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"Queremos fazer uma época tão boa como a da época passada"

Kaká está de regresso ao Clube Desportivo de Mafra quatro anos depois e é um dos elementos mais experientes no plantel ao serviço de Filipe Cândido, que vai tentar repetir a excelente época protagonizada na temporada passada na II Liga. Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o futebolista projeta o novo ano desportivo e passa em revista a já longa carreira no futebol português.

"Queremos fazer uma época tão boa como a da época passada"
Notícias ao Minuto

08:00 - 11/08/20 por Rodrigo Querido

Desporto CD Mafra

A excelente época que a equipa do Clube Desportivo de Mafra levou a cabo na II Liga não passou indiferente a ninguém que acompanhou este escalão do futebol português, terminando o ano desportivo, que foi interrompido de forma prematura devido à pandemia do novo coronavírus, num honroso quarto lugar a 11 pontos do segundo classificado Farense 

De modo a repetir a façanha da última temporada, a direção liderada por José Cristo procurou dotar o plantel agora liderado por Filipe Cândido, que rendeu Vasco Seabra, não apenas de jovens valores, mas também de jogadores experientes que possam passar o seu conhecimento aos mais novos.

E é neste perfil que encaixa Everton Ferreira Guimarães, conhecido no mundo do futebol como Kaká. O médio brasileiro regressa à vila de Mafra quatro anos depois de ter trocado o clube da zona Oeste pela Académica. O médio brasileiro, de 29 anos, jogou nas últimas três épocas no Nacional da Madeira, uma delas na I Liga, antes de voltar a um emblema onde foi feliz entre 2014 e 2016.

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Kaká explica as razões que o levaram a regressar ao Clube Desportivo de Mafra, passando ainda em revista a época passada que terminou de forma inesperada por conta da pandemia do novo coronavírus. O experiente médio recorda ainda a já longa carreira de dez anos a jogar em competições portuguesas e os dois títulos já conquistados.

Antes demais, queria que me explicasses de onde vem o apelido Kaká. Tem alguma coisa a ver com o antigo futebolista do Real Madrid?

Joguei nas camadas jovens do São Paulo. O Kaká tinha sido revelado no São Paulo, tal como eu, e ocupávamos a mesma posição em campo. Eu tinha o cabelo parecido com o dele e diziam que o meu estilo tático era parecido com o dele também. Como jogávamos na mesma posição colocaram-me essa alcunha logo aos 13/14 anos, e fiquei com ela enquanto lá estive. Assim que saí do São Paulo tentei usar o meu nome, queria usar o meu nome e não o do Kaká. Mas os meus amigos, assim como na escola, começaram a chamar-me esse nome, e tornou-se inevitável.

Vais iniciar daqui a algumas semanas a décima temporada em Portugal. O que te trouxe para o nosso país em 2011 e, nomeadamente, para o Torrense?

Eu estava a jogar o campeonato carioca do Rio de Janeiro, estava em bom plano, e na altura um dirigente do Torrense abordou-me. Eles gostaram do que estava a fazer, analisaram-me bem, transmitiram as informações ao treinador da altura que era o António Pereira e ele gostou muito de mim, pedindo mesmo a minha contratação. Eu estava a poucos meses de terminar contrato. Falei com o presidente do clube em que estava na altura [n.d.r.: Cabofriense] e contei-lhe sobre a oportunidade que tinha. Como estava prestes a terminar contrato, perguntei-me se me libertava antes do final do vínculo. A oportunidade surgiu e acabei por agarrá-la.

Este tipo de oportunidades não surge muitas vezes para jogadores brasileiros?

Quando somos jogadores da Serie A, mais experientes e com outra bagagem, as propostas surgem com mais frequência. Na altura era um miúdo, tinha algum nome na formação porque passei pelo São Paulo e pelo Botafogo, e era, por assim dizer, uma promessa. Tinha intenção de continuar no Brasil, mas também pesquisei sobre o assunto e na altura o Torreense estava a fazer uma equipa para subir à II Liga. O plantel era muito bom. Tínhamos o Marçal, que está agora no Lyon e que foi campeão nacional no Benfica, e outros jogadores muito interessantes. Lembro-me que lutámos até ao final pela subida de divisão, mas não conseguimos. Fomos também até aos oitavos de final da Taça de Portugal, eliminámos Gil Vicente e Rio Ave. Até marquei o golo que ditou a eliminação do Rio Ave, o meu primeiro em Portugal. Quando vim para Portugal não pensei que ia ter muitas oportunidades, mas adaptei-me muito rápido ao clube e ao estilo de jogo. O mister foi-me dando oportunidades e consegui agarrar o lugar numa equipa que era experiente.

Depois das boas épocas em Torres Vedras seguiste para o Mafra, rival do Torreense na zona oeste e no qual conquistaste o primeiro título em Portugal. Como foi a conquista na altura da II Divisão B?

O Torreense-Mafra é um dérbi. Fiz um jogo muito bom contra o Mafra em 2013, até lhes marquei dois golos. O clube na altura lutava por subir à II Liga e não me deixaram de seguir desde então. Reencontrei o treinador António Pereira no Mafra e acabámos por subir de divisão [n.d.r.: em 2015]. Foi muito bom a conquista desse título e deu-me acesso à II Liga. Conseguimos não só o título de campeão da II Divisão B, mas também a subida de divisão.

Notícias ao MinutoEverton Kaká na primeira passagem pelo CD Mafra© Global Imagens

E os festejos que se seguiram ao título como foram?

A reação dos adeptos foi linda. O Mafra almejava já há algum tempo a subida de divisão. O estádio Mário Silveira estava esgotado para essa partida. Salvo erro, era uma partida da penúltima jornada diante do Louletano. O estádio não tinha lugares para tantos adeptos. Podíamos ter alcançado a subida de divisão nos Açores [frente ao Operário Lagoa], mas ainda bem que foi em casa com uma festa bonita. Não só o clube merecia esta subida de divisão, os adeptos também mereciam a subida à II Liga.

Depois da subida de divisão seguiu-se a despromoção logo na época seguinte…

Era uma realidade nova para o Mafra com outro tipo de estruturas e condições para os jogos. Nunca me faltou nada, mas faltava o clique do Mafra estar na II Liga. Fizemos uns bons jogos e lutámos até à última jornada pela manutenção, mas não conseguimos. Individualmente foi um bom ano para mim, fiz bons jogos. Tive uma pequena lesão, mas recuperei rápido. Este aparecimento na II Liga ao serviço do Mafra permitiu que fosse para a Académica.

Seguiu-se uma experiência na Académica, onde foste treinado pelo Costinha, que também te orientou no Nacional. Foi ele que te convenceu a mudares para a Madeira?

Gostei muito de trabalhar com ele na Académica. Nunca tinha falado com o Costinha até ter chegado à Académica. Estava a ir de férias para o Brasil quando o meu telefone começou a tocar. Do outro lado era o Costinha que me estava a telefonar para saber se eu gostava de ir para a Académica. Ainda tinha mais algum tempo de contrato com o Mafra e eles acabaram por me emprestar. Fiz uma época muito boa em Coimbra, apesar de não termos conseguido a subida, e especialmente a nível individual. Acabada a época, o Costinha foi para o Nacional e eu voltei a Mafra. A Académica teve interesse em manter-me em definitivo, mas eles sabiam que eu me tinha valorizado muito e que o preço a pagar era alto. Acabei por ir para o Nacional porque dei importância a um mister que me deu oportunidades. Fez uma grande força para eu ir para a Madeira.

Nesse primeiro ano na Madeira, o Nacional conquistou a II Liga e regressou à I Liga no ano a seguir a ter sido despromovido…

Quando estive na Madeira, os adeptos estavam muito desacreditados e o clube estava um pouco abatido com a descida porque já estava há muitos anos na I Liga. Com a chegada do Costinha começou a existir uma união muito grande entre o clube, a equipa técnica e os jogadores. Os adeptos voltaram no início da pré-época e começaram a apoiar-nos. Lembro-me de termos tido uma derrota no meio do campeonato, ainda na primeira volta, se não me engano contra o Real Massamá. Depois do jogo reunimo-nos todos no meio-campo com os adeptos à volta para resolver a derrota. Assim que os adeptos notaram que tínhamos uma grande união para alcançar a subida, começaram a fazer uma grande força para estar em todos os jogos e apoiar a equipa.

Notícias ao MinutoEverton Kaká conquistou a II Liga ao serviço do Nacional© D.R. 

Foi importante para ti a conquista do título e a subida à I Liga?

Foi muito bom e já o procurava há algum tempo. Tentei alcançar isso na Académica, mas não consegui. Foi uma época muito interessante, penso que até fiz mais de 20 jogos na altura. Todos os jogadores tinham muita qualidade, creio que ao nível da II Liga tínhamos um plantel muito bom para atacar a subida, e isso facilitou o trabalho do mister. No regresso à I Liga as coisas não correram muito bem. A nível coletivo tivemos muitos problemas com lesões, o que dificultou a tarefa.

O que correu mal nessa época?

O fator principal foram as mudanças constantes no onze por conta das lesões. Isso agravou muito a descida do Nacional. Lembro-me de termos oito jogadores lesionados ao mesmo tempo e isso é muito mau para um clube de futebol. A direção sabia que o mister estava a fazer um bom trabalho e o máximo que podia tendo em conta que existiam muitas lesões. É muito complicado ter de mexer na equipa em quase todos os jogos. A equipa depois tinha muitas dificuldades em adaptar-se e engrenar.

Esta época a equipa voltou a subir de divisão, mas sem terminar o campeonato por causa da pandemia. Como foi não poder terminar a época de forma normal?

Assim que caímos para a II Liga, o plantel mostrou uma grande garra para subir de novo. O grupo era quase o mesmo. O mister Luís Freire foi contratado, os jogadores adaptaram-se bem à forma dele jogar e correu tudo bem. É lógico que queríamos subir dentro de campo e fazer todos os jogos até final, mas por causa da pandemia não foi possível. Enquanto estávamos na quarentena desejávamos muito que o campeonato voltasse porque queríamos subir dentro de campo e fazer aquela festa toda que costumamos fazer. Isso não foi possível, mas fizemos uma festa ainda que não tão alegre como deveria ser. Foi uma situação pela qual ninguém passou, é a primeira vez que passamos por isso no futebol.

Notícias ao MinutoEverton Kaká esteve três época no Nacional© Global Imagens

A equipa estava convicta de que ia subir de divisão?

Sim, estávamos convictos de que íamos alcançar a subida. Ainda faltavam dez jornadas, mas já sentíamos que íamos subir com o título ou não. Lembro-me de termos sido a primeira equipa a voltar a treinar em Portugal e isso foi um exemplo para outras equipas que acabaram por fazer o mesmo. É lógico que os casos positivos de Covid-19 estavam mais controlados na Madeira do que no continente e isso ajudou-nos. Acredito que as autoridades disseram que não havia condições para regressar a Liga e nós temos que respeitar.

E o que foste fazendo para te manter em forma neste período de quarentena obrigatória?

Tínhamos um plano de contingência elaborado pelo clube para cumprir em casa. No início ainda conseguimos fazer umas corridas nos parques. Fomos cumprindo os exercícios que a equipa técnica nos enviava, mas não é toda a gente que tem um jardim em casa equipado para fazer este tipo de exercícios. Com algum jeito, cada jogador foi arranjando algumas coisas para realizar o treino dentro de casa. Alguns de nós estávamos aflitos para que o campeonato regressasse. Assim que voltámos a treinar no campo foi um alívio muito grande, todos estavam com vontade para regressar ao relvado. Foram dias que um atleta não gosta de passar.

Nas duas últimas duas épocas não tiveste muitas oportunidades para jogar e acabaste por deixar a Madeira no final desta temporada. Foi a melhor decisão para a tua carreira?

Tinha uma relação muito boa com o clube. Tive alguns problemas com lesões que atrapalharam muito a minha sequência na I Liga. Os jogos em que estive disponível participei, mas tive um problema no tornozelo que me condicionou muito. Tive a lesão, voltei, tive a lesão novamente e isso afetou-me muito. Para entrar na equipa o ritmo já não era o mesmo. Quando descemos para a II Liga, fui titular na pré-época com o mister Luís Freire. Fui titular no primeiro jogo na Taça da Liga, e em dois jogos da II Liga. Na partida frente ao Leixões contrai uma lesão e rompi o tendão do quarto dedo da mão esquerda e o meu dedo entortou para o lado. Passaram duas semanas e não conseguia fechar a mão e em exames mais complementares percebeu-se que tinha rompido o tendão. Fui sujeito a uma operação e isso depois afetou a minha presença na equipa. Quando já estava recuperado e pronto para entrar na equipa o campeonato parou. O contrato terminou e não chegámos a acordo para renovar.

Recebeste muitas propostas depois de terminar o contrato com o Nacional?

Tive propostas de outros clubes da II Liga e do estrangeiro, mas depois o Mafra contactou-me e senti-me mais confortável em assinar por um clube onde já conhecia dirigentes e adeptos. O Mafra tem hoje um projeto desportivo com um jogo apresentável, de pé para pé, e isso chamou-me muita atenção para voltar.

Regressas ao Mafra, um clube onde és muito querido. Quais são as expetativas para a próxima época?

Acredito que o objetivo é estar do meio para cima na tabela porque o Mafra hoje é uma equipa respeitada a nível nacional em termos de II Liga. Queremos fazer uma época tão boa como a da época passada.

A experiência de um jogador como tu, que já tem três subidas de divisão no currículo, pode ser fundamental para alcançar a promoção?

A experiência que posso trazer à equipa e aos jogadores pode ser boa para alguns, colocando uma certa ambição dentro do balneário de querermos sempre mais. Vamos entrar em todos os jogos a querer ganhar e vou incutir isso nos meus companheiros. Acredito que possa ser agregador em termos de experiência no grupo de trabalho para alcançarmos os nossos objetivos. Vamos querer ganhar jogo a jogo e no final é que se fazem as contas.

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