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"A vela não é o futebol". SailCascais aponta à promoção da modalidade

Contando com vários anos a competir ao lado dos grandes nomes da vela mundial, Vasco Serpa puxou a sua veia empresarial e decidiu dinamizar a modalidade em Portugal, com a criação da SailCascais. Ao longo dos últimos anos, conseguiu acumular uma série de iniciativas consideradas cruciais para o crescimento da prática desportiva.

"A vela não é o futebol". SailCascais aponta à promoção da modalidade
Notícias ao Minuto

07:57 - 29/09/22 por Miguel Simões

Desporto Exclusivo

Logo após ter regressado definitivamente a Portugal, em 2017, Vasco Serpa instalou-se com a sua família, em Cascais, e não tardou em promover diversas iniciativas para dinamizar a vela no território nacional, algo que levou à criação da SailCascais, junto ao Clube Naval de Cascais.

O velejador de 51 anos conciliou a paixão pelo desporto com aquilo que aprendeu e exerceu durante vários anos, na área financeira, envolvendo-se em diversos projetos de incentivo à prática da modalidade.

"Quando estava mais focado no meu lado laboral, havia sempre algo mais forte que me chamava para a vela, e eu pensava 'É mesmo isto que eu gosto'. Por exemplo, fui convidado para ir à Rússia fazer um campeonato, depois houve outro em Cascais, em que convidei amigos e vencemos. Aí, fui recomeçando, ainda que em modo lento", contou Vasco Serpa em conversa com o Desporto ao Minuto.

Apoios aumentaram na década de 90

Numa altura em que Vasco Serpa começou a alcançar bons resultados ao representar Portugal, também os apoios começaram a aumentar na vela com rumo a um "nível de profissionalização" mais estável. Contudo, a visibilidade da modalidade não se compara à de outros desportos como o futebol, como fez questão de frisar o velejador. 

"Apesar do bom projeto e da equipa estar a crescer com resultados e apoios nessa altura [na década de 90], a verdade é que a vela não é o futebol. Quando eu saí dos Jogos Olímpicos [em 1996], a vela ainda estava a dar os primeiros passos a nível de profissionalização. Mas a verdade é que já havia o trabalho de meter na cabeça dos atletas de que tudo era possível", começou por dizer, em relação aos apoios.

"Em 1990, o Hugo Rocha foi campeão mundial de juniores e a vela começou a ter mais fundos do Estado para os programas de desporto. O país estava a crescer e a vela foi um meio que beneficiou um pouco desses apoios. A Federação Portuguesa de Vela também teve uma série de patrocínios que potenciaram a possibilidade de trabalhar bem a fundo", salientou Vasco Serpa, antes de recordar alguns nomes sonantes da vela: "É curioso que os atletas dessa altura ainda permanecem como sendo os de topo em Portugal, como o Hugo Rocha, o Afonso Domingos, o Álvaro Marinho ou o Gustavo Lima. Cruzou-se uma conjetura de pessoas e recursos, o que possibilitou os bons resultados", explicou o velejador de 51 anos.

Vasco Serpa confessou que, assim que regressou a Portugal, sentiu "falta de qualquer coisa" ao olhar para a costa portuguesa, e a criação da SailCascais passou a ser "muito direcionada, inicialmente, para a vela adulta, desde as aulas e eventos corporativos para o aluguer de barcos".

"Comprámos a nossa própria frota de barcos e fizemos essa gestão. A empresa também acaba por ser criada pela minha possibilidade de voltar a fazer vela como eu gosto, à séria, pelo menos dentro daquilo que é possível para uma pessoa que gere uma companhia e tem de trabalhar", frisou.

A oferta e o contexto da SailCascais

Além de atualmente estar a dar apoio a uma das classes do projeto olímpico da Federação Portuguesa de Vela, Vasco Serpa já cumpriu várias missões a que se propôs na SailCascais, desde a vela adulta e feminina às parcerias que têm facilitado o acesso das pessoas (praticantes ou não) à vela.

"Quando chegámos à Sail Cascais, tivemos várias questões a resolver. Por exemplo, os clubes dinamizam muito a vela infantil, mas têm uma oferta muito tímida para a vela adulta. Há um par de empresas a trabalhar nisso e os clubes desligaram-se disso. Nós, assim, criámos mais uma plataforma que possibilitasse as pessoas adultas, com mais de 18 anos, a aceder à vela, complementando o que já existia, com o aumento de oferta", começou por explicar acerca da dinamização da vela adulta.

"Sentimos também que Portugal estava com muita procura, possibilitámos que estrangeiros viessem a Portugal e que outras pessoas que já andassem de vela se juntassem à classe SB20, que cresceu de 20 para 50 barcos. Depois, com os barcos podíamos realizar os nossos eventos. Tínhamos de facilitar tudo no processo, com a separação entre a propriedade e o usufruto. Nós assim possibilitamos que uma pessoa que não é dona de um barco possa vir à vela de forma facilitada. Chega aqui, o barco está na água, pronto para sair e assim a experiência torna-se mais agradável, democratizando-se o acesso ao desporto", acrescentou o empresário e velejador.

A par da vela adulta, a SailCascais focou-se também na aposta do desporto feminino, de forma a que a 'desculpa' da dedicação à família deixasse de existir.

"Nós focámo-nos em determinados grupos e, assim, dinamizámos conceitos como a vela feminina, como o Women on Water, em que as regatas são feitas exclusivamente para mulheres. Enquanto são jovens têm mais tempo, mas depois têm filhos, casam-se e acabam por se desligar. Portanto, se democratizamos o acesso facilitamos a essa adesão, mesmo que a família consuma o seu tempo", enalteceu Vasco Serpa.

A componente clubística também cresceu com os incentivos para a competição entre clubes, nomeadamente em provas dinamizadas pela SailCascais, levando o velejador e empresário a repescar novamente o exemplo do futebol.

"Dinamizámos também o conceito de fazer provas entre clubes, que é onde tudo começa. Há quem aprenda no Clube Naval de Cascais, outras no Sport Clube do Porto. No fundo, traz-se o clubismo para a vela e com um modelo como o de outros desportos, como é o caso do futebol. Ou seja, várias equipas, que se defrontam entre si, e no final temos um clube que é vencedor. Despertam-se as rivalidades, agrega-se a comunidade à volta do seu clube e apoiamos a participação dos clubes vencedores lá fora, na Sailing Champions League", frisou.

"Outro conceito passou por organizar uma regata em que convidamos todos os campeões nacionais de todas as categorias de vela, desde os Optimist aos Dragões, se reunissem no Alqueva para ver quem era o campeão dos campeões", referiu Vasco Serpa, antes de abordar os pontos positivos dos patrocínios: "Além disso, realizamos outras provas em que temos patrocinadores a pagar uma parte e reuníamos várias equipas para participar. Com a minha experiência vejo as coisas de outro prisma e a SailCascais, sendo uma empresa independente, tem capacidade e autonomia para fazer coisas novas, sem ter mais coisas 'agarradas'. Acaba por ser aquela liberdade que as pequenas empresas têm", afirmou.

O papel das empresas para a vela

Por fim, Vasco Serpa salientou o papel que todas as empresas "alinhadas nos mesmos moldes" podem ter no crescimento da vela, em termos de fundos, pessoas e dinâmicas, não esquecendo a importância da Federação Portuguesa de Vela.

"Uma coisa que eu gostava de referir é a importância que as empresas têm para a vela. Nós tivemos várias empresas que nos apoiaram. A ideia é que cada vez mais hajam empresas a apoiar os atletas. É um desporto que é relativamente caro. Nós na SailCascais temos o apoio da Solyd e isso é importante. Os sponsors também nos permitem ter mais acesso a material", explicou.

"No fundo, potenciam-nos um pouco e dão-nos mais possibilidades. Por outro lado, para as empresas também é bom ao terem algum retorno. Nós aqui tivemos o apoio da Naturia e da Solyd. O papel das empresas é mesmo fundamental no envolvimento da modalidade. A Federação Portuguesa de Vela tem um determinado orçamento que vem do Estado, mas está a tentar vender o que falta a outras empresas", acrescentou o experiente velejador, antes de enumerar algumas empresas: "Há a Vilamoura Sailing que tem uma organização muito grande a nível de eventos, além de trabalhar muito com o turismo em Portugal. Há também uma empresa no norte que se chama BB Douro, que também faz bastantes eventos e trabalha com a Lusíadas. Já a Terra Incógnita trabalha muito com a Mercedes, por exemplo", clarificou.

Notícias ao Minuto Vasco Serpa mostrou-nos o amor pela vela, a bordo, com a companhia dos jovens Guilherme Gomes e Martim Mastbaum.© Notícias ao Minuto

Vasco Serpa salientou que o "meio está a crescer" a um nível cada vez mais exigente, sendo que considera a modalidade "demasiado importante para estar entregue aos amadores" e, por isso, destacou a importância da "ligação entre as empresas".

"Estamos a falar de empresas privadas associadas à vela que, no fundo, acabam por dinamizar a prática de vela e têm mais flexibilidade e alcance de fazer coisas que os clubes nem sempre conseguem fazer. É importante esta ligação entre as empresas para os atletas conseguirem o que pretendem e, ao mesmo tempo, as empresas conseguirem beneficiar do retorno e da imagem que a projeção dos atletas lhes acabam por dar", rematou.

De referir que Vasco Serpa é considerado um dos principais promotores da vela em Portugal, nomeadamente depois de ter criado a SailCascais, com uma série de inciativas que têm dinamizado a prática da modalidade no território nacional, tanto pelos portugueses, como pelos estrangeiros que vão chegando para aproveitar as potencialidades da zona costeira portuguesa.

Leia Também: "Se morrer num barco à vela, não acharei estranho. Faz parte do que sou"

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