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"Vitória no Dragão? Pelo aquecimento, deu logo para perceber muita coisa"

O FC Porto vai reencontrar a última equipa que lhe venceu em casa. O Marítimo teve um início de época atribulado, mas chega à Invicta para lhe tirar esse rótulo. O momento dos insulares está em completo crescendo e Professor Neca, pela experiência que tem, acredita numa surpresa neste domingo.

"Vitória no Dragão? Pelo aquecimento, deu logo para perceber muita coisa"
Notícias ao Minuto

07:14 - 29/01/22 por Tiago Antunes

Desporto Exclusivo

O Estádio do Dragão vai ser palco neste domingo de um reencontro de má memória para o FC Porto. Da última vez que o Marítimo foi recebido na corte do (à altura) campeão, a festa foi mesmo ao ritmo do 'Bailinho da Madeira'. Os insulares venceram, por 3-2, na terceira jornada da I Liga de 2020/21, e surpreenderam com uma exibição de luxo pouco esperada na casa de um grande.

Para esse triunfo contribuíram Rodrigo Pinho em dose dupla e Nanú, este já muito perto do final com um golo de nota artística elevada. O FC Porto levou com um balde de água tão gelada que lhe serviu de emenda, e desde essa tarde/noite de outubro de 2020 tem assegurado que mais ninguém lhe passa por cima em terrenos próprios.

Para recordar essa mesma partida que se mantém muito presente na memória do futebol português, o Desporto ao Minuto foi conversar com Professor Neca, elemento da equipa técnica do Marítimo em 2020/21. O treinador de 70 anos começou por reconhecer que esta edição da I Liga tem sido superior, com mais ação e com o FC Porto a assumir a liderança justa e com a hipótese se consolidar ainda mais.

"Esta época tem sido diferente para muito melhor porque tem entrado aquilo que é a razão da existência do futebol, com pandemia mais controlada, público nos estádios. A festa do futebol está cada vez mais próxima daquilo que a caracteriza. Um campeonato também ele muito competitivo em cima, onde já houve bastante alternância da liderança e onde o FC Porto vai progressivamente consolidando a sua posição, com uma liderança segura. Uma boa luta também pela Europa, onde normalmente o Sp. Braga se assume como a almofada entre os três maiores, ficando sempre acima de clubes como o Vitória SC, o Santa Clara, o Marítimo. Tem havido um jogo de boa qualidade com jogadores jovens a mostrarem-se bem, a demonstrarem que a qualidade do futebol português segue em crescendo", afirma o técnico.

Na interpretação de Professor Neca, é o atual líder da I Liga quem tem as maiores condições para terminar a época na frente, com destaque para a ideia de jogo promovida por Sérgio Conceição. Para diferenciar os dragões de Sporting e Benfica, o treinador de 70 anos escolhe uma palavra: regularidade.

"O FC Porto demonstra uma pujança e uma força que lhe dão alma. Uma equipa bem estruturada, organizada, um líder que tem percebido que é bem apoiado, que tem praticado um futebol de enorme qualidade, lançando de uma forma progressiva e muito acertada jogadores da sua formação, de uma regularidade espantosa. Isto torna este FC Porto mais poderoso e mais sério candidato a poder ser o campeão nacional desta época. O Sporting também está a jogar um futebol de boa qualidade, e espreita sempre a oportunidade de fazer o assalto à liderança, mas fica muito difícil pelo campeonato seguro que o FC Porto está a fazer. O Benfica, pese embora todo o investimento feito na época passada e com objetivos de longe não conseguidos, não tem sido capaz nesta época de se libertar do insucesso de 2020/21. Começou muito bem, mas foi progressivamente perdendo espaço, descaracterizando-se e deixando criar um fosso muito grande", acredita o treinador ex-Marítimo.

Vai jogar-se no Dragão o FC Porto-Marítimo e esta é hora de tirar da gaveta o dado curioso que lança a partida. Os dragões vão reencontrar a equipa com quem perderam pela última vez na sua casa, isto em outubro de 2020. Ao olhar para trás, Professor Neca recordou a partida com entusiasmo, um jogo que diz saber que ia vencer mesmo antes do apito inicial.

"Aquilo que se pediu foi aquilo que se pede sempre e que às vezes se antecipa. Sentiu-se nesse jogo que a equipa estava muito confiante, muito segura de que poderia fazer uma surpresa no Dragão. Teve no guarda-redes a sua base de sustentação, que fez uma exibição de excelência, uma equipa muito agarrada àquilo que era a ideia de jogo, percebendo que, para se ganhar ali, era preciso fazer golos, e foi capaz disso. Foi um jogo muito intenso, muito interessante e no qual, de facto, o Marítimo conseguiu fazer o que às vezes as equipas de menor porte não são capazes de fazer quando jogam contra as grandes equipas. Foi uma vitória muito forte", lembrou.

De forma a deixar a equipa tranquila e menos pressionada pelo ambiente que se poderia gerar em torno de um embate deste calibre, o trabalho de 'relativizar' o jogo começou na análise ao adversário e no delinear da estratégia. Tudo se simplificou, nas palavras do técnico, a partir do momento em que Rodrigo Pinho abriu o marcador aos 24 minutos.

"O estar a vencer acalenta o ânimo para aquilo que vem a seguir. Pede-se para equipa continuar a ser segura e procurar a fase de desorientação e maior intranquilidade da equipa grande que está a jogar perante o seu público, o que lhe aumenta também a responsabilidade. As dúvidas começaram a surgir no FC Porto e isso trouxe-nos a confiança que acabou por redobrar as energias, dar maior lucidez à possibilidade de se conseguir o sucesso", disse Professor Neca, que admitiu ainda que sentiu no aquecimento da partida que algo de grande poderia sair daquele jogo: "Para os treinadores, a forma como se faz o aquecimento, como se projeta o aquecimento, a forma como os jogadores ficam envolvidos com esse aquecimento, tudo dá segurança ao perspetivar o que poderá ser o jogo. Pelo aquecimento, deu logo para perceber muita coisa. A equipa parecia segura para ir ao encontro do objetivo do jogo que era chegar à vitória", contou.

Apesar do plano bem delineado, o FC Porto empatou o marcador antes do intervalo. Contudo, o golo sofrido não mudou uma linha da mensagem a transmitir aos jogadores no balneário, especialmente por tudo aquilo que aconteceu em 45 minutos à frente de um grande.

"Quando a equipa percebe que foi capaz de ficar por cima do jogo, de marcar primeiro e de sofrer já perto do intervalo, mas criando boas oportunidades de golo, isso faz com que a equipa ganhe uma alma e uma confiança redobradas, acreditando que é possível fazer outro golo, porque já tinha tido um golo anulado e já criado boas possibilidades de marcar outro. Depois, é isto que é próprio do futebol, a incerteza daquilo que poderá acontecer. Num jogo de futebol acontecem coisas extraordinariamente interessantes. Acontece que o mais pequeno pode sempre ganhar à equipa mais apetrechada, à equipa com melhores jogadores", admitiu.

A obra de arte de Nanú, que surgiu aos 90+4', levou o Marítimo ao rubro. Um golo numa transição ofensiva de excelência do Marítimo que acabou à lei da bomba. Professor Neca não tira valor à vantagem por 3-1 naquela fase do jogo, mas admite que a desconfiança apareceu quando Otávio fez o 3-2 ainda com instantes para jogar. No futebol, tudo pode acontecer.

"Tínhamos claramente muito mais confiança. Uma equipa que chega ao 3-1 na posição de vantagem depois quer agarrar-se à vida para que não perca a possibilidade de sair vencedora. Mas claro, quando se joga contra uma equipa que tem grande talento como é o caso do FC Porto, a inspiração individual de um jogador pode alterar as coisas e é por isso que o Otávio faz o golo e cria novamente o pânico à equipa que esteve sempre a ganhar ou empatada. Deixa de haver conforto, uma bola parada ou uma inspiração individual dos jogadores de exceção pode fazer ruir toda a conquista do mais pequeno", reconheceu. 

A preparação de um jogo deste calibre chega a ser a tarefa menos difícil para um treinador, que tem ao seu dispor um leque de jogadores motivados para se mostrarem nos grandes holofotes do futebol nacional. Professor Neca acredita que foi essa a chave para a atitude que a equipa mostrou em campo.

"Há aspetos que são fundamentais. A pressão desaparece da equipa mais frágil, sente-se mais confiante porque a responsabilidade é da equipa grande. São jogos em que todos os jogadores, mais do que noutros jogos, querem jogar, querem participar, querem se mostrar, querem ser protagonistas de um jogo que tem uma cobertura mediática incomparavelmente maior. São fatores que levam a que os jogadores reforcem os níveis de concentração, de otimização e de vontade de vencer, porque os holofotes estão mais concentrados num jogo com estas características. Estes jogos até são menos difíceis de preparar para as equipas técnicas porque não há necessidade de grandes índices motivacionais. Aos jogares contra o campeão ou contra uma grande equipa, eles são imediatamente instalados na preparação desse mesmo jogo", disse.

A vitória frente ao FC Porto soube bem à equipa insular que ganhava outra alma logo à terceira jornada da I Liga. Contudo, Professor Neca admite que a equipa terá ficado agarrada à vitória de forma errada, o que resultou em algum desleixo para as responsabilidades do jogo seguinte que o Marítimo acabou por perder frente ao Portimonense.

"As equipas técnicas tentam desligar aquele jogo, mas as ondas do sucesso ainda se projetam e refletem-se em desgaste físico e emocional para o jogador que quer viver para além dos 90 minutos a felicidade da conquista. Por vezes, torna-se difícil para as equipas técnicas conseguir que os jogadores se desliguem dessa felicidade para voltarem à realidade competitiva. Chega a acontecer que o jogo imediatamente a seguir não é um jogo muito bem conseguido", afirmou.

Desde então, muita coisa aconteceu. O FC Porto não conquistou o título e agora é líder de forma convincente. Já o Marítimo terminou a época a lutar pela manutenção, não começou a atual da melhor forma e agora, com novo treinador, está a fazer o seu caminho e está agora mais perto dos lugares da Liga Europa do que dos lugares da despromoção. Professor Neca vê muitas diferenças no emblema madeirense, ao contrário do clube azul e branco.

"Houve alterações significativas que levaram a esta recuperação com Vasco Seabra. Logo umas eleições ganhas por uma direção não desgastada no tempo, que entende bem os valores do futebol de alta competição, uma direção também de grandes valores maritimistas, de um clube que tem muito expressão nas ilhas, uma aproximação dos adeptos como não acontecia, eles que são fundamentais, são o oxigénio da equipa. Vasco Seabra agarrou bem a equipa em termos técnicos, tem potenciado os jogadores muito bem, a equipa está a praticar um futebol ao nível da qualidade dos jogadores e o crescimento exibicional tem somado pontos. Há uma outra alma. No FC Porto, há um trabalho de continuidade, seja diretivo ou técnico, e o treinador tem o perfil para aquilo, o ADN do FC Porto. A estabilidade e a força competitiva têm projetado resultados bem conseguidos", interpretou o treinador de 70 anos. 

Da última vez que o Marítimo jogou frente a um grande, o jogo terminou em vitória gorda do Benfica por 7-1. Do outro lado, o FC Porto apanhou um valente susto com o Estoril, vencendo por 3-2 no último suspiro. Professor Neca antecipa um jogo com um FC Porto forte como sempre e um Marítimo igual a si, não deixando de elogiar (novamente) o técnico dos madeirenses.

"Vasco Seabra tem mantido, e bem, a ideia da sua equipa. Não faz de um jogo contra um grande um desvio no caminho que quer percorrer. Prefere continuar com a identidade da equipa, melhorá-la e fazer com que ela continue a crescer, dar sempre uma imagem positiva do seu clube, mesmo que aconteça como aconteceu no Estádio da Luz onde foi vergado por uma derrota expressiva. Mas ele também sabe que a ideia continua viva, que a imagem que deixou transparecer para o adepto é de que há uma identidade, um caminho, que às vezes não se consegue aquilo que é o seu objetivo, mas consegue transmitir a ideia de jogo. Até conseguiu imediatamente a seguir continuar o seu caminho de sucesso com uma equipa mais segura, mais positiva, mais identificada com o processo de jogo que continua em construção", concluiu.

FC Porto e Marítimo vão enfrentar-se neste domingo na 20.ª jornada da I Liga. O encontro, marcado para o Estádio do Dragão, está marcada para as 20h30.

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