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"Se morrer num barco à vela, não acharei estranho. Faz parte do que sou"

Vasco Serpa já leva 40 anos a praticar vela e, apesar de ter deixado a alta competição a certa altura da vida, regressou em 2017, com a criação da SailCascais. Em conversa com o Desporto ao Minuto, o experiente velejador recordou vários momentos da carreira, abordou o amor pela vela e apontou as expectativas futuras na promoção da modalidade.

"Se morrer num barco à vela, não acharei estranho. Faz parte do que sou"
Notícias ao Minuto

07:58 - 29/09/22 por Miguel Simões

Desporto Exclusivo

Figura incontornável na história da vela portuguesa, Vasco Serpa começou a dar os primeiros passos na vela aos 11 anos, e já leva quatro décadas na prática da modalidade, embora com uma interrupção pelo meio, para se dedicar à área financeira.

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o velejador de 51 anos contou como iniciou o seu percurso na vela, explicou as razões que o levaram a deixar a alta competição por quase duas décadas e recordou ainda grandes momentos que viveu no mar, fruto das conquistas que obteve ao longo da carreira - desde a presença nos Jogos Olímpicos aos diversos campeonatos em que triunfou.

Além disso, o facto de liderar um projeto que promove a prática da modalidade em Portugal - a SailCascais - levou Vasco Serpa a apontar os aspetos positivos que o país detém a nível de recursos naturais, desde a costa e o mar à meteorologia e o turismo.

O experiente velejador traçou, ainda, algumas expectativas para o futuro, e não hesitou em deixar claro que nem se imagina a deixar a vela até ao fim da sua vida, garantindo que quer devolver à modalidade tudo aquilo que contribuiu para a pessoa e o profissional que é atualmente.

Quando comecei a andar no mar, os portugueses iam aos campeonatos e ficavam sempre posicionados na casa dos 60, 80, 100...

Como começou a sua ligação ao mar?

De forma algo aleatória. Os nossos pais experimentam várias atividades, e depois há uma em que nos encaixamos. Neste caso, foi a vela. Tinha irmãos que faziam vela e foi fácil estabelecer a ligação. Acabei também por ser arrastado quando um vizinho meu se inscreveu na vela. Obviamente que a minha relação com o mar acabou por ser mais natural, o gosto foi crescendo e envolvi-me logo em campeonatos nacionais. Correu bem, detetaram um certo talento e comecei a competir no campeonato do Mundo de Optimist, até aos 15 anos. Depois, passei para a classe de juniores, também com campeonatos do Mundo. A partir daí, competi na vela olímpica e fui aos Jogos Olímpicos de 1996. Tentei ir aos de 2000, mas, depois, acabei por me desligar um pouco. Eu gosto de coisas ao ar livre e de lidar com os elementos da natureza, portanto, foi uma relação natural que foi crescendo, confesso.

Nessa participação nos Jogos Olímpicos de 1996, consegue um sétimo lugar na categoria Laser. Considera que foi o momento auge da carreira?

Em termos desportivos, sem dúvida que foi um feito para mim, por várias razões. Em termos pessoais, creio que é preciso ter em conta o trabalho feito antes. Quando comecei a andar no mar, os portugueses iam aos campeonatos e ficavam sempre posicionados na casa dos 60, 80, 100,... Nesse percurso para os Jogos Olímpicos, era preciso começar a levar Portugal para os lugares cimeiros das tabelas, e isso culminou nessa minha participação dos Jogos Olímpicos de Atlanta, em que conseguimos um diploma olímpico numa classe com 56 ou 58 participantes, muitos dos quais são, hoje em dia, os atletas de topo. No fundo, foi um momento muito especial, ainda numa idade jovem.

Quais os títulos que conquistou a nível nacional e/ou internacional que mais o destacaram?

Fui várias vezes campeão nacional de vela. Tenho uma longa carreira. Já faço vela há praticamente 40 anos. É natural que tenha conseguido algumas taças olímpicas de Laser, fui vice-campeão várias vezes, tal como campeão nacional por quatro ocasiões na categoria SB20, que é das que tem mais atividade e agrega mais velejadores a nível nacional. Tudo isto deriva daquilo que já está incorporado no meu subconsciente. Sabemos andar de vela, conhecemos as questões técnicas e a tripulação roda há bastante tempo. Não vencemos sempre, mas estamos sempre no grupo que pode ganhar. A vela é um tipo de desporto em que nós não conseguimos controlar tudo, como a intensidade do vento. Às vezes, podemos ser influenciados por uma manobra errada de um barco ao nosso redor. As coisas também vão ficando mais difíceis, com boas tripulações a aparecer.

Foi muito difícil conciliar essa parte de velejador com o facto de estar a começar a minha carreira laboral

Qual o motivo para ter deixado as competições de vela durante um tempo e ter seguido para a área financeira por quase duas décadas, tendo em conta toda a carreira construída até aí?

Enquanto fui aos Jogos Olímpicos de 1996, estava a estudar e faltavam duas cadeiras para acabar o curso de economia na Universidade Nova [de Lisboa]. Quando acabei os Jogos, foi um processo natural e comecei a trabalhar. Foi muito difícil conciliar essa parte de velejador com o facto de estar a começar a minha carreira laboral, mas tive a sorte de ter um superior que me deu bastante liberdade. Percebeu as positividades de ter um atleta de alta competição a trabalhar na sua equipa, assim como as vantagens que isso teria a médio-longo prazo. Deu a liberdade para seguir esse caminho, até que isso se esgotou. No primeiro ano, logo a seguir aos Jogos Olímpicos [de 1996], tive 70 dias de licença sem vencimento para poder fazer o calendário pedido pela Federação Portuguesa de Vela, algo que nem consegui. Em 1998, deixei de trabalhar durante nove meses para me focar no projeto olímpico, mas perdi as seleções para ir aos Jogos de 2000, e voltei ao trabalho em 1999. Ou seja, estive dois ou três anos no meio termo, mas as coisas têm de ser feitas a fundo. E eu não sei fazer as coisas de outra maneira, pelo que decidi investir na minha carreira profissional. De uma forma natural, cresci, ganhei confiança, fui trabalhar para fora e estive envolvido na banca durante 18 anos, até achar que era o momento de voltar para Portugal, em 2017. Eu e a minha mulher estávamos para ter um filho, e era o local ideal para viver com a família. Em termos práticos, estive desligado da vela entre 12 a 17 anos, mas nunca a sério, só mesmo a nível de competição.

Acaba por voltar e fazer uma mistura das duas coisas, entre a vela e a área empresarial.

É perigoso, mas pode facilitar as coisas. Se uma pessoa trabalha numa paixão, ou destrói-a, ou fica tudo mais fácil para trabalhar. Creio que subestimei um pouco a parte operacional da vela, porque é um processo pesado, sempre a carregar coisas, com barcos para trás e para a frente. Acaba por ser fisicamente puxado e operacionalmente intenso. Trabalhei quase 20 anos num escritório, agora estou de volta ao sol e tenho uma atividade física, o que é sempre bom e saudável. Tenho a capacidade de andar de calções e t-shirt por vários meses em Portugal. Isso, para mim, não tem preço, ao mesmo tempo que tenho liberdade para ir a campeonatos e lidar com pessoas que são minhas amigas e com quem cresci.

Passou por onde nas quase duas décadas dedicadas à banca?

Comecei a trabalhar no Banco Espírito Santo de Investimento em 1996, na altura dos Jogos Olímpicos, sendo que trabalhei até fevereiro de 2005. Quando abrandei na vela, em 1999, ainda fiquei baseado em Lisboa mais meia dúzia de anos. Depois, fui contratado para uma empresa em Madrid, onde estive quatro anos, seguindo-se outro banco em Londres, durante cinco anos. Deixei de trabalhar onde estava, mas continuei em Londres, meio indeciso sobre o que fazer, até que chegou o ano de 2017.

Notícias ao MinutoVasco Serpa mostrou-nos o amor pela vela, a bordo, com a companhia dos jovens Guilherme Gomes e Martim Mastbaum.© Notícias ao Minuto  

O Vasco é considerado um dos principais promotores da modalidade em Portugal. Como se sente em relação a isso?

Eu não sou nenhum santo, nem nada disso. O facto de ter vivido a vela inicialmente, ter trabalhado fora e ter estado fora do meio a viver outras coisas permite-me, ao regressar, ter uma atitude de não pensar só em mim e fazer com que a empresa ganhe dinheiro para ser sustentável. É a sensação de dar algo a um meio que muito me deu a mim. Com a idade que eu tenho, pelo que já passei, tenho mais confiança na implementação e execução de ideias. As pessoas depositam confiança em mim.

Quais os meses em que é possível haver mais competições em Portugal?

O que é curioso é que a época alta da vela é de outubro a março, tal como no golfe. Temos o que os outros não têm. Temos bom tempo, ou pelo menos muito melhor do que aquilo que os estrangeiros têm na Suécia, na Inglaterra ou no leste europeu. Isso ninguém nos tira. Enquanto conseguirmos manter uma certa atividade e formos suficientemente atrativos para captar as pessoas destas regiões para lhes facilitarmos o acesso ao mar, então, elas vão continuar a vir. Tal como há empresas de golfe a colocar a estratégia de ter operadores que vendem pacotes com tudo incluído, desde o voo e o hotel ao próprio campo. E tentamos dizer isso mesmo às pessoas, venham elas da Estónia ou da Finlândia, que chegam a Portugal e têm uma oferta hoteleira enorme no inverno, que é muito mais barata por comparação ao verão. Por isso é que o inverno é forte neste capítulo. No verão, toda a gente tem capacidade para fazer vela em todos os países. Se nos mantivermos atrativos, as pessoas continuam a vir.

Voltando um pouco àquilo que é o Vasco como praticante, como correu o último Europeu realizado no sul de França, durante o mês de setembro, na categoria de J70?

Eu estive num campeonato europeu de SB20 na Irlanda, onde ficámos em quinto entre 57 equipas, sendo que a prova foi ganha, curiosamente, por um português, o José Paulo Ramado. Chegámos a estar em terceiro, mas caímos uns lugares. Estivemos também num campeonato europeu de J70, no sul de França, dois ou três dias depois, onde estiveram 90 barcos e ficámos em 37.º lugar, o que não foi uma performance tão boa. Eu faço a atividade desportiva, é certo, mas vou a esses campeonatos e também presto serviços a clientes. Na Irlanda, alugámos quatro barcos e tive de prestar muito serviço lá. O nosso foco, assim, não é totalmente a prática e temos de dar apoio aos nossos clientes, o que acaba por subsidiar a nossa missão.

Quando as coisas funcionam mesmo bem, a vela é como um relógio suíço e nem se fala a bordoUma vez que refere tantas vezes o "nós", apontando para a tripulação e para a equipa da SailCascais, qual é a importância da comunicação entre os elementos que estão no barco?

É sempre importante, de facto. Mas, quando as coisas funcionam mesmo bem, é como um relógio suíço e nem se fala a bordo. Cada um sabe quando e aquilo que tem de fazer. Uma coisa bonita é ver um barco de 10 ou 15 metros em que não se ouve praticamente nenhum barulho, não há gritos. As coisas funcionam porque foram praticadas milhares de vezes ao ponto de não ser preciso falar com ninguém. Há um trabalho de antes e depois, mas também um caminho a percorrer. Fala-se muito nos treinos, fala-se muito depois, mas, na regata em si, é tentar minimizar o diálogo e manter o foco. Claro que, na regata, há um nível de informação que tem de ser mantido ao mínimo, mas só para aquilo que é realmente relevante, como perceber de onde vem o vento, se está a entrar mais pressão ou se há algum barco a passar perto, por exemplo. Toda a comunicação é mantida nesse sítio. No barco, podem estar várias pessoas, mas, normalmente, é mais entre três a cinco pessoas, algo que depende das categorias e dos pesos.

O Vasco foi sempre o líder da sua tripulação?

Maioritariamente, fui leme, mas não quer dizer que seja o líder. Nos meus projetos pessoais, naturalmente, encabecei mais as coisas, mas também já fui simplesmente o condutor. Se quiser correr, visto uma camisola e uns calções e vou. Mas, quando se fala de vela, é tudo mais complicado pela logística, a junção da tripulação, as compras... Hoje em dia, sou considerado um profissional que se dedica à vela a 100%, mas não é só a fazer regatas, sou um profissional do meio. Quando vou para a água, gosto de andar com bons velejadores, mas também com amigos com que eu sinta conexão. Ter equipas profissionais só por ter profissionais e não haver ligação, já não é uma coisa que me dê especial prazer. Uso a vela também para me divertir e, como tal, gosto de andar com os meus amigos.

Quais as expectativas para provas futuras a realizar-se na Galiza, em Itália e nos Estados Unidos da América?

Nós estamos a fazer uma transição para a classe J70, que é altamente competitiva e que conta com um circuito de abrangência mundial. Obviamente, o nosso objetivo desportivo é chegar o mais longe possível nesta classe. Temos bons velejadores nesta categoria, como o Hugo Rocha, Bernardo Freitas, Gonçalo Ribeiro... Queremos agregar pessoas em Cascais, na classe, e trazer estrangeiros para Portugal para competir nas nossas águas, mas, ao mesmo tempo, queremos competir lá fora. Vamos fazer regatas no circuito galego, em Vigo, que, em questões climáticas, é um bocadinho pior do que Cascais ou Algarve, mas ainda é fazível. No verão, vamos mais para Itália, onde eles têm uma frota bastante competitiva. Eventualmente, pelo meio, devemos fazer alguma regata nos Estados Unidos da América, com uma frota que é a mais competitiva de todas. Temos um calendário bastante ambicioso, mas temos de arranjar um incentivo para isto, para ser sustentável. Acredito numa frase que é 'practice makes good' (a prática faz bem). Quanto mais tempo estivermos no mar com este barco especificamente, as coisas só podem melhorar. No Europeu, ganhámos uma regata, tivemos alguns bons resultados, sendo que, no segundo dia, estávamos em décimo. Depois, as experiências menos felizes levaram-nos para um lugar mais abaixo. Temos de trabalhar nesses pontos fracos, usando o conhecimento já existente de velejadores de topo.

Em Portugal, se está a chover, ninguém sai de casa. Se está um bocadinho de vento, não se anda de vela. Vivi em Londres e, cada vez que havia um raio de sol, as pessoas iam para o parque e não deixavam de fazer coisas por estar a chover

Deu aí alguns exemplos de velejadores que se têm destacado. O futuro da vela está bem entregue?

Há, neste momento, três gerações. A mais velha são pessoas como eu, sendo que alguns deles ainda estão no topo como o Hugo Rocha, provavelmente o melhor velejador português, o Afonso Domingos, o Álvaro Marinho, o Gustavo Lima... Depois, há uma geração nova, mas na casa dos 30 anos, sendo que algumas delas não tiveram a felicidade de terem tantos apoios como nós tivemos nos anos 90, como no caso do Gonçalo Ribeiro, embora outras tenham tido, como o Bernardo Freitas. São dois velejadores de topo nesta geração intermédia, digamos assim, assim como os irmãos Costa (Pedro e Diogo) que foram vice-campeões do mundo, nos 470. A nova geração passa por aqueles que ainda estão praticamente a sair do Optimist, como o Francisco Uva, por exemplo. São esperanças e têm de continuar a mostrar que são capazes, porque o caminho é longo e duro. Há muitas razões para sair e poucas para continuar, mas acredito que possam ir longe. A questão aqui é esta transição da vela juvenil para a vela à séria, que é complicada e conta com muitos elementos à mistura, como o crescimento das pessoas ao terem mais distrações. Para se chegar ao mais alto nível, as pessoas têm de se privar de determinadas coisas e não pensar que é uma vida glamorosa, porque não é. Aquele espírito que as pessoas têm de querer ganhar à séria mais do que algum tipo de sonho em ser celebridade. É um caminho tortuoso, mas, no meio disto tudo, é preciso dinheiro. À medida que as coisas vão andando para a frente, vão sendo cada vez mais caras. Até certo momento, as pessoas são estudantes e depois passam a ser trabalhadores. Aqui, a Federação cumpre um papel, mas também as empresas, que contam com um papel super importante para o meio, ao subsidiarem estas atividades com alguma coisa em troca.

Falou da importância de termos muito mar. Qual a importância para um velejador português em poder usufruir uma costa marítima como a nossa, principalmente por comparação com outros países?

Em Portugal, o mar é um recurso que ninguém nos tira, mas é preciso usá-lo. Acho que, hoje em dia, se usa mais, e a prova de que é um recurso de alto valor passa pelas provas de surf que temos cá também. Isto também ajuda os atletas nacionais a beneficiarem e a usufruírem dos recursos praticamente à sua porta. Muitos dos outros países, como os do leste, têm pessoas que se deslocam para vir para aqui. A possibilidade de andar de vela todos os dias é uma vantagem que nós temos, para se ser profissional e ganhar mais medalhas. É preciso quebrar algum comodismo que é caraterístico dos povos latinos. Se está a chover, ninguém sai de casa. Se está um bocadinho de vento, não se anda de vela. Eu vivi em Londres e, cada vez que havia um raio de sol, as pessoas iam para o parque e não deixavam de fazer as coisas por estar a chover. Em Portugal, temos sol com fartura, mas, se chove um bocadinho, deixamos de fazer qualquer coisa. Há que criar alguma garra no nosso povo e fazer com que o recurso seja mais e melhor usado.

Qual a diferença de classes em termos técnicos?

Todos os barcos são diferentes, tendo em conta o seu peso, o tamanho de cada uma das velas ou a hidrodinâmica das quilhas. Cada classe tem a sua idiossincrasia. Na SB20 há um limite de peso de 270kg para toda a tripulação, mas, na J70, já não há esse limite de peso, podemos oscilar entre 320 e 370kg. Os barcos têm maneiras diferentes de ser levados e as velas precisam de ajustes diferentes. Tudo isto acaba por ter requisitos e exigências diferentes. Depois, surge a tal questão de ter uma tripulação que perceba o barco para o colocar a andar. Se estamos num campo de regatas com dezenas de barcos, estamos a ser influenciados constantemente. Há que ter a visão de perceber, taticamente, para onde vamos. Antes dessa tática, temos de perceber onde estamos, de onde vem o vento, onde está a montanha, o prédio ou a refrega. Precisamos de delinear uma estratégia, e isso torna a vela diferente de tudo o resto. Obviamente que tantos anos ajudam a este processo.

Notícias ao Minuto Velejador de 51 anos a competir numa prova internacional de 2021, em Cascais.© DR  

Seja enquanto empresário ou praticante da modalidade, tem ainda algum sonho por concretizar?

Há coisas que eu, eventualmente, gostava de fazer, mas o tempo também vai sendo cada vez mais escasso e tem de ser partilhado com outras tarefas, mesmo a nível familiar, com dois filhos pequenos. Tenho a minha empresa, gosto de fazer vela de competição, mas quem sabe um dia talvez faça uma volta pelo globo, daqui a 10 ou 15 anos, já com os filhos crescidos e com capacidade financeira para o fazer. Gostava de ter um projeto oceânico a curto prazo, ao começar a fazer vela mais afastada da costa. Mas tenho de ser realista.

Imagina-se a praticar vela até que idade?

Não me imagino a deixar de praticar. Isto que vou dizer pode parecer um bocado mórbido, mas, se morrer num barco à vela, não acharei estranho. Vou andar à vela toda a minha vida. Faz parte daquilo que eu sou. Só tenho pena de não ter começado mais cedo. Tinha 11 anos, mas podia ter começado com sete (risos).

O Vasco tenta passar esse amor pela vela à família ou aos amigos?

Não quero parecer chato, até porque todos gostam de dizer que o que se faz é que é ótimo. Eu gosto de vela, outros gostam de fazer assados. Por mim, está tudo bem. Mas, quando os meus amigos pensam em meter os filhos na vela, aí, já sou um advogado do meio. Acho que a vela tem características pedagógicas que ajudam bastante ao desenvolvimento das crianças, nomeadamente, no trabalho de equipa. As crianças agrupam-se porque estão num meio estranho e tendem a criar laços mais fortes entre si. Outra coisa é o desenvolvimento da tomada de decisão. Mas, em relação aos meus filhos, tenho um de quatro anos e nunca o forcei a ir de vela, nem quero fazê-lo. Se calhar, até vai para o ballet, não sei. Gostava que fizesse vela, mas quero que haja uma decisão própria, um bocado induzida talvez, mas nunca forçada.

Se tivesse de descrever a vela a um profundo desconhecedor do meio, de que forma é que o faria para mostrar o apreço que tem à modalidade?

De forma resumida e leve, a vela não é um desporto para toda a gente. Há quem goste mais de estar em meios urbanos, ou em casa, ou no campo, mas este é um meio em que o facto de estarmos a lidar com os meios naturais dá uma tranquilidade enorme e devolve aquilo que é a ciência do ser humano. Temos de estar em alerta, mas, ao mesmo tempo, apreciamos o silêncio. É um meio em que, basicamente, uma pessoa está em harmonia com a natureza, e isso é algo único, principalmente neste mundo cada vez mais 'louco' de notícias, trânsito e outras coisas. O facto de uma pessoa poder alienar-se mais um bocadinho no mar é fantástico.

Leia Também: "A vela não é o futebol". SailCascais aponta à promoção da modalidade

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