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"Futebolistas? Na maioria dos casos trabalhamos mais do que eles"

O selecionador nacional de andebol colocou o dedo na ferida, em entrevista ao Desporto ao Minuto. Desde quem gere o desporto em Portugal, até "à falta de respeito" por quem se esqueceu de relevar o maior êxito do nosso país num Europeu da modalidade. Uma conversa sobre o que já foi e o futuro que passa agora por sonhar com "objetivos quase impossíveis".

"Futebolistas? Na maioria dos casos trabalhamos mais do que eles"

Fernando Pessoa dizia que o "Homem é do tamanho do seu sonho" e Paulo Pereira sempre teve o sonho de levar Portugal a triunfos nunca antes alcançados.

A 25 de janeiro, a Seleção Nacional alcançou o melhor resultado de sempre num Europeu de Andebol - o sexto lugar-, iniciando a competição com um triunfo diante da toda poderosa congénere francesa.

Numa entrevista ao Desporto ao Minuto, o selecionador nacional revelou o que esteve na base desta receita de sucesso "mais aplaudido lá fora, do que dentro de portas".

Entre as acusações a quem se "esqueceu de relevar o êxito da Seleção", também ficou a menção honrosa a Marcelo Rebelo de Sousa. Entre as chamadas do Presidente e os avisos à maneira de pensar de quem "chefia' o sistema desportivo em Portugal, os holofotes desta conversa também se viraram para o futuro.

Um futuro onde Paulo Pereira promete "ajoelhar-se" caso leve Portugal aos Jogos Olímpicos. Afinal, os "sonhos quase impossíveis" também se realizam. 

A 7 de janeiro disse que só a “perfeição” colocaria Portugal na Main Round. Portugal conseguiu não apenas isso, como a melhor qualificação de sempre. A Seleção só conseguiu ir tão longe à custa dessa tão trabalhada “perfeição”?

Mesmo assim não fomos totalmente perfeitos, mas houve momentos do jogo em que roçámos mesmo a perfeição. Era muito importante numa primeira fase em que tínhamos a França e a Noruega no grupo, não desprezando o valor da Bósnia, fazer uma partida tremendamente eficaz e isso aconteceu [diante dos gauleses]. O que nós fizemos nesta primeira fase da competição foi excelente.

O que faltou para ainda mais longe?

Faltou estar há mais anos neste tipo de competição. Repare que só um atleta daquele grupo tinha estado num Europeu. Nós estivemos um mês a trabalhar e isto já com a competição incluída. De 2 a 25 de janeiro fizemos 11 jogos, o que não é habitual para as equipas que jogam campeonatos internos ou a Liga dos Campeões. Fizemos jogos com um dia de intervalo ou noutras ocasiões mesmo sem nenhum dia de descanso. Isto obriga a estar focado no objetivo quase 24 horas por dia. Isto tornou-se numa aprendizagem para todos e, mesmo assim, acho que até podíamos ter feito um bocadinho mais, mas temos de ser coerentes e dizer que no fim de tudo estamos orgulhosos pelo lugar que ocupámos no fim desta competição.

Lamento que não se tenha valorizado a presença da nossa Seleção numa fase finalPortugal começa o Europeu a ganhar à seleção francesa, algo que já tinha acontecido há pouco tempo. Imagino o estado de euforia que se gerou no balneário das Quinas após este triunfo. Como se gere este nível de entusiasmo numa fase tão precoce da competição?

Quando acontece este tipo de coisas é importante que nós continuemos a manter os pés bem assentes na terra e não nos deixarmos influenciar ou stressar. A euforia acaba por desviar a atenção do objetivo que tínhamos estipulado. A minha missão foi manter toda a gente alinhada e dizer taxativamente que aquele triunfo pouco ou nada significava, visto que ainda não tínhamos garantido rigorosamente nada. Ficámos obviamente contentes, mas foi uma felicidade que nos passou rapidamente e fomos todos chamados à razão. Ganhámos à França, mas no dia seguinte tudo podia acabar.

Lembra-se do discurso que fez no balneário após vencer a seleção gaulesa?

Não me lembro exatamente das palavras que proferi, mas foi um pouco aquilo referi: para nos mantermos alinhados e não nos deixarmos deslumbrar por um resultado tão positivo. Ninguém acreditava que nós podíamos ganhar à França, só nós mesmos acreditávamos nessa possibilidade. Depois deste triunfo recordo-me de sublinhar que nos tínhamos de manter frios, porque o mais importante, a partir dali, era o jogo com a Bósnia e depois logo veríamos o que aconteceria frente à Noruega.

Notícias ao MinutoSeleção Nacional após derrotar a congénere francesa no Europeu de 2020© Reuters

Este resultado vai abrir portas para outros voos. Os níveis de pressão da Seleção em conseguir outro tipo de metas já vão estar adjudicados antes mesmo do início da competição?

É claro que toda a gente vai pedir mais, mas aquilo que temos de pensar neste momento é que não ganhámos nada. Foi bom fazer o melhor resultado de sempre, mas não ganhámos rigorosamente nada. Podíamos até ter sido campeões na mudança, uma vez que conseguimos superar um estigma que já vinha de há anos: o estigma da derrota constante, de não conseguir chegar a fases finais, e de morrer sempre na praia. Esse estigma foi destruído. Todavia é preciso relembrar que ser campeão da mudança não equivale a ganhar títulos, portanto temos de fazer com que esta celebração/euforia não se traduza numa vitória que acaba por não existir, acabando por destruir o impulso que nós criámos. Uma celebração precoce de vitória pode destruir os impulsos que criámos ao longo destes últimos anos. Ainda há muita coisa a fazer e temos de começar já a pensar no torneio pré-olímpico, que é já em abril. Temos de nos manter todos alerta porque vão ser batalhas terríveis. Jogar com a França, em Paris, com 18 mil pessoas ou até mais, depois a Croácia, que ainda esta semana foi recebida por milhares de pessoas, são apenas dois exemplos do que se avizinha para as nossas cores. A Croácia, vigente campeã da Europa, é um país de desporto e em que as modalidades são respeitadas…

Vamos ter de continuar a construir uma casa pelo telhado e ainda ser mais visíveis, lutando e combatendo dentro do campo, para algum português depois decidir que vale a pena transmitir os jogos desta rapaziadaEm Portugal não existe esse respeito?

Aqui o desporto não é respeitado. Tenho pena que não haja mais humildade em relação ao desporto, que acaba por ser uma parte importante da sociedade, não só ao nível da saúde, mas também a nível económico. Em Portugal, o desporto gera muito dinheiro, não só para os praticantes, mas também para as pessoas que rodeiam este fenómeno. O nosso país devia cuidar muito melhor do desporto e, sobretudo, das modalidades. Nós, em Portugal, de uma forma geral, e começando pelas chefias, não entendemos bem qual é o papel do desporto no nosso país. A nossa prestação neste Europeu teve muito mais impacto fora do país, do que dentro de portas. Não imagina a quantidade de mensagens de felicitações que me chegaram dos quatro cantos do mundo, quer de forma pessoal, quer pelas redes sociais. Hoje em dia, nomeadamente na Europa, onde o andebol está bastante enraizado, as grandes seleções já não defrontam Portugal sem preparar o jogo, porque o mais certo é perderem. Agora preparam e têm muito em conta o que é defrontar Portugal. Esse respeito já adquirimos e há muito tempo, agora mais ainda.

Agora, dentro de portas, isso não acontece. Não me entra na cabeça como é que um evento destes não é transmitido em canal aberto. Eu moro em Vigo, embora esteja muitas vezes em Portugal, e em Espanha as pessoas viram os jogos de Portugal em canal aberto. E eu pergunto-me 'como é que isto é possível?' A seleção espanhola foi recebida pelo presidente do Governo. Felizmente, o nosso Presidente da República teve o cuidado de me ligar cinco vezes, salvo erro, e foi uma pessoa extremamente atenta, e tenho pena que não haja uma extensão à forma como o Chefe de Estado se comporta, comparativamente aos mais esquecidos. A seleção de andebol foi esquecida e nós fizemos algo importante, que merecia ter sido impulsionado. Esconderam algo importante que foi feito por portugueses. Acho que isto é uma questão de respeito e lamento que não se tenha valorizado a presença da nossa seleção numa fase final. Acho que vamos ter de continuar a construir uma casa pelo telhado e ainda ser mais visíveis, lutando e combatendo dentro do campo, para algum português depois decidir que vale a pena transmitir os jogos desta rapaziada.

O tributo a esta Seleção Nacional de andebol ficou muito aquém do que era expetável…

Sem dúvida alguma. Não tenho nada contra o futebol, pelo contrário, merece o espaço que tem, até porque gera bastante paixão, mas o trato que é dado a esta modalidade é radicalmente diferente do tratamento aplicado às outras. E nós não trabalhamos menos, em muitos casos trabalhamos muito mais do que eles. Volto a bater na mesma tecla: o respeito. Em Espanha acontece qualquer coisa que envolva as cores da seleção e todas as televisões estão sempre presentes. Sentem a importância e reconhecem rapidamente o que um desportista faz por Espanha. Nós não temos isso, gerando em nós um sentimento de ‘coitadinhos’, quando muitas das vezes nem sabemos o que fazemos. Nós temos portugueses de excelência a trabalhar dentro e fora do país, em diferentes áreas, mas temos de aprender a valorizar mais o que temos, até porque isso pode gerar algum efeito positivo nas pessoas que vêm atrás, como por exemplo nas gerações vindouras. Nós gostamos de ser portugueses, mas os mais velhos também têm de ensinar os mais novos a gostar de Portugal. Enfim, isto é um ciclo e nós temos de acreditar que é possível fomentar um ciclo de positivismo, em que todos gostemos daquilo que fazemos e acreditemos que podemos fazer melhor do que aquilo que tem sido feito até agora. Recordo-me que quando Portugal ganhou o Europeu, quota-parte dessa responsabilidade foi atribuída ao Fernando Santos, porque desde o início ele acreditou que era possível e arrastou toda a gente com ele. Mas até acreditarem nisso disseram que o homem estava maluco. Nós temos esta forma de estar que não ajuda nada ao desporto, mas também como noutras áreas na sociedade.

As chamadas do Presidente da República a apoiar e a congratular o feito da Seleção acabam por ser uma ‘bofetada de luva branca’ a vários organismos neste país? E perguntava de que forma recebeu esse carinho da pessoa mais importante da hierarquia nacional?

Foi extraordinário. Eu já tinha muito boa opinião do Presidente da República pela forma como ele trabalha, uma pessoa muito próxima do povo e mais uma vez mostrou isso. No início da competição só me ligava quando ganhávamos e depois ligou-me quando nós perdemos e eu disse: ‘Olha temos aqui mais uma vitória. O presidente ligou-me hoje e nós perdemos’. E voltou a ligar-me depois quando perdemos contra a Alemanha. E acreditei a partir daí que estávamos a passar uma mensagem de combatividade, de acreditar, de lutar até ao fim e é isso que as pessoas querem. Tenho a certeza que o nosso Presidente também sentiu isso. Se os portugueses lutassem como nós lutámos neste Europeu, Portugal estaria provavelmente numa situação diferente, apesar dos nossos recursos serem mais limitados. Nós jogámos contra uma Noruega que tem 700 mil licenças, nós temos 30 mil e perdemos só por seis golos. E isso espelha a diferença entre as duas seleções? Nós jogámos contra a França, que tem 500 ou 600 mil licenças, uma barbaridade. Nós, muitas das vezes, falamos de uma forma de estar e não em recursos. Como é que nós estamos nas coisas e lutamos para conseguir determinados objetivos? Há muitas pessoas em Portugal que trabalham afincadamente e muitas vezes a ganhar muito pouco. É preciso haver um equilíbrio, porque há muita a gente a ganhar o que ganha e não faz o que devia fazer. E nós sabemos disso.

Os mais velhos também têm de ensinar os mais novos a gostar de PortugalApesar das poucas licenças que Portugal conseguiu alcançar um enorme feito no Europeu. No fim da competição referiu que a “Seleção tinha de ser inteligente para não morrer de sucesso”. A que níveis de inteligência nos referimos para gerir tal sucesso?

Tem muito a ver com o que já disse e a questão de gerir melhor o sucesso. Nós não ganhámos nada, essa é a realidade. E sermos inteligentes é pensarmos assim, friamente: nós não ganhámos nada. Apenas fizemos algo de interessante que chamou a atenção. E claro que podemos fazer muito mais, acreditando que ainda não fizemos tudo. A falta de inteligência é pensar que a partir de agora tudo será bastante fácil, quando não será. Vai ser mais difícil ainda. Se celebrarmos primeiramente a vitória, o mais certo é destruir o impulso criado. Por isso digo que é preciso ser inteligente para não morrer de sucesso.

Agora Portugal já está de holofotes apontados para o torneio pré-olímpico que vai disputar em abril. Com que objetivos a Seleção Nacional parte para esta competição?

Há um claro objetivo de estar nos Jogos Olímpicos. Vamos abordar este torneio pré-olímpico com o objetivo de acabar no primeiro ou no segundo lugar. E já sei que é uma loucura aquilo que acabei de dizer, porque se calhar vamos ter de ganhar à França, em Paris, e depois vamos ter de ganhar à Croácia, a vice-campeã da Europa. Nós estamos no grupo mais difícil, mas como também era impossível fazermos aquilo que fizemos no Euro, também quero ver se conseguimos fazer mais uma vez algo impossível. Vamos trabalhar para isso. Claro que é uma exigência máxima e algo que nos deixaria nas nuvens durante muito tempo, mas é aquilo que vamos tentar fazer. Não há outro caminho, afinal nós podemos ganhar a qualquer um. Temos é de fazer as coisas bem e para fazermos as coisas bem teremos de saber gerir as questões das emoções, dos níveis de stress, de não nos deixarmos influenciar pelo que os outros dizem, consultar menos as redes sociais. Vamos ter de estabelecer uma série de regras, até porque vamos ter três jogos seguidos, separados por um curto espaço de tempo.

E como é que os adversários olham para Portugal neste momento? E tendo em conta o próximo adversário, como é que a França vai abordar o próximo duelo frente à Seleção das Quinas, até tendo em conta os recentes dissabores?

O último dissabor que teve conduziu à destituição de um treinador. Agora vai haver uma mudança em França, o que geralmente conduz a uma reação positiva e para nós vai ser ainda mais difícil. Como disse antes, as seleções já não olham para Portugal como uma equipa pequena que chega ali e vai perder. Não tenho dúvida nenhuma, mas sei que vai haver uma exigência abismal. Vamos lá ver como a coisa vai correr, mas acho que é mais uma excelente oportunidade para nós, mais uma.

A falta de inteligência é pensar que a partir de agora tudo será bastante fácilO Paulo Pereira chegou à Seleção e sempre recusou fazer o “discurso do coitadinho”. Era esse o tipo de discurso que imperava em Portugal, antes da sua chegada?

Não sei se era esse o caso, mas nós, portugueses, e não só no andebol, temos a tendência de nos escondermos um pouco ou não nos assumirmos, porque arranjamos muitas desculpas. Acredito que nós temos sempre de atirar para cima, se correr mal arranjamos uma desculpa, como fazem os outros, mas de uma forma diferente, dizendo que queremos fazer isto: ‘É uma loucura, mas queremos fazer’. Eu aprendi na faculdade a meta SMART (Específica, Mensurável, Atingível, Relevante e Temporal), as iniciais da característica de um objetivo quando nós o estipulamos. E nós aprendemos na faculdade a estabelecer um objetivo, que tem de ser difícil, mas que possa ser alcançado. Na altura achei o conceito interessante e colocava-o em prática, mas com o tempo fui percebendo que isso está errado. Se nós quisermos atingir grandes feitos temos de estabelecer objetivos quase impossíveis e tem sido parecido com o que temos feito até agora. Claro que às vezes se consegue e outras vezes não, mas a nossa forma de estar tem de estar orientada para objetivos muito difíceis. Sempre dissemos que queríamos ir mais longe, e muito antes do Europeu começar eu já dizia que o objetivo era fazer melhor do que o sétimo lugar em 2000. E agora falamos do torneio pré-olímpico e o objetivo é ficar em primeiro ou segundo. Por muito difícil que seja, ou praticamente impossível.

O crescimento da Seleção Nacional também reflete a evolução da Liga portuguesa?

A Seleção beneficia sempre se o campeonato nacional for mais forte, no caso não é assim tão forte, até porque há uma diferença abismal entre as três melhores equipas e as outras, portanto a Liga não é assim tão competitiva, tirando as três de cima [Sporting, FC Porto e Benfica], que pouco a pouco que também se vai resumindo a duas, até porque o Benfica se vai afastando, portanto não é um campeonato muito competitivo, isso por outro lado também permite às melhores equipas gerirem melhor os jogadores, no que diz respeito à fadiga, no campeonato interno. Na seleção nós beneficiamos porque quase todos os jogadores que convocamos estão a jogar a Liga dos Campeões, o que nos permite ir buscar a enorme experiência que esses atletas vão obtendo em jogos de altíssimo nível. Quanto maior for o nível de exigência e o patamar das competições em que os nossos jogadores estiverem melhor a Seleção vai estar. Agora os clubes também beneficiam de que os jogadores estejam sempre nas melhores montras, Europeus e Mundiais, o que torna tudo isto um ciclo em que todos beneficiam. A Seleção beneficiou até agora do trabalho que tem sido feito nos clubes, espero que depois deste resultado alcançado no Europeu esse benefício também se torne recíproco.

Recentemente tivemos duas equipas portuguesas a conquistar a Taça Challenge [ABC e Sporting]. É possível aspirar a que um dia uma equipa portuguesa venha a conquistar a Liga dos Campeões?

A Taça Challenge é a terceira divisão europeia. É preferível estar a discutir uma fase de grupos da Liga dos Campeões ou da EHF Cup que propriamente estar a jogar a Taça Challenge, uma competição de nível bastante mais baixo. Nós temos de apontar para cima, agora claro que é muito difícil apontar a uma equipa portuguesa a conquista da Liga dos Campeões, até porque estamos a falar de um investimento de milhões. Estamos a falar de lutar contra clubes que têm 15 milhões de euros de orçamento, Estamos a falar que têm os melhores atletas do mundo. É importante ter coração e ambição, mas nem tudo é possível fazer com isso. Acredito que já chegar a uma final-four da EHF é algo excecional. O FC Porto conseguiu-o, mas agora atingir a final-four de uma Champions seria alcançar o céu. Mas uma coisa de cada vez…

O andebol acaba por estar em clara desvantagem para outras modalidades por culpa dos investimentos que os ditos ‘grandes’ fazem no futsal e no hóquei, comparativamente a esta modalidade?

Penso que não tem apenas a ver com o investimento, mas também com o histórico dessas modalidades. Portugal em hóquei está sempre entre os melhores do mundo, há muitos anos, e o futsal tem vindo a ter um crescimento brutal. Portugal é um país de futebol e hoje em dia, apesar que cada vez é mais raro, o desporto que os miúdos praticam na rua é futebol, coisa que não acontece noutros países, em que se joga efetivamente andebol. Na Tunísia vi miúdos a jogar andebol na rua, o que é algo de extraordinário. É difícil comparar modalidades em Portugal, posso é estabelecer comparações entre os nossos clubes e os que competem na Europa. A comparação tem de ser feita por aí e, nesse sentido, não consigo imaginar um clube português a ganhar uma taça EHF, muito menos uma Liga dos Campeões.

Ter o privilégio de levar Portugal aos Jogos Olímpicos levar-me-ia a ajoelharEm 2018, Portugal foi abalado pelo caso ‘Cashball’, em que o Sporting foi acusado de comprar árbitros e subornar jogadores adversários. Acredita que isto se tratou de um caso isolado ou é uma árvore dentro de uma floresta negra?

Ouvi falar sobre esse caso, sem perceber muito bem o que se passou, nem sei se chegou a provar-se alguma coisa até hoje. Aquilo que sei é que no Campeonato da Europa, e não posso falar muito sobre isto, tivemos arbitragens que não tiveram o seu dia. Em Portugal temos árbitros de diferentes valias, não posso dizer que são todos bons, mas temos árbitros de altíssima qualidade, porém em relação a esse tema não consigo ter uma opinião formulada.

Mas, à margem de tudo isto, sente que o andebol é uma modalidade transparente ou já sentiu que houve fatores alheios a condicionar o resultado final?

Vamos lá ver, interpreto as coisas assim e às vezes até posso ficar chateado com certas coisas que acontecem e não deviam acontecer. A verdade é uma: às vezes exigimos do sistema desportivo e dos homens ligados ao desporto aquilo que não temos em nenhuma sociedade. Porque em todas as sociedades, umas mais do que outras, há injustiças a acontecem em frente da nossa cara e nós nada podemos fazer. Há injustiças, há mentiras, também há coisas espetaculares que nós podemos contemplar, mas o ser humano é versátil e tem uma variedade de comportamentos incrível e nós, às vezes, exigimos ao desporto aquilo que não temos em mais lado nenhum. O nosso objetivo tem de ser sempre a clareza das coisas, o Pierre de Coubertin tem de estar sempre presente, porque se assim não for e nós caminharmos para um sítio que não seja a verdade desportiva então estamos a rumar num mau caminho. Teremos sempre de lutar para que ganhe o melhor, isso temos de perseguir sempre e contrariar aquilo que acontece noutros âmbitos da sociedade em que as injustiças acontecem à nossa frente. Eu era um homem feliz se conseguisse que o desporto conseguisse dar o exemplo aos outros setores do país.

Gostava de terminar esta entrevista falando do futuro e perguntando de forma direta por onde é que passa o seu maior sonho neste momento?

Indubitavelmente levar a nossa Seleção aos Jogos Olímpicos. Esse é o maior sonhos. Este Europeu que acabámos de disputar podia ter-nos levado por dois caminhos: um deles era a disputar um primeiro play-off de apuramento para o Mundial de 2021 ou se nós fizéssemos o que fizéssemos iríamos jogar então um torneio pré-olímpico. A partir do momento em que tínhamos a garantia de jogar um pré-olímpico isso fez-nos sonhar ainda mais. Ter o privilégio de levar Portugal aos Jogos Olímpicos levar-me-ia a ajoelhar, porque era algo de muito grande que nós tínhamos acabado de fazer. Isso sim já é ganhar qualquer coisa, porque nós estamos a falar de um número muito restrito de seleções que participam nos Jogos Olímpicos [são 12 as seleções de todos os continentes que participam] e nós estarmos entre elas era algo de extraordinário, além da projeção que isso traria à modalidade e ao país. Esse é o meu sonho, pelo menos o sonho que está mais perto.

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