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"Se fosse Amorim, diria aos atletas que só tropeçamos em pedras pequenas"

Casa Pia e Sporting discutem entre si um lugar nos quartos de final da Taça de Portugal. Em conversa exclusiva com o Desporto ao Minuto, João Ferreira falou sobre Jota Silva, jogador dos casapianos que orientou em Espinho, e sobre o regresso de Rúben Amorim a Pina Manique.

"Se fosse Amorim, diria aos atletas que só tropeçamos em pedras pequenas"
Notícias ao Minuto

09:07 - 21/12/21 por Rodrigo Querido

Desporto Exclusivo

Casa Pia e Sporting defrontam-se esta quarta-feira numa partida válida para os oitavos de final da Taça de Portugal, um duelo de emoções fortes para Rúben Amorim, já que o técnico defronta o seu primeiro clube na curta, mas já muito titulada, carreira de treinador de futebol.

Uma partida que será, certamente, também ela palco para alguns atletas, nomeadamente os do Casa Pia, se exibirem a um grande nível contra um adversário de um patamar superior, e provarem que podem fazer a habitual festa da Taça contra o campeão em título na I Liga.

Numa conversa em exclusivo com o Desporto ao Minuto, convidámos João Ferreira, ex-treinador do Sporting de Espinho, a falar sobre Jota Silva, um dos principais destaques do emblema de Pina Manique na campanha na II Liga esta época e jogador que o técnico, de 38 anos, orientou em 2019/20.

João Ferreira analisou ainda o regresso de Rúben Amorim a um clube que o conhece bem, recusando a ideia de que o treinador possa sentir alguma pressão por revisitar o anterior emblema.O Jota Silva vai querer, certamente, fazer um grande jogo contra o Sporting

O João estreou-se como treinador principal aos 22 anos. Sempre foi isso que quis fazer desde cedo?

Não, o sonho foi sempre ser jogador. Quando estava entre o final do Secundário e a Faculdade, houve essa possibilidade que até então não tinha existido que era a de entrar numa equipa técnica e de estar ligado ao futebol por via do treino. Na altura jogava futebol e deixei de jogar porque chegava cansado das aulas práticas. Tinha treinos à noite e não me apetecia treinar como jogador, mas ao mesmo tempo apetecia-me colocar coisas em prática. Foram estas várias coisas em comum que me deram vontade de ser treinador. Depois de ter começado, senti que estava em casa e era algo em que me podia destacar. Sentia-me confortável e com uma grande energia. E todo o apoio que tive de antigos colegas e amigos levou-me a querer mais.

Durante a carreira ocupou vários cargos, desde treinador a adjunto, passando por preparador físico. É para si importante conhecer um pouco de todas as funções numa equipa técnica?

É importante. Estarmos com outros treinadores e bebermos dos seus conhecimentos perto deles, para ver como resolve ou antecipa problemas e como melhora determinada parte do modelo de jogo, permite-nos aprender muito. Quando se é treinador principal sem experiência de adjunto, como eu fui, vamos aprendendo por nós e batendo com a cabeça na parede algumas vezes. Todas as posições contribuem para se ser, no limite, um melhor treinador, independentemente de sermos principais ou adjuntos. Isso permite-nos estarmos mais preparados para os desafios que nos aparecerem.

Notícias ao Minuto João Ferreira esteve duas épocas no Sporting de Espinho© Global Imagens  

Centremo-nos no seu trabalho mais recente no Sporting de Espinho, onde teve muito sucesso. Que balanço faz dessas duas épocas?

Foi a experiência mais desafiante que tive enquanto treinador principal. Treinar na nossa cidade é sempre um desafio diferente. Se ganharmos no dia anterior, a segunda-feira é um dia fantástico para a cidade, mas a seguir a uma derrota não é. E isso faz-nos amadurecer muito rapidamente, e percebermos na nossa pele qual é o impacto de uma vitória ou derrota, ainda por cima num clube que tem tanta expressão na sua cidade. Isso permitiu-me ganhar um grande estofo e acho que só por aí teria valido a pena. Para além disso, foi uma viagem fantástica porque tive experiências de jogo e de treino que não poderia ter tido de outra forma. Começar um treino da pré-época e ter um Diogo Valente à minha frente marcou-me porque são jogadores que estávamos habituados a ver na televisão e de repente estão a ser nossos jogadores. E outros também com experiências riquíssimas como o Paulo Jorge, que foi internacional pelas camadas jovens de Portugal, e o Kadu, que foi campeão pelo FC Porto. Até treinar jogadores de outras nacionalidades é um desafio porque precisamos de saber como vamos dialogar e chegar até eles. Todas estas experiências foram enriquecedoras para um futuro que esperamos que seja risonho.

Estas duas épocas ficam marcadas por duas boas prestações do Sporting de Espinho na Taça de Portugal, uma delas histórica. É neste tipo de jogos a eliminar que os jogadores se superam ainda mais?

Não acredito que se superem ainda mais. Eu enquanto treinador quero muito ganhar, é essa a minha forma de estar, e acho que qualquer jogo tem de ser jogado para ganhar. Sabemos que em 99 por cento dos clubes a principal competição é o campeonato, e todos os jogadores são imbuídos desse espírito porque é aí que o clube aposta todas as suas fichas e pode chegar a outro patamar. A Taça de Portugal permite-nos ter outros adversários, e isso também é um desafio muito interessante porque, quando jogamos contra clubes de escalões superiores, há uma vontade individual de treinadores e jogadores, que se torna coletiva, de nos testarmos contra esses adversários e se possível ganhar. Isso é como um nadador que quando rema a favor da maré tem uma tarefa fácil e quando rema contra conhece a sua força. É o mesmo que acontece nas competições a eliminar. Quando defrontamos um adversário de um patamar superior, o que queremos é provar que temos qualidade para podermos lá estar e isso traz um entusiasmo grande.

A equipa de futebol do Espinho está a precisar rapidamente de voltar a casaO Sporting de Espinho é um clube histórico e na primeira linha no voleibol. O que lhe falta para estar na ribalta das Ligas superiores do nosso futebol?

O Espinho está a passar um período difícil há muitos anos, mas estou em crer que essa curva descendente estará perto de se tornar ascendente. A finalização da construção do estádio municipal não demorará muito, e acho que esse é o primeiro passo para a linha se tornar ascendente. O futebol é o desporto motriz em Portugal, mas neste clube o voleibol também tem uma grande expressão. Esta equipa tem a vantagem de jogar na cidade, em instalações que não são do clube, e o futebol não tem essa possibilidade, sendo que está, salvo erro, há quatro anos a jogar fora de Espinho, o que tem tirado força, energia e alguns adeptos. A equipa de futebol está a precisar rapidamente de voltar a casa. Depois desse regresso, acho que o clube encontrará uma nova harmonia para se poder fortalecer internamente e chegar a um campeonato profissional a breve trecho.

É nesta passagem pelo emblema de Espinho que se cruza com o Jota Silva, que tem estado em destaque esta temporada ao serviço do Casa Pia. Na altura já lhe parecia um jogador com muito potencial?

Sim. O Jota conosco foi titular desde a primeira jornada até à última, antes da paragem devido à Covid-19. Sabíamos que era bom quando o contratámos, mas depois de estar com ele vimos que era ainda melhor. O que cria mais impacto num treinador quando tem o Jota é aquilo que faz no treino. Sou muito sincero ao dizer que o Jota é o melhor nos treinos de segunda-feira a sábado, ao dia anterior ao jogo. É impressionante a forma como treina, a disciplina e o foco que tem, assim como a capacidade de dar o máximo desde o primeiro treino pós-jogo até ao último antes do próximo. Não é normal a forma como o Jota se entrega ao treino. Hoje é titular no Casa Pia pela sua qualidade e o que faz no jogo, mas também porque merece muito pelo que faz nos treinos, mesmo não vendo o que fazem os companheiros dele, nem falando com o seu treinador. O que sei é que o Jota é altamente responsável, profissional, focado, e isso começa no treino dele. Quando um treinador tem um jogador com esta disponibilidade para treinar, sabe que vai ter um alto rendimento no jogo, e que mesmo que tenha um jogo mau, vai dar a resposta no jogo seguinte. É um exemplo para todos pela humildade que tem e pela forma como se dá com os colegas. Seguramente não vai parar por aqui e, com muito respeito pelo Casa Pia, acho que o Jota vai chegar à I Liga, mesmo que o clube onde está não suba de divisão.

Notícias ao Minuto Jota Silva esteve apenas uma época no Sporting de Espinho© Global Imagens  

O Casa Pia defronta já esta quarta-feira o Sporting para a Taça de Portugal. Acredita que o Jota Silva pode criar perigos ao Sporting?

No Espinho utilizámos o Jota como número 9, com dois avançados e como extremo. Ele tem rendimento em todas, embora acredite que é mais forte como 9 ou numa dupla de avançados na frente, que é onde se sente mais confortável e onde pode causar mais estragos. O Jota é muito bom no jogo aéreo, tem uma boa impulsão, e consegue disputar muitos lances com os centrais adversários, ganhando alguns deles. E é muito bom no ataque à profundidade, é rápido e perspicaz, e percebe quando se deve desmarcar, sendo muito difícil para um defesa adversário alcançá-lo quando o Jota está embalado. Ele tem essa particularidade, e se o Sporting se distrair pode criar problemas. Daquilo que tenho visto do Casa Pia, o Jota tem jogado como extremo, mas procura terrenos interiores para aproveitar as suas melhores características. Na quarta-feira, o treinador [Filipe Martins] vai certamente aproveitar esses movimentos que ele tem para que o Jota possa, numa ou noutra vez, aparecer junto ao guarda-redes e finalizar.

Se o Jota apresentar essa consistência, os treinadores vão olhar para ele com bons olhos

Este confronto com o Sporting é só mais um ingrediente para que o Jota Silva possa demonstrar que está pronto para outros voos?

O Jota com certeza que vai querer fazer um grande jogo, mas quando algum clube parte para a contratação de um jogador, analisa muito a consistência exibicional do mesmo. Não adianta muito ao Jota fazer um grande jogo contra o Sporting, se depois não der uma resposta contínua nos jogos que se seguirão no campeonato. O fundamental é a consistência do jogador, é marcar e assistir várias vezes, e estar envolvido nas jogadas de golo e ter compromisso defensivo com a equipa. É isto que os treinadores vão ver se o Jota é capaz ou não de fazer, mesmo sendo na II Liga. Se apresentar essa consistência, os treinadores vão olhar para ele com bons olhos. Caso faça um grande jogo frente ao Sporting e vacile nos outros, não vão dar grande valor ao que ele fizer frente ao Sporting.

Que armas é que o Jota Silva tem que podem criar sarilhos ao Sporting?

O Casa Pia tentará fazer alguns cruzamentos para colocar a bola entre o guarda-redes e a defesa do Sporting, e o Jota será, certamente, o principal alvo desses cruzamentos porque é aquele que, entre os avançados do Casa Pia, ataca melhor a bola em velocidade e finaliza melhor de cabeça. E depois aproveitará também os remates exteriores. Nem sempre o Casa Pia conseguirá entrar na área do Sporting, que tem uma linha defensiva extraordinariamente eficaz e raramente deixa colocar bolas nas suas costas. Esta é uma alternativa, e aí o Jota pode ser importante, porque, se tiver essa oportunidade, vai atirar à baliza por saber que é capaz de fazer golo também.

Notícias ao Minuto Jota soma dez golos esta época pelo Casa Pia© Global Imagens  

Até onde é que acredita que ele pode chegar?

As coisas têm de ser por patamares, e o que o Jota tem de ter na cabeça dele é ajudar o Casa Pia a subir de divisão. Se não for possível, e se tiver oportunidade de jogar na I Liga, esse deve ser o patamar seguinte. E depois é cumprir com os objetivos desse patamar, seja ele qual for, para poder atingir o seguinte. E só provando que somos capazes no patamar onde estamos é que podemos almejar outros. Não estou a ver o Jota a pensar em outras coisas. Claro que tem objetivos e sonhos na cabeça dele, mas acho que ele, pelo foco e determinação que tem, sabe qual é o passo que deve dar a seguir e é atrás dele que ele vai sem tirar os pés do chão. As características que ele tem podem ser apelativas para clubes que sejam da primeira metade da I Liga. Perspetivo que ele possa fazer uma bela carreira. O Jota tem muitos predicados que o tornam diferente de outros jogadores e que o vão levar a voos mais altos.

E acredita que ele pode deixar o Casa Pia já em janeiro?

Não me parece. Falei com ele no início da época, e estava muito animado. Sente-se feliz no Casa Pia, tem uma equipa técnica que acredita nele, companheiros de equipa que gostam dele, e um clube que lhe dá condições para desenvolver o seu trabalho. Muito dificilmente sairá em janeiro. Quando estava em Espinho teve hipótese de sair no inverno para a II Liga e ele preferiu ficar por uma questão de respeito pelo clube. Não sei se vai ter hipótese de sair em janeiro ou não, mas se a tiver, a menos que seja algo excecional, acho que vai preferir ficar no Casa Pia.

Em nenhum dos lados vai existir facilitismos ou deslumbres e vai ser um grande jogoEstes jogos podem ser um pouco traiçoeiros... Uma grande exibição destes Davids contra Golias não pode depois criar um certo deslumbre para os meses seguintes?

O Sporting tem feito uma época muitíssimo regular e não acredito que olhe para jogos com menor importância do que outros. Tem sido uma equipa extremamente profissional e consistente nos resultados e exibições. Quanto ao Casa Pia, não acredito que eles se deslumbrem com a possibilidade de jogar contra o Sporting, mais ainda depois de dois resultados que não foram positivos para o campeonato. Se há forma de acordar, é ter um mau resultado, e não acredito que isso seja necessário. Depois destes resultados negativos, acho que o Casa Pia vai estar extremamente focado e nada deslumbrado, e vai olhar para este jogo como uma oportunidade excelente de reverter os dois últimos resultados e mostrar que foram apenas acidentes de percurso. Em nenhum dos lados vai existir facilitismos ou deslumbres e vai ser um grande jogo. O Sporting vai querer ganhar, mas o Casa Pia vai disputar o jogo e vai ter as suas oportunidades para marcar.

Que papel tem um treinador nestas situações?

Eu se fosse o Rúben Amorim, e não me quero meter no lugar dele porque está a fazer um trabalho fora de série, dir-lhe-ia para dizer aos jogadores que ninguém tropeça em pedras grandes, só em pedras pequenas. Só há uma forma de não tropeçar nessas pedras que é estar atento, e, se o Sporting estiver atento, vai tornar a vida difícil ao Casa Pia. Aos jogadores do Casa Pia diria que esta é uma oportunidade fantástica e única para fazerem acontecer Taça. Dos dois lados haverá motivação suficiente para fazer um grande jogo.

Notícias ao Minuto Rúben Amorim foi treinador estagiário no Casa Pia na época 2018/19© Global Imagens  

Rúben Amorim regressa a uma casa que o viu nascer na carreira de futebol. Acredita que ele possa, de alguma forma, sentir algum peso das expectativas que vão colocar sobre ele por regressar a um clube que lhe tem muito carinho?

Não acho que se vá sentir pressionado. Vai é talvez sentir-se emocionado por regressar a um espaço que lhe dirá muito, ao contacto com pessoas com que ele estará eternamente grato, e chegará lá com um sentimento de que quererá fazer naquele campo aquilo que habituou as pessoas do Casa Pia, como é ganhar, as vitórias e o sentimento de liderança. E será isso que certamente quererá levar para o jogo. Acho que é com esse sentimento que vai lá.

E essa emoção do regresso pode afetá-lo durante o jogo?

Não acredito. O Rúben Amorim em muitos jogos da sua vida, até como jogador, já terá tido momentos de grandes emoções, e não acredito que isso vá mexer com a decisão dele. Ele quererá ganhar esse jogo e não vai trocar a vitória por nada. Nada vai desfocar o treinador Rúben Amorim das suas tarefas para o jogo. 

Leia Também: Rúben Amorim ainda tem seis ausências na antevéspera da Taça de Portugal

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