Contactada pela Lusa, fonte da APCVD deu conta da identificação de suspeitos, com a colaboração da Guarda Nacional Republicana (GNR) e da abertura de processo de contraordenação pelos atos praticados no sábado, durante o empate do Estoril Praia na receção ao campeão FC Porto (1-1), da sétima jornada da I Liga portuguesa de futebol.
Em causa estão insultos dirigidos a um homem, com uma criança ao colo, ambos com camisolas do FC Porto, que terão sido cuspidos, enquanto se encontravam numa zona da bancada destinada aos adeptos anfitriões, que podem ser punidos com coimas entre os 1.000 e os 10.000 euros e com pena de interdição de acesso a recintos desportivos.
A mesma fonte assegurou que, na sequência do incidente e segundo apurado pela APCVD, o pai e a criança com a camisola do FC Porto, vítimas de atos intolerância, mantiveram-se na mesma bancada, ainda que com a necessidade de os deslocar alguns metros para manter salvaguardada a sua integridade física. Criança e pai continuaram assim com a camisola do respetivo clube, acolhidos entre adeptos do Estoril que se demarcaram e mostraram indignados com os atos de intolerância ocorridos.
No domingo, o Estoril Praia lamentou o ocorrido, condenando "todo e qualquer ato de violência, seja ele de que natureza for".
"Lamentamos profundamente a situação vivida pela filha do adepto do FC Porto no Estádio António Coimbra da Mota, pedindo-lhe desculpas e desejando que nunca deixe de apreciar a verdadeira essência do Desporto. Condenamos as atitudes de quem não consegue controlar as suas emoções e permite que atitudes provocatórias de supostos adeptos de futebol se transformem num momento lamentável de agressividade que não tem lugar num estádio de futebol", lê-se no comunicado do emblema cascalense.
O Estoril Praia remata esta nota disponibilizando-se "para continuar a colaborar com as entidades competentes na procura das soluções adequadas que possam impedir este género de episódio de voltar a ocorrer num recinto desportivo".
Antes, já o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Correia, e o presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), Pedro Proença, tinham repudiado este incidente.
"Esta criança e o pai foram vítimas de intolerância inaceitável por parte de um grupo de adeptos da equipa adversária. Este tipo de incidentes não pode ter lugar nos nossos estádios. Como também não podemos aceitar as tentativas de normalização da intolerância no desporto", reagiu João Paulo Correia, através da rede social Twitter.
De resto, o secretário de Estado da Juventude e do Desporto assegurou medidas contra os infratores: "A Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto agirá contra o comportamento dos adeptos em causa. Continuaremos a lutar implacavelmente".
Questionada pela Lusa, a mesma fonte da APCVD deu conta da existência de cerca de 1.800 decisões condenatórias definitivas, já sem possibilidade de recursos, e de 560 medidas de interdição de acesso a recintos desportivo em vigor, resultante da atividade dos últimos três anos.
No total, atualmente, são cerca de 250 os adeptos impedidos de acederem a recintos desportivos, segundo dados do Ponto Nacional de Informações sobre o Desporto, 170 dos quais após medidas aplicadas pela APCVD.
Também o presidente da LPFP pediu uma "reflexão conjunta", frisando que "ninguém" pode ficar ausente desta discussão.
"O choro de uma criança, apavorada, agarrada aos braços do seu pai, num estádio de futebol, deveria ser suficiente para nos fazer... PARAR!!!", escreveu Pedro Proença, na rede social Facebook.
O líder da LPFP fez questão de "repudiar, de forma firme e convicta, todos os atos que configurem atentados a todos quantos constroem o espetáculo que deve ser o futebol", num "momento de retoma" das competições e em que se pretende "fazer regressar as famílias aos palcos desportivos".
"Teremos de ser intransigentes na defesa destes valores, certos, contudo, de que a mudança começa em cada um de nós, na reflexão sobre o que é o desporto e a cidadania. Essa reflexão constituirá uma parte substancial deste caminho. Não desistiremos de defender o que está certo e de reclamar meios e condições para o efetivar", salientou Proença.
Esta é a segunda vez no espaço de uma semana que tanto o secretário de Estado da Juventude e do Desporto como o presidente da LPFP lamentam incidentes ocorridos com adeptos em estádios da I Liga.
Há precisamente uma semana, uma criança foi obrigada a despir uma camisola do Benfica no estádio do Famalicão, por se encontrar, juntamente com o pai, numa bancada com maioria de adeptos locais.