A seleção portuguesa de andebol já escreveu uma página de ouro na história da modalidade. A participação no Europeu de 2020, na Suécia, é a melhor da história, mas a equipa das quinas promete não ficar por aqui.

A formação comandada por Paulo Jorge Pereira, treinador com larga experiência no andebol, joga este sábado frente à super poderosa Alemanha o jogo de atribuição do 5.º e 6.º lugares do Euro 2020 da modalidade. Esta é a melhor resultado de sempre da equipa das quinas nesta competição, deixando para trás o 7º lugar, no Euro'2000, na Croácia, e mostrando à Europa que está neste lugar para ficar.

Portugal, que não tem grande historial no andebol a nível de seleções, precisou de uns longos 14 anos para voltar ao convívio com as principais seleções europeias. O tempo de espera foi longo, mas as exibições lusas neste Europeu têm surpreendido tudo e todos. Equipas como França, na fase inicial, ou Suécia, uma das anfitriãs da competição e atual vice-campeã europeia, foram 'vergadas' pelos guerreiros lusitanos que este sábado prosseguem a caminhada triunfal.

"O céu é o limite", atirou Paulo Jorge Pereira, no comando técnico da Seleção Nacional desde julho de 2016, após ter superado a primeira fase do torneio. A vitória sobre a Hungria, por 34-26, no último jogo da ronda principal, garantiu a Portugal não só a melhor participação de sempre em Europeus, como também a presença no Torneio Pré-Olímpico, que terá lugar em Abril deste ano, não sabendo ainda em que grupo ficará colocada, pois tudo poderá mudar caso a Eslovénia levante o título na Suécia.

A vitória sobre a seleção da Suécia© Reuters

A equipa nacional chegou a sonhar com a passagem às meias-finais da prova, mas o terceiro lugar alcançado na ronda principal permitiu continuar o sonho. O jogo com a Alemanha, umas das melhores formações do mundo, será muito complicado, mas os jogadores orientados por Paulo Jorge Pereira já mostraram que podem surpreender e superar-se perante grandes adversários.

Os germânicos são vice-líderes do ranking EHF atrás de França, mas durante muitos anos lideraram esta tabela. Contam no currículo com dois Campeonatos da Europa (2004 e 2016), três títulos mundiais (1938, 1978 e 2007), assim como um título olímpico (1936). Apesar de no último Europeu terem ficado no nono lugar, os alemães foram campeões mais recentemente em 2016, sendo sempre uma equipa temível.

Após o encontro com a Hungria, o selecionador Paulo Jorge Pereira salientou que o encontro com a Alemanha vai ser difícil, mas sublinhou que a equipa nacional tem argumentos para vencer os alemães.

"Espero oito milhões a ver Portugal [no jogo com a Alemanha] e vamos trabalhar para ganhar à Alemanha. Podemos perder, porque a Alemanha é a Alemanha, como se diz no futebol. Espero que, desta vez, no fim não ganhe a Alemanha", atirou.

Caminhada triunfal começou com a vitória sobre a líder do ranking mundial

Garantido o acesso ao Europeu 2020, num grupo que contou com a França, Portugal iniciou a primeira fase do Campeonato da Europa precisamente contra os franceses. Depois de uma vitória e uma derrota na fase de qualificação, a equipa nacional esperava muitas dificuldades contra a líder do ranking mundial, mas a verdade é que quem teve problemas foi mesmo a formação gaulesa, que não conseguiu impedir a brilhante vitória da formação das quinas.

A vitória, por 28-25, sobre a campeoníssima França, na estreia no grupo D da ronda preliminar, lançou o grupo liderado por Paulo Jorge Pereira numa campanha incrível. Seguiu-se uma vitória, ainda que sem o brilhantismo da anterior, sobre a Bósnia e Herzegovina (27-24), antes de perder com a impressionante Noruega (34-28), uma das equipas-sensação da prova e que parece destinada a alcançar a final.

A derrota com os noruegueses foi penalizadora, dado que os resultados entre as equipas apuradas transitaram para a próxima fase da prova. Ainda assim, a formação lusitana voltou a brilhar na estreia na ronda principal e venceu de forma surpreendente a anfitriã Suécia (35-25). Os nórdicos são também eles uma das melhores seleções do mundo e contam no currículo com quatro títulos títulos europeus e outros tantos mundiais.

António Areia tem sido uma das figuras neste torneio© Getty Images

O triunfo sobre os suecos mostrou que a Seleção Nacional não estava no Europeu para brincadeiras e que podia melhorar o tal sétimo lugar alcançado na Croácia em 2000. No entanto, o sonho da conquista de uma medalha desvaneceu-se com as derrotas com Islândia (28-25) e Eslovénia (29-24).

A vitória sobre a Hungria tornava-se essencial para manter viva a esperança de chegar ao torneio pré-olímpico, um lugar que seria garantido caso fosse alcançado o terceiro lugar no grupo II da ronda principal, que se realizou em Malmö. A vitória sobre os húngaros foi muito clara e até histórica, como já foi referido (34-26), mas houve quem não acreditasse que os portugueses poderiam ultrapassar a formação magiar.

A organização do Europeu de Andebol, talvez por não contar com esta façanha, obrigou a equipa das quinas a viajar para Estocolmo, onde vai defrontar a Alemanha, num autocarro que tinha sido atribuído à Hungria. No para-brisas do autocarro estava um papel onde se podia ler "Hungria", demonstrando que a organização da prova estava à espera de uma vitória húngara antes, sequer, do apito inicial. O papel foi posteriormente riscado e a caneta foi escrito o nome "Portugal", uma situação que foi criticada pelos atletas.

O engano da organização do torneio no autocarro© DR

Mas este caricato momento parece não ter surpreendido os lusitanos, uma vez que Paulo Jorge Pereira revelou, após o jogo com a Hungria, que a organização só atribuiu à equipa portuguesa um guia para os cinco dias da primeira fase da prova, prevendo que a Seleção Nacional não ultrapassaria a fase de grupos.

"Contrataram-nos uma guia para cinco dias porque tínhamos calhado naquele grupo. E ela teve de pedir para prolongar para estar aqui. E agora vai ter de voltar a prolongar para ir para Estocolmo", atirou.

Gilberto Duarte é a grande ausência, mas nem se fez notar

Gilberto Duarte, jogador do Montpellier, foi a principal baixa para este Campeonato da Europa. O lateral português lesionou-se no joelho esquerdo num encontro da Taça da Liga francesa e não pôde ser chamado por Paulo Jorge Pereira, mas a verdade é que não se tem notado a ausência daquele que foi o melhor jogador e marcador na fase de apuramento.

A equipa das quinas não contou com aquele que é considerado um dos melhores jogadores da seleção portuguesa, mas tem nas suas fileiras três cubanos que têm sido fundamentais nesta caminhada vitoriosa, sendo que um deles está mesmo a ser preponderante.

Alfredo Quintana, guarda-redes do FC Porto, está a ser a principal figura da equipa das quinas no torneio, ao ponto de ter sido nomeado para a equipa do ano do Campeonato da Europa de 2020, a par de João Ferraz e Rui Silva, este último também pertencente aos quadros do FC Porto.

E a verdade é que não se pode dissociar o sucesso da equipa nacional dos azuis e brancos. Os portistas forneceram 9 dos 18 convocados à equipa liderada por Paulo Jorge Pereira e que tem deslumbrado neste Europeu com um modelo atacante “sete contra seis”, desenvolvido precisamente por Magnus Andersson, o treinador dos portista.

Segue-se agora o confronto com a Alemanha que está marcado para as 15h00 deste sábado.