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João Filipe, o português que brilha de câmara na mão na Formula 1

João Filipe juntou a sua paixão por automóveis ao gosto pela fotografia. Desde pequeno que frequentou várias pistas e paddock's, à boleia do pai que era mecânico, e foi cedo que se iniciou no mundo da fotografia no desporto automóvel. Hoje, com apenas 21 anos, pisa vários dos traçados mais famosos do mundo sempre com a sua câmara atrás. João Filipe é o entrevistado de mais um episódio da rubrica 'Dos 0 aos 100' do Desporto ao Minuto.

Notícias ao Minuto

08:34 - 06/08/20 por Ruben Valente

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Quem gosta de desportos motorizados sabe que uma fotografia no momento certo pode deixar qualquer um de queixo caído. Como diz João Filipe "congelar o momento" é algo que a televisão nunca irá conseguir fazer e é por isso que a fotografia continuará sempre a ter um papel importante no desporto, neste caso no desporto automóvel.

João Filipe tem neste momento 21 anos e foi o único fotógrafo português nas provas da Formula 1 do Mundial do ano passado. Mas além do pináculo do desporto motorizado, o jovem está também presente em muitas outras competições, nos mais variados cantos do mundo.

De Le Mans a Suzuka, passando por Nürburgring ou Spa-Francorchamps, João Filipe partilhou connosco alguma da sua experiência do lado de fora das pistas.

O jovem fotógrafo português, num exclusivo do Desporto ao Minuto em mais uma rubrica 'Dos 0 aos 100', revelou aquilo que é mais importante numa fotografia, a diferença de captar um Fórmula 1 ou um GT pela lente de uma objetiva e até alguns momentos caricatos que um fotógrafo pode 'apanhar'.

Nota: Todas as fotografias neste artigo são da autoria de João Filipe. Fique com algumas delas no decorrer da entrevista e na fotogaleria que acima apresentamos.

Ver o nascer ou o pôr do sol em Le Mans ou em Nurburgring é fenomenalAntes de tudo, como te iniciaste na arte da fotografia no mundo do desporto motorizado?

O meu pai já foi mecânico de corridas e eu sempre andei nos paddock’s. Foi fácil desenvolver a paixão pelo desporto automóvel e a fotografia veio depois, por acréscimo. Descobri que gostava de fotografia por volta dos 14/15 anos e juntei um bocadinho dos dois mundos. Comecei a fazer as provas do Campeonato Nacional de Velocidade em motociclismo [CNV] e fazia algumas corridas que vinham a Portugal como freelancer, como o GT Open e o European Le Mans Series [ELMS]. Depois, surgiu a oportunidade de ir às 24 Horas de Nürburgring, onde conheci um fotógrafo e travei mais conhecimentos. Comecei a trabalhar no meu portfolio, fui conhecendo mais pessoas e tudo acabou por ser uma bola de neve.

Seres apaixonado pelo mundo automóvel e pela Formula 1 é essencial para que o trabalho saia bem feito?

Conheci alguns fotógrafos, na altura em que fiz mais corridas de Formula 1, que a paixão deles era a fotografia. Eles estavam onde havia oportunidade. Porém, comigo é um pouco diferente. Gosto até mais de corridas de GT’s, de Resistência, o ambiente é mais relaxado… Talvez tenha a ver mais com o meu gosto por carros. A Formula 1 é um mundo mais exótico.

Eu quase conseguia fazer um livro com as fotos que tenho do Fernando Alonso com o dedo no nariz

Ainda te lembras da primeira corrida que fotografaste?

Ui… [risos]. É uma boa questão porque não me lembro bem. Sei que foi por volta aí dos meus 15 anos. O CNV digamos que foi o meu primeiro trabalho, porque fiz a época toda e estava já a ser remunerado. Foi aí o início.

Já fotografaste inúmeras provas nas mais variadas categorias, como a Formula 1 ou o Campeonato do Mundo de Resistência [WEC]. Há algum momento que te tenha marcado especialmente pela lente da objetiva?

Não tenho assim um momento que me tenha marcado de forma especial. Sempre gostei mais de corridas de Resistência, sempre gostei de estar a trabalhar de dia, depois à noite, à chuva, e depois ao sol, ver o nascer e o pôr do sol, ver pit-stops, o espírito de equipa… Para mim tudo isso são momentos marcantes. Uma boa luz é espetacular. Ver o nascer ou o pôr do sol em Le Mans ou em Nürburgring é fenomenal. Não tirando mérito ao que já fiz na Formula 1, mas esses momentos são espetaculares.

Notícias ao MinutoMomento captado nas 24 Horas de Spa, na Bélgica, em 2018© João Filipe

Já te aconteceu captares um certo momento e pensares que tens 'aquela fotografia', mas no final do dia percebes que algo correu mal?

Às vezes pensamos que temos a fotografia perfeita na máquina, chegamos ao computador e não está assim grande coisa. Por vezes são até as outras, que não pareciam tão boas, que se tornam a fotografia que se calhar estavas à procura, o que é sempre uma boa surpresa. Acontece muito isto.

Para quem não é tão entendido em fotografia, a Formula 1 é uma prova em que, pela velocidade dos monolugares, é mais difícil de conseguir captar boas fotografias?

Não, não. Hoje em dia, não se sente essa diferença porque há muitos carros que são rápidos. Se eu estiver a fazer um panning [n.d.r. técnica de fotografia que consiste em, neste caso, focar o carro e desfocar tudo o resto à volta] não sinto essa diferença. Nesse tipo de fotos, a maior dificuldade que sinto prende-se com a adaptação da máquina. É diferente estar a focar um GT ou um Fórmula 1. Um GT tem as linhas diferentes, é um carro mais musculado e maior, enquanto um Fórmula 1 tem uma linha mais arrojada, uma aerodinâmica diferente. É mais complicado encontrar focos num F1, o que torna a fotografia mais complicada. Mas claro, a velocidade de um Fórmula 1 é incrível.

Notícias ao MinutoLewis Hamilton com a frente do seu monolugar levantada, em Sochi, na Rússia© João Filipe

Já tiraste alguma fotografia que mais tarde te tenhas arrependido de divulgar? Ou mesmo alguma que tenhas decidido nunca tornar pública por alguma razão em específico?

Não… Acho que nunca fotografei nada de mal. Essa pergunta é se calhar para algumas pessoas que fotografam acidentes. Eu não gosto de os fotografar, nem de os divulgar. Portanto, não tenho nenhum arrependimento a nível de fotografia. Claro que temos de ter cuidado com o que se divulga no que diz respeito às boxes das equipas. Por exemplo, na Formula 1 é proibida a entrada nas boxes. No WEC pode-se entrar mediante a autorização das equipas, mas normalmente elas são muito ‘ok’ com isso. Passa pela ética não fotografar algumas coisas que possam conter informações privadas. Temos de respeitar a vontade das equipas, tal como elas nos respeitam a nós.

Os fotógrafos são peritos em conseguir apanhar momentos que às vezes escapam ao que vemos na televisão. Já apanhaste algum piloto numa situação embaraçosa?

[Risos] Isso tenho, isso tenho. Eu quase conseguia fazer um livro com as fotos que tenho do Fernando Alonso com o dedo no nariz. Quando cheguei ao final da época fiquei espantado com a quantidade de fotografias que tinha com um momento desses. Era quase uma fotografia por prova. Foi bastante engraçado! Claro que também apanhamos às vezes más caras, maus momentos, mas isso nunca é publicado.

E com pilotos portugueses… Há alguma história caricata que queiras ou, neste caso, possas partilhar?

[Risos] Também tenho. O António Félix da Costa sente-se muito à vontade e, infelizmente, já me estragou algumas fotografias que depois não pude publicar.

Notícias ao MinutoAntónio Félix da Costa, em ambiente descontraído antes de uma prova do World Endurance Championship em Shanghai, em 2018© João Filipe

Numa altura em que numa corrida já existem dezenas de câmaras televisivas a fazer a transmissão, como fotógrafo, o que é que tentas acrescentar?

A fotografia vai sempre congelar o momento. Conseguimos captar o momento exato de algum acontecimento. É uma fração de segundo que ficou parada para sempre, algo que não consegues fazer na televisão.

A nível de provas, qual é a que tens mais gosto em fotografar e porquê?

Eu adoro as 24 Horas. É super cansativo, mas é espetacularNürburgring [Alemanha] é uma experiência brutal, com os acampamentos todos, a malta divertida que constrói coisas para lá ficar, e eu nem sei como é que eles fazem aquilo. São quase 200 carros numa pista, boxes partilhadas, aquilo é uma autêntica confusão. Spa [Bélgica] é uma pista fenomenal, são 60 GT’s, é a maior corrida de GT’s do mundo. Le Mans [França] é Le Mans, acho que nem preciso falar muito sobre a corrida em questão. Logo aqui estão as três principais. Depois, gostava muito de fazer as 12 Horas de Bathurst [Austrália] e Daytona [EUA]. Acho que se fizesse estas, a nível de Resistência ficava satisfeito. Atenção que também gosto de Formula 1. Gosto da Resistência por umas coisas, de F1 por outras, cada uma à sua maneira.

Saber trabalhar com a luz é o essencial da fotografiaE a nível de pilotos, tens algum que destaques?

No WEC, os pilotos são muito mais acessíveis. É raro não conseguires chegar a algum piloto. Eu era também um dos fotógrafos oficiais do Mundial, por isso ainda mais fácil era. Claro que com todos os que falassem português, o contacto era outro. Dava-me bem com o André Negrão, com o António Félix da Costa, o Filipe Albuquerque, o Gustavo Menezes... Mas mesmo com todos os outros pilotos, era raro encontrar algum que se mostrasse mais relutante a ser fotografado. Na Formula 1 é tudo muito mais fechado, como é óbvio. Na altura em que trabalhei mais com a Williams e a Renault, e a Williams como é uma equipa que está cá mais para trás [n.d.r. referindo-se à classificação geral de equipas], havia mais à vontade. O Russell era super simpático, o Kubica era mais reservado, mas também muito simpático. Depois na Renault estava lá o Ricciardo e acho que nem é preciso dizer nada [risos]. Sempre tudo na boa e o Nico [Hulkenberg] tinha dias, dependia de como é que ele acordava.

Antes de finalizarmos, consegues dizer-nos que características tem de ter a ‘foto perfeita’?

O principal de uma fotografia é a luz. Não sei se existe uma ‘foto perfeita’, mas tentando responder à questão, sem dúvida que uma boa luz é o principal numa fotografia. É isso que vai iluminar a fotografia, é a luz que vai ou não dar os contrastes, ou as sombras… Saber trabalhar com a luz é o essencial da fotografia.

Notícias ao MinutoFotografia tirada nas 24 Horas de Nürburgring, na Alemanha, em 2019© João Filipe

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