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"A morte do Alex Apolinário é algo que guardarei comigo intencionalmente"

Alexandre Santos, antigo adjunto de José Peseiro, é o primeiro convidado da rubrica Jogo sem Regras.

"A morte do Alex Apolinário é algo que guardarei comigo intencionalmente"

Nesta segunda-feira, dia 22 de fevereiro, o Desporto ao Minuto dá o pontapé de saída a uma nova rubrica. Neste 'Jogo sem Regras', e sem recurso a cartões ou expulsões, exploramos sem guião o entrevistado, que acabará por ser o 'GPS' desta conversa.

Os convidados tiveram 'lugar cativo' mas, agora, que não estão na ribalta, transportam-nos para uma visão diferente da realidade a que assistimos.

O nosso primeiro convidado é Alexandre Santos, antigo adjunto de Peseiro, e que dispensa apresentações para FC Porto, Sporting ou Sporting de Braga.

A sua experiência mais recente aconteceu no Alverca, onde há poucas semanas viveu o pior momento da sua carreira: a morte de Alex Apolinário.

Entre as razões do adeus ao Alverca, a importância dos investidores privados no futebol português e a legitimidade de um Sporting líder, viajamos agora nesta conversa que, já sabe... é um 'Jogo sem Regras'.

A que é que se deveu o ponto final ao Alverca?

Geralmente, as despedidas devem-se ao facto de nós, treinadores, decidirmos partir para outros projetos ou então porque as direções dos clubes pretendem construir o caminho por outro lado. E, neste caso, foi a segunda opção, porque a direção entendeu mudar de treinador, dizendo que, para os objetivos que perseguiam, era o melhor a fazer. Foi a primeira vez que me sucedeu como treinador principal, mas isto faz parte da vida de um técnico. Agora, eu saí de um clube que mantém os objetivos completamente intactos e a subida de divisão continua a ser claramente possível. Estávamos, quando eu saí, a dois pontos do primeiro classificado, apesar da derrota no meu último jogo, na casa do Santarém. Ainda tínhamos mais nove jogos para fazer e dois dos quais com o líder Torreense.

O Alverca, comigo, realizou 12 jogos, conquistando nove vitórias e três derrotas, sendo que contabilizámos 30 golos e sofremos sete. No último jogo sofremos três, mas. antes disso. tínhamos a melhor defesa das 96 equipas que compõem o Campeonato de Portugal. Até ao início de janeiro, estávamos em primeiro lugar e só perdemos esse lugar quando fomos derrotados pelo Caldas. Estou de consciência tranquila porque, volto a sublinhar, o Alverca mantém os objetivos de subida intactos.

O Alverca é um clube com particularidades diferentes, até porque é um histórico do futebol português. Para um treinador, há uma maior pressão quando se chega a um emblema que já tem este passado?

Efetivamente, esta foi a minha primeira experiência ao longo dos meus 20 anos de carreira no Campeonato de Portugal, e foi indubitavelmente uma experiência muito positiva nestes 13 meses que por lá estive, embora a paragem devido à Covid-19 tenha complicado, e muito, o funcionamento normal da temporada. Mas respondendo à tua pergunta, por inerência, por sorte, por oportunidade, afinal foi assim que sucedeu, já tive a oportunidade de estar em clubes com grandes pergaminhos (FC Porto, Sporting de Braga e Sporting). Agora, estar no Alverca e num clube que já tem esse historial na I Liga, juntando ao investimento que foi feito, existe, claro, uma pressão, uma responsabilidade e uma exigência adicional.

Ao nível do Campeonato de Portugal, este tipo de clubes exigem logo à partida uma grande responsabilidade sobre todos os agentes desportivos que compõem os respetivos grupos, sabendo que o objetivo é quase sempre ganhar. Daí que este projeto entusiasmou-me imenso. Há 13 meses não tinha o objetivo de estar no Campeonato de Portugal, mas tudo mudou quando apareceu o projeto do Alverca. Porém, nem sempre essa pressão ajuda e, às vezes, muito jogadores não conseguem manter a estabilidade desejada para este tipo de desafios. Agora, claro que é melhor ter pressão do que não ter.

A morte do Alex Apolinário é algo que nunca mais esquecerei e que guardarei comigo intencionalmentePodemos dizer, e sabendo nós de situações dramáticas que se vivem no Campeonato de Portugal, que o Alverca até é um dos clubes que, felizmente, até respira fora dessa bolha de agonia?

Sim... eu acredito que sim. Até porque se absorve essa noção quando se vive no Campeonato de Portugal. O Alverca está muito longe dessa realidade e foi isso que me levou a estar de corpo e alma neste projeto. Os investidores que estão dentro do Alverca é que permitem ao clube viver numa realidade muito mais de Liga profissional do que Campeonato de Portugal. As condições que apresentam a jogadores e staff já estão num patamar de um muito bom clube de Liga profissional. São projetos que trazem uma mais-valia a este campeonato e que não são o normal desta divisão, o que não significa que por si só garanta automaticamente uma subida de divisão, tendo em conta os níveis de dificuldade que existem. Há, claramente, em cada série, duas a três equipas com este nível de envolvimento e organização, o que faz com que muitos clubes fiquem pelo caminho.

As receitas no Campeonato de Portugal são bastante limitadas. É exagerado dizer que um clube que joga todas as fichas numa subida de divisão e falhe esse objetivo pode inclinar o clube para uma situação perigosa a nível financeiro?

Sim, completamente. Há aspetos no Campeonato de Portugal, e não só nesta divisão, onde os investidores, estrangeiros e não só, que depois de investirem durante dois anos ou três acabam por sair dos clubes quando não existe uma retribuição a nível desportivo. Vemos muitas vezes clubes históricos que recebem dinheiro de investidores e depois acabam por desaparecer, algo que aconteceu muito recentemente ao Fátima, que acabou por desistir no início deste campeonato. A Federação necessita de regular este tipo de investimento, até para que os projetos sejam sustentados e não estejamos a falar apenas de missões a curto prazo. Nós esquecemo-nos que o funil é muito apertado e há poucas vagas para atingir o sucesso. Nós vemos clubes do Campeonato de Portugal que, se calhar, daqui a dois ou três anos vão deixar de existir.

"Vão deixar de existir". Quando me diz isto o meu pensamento deriva automaticamente para dois clubes históricos do futebol português: Estrela da Amadora e Vitória FC. Dois clubes onde já esteve como treinador e que hoje vivem em realidades distintas. Aliás, o Estrela fechou portas e abriu mais tarde como Estrela FC. Esteve nestes clubes ainda na primeira década do século. Já antevia o que ia suceder depois?

Mesmo estando na I Liga nessa altura, o Vitória FC e o Estrela já tinham problemas financeiros constantes e muita dificuldade em cumprir os acordos. Aliás, sistematicamente adiavam situações já de incumprimento. Nós, treinadores, nunca conseguimos ter uma noção real dos problemas, apenas e só quando tivemos os salários em atraso...

É difícil um aparecimento de um Leicester em PortugalE o Alexandre chegou a ter os ordenados em atraso?

No Estrela sim, e noutro clube também, que não teve uma queda tão abrupta, como foi o caso do Estrela, que desapareceu e ressurgiu, ou do Vitória FC. Mas o Estoril também teve graves problemas financeiros e que foram resolvidos com o aparecimento de um investidor que elevou o clube para outros patamares. Agora, o Vitória FC e o Estrela tinham problemas de base que já se previam que pudessem vir-se a agravar com uma possível descida de divisão. Sabia-se internamente que já se estava a investir com dinheiro da época seguinte. A gestão financeira foi sempre em perda e com muitas dificuldades de pagamento.

Os clubes deviam comprovar que não têm dívidas com os seus trabalhadores, mas a verdade é que isso não acontece, porque os clubes resolvem problemas com situações de adiamento. Às vezes, as dívidas são tantas que a única solução acaba mesmo por ser os tribunais. Os clubes entram num beco sem saída, porque não conseguem viver o presente sem resolver os problemas de passado. As ações de litígio multiplicam-se e os clubes chegam a um ponto em que já esgotaram as soluções. E depois a pergunta que faço é: Qual é o investidor que entra num clube para pagar dívidas?

Da resposta que o Alexandre me deu advêm-me duas questões. A primeira das quais é saber qual foi a situação mais dramática que viveu ao longo da sua carreira?

Já vivi muitas situações em que trabalhámos meses sem a promessa de um vencimento, mas sempre com a esperança de que tudo ia ser resolvido. Uma das situações mais difíceis foi efetivamente a do Estrela, mas curiosamente um dos clubes onde eu senti uma maior união e um maior esforço de família em querer resolver os problemas. Com isto quero dizer que foi claramente o clube com maior problemas financeiros onde estive, mas onde tive a direção e os jogadores mais unidos. Todos tentámos resolver os problemas em conjunto, tentando por todos os meios em alcançar o sucesso desportivo dentro das quatro linhas, apesar do acumular de dívidas. Os jogadores nunca rescindiram por justa causa, apesar dos ordenados em atraso, o que sucede com muita frequência, o presidente nunca nos abandonou. Lembro-me do António Oliveira, que juntamente com o Zé Luís, que também estava na direção, e todos em conjunto tentámos que o Estrela se mantivesse de pé. Não foi nesse ano, acabou por ser um ano ou dois anos depois que isso acabou por suceder. Nós nessa altura já tínhamos vários problemas com fornecedores, em conseguir manter a qualidade dos relvados e em organizar estágios, mas a direção fazia 30 por uma linha para arranjar soluções. Nós sabíamos que o corpo médico não tinha materiais básicos e, às vezes, era o fisioterapeuta a nível individual a trazer o algodão ou o betadine.

Ao longo desta conversa já mencionou por várias vezes a palavra investidores. Uma palavra que gera sensações dúbias nos clubes e também nos adeptos. Para alguns pode traduzir-se numa salvação e para outros na ruína. Desmistificando estes dois pratos da balança, é ou não benéfico a entrada de investidores na SAD dos clubes desportivos?

Só há pouco tempo é que esta realidade começou a tornar-se mais frequente no futebol português, ao contrário de outros países. Eu acredito que o grande problema de termos tido más experiências deve-se à falta de regulamentação neste tipo de situações. A junção de investidores privados a sociedades anónimas acaba muitas vezes por resultar em interesses que não são idênticos entre investidores e clubes, o que levou a situações irreversíveis como foi o caso do Aves ou o do Belenenses. Esses casos não podem suceder no futebol. As dificuldades de entendimento levam muitas vezes ao divórcio entre clube e SAD. Às vezes, até temos o mesmo investidor a apostar em três clubes diferentes, o que deixa em perigo o plano desportivo. Daí que seja necessária regulamentação para evitar este tipo de situações.

Mas temos de olhar para os bons casos, como é o exemplo do Alverca, em que tudo foi alicerçado num projeto a médio prazo para beneficiar quer os investidores quer o clube. Passou a haver melhores condições e melhores profissionais. E, às vezes, fica difícil fazer desta modalidade profissão para 95% das pessoas sem a entrada destes investidores. São poucos os clubes que conseguem dar condições aos profissionais que lá trabalham. No estrangeiro, já se tornou comum a entrada de investidores e isso não impediu os clubes de se manterem como emblemas históricos. O que sucede em Portugal é que, muitas das vezes, os investidores só pensam única e exclusivamente nos seus interesses ou então SAD e clube entram em litígio por não chegarem a acordo, o que acaba por tornar esta situação numa enorme guerra. E depois sim, sucede o que nós temos visto nos últimos anos em Portugal.

Nós sabíamos que o corpo médico não tinha materiais básicos e, às vezes, era o fisioterapeuta a nível individual a trazer o algodão ou o betadinePara fecharmos o tema dos investidores e depois voltarmos a página para outros temas. É possível assistirmos à chegada de um investidor a um dos 'grandes' do futebol português?

Pela maneira cultural como nós somos, acho que isso é difícil. Daqui a uns anos, e como já vemos em Inglaterra, onde existem estes grandes investidores, talvez seja possível. Agora, só imagino a entrada de investidores privados nos clubes num caso de sobrevivência. Caso contrário, a forma como está assente as assembleias e as forças dos sócios, e a importância que eles têm na gestão dos clubes, não acredito que isto seja uma realidade a curto prazo. Os clubes têm tentado que haja investimento e investidores, ainda que não sejam eles a determinar o futuro dos clubes. Em Portugal, os sócios têm a legitimidade para definir o futuro dos clubes, e não acredito que a médio prazo os clubes passem esse poder para os investidores.

Se não imaginamos Benfica, FC Porto, Sporting ou Sporting de Braga a derivar esse poder para as mãos dos privados, será possível imaginarmos um clube do meio da tabela a 'agarrar-se' a esse investidor para atalhar o caminho para um título de campeão que seria utópico sem um investidor privado?

Aquilo que acabei de responder anteriormente acaba por entroncar nesta pergunta que fazes, e bem. Se nós não funcionamos da forma como os ingleses se gerem, em que há investidores em quase todos os clubes, acabando até eles por trocar de clubes dentro da mesma competição, talvez não possamos ambicionar a mais. Na Premier League, vão aparecendo novos candidatos ao título por força desses investidores, como foi o caso do Leicester. O dinheiro faz a diferença e quem tem acesso a esse dinheiro consegue fazer mais coisas. As equipas inglesas que não são habitualmente candidatas chegam mais depressa aos títulos, porque têm muito dinheiro e as diferenças entre clubes não são assim tão avassaladoras. Em Portugal, a diferença dos quatro da frente para os demais é abismal. A questão da competitividade em Portugal é muito mais injusta e díspar. As diferenças de apoio, e não é só a nível económico, mas também do ponto de vista social e da comunicação social, torna difícil um aparecimento de um Leicester em Portugal.

Sporting seria um campeão mais do que legítimo e com muito méritoMas talvez olhando para os clubes que temos em Portugal, temos um caso que talvez fosse aliciante para um investidor privado. O Vitória SC, que do ponto de vista social tem um apoio incomensurável.

E os sócios do Vitória SC deixam? Essa é que é a questão. Se aparecesse a possibilidade de um investidor privado tornar o Vitória SC campeão em dois ou três anos, até porque esses objetivos não se alcançam em apenas uma temporada, penso que seria de todo viável. Até porque o Vitória SC é um clube com uma massa adepta e uma dimensão enorme. Agora a questão que faço é qual é o clube privado que está disposto a investir 200 ou 300 milhões de euros, tendo em conta o nível e o tamanho do produto português? É que não basta investir para ser campeão. Importa também saber o que resulta da imagem, do merchandising e olhar para dimensão da Liga em que nos encontramos. Importa, não só o objetivo desportivo, mas o que resulta dos dividendos desse sucesso ao nível comercial. O problema está aí. O grande investidor do City não só tem uma paixão pelo futebol inglês, como tem várias empresas da família associadas à venda de produtos em torno do clube e da Premier League. O nosso futebol vende pouco para o exterior, daí que o investidor não se sinta aliciado a entrar na redoma lusa.

Deixando a conversa dos investidores arrumada e chutando a bola para dentro das quatro linhas... Estamos nestes últimos dias a ser 'bombardeados' por casos de arbitragem e da praga de casos de Covid-19 que atingiram alguns planteis da I Liga. Tanto se fala de justificações e poucas vezes se dá crédito a quem vai na frente. Se o Sporting for campeão, como tudo leva a crer, é um campeão legítimo?

Se o campeonato terminasse agora e com a diferença pontual vigente, o Sporting seria um campeão mais do que legítimo e com muito mérito, uma vez que se os outros grandes perderam muito mais pontos, associando à grande campanha da equipa do Rúben Amorim, é completamente ilógico que não se dê justiça e valor a esta equipa, mesmo tendo em conta as condições muito peculiares desta temporada, mas que foram iguais para todos.

E se o Sporting for campeão só com uma diferença de dois ou três pontos?

Se a diferença for muito mais próxima, e isso pode acontecer, não deixa de ser legítimo na mesma, até porque esta prova é uma maratona. As equipas vão alterando os resultados tendo em conta o seu rendimento e os seus níveis de motivação. Dois ou três jogos podem inverter o rumo de uma prova, algo que já sucedeu no FC Porto e no Benfica. O Sporting é o clube mais estável e o que mais tem vindo a subir de forma. No início da prova, o Sporting não esteve tão bem, mas ganhou a maioria dos jogos, fazendo com que não perdesse a motivação. Essas vitórias acabaram por servir de combustível para um leão que está cada vez mais pragmático, mas muito forte a nível defensivo e ofensivo. O que mudou deste ano para os outros é que o clube que vai à frente não é o FC Porto nem o Benfica. O Sporting tem fugido às pressões e às situações de conflito, já os rivais vão-se focando em fatores externos. E tudo isto ajuda quem vai à frente e com uma distância que é quase incomparável e que não é normal.

Uma das frases que também ouvimos, e de forma habitual, para justificar a atual posição do Sporting é o facto de os leões terem um calendário mais desafogado. O sucesso da equipa de Amorim pode também explicar-se por isso?

Se formos recordar o início de época no Sporting, também não foi um momento bom e até expectável que fosse eliminado pelo LASK Linz ainda numa fase precoce da competição. E a verdade é que essa circunstância acabou por se tornar positiva, do ponto de vista da preparação dos jogos, e a capacidade de ter maior estabilidade na equipa tipo, uma vez que tem mais tempo de treino para trabalhar determinadas rotinas, mas isso adveio de algo que sucede com todas as equipas. No início da época, há resultados que ajudam e outros que não ajudam ao crescimento das equipas. Basta relembrar que o Benfica, e com Jorge Jesus ao leme, foi a duas finais da Liga Europa depois de ser eliminado da Liga dos Campeões. O Benfica utilizou a Liga Europa para alcançar níveis de motivação altíssimos. A menor diminuição de rendimento do FC Porto nos últimos tempos não deriva da participação da Liga dos Campeões, onde os azuis só sofreram golos no primeiro jogo da fase da grupos e agora com a Juventus. Na minha opinião, e como treinador, o sucesso desportivo na Europa até ajuda as equipas a terem melhor rendimento no campeonato.

Então fazendo a questão ao contrário, podíamos ter ainda um melhor Sporting, caso os leões tivessem garantido a fase de grupos da Liga Europa?

O que digo é que o sucesso nas competições europeias também ajuda as equipas a atingirem bons resultados nas competições internas, agora claro que se uma equipa tiver mais dias de intervalo entre jogos isso potencializa o tempo de treino, uma vez que permite a equipa não ter apenas tempo para recuperar jogadores. E claro que isso beneficia o Sporting. Se formos a olhar para outras equipas da Europa, vemos equipas com excelentes resultados na Europa que também estão a somar êxitos internamente, como são os casos do Manchester City, do AC Milan ou do Atlético de Madrid.

Eu acho que está incorreto que alguém diminua o valor do Sporting por apenas estar apenas numa competição, porque isso deriva dos resultados que vai fazendo. Também podíamos dizer que a eliminação na Taça de Portugal, frente ao Marítimo, podia prejudicar os índices motivacionais do clube, algo que não sucedeu e não serviu de justificação para o Sporting. Os plantéis são formados para responder a várias competições. Se o Benfica e o FC Porto também conquistarem a Taça de Portugal ou almejarem um sucesso desportivo lá fora também isso terá crédito. Quando o FC Porto foi campeão europeu, em 2004, também se conjugaram vários fatores. Há várias coisas que foram planeadas, mas também há outros fatores que contribuem para o êxito. O sucesso do Sporting no campeonato acontece por mérito dos leões conjugado com outros fatores. Não cabe na cabeça de ninguém que um clube vá perder de propósito numa competição para apenas se concentrar noutra, porque assim nem entravam nelas.

A junção de investidores privados a sociedades anónimas acaba muitas vezes por resultar em interesses que não são idênticos entre investidores e clubesO Alexandre esteve no Sporting como técnico da equipa de Sub-23 e nessa equipa moravam alguns jogadores que se encontravam no plantel de Rúben Amorim: Gonçalo Inácio, Matheus Nunes, Luís Maximiano, Daniel Bragança, Gonzalo Plata e Jovane Cabral. Olhando para estes jogadores que teve nas suas mãos qual o está a surpreender mais?

Não é fácil essa pergunta, até porque o nível que já apresentavam, sem exceção, era já muito alto e já se perspetivava que a seu tempo e no projeto certo podiam almejar o que já estão a conseguir. Pessoalmente sempre olhei para o Daniel Bragança, com tudo aquilo que fazia, como um jogador da equipa A. Agrada-me muito ver a evolução que ele teve e isso não me surpreende. Acredito que ele tem, do ponto de vista de inteligência de jogo, algo muito acima da média. Acho que ele pode ter a mesma evolução como teve o João Moutinho. Tem características que não são habituais num jogador, como ler o jogo de uma forma defensiva e ofensivamente de uma maneira irrepreensível. Ele é um jogador muito novo e tem uma margem de crescimento enorme.

Já o Matheus Nunes, tem qualquer coisa dentro dele que se destaca dos demais jogadores. Para mim, ver um jogador que não tem experiência praticamente nenhuma a alto nível e jogar muito bem, seja em que circunstância for, independentemente da camisola que vista, com pressão, ou sem pressão, com um estádio vazio ou não, para um encontro da Taça ou num Clássico, e o jogador não perde índices de motivação, é algo que não é assim tão comum. Ele está sempre com índices de produtividade elevados, independentemente do rival e isso pode potencia-lo para voos bem altos.

A nossa conversa já vai longa. Mas tenho ainda alguns pontos que gostava de tocar de forma rápida. Por onde passa o futuro do Alexandre Santos?

Garantidamente espero que passe por um novo projeto desafiante, seja em Portugal ou no estrangeiro, mas que permita ser profissional no futebol.

Clube que mais o marcou?

FC Porto.

Presidente que mais o marcou?

Pinto da Costa.

Se pudesse viajar na máquina do tempo onde mais gostava de voltar?

Vários sítios, mas sem dúvida o FC Porto. Apesar de ter sido pouco tempo, o FC Porto marcou-me e gostava muito de lá marcar.

O momento mais difícil da carreira?

Inevitavelmente essa pergunta dá-me arrepios. É um momento que ninguém quer passar e é ver um dos nossos, um dos melhores jogadores que me passou pelas mãos, perder a vida em campo. A morte do Alex Apolinário é algo que nunca mais esquecerei e que guardarei comigo intencionalmente, como a força que ele me dá para perceber o que a vida tem de bom e tudo o que ela já me deu. Foi um momento muito triste e que me vai acompanhar para o resto da minha vida.

E recorda-se da última coisa que lhe disse?

[pausa prolongada]... A última coisa que lhe disse esteve relacionada com o momento que estávamos a viver no FC Alverca. Vínhamos de duas derrotas e eu sentia o Alex extremamente confiante e entregue àquilo que queria e que transmiti à equipa. Disse-lhe que era necessário darmos a volta àquela situação e que ele seria o motor do nosso campeonato. Lembro-me perfeitamente que a nossa última conversa foi no sentido de ele estar tranquilo e transportar para o jogo tudo aquilo que dava no treino. Não precisava de falar muito com o Alex, porque ele era um jogador muito inteligente e sabia perfeitamente o que a equipa e eu próprio precisávamos que ele fizesse.

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