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É possível chegar à F1 sozinho? A relevância do coaching no automobilismo

O trabalho de um piloto é cada vez mais árduo se o objetivo for chegar ao topo. Não há espaço para todos e muitos ficam pelo caminho num percurso que é cada vez mais restrito no desporto motorizado. Falámos com Duarte Félix da Costa, antigo piloto e membro da Synergy Driver Performance, que neste momento é 'coach' de vários pilotos. E o que é isto do 'coaching'? É a esta pergunta que responderemos em mais um artigo da rubrica 'Dos 0 aos 100' do Desporto ao Minuto.

Notícias ao Minuto

08:38 - 11/02/21 por Ruben Valente

Auto Synergy Driver Performance

São muitos os jovens que ambicionam uma carreira no desporto automóvel. A Fórmula 1 é quase sempre o sonho que almejam, mas todos sabem das dificuldades que existem para lá chegar. Por ano, só há espaço para 20 e, por vezes, ser muito bom pode nem ser suficiente. Contudo, uma coisa é certa: Tudo pode ser mais fácil se estiver rodeado de pessoas com conhecimento técnico, com conhecimento do mundo do 'motorsport' e com contactos nas mais variadas competições.

A Synergy Driver Performance nasceu, precisamente, para tornar esse trajeto menos difícil. Para ajudar jovens pilotos a subir ao mais alto degrau do automobilismo através de um acompanhamento técnico e psicológico personalizado, que pode fazer toda a diferença.

Este artigo é, por isso, totalmente dedicado àquilo que nem sempre vemos em pista. Por mais talento que se tenha, não é possível chegar ao carro, conduzir, ganhar provas, ser o melhor e regressar a casa. Longe disso. É preciso trabalho, dedicação, muitas horas de análise, muito trabalho dentro e fora do carro e, acima de tudo para os mais jovens, é preciso ouvir o conselho de quem sabe e de quem já tem outro tipo de 'know-how'.

Duarte Félix da Costa, um dos responsáveis deste projeto juntamente com Gonçalo Gomes e Rodrigo Loyo, ajuda-nos a entender tudo aquilo que envolve a preparação técnica e psicológica de um piloto. Numa entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o antigo piloto e irmão de António Félix da Costa conta-nos que a ideia para a criação da Synergy Driver Performance nasceu precisamente pelo facto de ter acompanhado durante muitos anos o percurso do atual campeão do mundo de Fórmula E.

"Corri durante muitos anos, desde os karts aos Fórmulas, Turismos, GT’S. Fiz várias competições internacionais e 2012 foi o meu último ano de competição. Devido à crise financeira, as coisas ficaram mais complicadas para continuar a correr. Ainda assim, mesmo em competição, já acompanhava o meu irmão naqueles anos decisivos antes de poder chegar à Fórmula 1 e assim continuei. Acreditava que no caminho do António era necessário ele ter pessoas de confiança. O Tiago Monteiro acompanhava-o mais numa vertente de 'management' e eu mais na pista, quase como uma sombra a apoiá-lo em todos os aspetos. Mais tarde, quando a carreira do António sofreu um revés e ele foi para o DTM, por volta de 2014,  comecei a trabalhar com alguns pilotos mais jovens, mas em nome próprio. Foram anos em que comecei a perceber que a minha experiência enquanto piloto e enquanto ‘coach’ do António poderia ser útil para pilotos mais novos. Foram 3, 4 anos assim, e foi então que decidimos começar a profissionalizar um trabalho que estava a ser bem feito", conta Duarte, que nos revela que o paddock da Fórmula E foi também essencial para a criação da Synergy.

"Juntei-me há dois anos ao Gonçalo Gomes e ao mexicano Rodrigo Loyo. É até curioso como conheci o Rodrigo. Conheci-o porque ele é a pessoa que acompanha o Salvador Durán, que era companheiro de equipa do António na Fórmula E", explica. 

Notícias ao MinutoDuarte Félix da Costa e Gonçalo Gomes, responsáveis pela criação da Synergy Driver Performance© D.R.

O que é então o Coaching?

Duarte Félix da Costa deixou bem claro que o seu trabalho não é ensinar ninguém a conduzir. Como o próprio salienta, ou há talento ou não há. Porém, é precisamente no aprimorar do talento que incide o trabalho de um 'coach'.

"Nós optimizamos o talento e tentamos extrair o máximo do potencial de cada um. Na pista, acontece muitas vezes o engenheiro não ter a experiência de ter estado dentro de um carro. Isso complica ligeiramente a obtenção de dados de um miúdo de 15, 16 ou 17 anos e colocar em prática a informação recebida no setup do carro. É este trabalho que tentamos fazer. A leitura da telemetria, leitura de dados, leitura de vídeos, tentar perceber qual é a linguagem do piloto, quais os seus problemas, quais as suas dificuldades, e depois, em conjunto com o engenheiro, tentamos ir naquela que é a melhor direção para a evolução do carro. Sabemos que os pilotos têm cada vez menos dias de pista e cada sessão tem que ser optimizada ao máximo. Meter uma mudança aqui, outra mudança ali, travar dois metros mais tarde, mais pressão do travão numa curva, menos pressão noutra… Todos os pormenores contam, e nós tentamos encurtar o tempo de aprendizagem em pista", explica. 

Em tempos de pandemia, todo o trabalho acaba por ser diferente. As horas de treino em pista são reduzidas, mas para todo o problema existe uma solução.

"Neste período do confinamento temos feito diariamente sessões de coaching online. Cada um tem o seu simulador em casa e nós trabalhamos muito a parte técnica. Fazemos simulações de corrida, de qualificação, situações de pressão", conta Duarte.

No acompanhamento a cada piloto, é essencial conhecer todos os seus pontos fortes e fracos. Há pilotos que precisam de mais acompanhamento psicológico, outros precisam mais da parte técnica. Para Duarte Félix da Costa, são até os que "ouvem muito e trabalham muito" que dão mais gozo de trabalhar.

"Às vezes, não é preciso ter um talento enorme mas com o trabalho, inteligência, dedicação e foco é muito bom vê-los evoluir. Depois, há pilotos com muito talento, não tão trabalhadores às vezes… É preciso identificar os pontos fortes e fracos de cada um e tentar trabalhar os fracos, mantendo os fortes lá em cima", conclui.

Notícias ao MinutoDuarte Félix da Costa com o jovem piloto britânico Kai Askey© D.R.

O sonho da F1 é impossível sem o acompanhamento certo?

"A palavra impossível não é a certa, porque no desporto motorizado tudo é possível". É assim que Duarte Félix da Costa nos responde de imediato à questão. Ainda assim, o ex-piloto pegou num exemplo bem conhecido de todos para explicar a importância de um acompanhamento correto. Lando Norris chegou à Fórmula 1 com apenas 18 anos e, conforme nos relatou Félix da Costa, o acaso nada ter a ver com o percurso do jovem britânico.

"Foi um trajeto muito bem feito. O Lando fez as coisas de forma direitinha, estando junto dos melhores, com bons professores, e os resultados acabam por ser muito mais rápidos. As pessoas espantavam-se e diziam: 'Ah, mas ele há três anos ainda corria nos karts e agora já está na F1'. Lá está… Três anos bem feitos podem valer cinco ou seis de um piloto que também tinha talento, mas que não se rodeou das pessoas certas. E não falo apenas da parte do coaching. Às vezes, as decisões podem não ser as mais acertadas ou demorar-se mais tempo a extrair o seu talento para chegar lá, ou muitas vezes nem chegar".

É aqui que entra outra parte fundamental no acompanhamento de um piloto: a gestão de carreira. A Synergy Driver Performance também atua nesta área, e ajuda cada jovem a arranjar contratos e a programar o seu ano desportivo. É no 'management' que pode estar também o segredo. Ir para certa equipa ou para determinada competição pode fazer toda a diferença na carreira de um automobilista.

"O mundo do desporto motorizado tem gente que se pode confiar e tem outra que nem tanto. É importante fazer as escolhas certas para os miúdos estarem numa equipa boa e onde se sintam valorizados", revela Duarte Félix da Costa.

Notícias ao MinutoRodrigo Loyo, da Synergy Driver Performance, com o jovem português Guilherme Oliveira e com o venezuelano Manuel Maldonado© D.R.

Talento português a emergir

No lote de sete pilotos que são acompanhados pela Synergy Driver Perfomance, há um jovem português. Guilherme Oliveira, de apenas 16 anos, já se estreou na Fórmula 4 espanhola, ambiciona tornar-se profissional e, quem sabe, chegar ao pináculo do desporto motorizado.

Duarte Félix da Costa não esconde que o grande objetivo da Synergy Driver Performance é o de colocar um piloto na Fórmula 1. É a verdade é que: se fosse um piloto que representa as cores nacionais, seria ainda melhor.

"Na questão emocional, claro, há sempre um carinho especial porque sentimos quase um amor à pátria por ajudar o Guilherme. É um miúdo espetacular, com um talento muito acima da média, com muita vontade de aprender e crescer neste difícil mundo do automobilismo, e para nós é um desafio enorme. Sabemos das grandes dificuldades que um piloto português tem para subir, mas acreditamos que estamos a trabalhar com ele na altura certa para que os obstáculos e dificuldades possam diminuir. Vamos ver até onde é que o Guilherme pode ir. Falar em Fórmula 1… Acho que devemos sonhar e acreditar, por isso devemos trabalhar sempre com esse objetivo", sublinha Duarte, antes de finalizar.

"Vamos trabalhar para que o Guilherme seja piloto profissional e que seja mais um a dar-nos grandes alegrias como deram o Tiago Monteiro, o meu irmão António, o Filipe Albuquerque, o Álvaro Parente. Têm sido grandes embaixadores de Portugal além fronteiras e precisamos da nova geração".

Clique na fotogaleria acima e veja todos os pilotos acompanhados pela Synergy Driver Performance.

Notícias ao MinutoAntónio e Duarte Félix da Costa numa prova do Campeonato do Mundo de Resistência (WEC)© D.R.

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