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"Um dia espero regressar a Portugal, mas neste momento o foco não é esse"

Pedro Martins faz o balanço de um ano e meio ao leme do Olympiacos. Em entrevista ao Desporto ao Minuto, o treinador português revela ainda os grandes objetivos para esta temporada, ao mesmo tempo que faz uma análise ao campeonato português.

"Um dia espero regressar a Portugal, mas neste momento o foco não é esse"
Notícias ao Minuto

07:51 - 16/09/19 por Francisco Amaral Santos

Desporto Entrevista exclusiva

Pedro Martins está de pedra e cal no Olympiacos. O treinador português foi para a Grécia para voltar a dar alegrias ao clube grego e esta temporada já conseguiu garantir um lugar na fase de grupos da Liga dos Campeões. 

Em entrevista ao Desporto ao Minuto, o técnico luso faz o balanço da aventura no Olympiacos, numa altura em que completa praticamente um ano e meio desde que se mudou para terras helénicas. 

Para lá dos objetivos definidos para esta nova época, o treinador português de 49 anos fala também sobre o futuro, recorda aquilo que aprendeu quando era jogador e analisa aquilo que tem visto no campeonato português. 

A recente chamada de Daniel Podence à seleção nacional também foi motivo de conversa e o talento de Rúben Semedo mereceu elogios por parte de um técnico que já orientou equipas como Vitória SC, Rio Ave ou Marítimo. 

Tudo o que vier da Champions será bem-vindo, mas o grande foco é reconquistar o campeonato grego

Está na Grécia há praticamente ano e meio. Que balanço faz desta aventura no Olympiacos?

Tem sido muito positiva. O ano passado o Olympiacos tinha perdido o título e houve uma profunda reestruturação no clube. Houve uma nova abordagem e a abertura de um novo ciclo do que deveria ser o Olympiacos. Foi isso que foi feito. Uma reestruturação total do futebol, da equipa e do perfil dos jogadores. Foi complicado ao início, como deve calcular. Não é fácil entrarem 21 jogadores e saírem outros 21, mas rapidamente toda a gente percebeu que estamos perante jogadores de qualidade. Jovens com futuro e jogadores com experiência. Estava a ser construído um plantel para o futuro. Passados 12/13 meses o que está a acontecer é fruto da reestruturação, da paciência que tivemos e de um plantel que tem qualidade apesar da juventude. Tem qualidade e tem um enorme futuro pela frente.

Passado este período de reestruturação, o objetivo deste ano passa pela conquista do campeonato?

Sim. O ano passado também era! Não vamos esconder isso, mas sabíamos que iria ser difícil porque estávamos a começar o ano zero para projetar um Olympiacos para o futuro. Mas um clube como este, normalmente, e independentemente das fases que atravessa, é sempre candidato crónico ao título grego.

O Olympiacos marca presença na Liga dos Campeões e tem pela frente um grupo nada fácil. Qual o objetivo para esta prova?

Bons jogos e boa imagem. Sabemos que temos duas equipas muito fortes, não descurando o Estrela Vermelha. É uma equipa com um bom plantel, mas não está na primeira liga como está o Bayern Munique, que é somente uma das equipas mais tituladas da Liga dos Campeões. O Tottenham chegou no ano passado à final e é candidato ao título em Inglaterra. É um grupo difícil e complicado. Temos a noção de que há dois candidatos fortíssimos. No entanto, e tal como costumo dizer desde que estou à frente do Olympiacos, em nossa casa nunca tivemos um resultado negativo. Normalmente não é fácil para os adversários jogarem no estádio Karaiskákis. Há várias coisas que jogam a nosso favor, mas, como é evidente, o nosso objetivo é o campeonato grego e protagonizar bons espetáculos. Mostrar à Europa e ao mundo a qualidade dos jogadores do Olympiacos. Se não conseguirmos chegar à fase seguinte, que é algo que desejamos, então que alcancemos a Liga Europa. Esse é o principal objetivo nas competições europeias.

O míster Pedro Martins vai estrear-se numa fase de grupos da Champions. É importante subir mais um patamar na sua carreira?

É importantíssimo. É fundamental estar inserido nas melhores equipas da Europa e talvez do mundo. É importante participar no evento mais apetecível de todos. Vai ser uma grande aprendizagem e será muito importante para mim. Vai dar-me visibilidade e devo reconhecer que isso é muito positivo para a minha carreira.

Presumo que a Taça da Grécia também faz parte das ambições do Olympiacos…

Tudo o que seja a nível interno, o Olympiacos está sempre focado em conquistar. A conquista da Taça, claro, faz parte dos objetivos estabelecidos pelo clube.

A nível pessoal, como ocorreu a adaptação a um país como a Grécia?

Diferente, mas com muitas similaridades com Portugal. A comida não pode ser comparada com a portuguesa (risos), mas tem algumas semelhanças. Historicamente e culturalmente há muita coisa que se assemelha a Portugal. Mas adaptei-me muito bem desde o início. Não foi difícil até porque a minha vida não mudou assim tanto. Sinto-me muito bem inserido no clube.

Pode dizer-se que já se sente em casa?

Desde o primeiro dia que me sinto em casa. É das tais coisas que não consigo explicar. Normalmente refiro isto. Quando cheguei ao Olympiacos encontrei vários profissionais que já trabalharam com treinadores portugueses. Ou seja, foi mais fácil porque eles já conhecem a forma como nós trabalhamos e como somos culturalmente. Mesmo na organização do Olympiacos notam-se alguns traços portugueses, dos treinadores que estiveram a trabalhar cá. Isso, claro, ajudou na adaptação a este clube. Muitos dos profissionais do Olympiacos trabalharam no tempo do Leonardo [Jardim], do Marco [Silva], do Paulo Bento e do Vítor Pereira... Isso ajuda muito.

Notícias ao MinutoPedro Martins eliminou o Krasnodar no playoff e garantiu um lugar na fase de grupos ao Olympiacos.© Reuters

Enumerou os seus antecessores. Isso é a prova de que na Grécia dá-se muito valor aos treinadores portugueses?

Eu penso que sim. Repare numa coisa. Depois da minha chegada, houve a necessidade dos candidatos ao título, quer o PAOK [Abel Ferreira] e o AEK [Miguel Cardoso], de contratarem treinadores portugueses. Os vencedores abriram as portas, mas o meu trabalho nestes meses também foi importante para que outros portugueses tivessem vindo para cá. Normalmente, o treinador português é muito reconhecido na Grécia. Isto, para não esquecer o expoente máximo: o Fernando Santos. Os gregos têm um grande respeito e um grande carinho pelo nosso selecionador.

O treinador português tem cada vez mais mercado no estrangeiro, para além da Grécia?

Nós somos reconhecidos pela nossa qualidade, pela nossa capacidade de trabalho e pela nossa capacidade de adaptação a vários ambientes culturais e estruturais. Espero que não seja uma moda, como se verificou antes com os treinadores brasileiros e da antiga Jugoslávia, embora muitos deles tivessem qualidade. Mas sim, temos feito grandes trabalhos por onde temos passado. No Brasil, na China… Em praticamente todo o lado, o treinador português tem tido muito, muito, sucesso.

Não posso deixar de lhe perguntar. Ficou surpreendido com a saída de Miguel Cardoso numa fase tão inicial da época?

Fiquei, mas é um clube concorrente. Não sei o que se passou, mas não gosto ver esse tipo de situações, muito menos numa fase tão precoce [da época]. Não tenho mais nada a registar a não ser desejar as maiores felicidades ao Miguel e que rapidamente esteja a trabalhar porque faz falta ao futebol.

Quais as grandes diferenças entre o futebol português e o futebol grego?

Olhe, o futebol grego é muito competitivo. As equipas jogam, normalmente, muito em bloco baixo e tradicionalmente são equipas mais fechadas e agressivas. A qualidade dos relvados também não é a ideal em muitos dos estádios da Grécia. O campeonato é muito competitivo porque muitas das equipas quando jogam contra o Olympiacos batem-se e em muitos momentos estão fechadas, o que torna tudo mais difícil. Não há aquela cultura de grande espetáculo, como já se começa a ver em Portugal. O treinador português ajudou a melhorar isso, mas o campeonato é realmente competitivo.

A forma como os adeptos vivem o futebol também é diferente…

Aqui a rivalidade ultrapassa aquilo que é o jogo em si. Extravasa tudo. Como deve saber, os adeptos do Olympiacos, por exemplo, nunca podem ir ver os jogos em casa do AEK, do PAOK ou do Panathinaikos. O próprio governo grego instaurou isso como uma medida de segurança. De facto, esse é o aspeto em que os adeptos gregos ainda têm de crescer. Esta rivalidade extrema ultrapassa aquilo que é simplesmente um jogo de futebol.

Ainda assim, nos jogos em casa, a força dos adeptos funciona como um 12.º jogador para o Olympiacos...

Sim, sempre! Desde que estou cá, tem sido muito importante o apoio dos nossos adeptos. Especialmente nos jogos internacionais, pelo grande orgulho que têm não só no clube mas também no país e na pátria. Fazem-se mostrar. Devo dizer que já estive em alguns estádios com 53 mil pessoas e comparativamente com os 35 mil que leva o nosso estádio, aqui fazem muito mais barulho.

Há uma atenção especial para que os jogadores permaneçam focados no jogo apesar do ambiente?

Claro que isto tem dois lados. O facto de os adeptos serem assim exige de nós uma responsabilidade acrescida. Nós temos de dar respostas dentro de campo para que eles nos ajudem também. Toda a gente sabe perfeitamente a responsabilidade de representar o maior clube grego. Também não é fácil. Há determinados jogadores que não conseguem aguentar este tipo de pressão. Há aqui duas faces. Há maior preocupação em mantermos os níveis de concentração quando jogamos com equipas teoricamente inferiores aqui na Grécia. Esse é o grande foco e o grande trabalho que temos vindo a desenvolver.Rúben Semedo? Estamos perante um talento e um potencial enorme no futebol europeu 

O José Sá já é presença assídua na seleção. O Daniel Podence foi chamado neste último estágio. É a confirmação do talento e do valor do Podence?

Ele tem valor e é não é por acaso que foi chamado. Mas a seleção está recheada de grandes jogadores. Espero e gostaria que os meus jogadores estejam nas respetivas da seleção nacional, não só no caso dos portugueses como também dos gregos. O [Rúben] Semedo estava pré-selecionado, mas com esta lesão recente acabou por não ir. São meus jogadores e vejo neles qualidade para representar o nosso país. Mas também devemos respeitar as decisões do nosso selecionador, porque ele tem soluções de muita qualidade.

Mas também prova que este Olympiacos é forte e que tem jogadores que motivam muita atenção?

Sim, penso que já ninguém tem dúvidas. Depois do que temos vindo a fazer e quem estiver atento… Ninguém terá dúvidas. Nos nove jogos europeus apanhámos grandes equipas pela frente como AC Milan, Betis, Krasnodar… Os nossos resultados em casa são absolutamente extraordinários e isso merece a atenção de toda a gente. As coisas não têm acontecido por acaso. Aliás, se as pessoas repararem na nossa segunda volta da época passada, percebem perfeitamente o que está a acontecer. E, claro, o facto de termos chegado à Liga dos Campeões, deu visibilidade e apressou a chamada de alguns jogadores à seleção nacional.

Acredita que Rúben Semedo também pode chegar à seleção?

O Semedo tem 25 anos e tem pela frente um futuro brilhante. Não tenho dúvidas. Neste momento, ele está pronto para todas e quaisquer eventualidades do futebol mundial. Com uma margem de progressão grande. Ele demonstra liderança e qualidade para as suas funções. Na minha opinião, estamos perante um talento e um potencial enorme no futebol europeu.

O Olympiacos é o maior desafio da sua carreira?

Não diria isso. Neste momento é, porque é o presente. Já tive outros grandes desafios na carreira. Quando peguei no Marítimo, a equipa estava em último lugar e era um grande desafio para um jovem que estava a chegar ao futebol português. Depois conseguirmos competições europeias, fase de grupos e vender inúmeros jogadores que foram valorizados, foi um grande desafio. Tal como no Rio Ave, naquela entrada da fase de grupos da Liga Europa e voltar a fazê-lo no ano seguinte. E no Vitória SC, nos últimos 20 anos, talvez uma das melhores épocas tenha sido a do meu primeiro ano. Cada um destes clubes tem uma grande importância e foram grandes desafios. Não posso dizer que o Olympiacos é o maior desafio. É um grande desafio, mas em todos os clubes tive uma grande aprendizagem.

Notícias ao MinutoPedro Martins não esquece a passagem por Vila do Conde. © Global Imagens

O facto de ter sido jogador torna-o melhor treinador?

Eu acho que ajuda. Pelo menos, dá-me ferramentas para isso. Há muitos jogadores que não são bons treinadores e que acabaram por não corresponder. Há outros que nunca jogaram futebol e são bons treinadores. Na minha opinião, ajudou-me imenso ter a experiência de jogador, isto aliado ao conhecimento.

Foi recolhendo algumas coisas dos treinadores com quem se cruzou quando era jogador?

Sim, imensas coisas. O que era bom e o que era menos bom. Também aprendemos com isso. Se se passavam coisas que não gostava naquela altura, quando elas surgem agora, eu tento não fazer o mesmo. Isso chama-se aprendizagem.

Não me canso de dizer que o Henrique Nunes me marcou imenso

Mas houve algum treinador que o tenha marcado?

Olhe, como jogador não me canso de dizer que o Henrique Nunes me marcou imenso. Foi o treinador nas camadas jovens e lançou-me nos seniores. Deu-me oportunidade e continuidade. No fundo, foi aquele que me educou como profissional. Nunca me vou esquecer dele. Houve outros com quem aprendi muito. Com o Carlos Queiroz, por exemplo, também aprendi muito em termos de metodologia. Também com o José Couceiro, como jogador e como assistente dele. Aprendi muitos com eles.

O facto de ter sido treinador adjunto em equipas como Belenenses, FC Porto e Vitória de Setúbal também o ajudou a ficar mais preparado para ser treinador principal?

Ajudou, tal como me ajudou ter sido treinador do Sindicato depois disso. Ganhei uma bagagem importante. Como foi importante ter começado pelas equipas da segunda divisão lá da minha terra. Foi, na prática, começar do zero e sem condições. Permitiu adaptar-me, ser flexível e criativo em muitos momentos. Se tivesse de passar por este percurso novamente, fá-lo-ia porque foram todos eles muito importantes no meu crescimento e no conhecimento que hoje tenho do futebol. Um crescimento sustentado, com entrega e dedicação.

Falando a longo prazo, um dia imagina-se a regressar a Portugal?

Sim, no futebol tudo é possível. Estou bem no Olympiacos. Sinto-me bem cá, sou respeitado e as pessoas gostam de mim. Sou muito acarinhado pelos adeptos do clube e respeitado na Grécia. Um dia espero regressar a Portugal, mas neste momento o meu foco não está nisso. A minha vida baseia-se a pensar no dia-a-dia. Há um objetivo que tenho, de chegar a determinado patamar, mas vivendo do dia-a-dia e do trabalho diário. Algum dia vou regressar, claro, porque quero voltar para a minha terra e para junto dos meus filhos, mas, neste momento, o meu foco está totalmente no Olympiacos.

Presumo que a distância da família seja a parte mais complicada desta experiência…

A minha mulher está comigo aqui, mas os meus filhos estão em Portugal. Há muitos momentos em que gostaríamos de estar com os nossos, até com bons amigos. Há essa carência quando estamos à distância. Faz parte, mas agora com as novas tecnologias e com uma distância de quatro horas de voo, as coisas ficam mais fáceis. Às vezes até combinamos encontrar-nos no centro da Europa, o que acaba por ser meio percurso. Vamos matando as saudades desta forma.

Em relação ao futebol português, o que tem achado desta nova época?

Vou acompanhando sempre. Para já, vejo muitas alterações de treinadores o que não é benéfico. Vejo um Famalicão que está a fazer um percurso brilhante, embora estejamos numa fase inicial. No entanto, é uma equipa que veio do segundo escalão e está a fazer um trajeto interessante. Os candidatos já perderam pontos, o que não é normal. É normal num Benfica-FC Porto alguém perder pontos, mas já perderam alguns pontos que normalmente não perdem. Mas isso é bom para o futebol. O Sporting de Braga também poderia ter mais pontos, mas deu primazia ao objetivo Liga Europa e ressentiu-se nestes primeiros jogos. Creio que com o plantel de qualidade e a experiência de Sá Pinto vão voltar à melhor forma. O Vitória SC, na minha opinião, construiu um grande plantel. Este é um dos melhores plantéis do Vitória SC. Vejo a qualidade do Carvalhal no Rio Ave com alguns jogadores muito experientes e que podem ajudar o clube a intrometer-se na luta pela Liga Europa.

Enfim, há aqui equipas que gostaria de ver também. Gostaria de ver o Marítimo a ter de novo uma participação na Liga Europa porque faz falta à região e é um clube pelo qual nutro um carinho especial. Acho que o campeonato está competitivo. Perdeu qualidade porque muitos jogadores de grande valor foram vendidos. Mas existe a capacidade, como acontece todos os anos, de preencher essa qualidade dentro de quatro ou cinco meses por outros jogadores de grande valor. A Liga vai crescer muito ao longo da temporada em termos qualitativos.

A participação de quatro equipas portuguesas na Liga Europa também é importante?

É importantíssimo. E mais importante será que tenham bons resultados. Nos últimos anos temos perdido competitividade entre clubes na Europa. Isso é claro. Esperemos que tenham uma boa participação e que Portugal faça muitos pontos e que não perca o seu espaço. Agora na fase de grupos é que vamos tirar a prova dos nove.

Para fechar, qual o grande objetivo para a temporada 2019/20?

É ser campeão grego. É tornar o Olympiacos novamente campeão. É esse o grande objetivo. Tudo o que vier da Liga dos Campeões será bem-vindo, mas o foco de toda a gente é reconquistar o campeonato grego. Quero dar essa alegria aos adeptos do Olympiacos.

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