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"O Estrela da Amadora é um clube que eu jamais irei esquecer"

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Abel Xavier recorda a passagem pelo clube da Reboleira, que esta época garantiu o regresso às competições profissionais, apontado um futuro tranquilo ao conjunto amadorense.

"O Estrela da Amadora é um clube que eu jamais irei esquecer"
Notícias ao Minuto

08:01 - 12/06/21 por Rodrigo Querido

Desporto Exclusivo

O Estrela da Amadora garantiu, no final do passado mês de maio, o regresso às competições profissionais nove anos depois, após ter conseguido a promoção na zona sul de apuramento do Campeonato de Portugal.

Uma promoção à II Liga conseguida no terreno da União de Leiria, e que valeu festa rija nas ruas da cidade que viu renascer das cinzas um clube que foi declarado falido em 2011.

Dez anos depois, e após uma fusão no verão passado com o Sintra Football Club, o conjunto que já viu nascer para o futebol jogadores como Miguel, Jorge Andrade e Calado, logrou a subida às provas profissionais, para gáudio de Abel Xavier, outro jogador que passou pelo clube da Reboleira.

Em entrevista exclusiva concedida ao Desporto ao Minuto, o antigo jogador dos amadorenses destacou que o Estrela da Amadora merece um lugar entre os maiores clubes da I Liga, salientado a história dourada que o clube teve antes de cair nas divisões mais baixas do futebol português.

"É fantástico [o regresso às competições profissionais]. É uma história que se está a refazer. O Estrela era um clube simpático, com uma grandeza humana tremenda. Foi um dos clubes que me projetou para outro patamar, nomeadamente valorizando-me e potencializando a minha ida para o Benfica. Não o posso esquecer. Acho que, no mundo do futebol, ganhamos e perdemos muitas coisas, existe sempre a apreciação das pessoas pelo seu lado material, mas a questão humana, de estarem em estruturas que têm poucas condições, mas que dão tudo o que têm, é sempre importante", começou por dizer Abel Xavier, que esteve no Estrela da Amadora, onde chegou com idade de júnior, entre 1987 e 1992.

"O Estrela da Amadora será sempre um clube que eu jamais irei esquecer, e que eu tenho gratidão, apesar das pessoas passarem. Acredito que a instituição permanece intacta. E uma instituição como o Estrela da Amadora é feita pela sua história, que é de grande valor, e que eu espero que, em termos desportivos, consiga afirmar-se na II Liga e, em breve, esteja no patamar que merece, e que os responsáveis possam ser reconhecidos por isso porque o trajeto não foi nada fácil, mas falta muito trabalho", acrescentou.

Notícias ao Minuto Jogadores do Estrela da Amadora festejam subida à II Liga© Global Imagens

Abel Xavier recordou, ainda, como se processou o seu ingresso no Estrela da Amadora, destacando o carácter integrador de um clube que reuniu muitos jogadores que eram dispensados de grandes clubes.

"A história do Estrela é a de um clube de uma zona periférica com quem todos simpatizam. As equipas que o clube formou, nomeadamente da formação, eram compostas por jogadores que eram excluídos, dispensados, e até discriminados na sociedade. E o Estrela teve sempre cuidado nesta integração ao nível da formação. E formámos equipas extremamente competitivas. Essas mesmas equipas lutavam com Benfica, Sporting ou FC Porto sem nenhum tipo de receio. Estive inserido nessa estrutura, e talvez tenha sido dos jogadores com quem o Estrela da Amadora teve um retorno económico muito grande com a minha ida para o Benfica. A compensação não foi só económica, mas também desportiva, com alguns jogadores a virem para a Reboleira após a saída", vincou.

"Não posso esquecer que, em idade de júnior, com 17 anos, já jogava na equipa principal do Estrela da Amadora. Fui internacional nas competições europeias com o Estrela, trabalhei com a equipa, ainda que não tenha jogado, que ganhou a Taça de Portugal. Do lado negativo, acabámos por descer de divisão, e isso trouxe consequências. Tenho mais coisas boas do que negativas para falar sobre o clube. Acabei por ser um jogador, a jogar na II Liga, a ser convocado para a Seleção A de Portugal, e não sei se existem muitos mais na mesma situação. Na altura na seleção nacional estava o Carlos Queiroz, que já me conhecia do aparelho federativo. São marcas muito próprias e especiais. E isso está ligado ao clube, às próprias pessoas. Se me perguntares, por todos os clubes onde passei e que ganhei todos eles carinho e gratidão, talvez num patamar muito inicial esteja nos clubes que guardas porque havia mais humanismo dentro da estrutura", sublinhou, destacando a dispensa do Sporting, antes de rumar ao rival Benfica já nos anos 90.

Notícias ao Minuto Abel Xavier somou 20 internacionalizações pela seleção portuguesa© Getty Images  

"A minha história no Estrela da Amadora é semelhante a muitas outras por aí fora. É a história de um jogador que foi dispensado e que conseguiu erguer a sua carreira no Estrela da Amadora. Sou dispensado do Sporting com 16 anos. Quando somos dispensados de um clube como o Sporting dificilmente vamos para o Benfica, mas acabei por ir para o Estrela da Amadora que era o clube periférico que recrutava os excedentes. A comunidade africana orientava-se muito para o clube pelo posicionamento logístico que tem naquele concelho. Depois, tínhamos este espírito de revolta e de querer competir contra aqueles que não nos deram valor. E isto era transformado numa força muito grande em todas as equipas da formação do Estrela da Amadora", sustentou, destacando, ainda, o carácter formador que o clube teve antes da descida de divisão, mas também os treinadores portugueses de muita valia que passaram pelo Estádio José Gomes, na Reboleira.

"Quando falamos sobre o Estrela dizemos que foi um clube vendedor de muito talento. Tivemos na formação o Miguel, o Jorge Andrade, o Calado, Jordão, Miguel Geraldes, e muitos mais. O Estrela também teve capacidade de ter jogadores consolidados. A formação, o Estrela ter chegado às competições europeias, os nomes de grandes treinadores que passaram pela Reboleira como o Jorge Jesus, João Alves, Jesualdo Ferreira, Manuel Fernandes, José Mourinho, e muitos outros. Fui treinado por todos eles, menos o Jesus, que até gostaria de ter sido treinado por ele, mas não tive esse enorme prazer. Olha-se para trás e perguntas-me se faria algo diferente? Eu diria que não, porque as coisas aconteceram dessa forma", salientou.

Questionado sobre o seu futuro profissional, Abel Xavier sustentou que já fez "uma volta perfeita" ao longo da sua carreira, depois de ter começado o percurso em África e regressado ao continente africano para orientar a seleção nacional de Moçambique, mas aponta a uma nova aventura nos próximos tempos, depois de uma paragem por conta da pandemia.

Notícias ao Minuto Olhanense foi a primeira experiência de Abel Xavier enquanto treinador em Portugal© Global Imagens  

"Em 2012, estive inserido num projeto no Olhanense na primeira constituição da SAD do clube com um grupo de investidores italianos. Tinha um conceito completamente diferente porque vinha com outras pessoas que estavam também interessadas em comprar o clube. Acabei por ser treinador do Olhanense, e salvaguardei o investidor que queria também ter uma posição na obtenção da SAD do Olhanense. Falava muito com essa pessoa porque eu tinha um conceito completamente diferente, nomeadamente das equipas do Algarve pela marca, a zona, pela religião, pelo potencial que tem associado ao futebol. Surgiram algumas incompatibilidades como é normal. Costumo dizer que, quando as pessoas se encontram e apertam as mãos, está tudo muito bonito. Depois, no caminho, as pessoas podem ter alguns desentendimentos e incompatibilidades. Saí à 10.ª jornada e, infelizmente, o Olhanense desce de divisão no final dessa época, primeiro para a II Liga e depois para a terceira divisão, onde continua até agora. E essa situação deixa-me triste pelo povo de Olhão que sempre me tratou com grande carinho", contou, antes de recordar a ida para o Farense e, posteriormente, a primeira aventura a Norte no Desportivo das Aves.

"Depois tentei refazer a carreira dando um passo para trás e fui para o Farense a meio da época, com um contrato de seis meses, dando, na altura, uma solução na altura ao presidente António Barão. Fizemos seis meses de grande qualidade e acabámos em sétimo lugar, a quatro pontos da luta pela subida de divisão perto de clubes com orçamentos muito maiores. Sentámo-nos à mesa, havia a possibilidade de constituir uma SAD diferente, mas não foi para a frente e eu saí. Às vezes, a incompatibilidade faz com que as pessoas se separem e isso é normal, Acontece num casamento, e porque é que também não pode acontecer no futebol? Depois, tive outro projeto com cariz de SAD que foi o Desportivo das Aves. Fui o primeiro treinador da SAD deles. Tinha um grupo de investidores que, depois de tudo consumado, foi uma tristeza ter visto o clube ficar com problemas muito grandes. Depois. voltei ao meu país de nascença", vincou Abel Xavier, apontado agora ao futuro.

Notícias ao Minuto Abel Xavier passou pelo Desportivo das Aves, Farense, e Olhanense em Portugal© Global Imagens  

"Quando olho para a minha carreira, vejo que fiz uma volta perfeita. Comecei em África, fiz a minha carreira e constitui família ao nível do futebol, e voltei outra vez a Moçambique para ajudar o país, a seleção, os jogadores, para recrutar novos talentos e, no fundo, fazer aquilo que sei fazer derivado ao conhecimento que adquiri em toda a minha carreira. Estive três anos em Moçambique, e saí em dezembro, porque o meu contrato terminava. Falhámos o objetivo contra a Guiné-Bissau aos 92 minutos. Tenho dois momentos marcantes na minha vida: a bola na mão como jogador, e o outro como treinador, que foi a não qualificação de Moçambique que eu queria tanto para dar uma alegria ao povo moçambicano, que sofre muito pelas catástrofes naturais e outro conjunto de fatores. Mas, ao minuto 92, foi-me negada essa alegria de festejar com o meu povo", afirmou Abel Xavier, que sublinhou que já teve abordagens de seleções para voltar ao ativo.

"Saí de Moçambique, tive várias situações muito interessantes ao nível de seleções, com outras gerações e dimensão, mas deu-se a pandemia e resolvi estar mais perto da família. Passei um tempo em Portugal, fiz a minha mãe regressar de Moçambique, e agora estou com um espírito um bocado mais aberto para dar uma oportunidade à minha carreira. Neste momento, não ponho de parte que seja um clube ou seleção, embora perceba que os contornos de treinar uma seleção é muito aliciante", aponto o antigo internacional português, recordando o potencial que as seleções africanas têm no que ao futebol diz respeito, apesar dos resultados menos conseguidos nas competições de seleções.

"A questão que se levanta é como é que as seleções africanas não podem competir com as de outros continentes quando têm uma matéria-prima fantástica. Quando falamos no Mundial 2018, podemos ver que estavam lá Nigéria, Gana, Marrocos, Argélia e Egipto, que são seleções de grande dimensão e que têm grandes jogadores, mas não passaram a primeira fase da competição. Mas França consegue ganhar um Campeonato do Mundo com nove africanos. Isto é desafiador, são estes desafios que procuro e quero ter. Podemos ser reconhecidos em qualquer parte do mundo. Só temos de agradecer e demonstrar a nossa qualidade", concluiu.

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