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"Não quero roubar o lugar ao mister Fernando Santos mas hei de lá chegar"

Acácio Santos é o grande responsável pela subida do UD Santarém à Liga 3, o novo escalão do futebol português, Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o treinador de 40 anos recorda o percurso no futebol e define a seleção nacional como o grande objetivo da sua carreira.

"Não quero roubar o lugar ao mister Fernando Santos mas hei de lá chegar"
Notícias ao Minuto

07:51 - 07/06/21 por Francisco Amaral Santos

Desporto Exclusivo

A União Desportiva de Santarém foi a grande surpresa do Campeonato de Portugal ao alcançar a subida para a Liga 3 sob o leme de Acácio Santos. O treinador português de 40 anos chegou ao comando da equipa em outubro, numa altura em que muitos já apontavam para a descida, mas tudo mudou durante os últimos meses e a União acabou por dar uma enorme alegria à cidade de Santarém. 

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Acácio Santos relata de que forma foi vivida esta campanha histórica do UD Santarém, ao mesmo tempo que admite que não sabe se irá continuar ao leme da equipa escalabitana.

Acácio Santos traça ainda a seleção nacional como o grande objetivo da carreira e revela as duas maiores referências no futebol: Francisco Seirul-lo e José Mourinho.

Os jogadores tinham dificuldade em acreditar

Conseguiu levar o UD Santarém à Liga 3, o novo escalão do futebol português. Que  balanço faz desta época? 

Um balanço bastante positivo. Quando começámos a ideia e a sensação geral era que o União tinha uma equipa para descer e não para se manter. A verdade é que conseguimos subir. Com trabalho, com ajustes no plantel, com um rigor muito grande e com a tentativa que o contexto fosse o mais profissional possível. Os jogadores foram respeitando e acabámos por assegurar a subida à Liga 3. 

Qual a importância deste passo para um clube com a UD Santarém?

Em termos práticos, isto tem a importância que nos damos. A importância que dermos a isto é que vai definir o impacto. O que quero dizer com isto? A UD Santarém conseguiu alcançar a Liga 3 dentro das circunstâncias que já identifiquei. Esta equipa tinha como ambição ficar nos cinco primeiros lugares, mas os jogadores olhavam para isto como algo difícil. Tinham dificuldade em acreditar. Quando nós chegámos e começámos a impor novas formas de trabalhar e, acima de tudo, rigor e uma dose de sonho, a coisa começou a ser mais real. Ou seja, o União tem de agarrar neste exemplo, que é de superação, e perceber que está numa Liga nova, na qual a FPF aposta muito e que vai ter muita visibilidade. É este o momento chave para o União estar num patamar interessante e colocar Santarém num lugar de destaque no futebol nacional. E, claro, fazer aquilo que já muitos clubes fazem: escolher e potenciar jogadores, melhorar condições de trabalho e permitir que mais crianças e jovens possam jogar futebol. É fundamental que os clubes estejam orientados para a questão económica e desportiva. 

Notícias ao Minuto Acácio Santos junto do plantel da UD Santarém. © Acácio Santos  

Qual a sua opinião sobre este novo escalão, a Liga 3, que acaba por funcionar como uma ponte entre a II Liga e o Campeonato de Portugal? 

Será importante para aumentar a competitividade, seguramente. É uma Liga mais restrita, com apenas 24 equipas. Os jogadores vão ser selecionados com mais cuidado, com mais rigor e provavelmente terão salários e condições melhores. Vamos ter aqui um nível intermédio. Mas no Campeonato de Portugal já existia um grupo de 24 equipas com os melhores jogadores e com mais condições e depois havia, como é o nosso caso, os outsiders que já proporcionavam boas condições de prática e próximas do profissionalismo. Esta Liga 3 vai reunir estas equipas que podem ter a capacidade de tornar o terceiro escalão mais profissional. Vejo isto com bons olhos e é o momento dos clubes aproveitarem. Com as regras bem impostas que FPF está a definir, será um passo importante para o futebol português. Os jogadores que vão chegar à II Liga, provenientes destas 24 equipas, estarão mais preparados e num nível superior. Antes tínhamos três Ligas e logo a seguir os juniores, agora temos o campeonato nacional de juniores, a Liga de sub-23, o Campeonato de Portugal, a Liga 3 e depois é que entramos nos campeonatos profissionais. Ou seja, temos aqui um filtro e uma possibilidade de potenciamento de jogadores que é enorme. Tem é de ser bem feito. 

Pode dizer-se que o futebol português está agora mais estruturado e mais perto de conseguir extrair o talento dos jogadores? 

Sim, claramente. Primeiro que tudo, são competições organizadas. No passado, havia o Campeonato Nacional de Seniores, que abrangia todas estas equipas, e agora existe um campeonato de sub-23 que permite dar maios tempo aos jogadores para dar o salto. Também sabemos que a idade do jogador está a aumentar. Temos vários exemplos de jogadores que jogam até aos 34, 35 ou 36 anos. Isto permite que o futebol se mantenha organizado, estruturado e que envolva cada vez mais agentes locais. É fundamental que haja esta participação e este envolvimento para a saúde da sociedade. Se isto for bem aproveitado, já não teremos tanta necessidade de irmos buscar jogadores estrangeiros. 

Isto acaba por ser a Liga dos sonhos. A Liga do trabalho para chegar a outro patamar

Até porque existem jogadores de qualidade no Campeonato de Portugal... 

Sim. Existem dois tipos de jogador: o jogador que foi ganhando algum espaço num clube e depois temos aqueles que tiveram formação no Benfica, Sporting, FC Porto, Sp. Braga ou Vitória SC e que não conseguiram chegar às equipas principais desses clubes e que procuram afirmar-se no Campeonato de Portugal. São jogadores que têm alguma qualidade e que se focarem e se tiverem uma boa estrutura podem chegar a outro patamar. Isto acaba por ser a Liga dos sonhos. A Liga do trabalho para chegar a outro patamar. É um bocadinho por isto que os jogadores ainda jogam. 

Como é que a cidade de Santarém acompanhou este feito da equipa? Ainda que, claro, essa relação possa ter sido afetada pela pandemia da Covid-19

Realmente a questão da pandemia condicionou bastante. Se houvesse público iríamos sentir o crescente acreditar. Iríamos ter mais presença de adeptos, mas de qualquer forma os adeptos foram-se juntando e eu acho que eles não acreditavam que era possível chegar à Liga 3. É isto que torna este fenómeno ainda mais giro. Eu não estou no futebol apenas pelo jogo em si, estou pelo impacto que o futebol tem na sociedade e que esse impacto seja positivo e não negativo. É essa a minha premissa. É potenciar a estrutura, os jogadores e a sociedade. Fomos começando a ver algumas manifestações e depois os adeptos começaram a acreditar e a acompanhar a equipa. É uma cidade que está um pouco adormecida em termos de apoio a uma equipa que jogue contra equipas fora do distrito. Agora com esta boa notícia de que os adeptos podem voltar aos estádios, provavelmente o União terá uma boa moldura humana. 

Época acabou e pedi para descansar. Depois vou decidir o que fazer

Quais são os objetivos do União para a próxima época? 

Os meus objetivos e do União ainda não coincidem. A época acabou e eu pedi para descansar. Depois vou decidir o que vou fazer. Não é taxativo que seja treinador do União na próxima época. Neste momento estou em fase de análise, como é lógico. Temos de dar espaço à estrutura para analisar aquilo que foi feito. O que nós, jogadores e equipa técnica, fizemos foi um feito incrível. Claramente éramos os outsiders. Neste momento o melhor a fazer é pensar, até porque agora há uma nova realidade: O União já não está no Campeonato de Portugal. 

Para trás, tem passagens pelo futebol grego, pela Malásia e também foi adjunto no Vitória FC. De que forma isto o tem ajudado nesta aventura de ser treinador principal? 

O conhecimento acaba por ser construído através da experiência. Não se pode viver apenas da experiência, mas sim dos dois. São fundamentais na minha construção. Quero ter o máximo de experiência e adquirir o máximo conhecimento. Por esta veia de liderança, com 26 anos já treinava uma equipa distrital de Beja e com 25 já tinha uma escola de futebol criada porque não gostava como estavam estruturados os conteúdos de formação em Beja. Rapidamente fui crescendo e estive com o Pedro Caixinha como analista na União de Leiria. Depois saltei para a Malásia como treinador principal, segui para a Grécia e aí há um momento importante. Aos 32 anos, recebo um convite para ser adjunto no Levadiakos e vou até à I Liga da Grécia para aprofundar a minha experiência no futebol. No meio disto tudo, adquiri todo conhecimento com passagens junto do Barcelona do Guardiola e do Manchester de José Mourinho. Além disso, temos de ter a capacidade de, enquanto líderes, potenciar os jogadores. Este processo todo culminou em ser treinador principal e em fazer a diferença junto das pessoas. Ou pelo menos, motivar as pessoas a fazerem mais e acreditarem nelas. E, depois, aí sim, surge o jogo em si. 

Pegando nessa questão de tirar o melhor dos jogadores, como é que um treinador lida com os egos no balneário? Como se gere a situação de alguns serem titulares e outros serem suplentes? 

Primeiro é preciso salientar que nós, treinadores, não inventámos as regras do jogo. Quando os jogadores decidem ser futebolistas sabem que as regras do jogo dizem que jogam 11 e agora, com as novas alterações, podem entrar cinco. Quem tiver mais rigor e qualidade de jogo, são aqueles que jogam. Os outros têm de perceber o porquê de não jogarem. Há uma coisa que eu defendo de forma pragmática: é preciso ter a capacidade de reconhecer os erros e as nossas responsabilidades. Os jogadores que não jogam têm de procurar saber o que lhes falta e depois têm de estar disponíveis para trabalhar e crescer. Às vezes mais vale ter quem não tem tanta qualidade mas que quer mais, do que ter quem tem qualidade e não quer crescer. Acima de tudo, é muito importante perceber o porquê e estar disponível para crescer. Temos de ter o que eu costumo chamar de ecossistema competitivo. Os que não jogam são extremamente competitivos, mas os que jogam também têm de fazer pela vida. Do nosso lado, há total liberdade para explicar o porquê de não jogarem.

Quer dar um exemplo?

Posso dar o exemplo de um dos jogadores que saiu a meio da época para um campeonato mais competitivo. Vinha da II Liga e não jogava com tanta frequência. Achou estranho. Tinha ali algumas limitações. Conversámos e ele veio-me perguntar o porquê. Disse-lhe que era por isto e por isto e que tinha de trabalhar mais para chegar a outro patamar. Foi de tal forma benéfico para o rapaz que acabou por sair três ou quatro meses depois. Estava constantemente a trabalhar os aspetos que lhe foram indicados. Às vezes, ele até treinava o jogo de pés com os guarda-redes e o treino já tinha acabado. É este tipo de força interior e orientação que trabalhei bastante com este grupo de trabalho. É esta a importância do coaching. 

Não estou a tentar roubar o lugar ao míster Fernando Santos, mas hei de lá chegar

Há pouco acabou por não revelar os seus objetivos. Deseja continuar com funções de treinador principal? 

Claro que sim. Não considero outro cenário. Apenas se fosse uma coisa muito transcendente, ajudando algum treinador de nível mundial, mas seriam poucos o que me levariam a desviar da minha carreira como treinador principal. Eu tenho um objetivo que é ser selecionador nacional. Não estou a tentar roubar o lugar ao míster Fernando Santos (risos)... Ele está a fazer um trabalho incrível, mas hei de lá chegar. E para lá chegar preciso de estar noutros patamares. Não é o facto de eu ter ido para o Campeonato de Portugal que reduz aquele que é o meu posicionamento enquanto treinador principal. Aliás, até tive convites para ir para o estrangeiro que acabaram por cair devido à pandemia. Este meu posicionamento já existe há algum tempo. 

Quem são as suas grandes inspirações nesta caminhada? 

Eu tenho duas pessoas que sempre admirei enquanto profissionais. O professor Paco Seirul-lo e o míster José Mourinho. Eles já sabem disso. Criámos amizade através do futebol e são as minhas referências. Enquanto treinador não tenho problemas nenhum em elogiar quem teve impacto nas nossas vidas. Quando tive a oportunidade de fazer estágio no Barcelona, que tinha aquela super equipa, o meu tutor era professor Seirul-lo. O professor não me conhecia de lado nenhum, mas ficava comigo duas ou três horas a falar e a explicar-me as coisas. Isso marcou-me porque o mundo do futebol sempre foi um bocado fechado. O Paco Seirul-lo é claramente uma referência. E o Mourinho também, nomeadamente quando estive com ele em Manchester. É uma referência. Se temos paixão pelo jogo, temos tendência a idolatrar algumas pessoas. Estou grato por poder dizê-lo publicamente. São pessoas muito importantes na minha vida. 

Notícias ao Minuto Acácio Santos tem o objetivo de ser selecionador nacional. © Acácio Santos  

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