a gente que joga nas camadas jovens do Sporting sonha em fazer uma carreira no Sporting digna de ser memorável. Isso é normal. Sei que todas as vezes em que fui chamado a representar a equipa principal acabei por representá-la muito bem. Tenho dois jogos, uma hora de jogo e dois golos. Nisso, nada podem apontar. Quem sabe, no futuro ainda poderá surgir essa oportunidade. Agora, estou focado em trabalhar para a minha carreira profissional e com o que tenho. O que foi no passado, está no passado.

Pedro Marques esteve seis temporadas ligado ao Sporting© Getty Images

Tem, certamente, acompanhado os jogos do Sporting. Como tem visto o Gyokeres? É um avançado que lhe agrada?

Bastante. Reconheço-lhe qualidade e capacidade física. Vai ter um grande impacto quer no Sporting, quer na I Liga. Se mantiver este nível durante mais algum tempo, acredito que dará um passo ainda maior, talvez para equipas do topo.

E se ainda estivesse no Sporting, a dupla Pedro Marques-Gyokeres faria estragos?

Não sei responder porque não é a situação neste momento. Mas sei que, onde quer que eu esteja, acredito sempre que consigo criar perigo a qualquer um. Portanto, estando ao lado dele, acredito que estaríamos certamente a criar perigo e a destruir defesas.

Se no futuro surgisse esse convite para voltar ao Sporting, o que diria?

Quando o convite surgir, logo se pensa. Agora, não se pode falar nada porque esse convite não está em cima da mesa.

Pedro Marques tem estado em destaque nos cipriotas do Apollon© Apollon

Quais as principais diferenças entre o Pedro que saiu de Portugal no verão de 2019 e este Pedro que está agora a falar connosco?

Uma pessoa mais adulta, capaz, inteligente e crescida. É muito por aí.

Foi internacional por Portugal nos escalões sub-19 e sub-20. Acabou por não ir à categoria dos sub-21, mas o sonho da estreia pela seleção nacional ainda se mantém vivo?

Não é uma coisa que ponho em primeiro plano como sonho. Tenho sonhos de atingir níveis maiores em termos de equipa. E acredito que a seleção nacional será uma consequência desse sonho.

Regresso a Portugal? Não é algo que, neste momento, eu veja no meu futuro

Depois desta temporada no Chipre, quais são os planos para o futuro? Sonha jogar numa das grandes Ligas europeias?

Em primeiro lugar, eu já estava a jogar numa das Ligas que está no top 5 europeu. Neste momento, os Países Baixos estão à frente de Portugal. Gostaria muito de jogar em Inglaterra e na Premier League.

E tem em mente chegar lá em pouco tempo? Já surgiu esse convite alguma vez?

Houve conversações, mas nada sério. Nada que seja importante assinalar.

Se ligássemos daqui a um ano… O que gostaria de nos contar?

Que fui campeão, melhor marcador e que estou feliz.

O regresso a Portugal pode acontecer a breve trecho?

Para breve, não acredito que vá acontecer. No último mercado de verão, rejeitei inúmeras possibilidades de voltar a Portugal. Não é algo que, neste momento, eu veja no meu futuro. É um não hoje, mas pode ser um sim amanhã.

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