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"Estar numa equipa como o FC Porto é estar no maior patamar do futebol"

Defesa central português está emprestado pelo FC Porto ao Kasimpasa e não esconde o desejo de um dia poder fixar-se na equipa orientada por Sérgio Conceição. Em entrevista ao Desporto ao Minuto, Jorge Fernandes recorda ainda a passagem pelo Tondela e destaca a qualidade dos jogadores da geração de 1997.

"Estar numa equipa como o FC Porto é estar no maior patamar do futebol"
Notícias ao Minuto

08:07 - 13/09/19 por Francisco Amaral Santos

Desporto Exclusivo

Jorge Fernandes mudou-se este verão para a Turquia, para jogar no Kasimpasa. O defesa central formado no FC Porto continua a ter contrato com o "clube do coração", mas volta a passar por novo período de cedência após ter sido emprestado ao Tondela na última época

No futebol turco, Jorge Fernandes espera aprender, melhorar e evoluir num contexto que o coloca fora da sua zona de conforto. Mas o Kasimpasa tem outro português: Ricardo Quaresma. 

Em entrevista ao Desporto ao Minuto, Jorge Fernandes confessa que mantém o sonho de um dia poder fixar-se no plantel de Sérgio Conceição, ao mesmo tempo que sublinha que, porém, não vive obcecado com esse desejo. 

O defesa português confessa, ainda, que olha para Pepe, Fernando Meira ou Bruno Alves como exemplos a seguir, uma vez que os três portugueses brilharam no futebol turco a jogar na mesma posição. 

 Tenho a certeza absoluta de que vou crescer imenso com o Quaresma, tanto a nível futebolístico como a nível pessoal

Como estão a ser estes primeiros momentos na Turquia?

A adaptação está a correr bem. No início, como é a minha primeira experiência fora, passei por aquele período de adaptação, que é normal para todos os jogadores que vão para o estrangeiro. Mas agora já me sinto perfeitamente adaptado e à vontade com toda a gente. Sinto que tenho crescido como jogador e como pessoa desde que cheguei aqui. Tenho tido outra perceção das coisas, de ambos os pontos de vistas. Em tão pouco tempo, esta experiência já me fez crescer muito.

Quais as primeiras impressões no Kasimpasa?

Sobre o clube, há poucos aspetos negativos que possa apontar. É um clube muito bem organizado, tem excelentes condições e tem pessoas que gostam e que se dedicam aos jogadores. Disponibilizam-se sempre para ajudar os jogadores. Em termos estruturais, as condições são mesmo muito boas. Tenho gostado imenso de poder conhecer o clube e as pessoas que fazem parte dele.

Já conseguiu medir o pulso à paixão dos adeptos turcos durante os jogos?

Sem dúvida. São adeptos muito apaixonados pelo futebol e pelas equipas. São muito barulhentos e, quando as coisas não estão a correr bem à equipa, eles apoiam, gritam e cantam. Acabam por motivar a equipa mesmo que esta não esteja tão bem. É bom sentir isto porque acaba por ser algo diferente do que estava habituado.

Quais os objetivos do Kasimpasa para esta temporada?

A mensagem que foi transmitida ao plantel é que temos de lutar pelos cinco primeiros lugares do campeonato.

A contratação de Ricardo Quaresma vem ajudar na procura por esse objetivo?

Sim, claro. Houve uma saída de um extremo com muita qualidade, o [Mahmoud HassanTrezeguet que foi para o Aston Villa, e ficámos ali com uma vaga e o clube decidiu ir buscar o Quaresma. O Quaresma é um jogador com muita qualidade, sem dúvida nenhuma, e já o provou por onde passou. Tenho a certeza de que vai ajudar bastante o Kasimpasa.

E acaba também por ser mais uma ajuda para si?

Claro, é sempre bom poder falar em português no balneário. Eu não conhecia o Quaresma. Quando ele esteve no FC Porto, eu também estava e chegámos a viajar juntos. Ele ia para a Liga dos Campeões e eu para a Youth League, mas nunca tinha surgido a oportunidade de falar e estar com ele. Mas desde que ele chegou, é uma pessoa disponível e animada. O Quaresma cria bom ambiente no balneário. Tenho a certeza absoluta de que vou crescer imenso com ele, tanto a nível futebolístico como a nível pessoal.

Como surgiu o convite do Kasimpasa?

A proposta surgiu no final da época passada. Juntamente com o meu empresário, estudei as várias ofertas que iam surgindo e apareceu a do Kasimpasa. Eu, enquanto jogador, procurei sempre o melhor para o meu futuro e para poder evoluir, mas também admito que não aceitei esta oferta de imediato. Antes, tentei perceber aquilo que iria encontrar, em termos futebolísticos e até do próprio país. Acabei por aceitar e a nível pessoal foi uma decisão complicada, porque é a primeira vez que saio da minha zona de conforto. Deixei as pessoas de quem eu gosto e com quem gosto de estar, e saber que vou estar longe delas é complicado. Mas são sacrifícios que temos de fazer e só me resta tentar extrair o melhor desta experiência.

Nos últimos anos, Fernando Meira, Bruno Alves e Pepe foram alguns centrais portugueses que se afirmaram no futebol turco. Olha para eles como uma inspiração?

Sem dúvida. São exemplos pelo que fizeram aqui e pelo estilo de jogo que apresentaram. A minha intenção é poder ajudar o clube a atingir os objetivos, ajudar os meus colegas e conseguir evoluir enquanto jogador. Se no final da época isso acontecer, o balanço será francamente positivo.

 Falei com o Raúl Meireles e com o Bosingwa e ambos disseram-me que podia estar descansado em vir para a Turquia

Pediu conselhos ao Pepe antes de aceitar o convite turco?

Falei pouco com o Pepe, só um momento quando foi o jogo em Tondela e, nessa altura, ainda não tinha surgido a proposta. Mas falei com outros jogadores como o Raúl Meireles e com o Bosingwa e ambos disseram-me que podia estar descansado em vir para a Turquia porque o clube ia dar-me condições para evoluir. As palavras deles tranquilizaram-me.

Sentia que precisava de sair do país depois de se afirmar na I Liga ao serviço do Tondela?

Eu procurei, acima de tudo, sair da minha zona de conforto para me testar a mim próprio. Às vezes é preciso fazer isso para sabermos se realmente estamos preparados. Não digo que sou um jovem jogador, porque já não tenho 17 ou 18 anos, mas tenho 22 e não me considero um jogador velho (risos). Foi uma oportunidade que eu encarei como uma forma de confrontar as adversidades que nunca tinha encontrado até agora. Tenho a certeza que vou aprender muito aqui. Tenho muito futuro pela frente e isto trata-se de uma aprendizagem.

É uma forma de conhecer outras realidades e outros contextos táticos?

Precisamente. Os clubes na Turquia têm excelentes avançados. Ainda agora o Galatasaray foi buscar o Falcao. O Adebayor também joga aqui. Há imensos jogadores com muita qualidade e que me vão dar muito trabalho. Não quer dizer que em Portugal não existam avançados de grande qualidade, porque existem, mas aqui talvez tenham mais experiência e tenham outras 'manhas' que em Portugal podia não aprender e corrigir. Sei que no futuro vou melhorar com isto.

Já encontrou diferenças entre o futebol turco e o futebol português?

A maior diferença é a nível tático. Não é que eles não tenham essa cultura tática, mas como os adeptos são muito fervorosos, isso acaba por ter influência no jogo. Em campo, deixas-te levar pelo ambiente das bancadas. Não há aquele rigor tácito que existe em Portugal. Aqui os jogos são mais abertos e num jogo, aos 80 minutos, cada equipa tem três ou quatro situações claras de golo. Os jogos são mais partidos. É essa grande diferença que identifico.

O lado emocional afeta o jogo?

Exatamente! Em Portugal, o jogo é mais pensado e ponderado. Aqui os jogadores deixam-se levar em determinadas situações. Mas é algo que já está a ser melhorado e tenho a certeza que o futebol turco vai evoluir.

E em relação à língua, já fala turco?

Eu estudei e sempre tive inglês. Não era um excelente aluno, mas sempre consegui desenrascar-me. Aqui temos um tradutor que traduz tudo para inglês e que está sempre presente. É como se fosse um elemento da equipa técnica. Eu tenho a capacidade de entender tudo e consigo falar, mesmo não sendo um inglês perfeito. Em relação ao turco, tenho aprendido algumas palavras para me safar, nomeadamente dentro de campo. Aquelas pequenas palavras que são importantes durante os jogos. Isso é mais fácil. Mas comunicar, comunicar, ainda não consigo. Mas, para já, não é uma barreira para a minha adaptação.

Notícias ao MinutoJorge Fernandes está determinado em ter sucesso no Kasimpasa© Reprodução Twitter Kasimpasa

Esteve emprestado ao Tondela pelo FC Porto. Teve alguma esperança de conseguir um lugar na equipa de Sérgio Conceição para esta época?

Até ao fim da minha carreira vou sempre alimentar o sonho de poder jogar e fixar-me na equipa principal. Sou portista e tenho um carinho especial pela casa que me deu tudo a nível futebolístico e a nível pessoal. Cresci muito com os treinadores que tive e com as pessoas que estiveram ao meu lado. Fui para o FC Porto com nove ou dez anos, e foram muitos anos naquele clube em que às vezes vês mais aquelas pessoas do que os teus pais. Só tenho de agradecer a toda a gente daquele clube e ao próprio clube. Terei sempre o sonho de ser jogador da equipa A, mas não sou um sonhador ao ponto de não conseguir perceber as coisas. Tenho noção das coisas e sempre respeitei as decisões do clube. Por me excluírem de uma pré-época, não sinto que o clube não acredita em mim. Isso nunca aconteceu. Fiz uma pré-época no México há dois anos e foi sem dúvida uma experiência incrível. A oportunidade de estar naquele ambiente foi inesquecível. Considero que estar numa equipa como o FC Porto é estar no maior patamar do futebol. Enquanto for jogador, vou sempre sonhar com isso. Vou alimentar esse sonho, mas não vou ficar iludido.

A concorrência no plantel do FC Porto para o seu lugar é muita…

Tenho a consciência que existem jogadores de grande qualidade no plantel e tenho consciência que existem jovens da formação com muito valor. Há o Diogo Queirós, o Diogo Leite e há mais jogadores na formação com valor. E depois, há os titulares, que são PepeMarcano e Mbemba, todos eles jogadores de qualidade. A mim só me resta trabalhar e dar o meu melhor. Também tenho de agradecer ao Tondela por me ter dado a oportunidade de jogar e mostrar na I Liga.

Teve alguma conversa com o Sérgio Conceição antes de se mudar para a Turquia?

Não, não tive.

Foi com ele que se estreou num jogo da Taça de Portugal. Ficou-lhe na memória?

O mister levou-me naquela pré-época. Quando estás de férias e recebes uma chamada a dizer que vais integrar a equipa, sentes uma alegria enorme e que vais ter uma oportunidade para te mostrares e estares entre os melhores. Fiz dois jogos no México, contra o Cruz Azul e o Chivas, e desde logo foi uma experiência incrível. Entretanto voltei à equipa B e, de vez em quando, ia treinar com a equipa A. Mais tarde tive a oportunidade de ser convocado para um jogo da Taça de Portugal contra o Lusitano de Évora. Foi, sem dúvida, especial. Nessa semana, foram chamados vários jogadores da formação e da equipa B aos treinos da equipa principal.

O mister queria dar a oportunidade a todos de realizarem o sonho de jogar pela equipa A. Fui o último a ir aquecer nesse jogo e já estávamos a ganhar confortavelmente… Quando o mister me chama para entrar aos 70 minutos e eu estava a aquecer com dois jogadores de ataque que eram, salvo erro, o Fede Varela e o Rui Moreira, e ele chama um defesa-central para entrar no jogo. Naquele momento sentes que as pessoas sempre olharam para ti com carinho e respeito por aquilo que conquistaste. Senti que me deram valor. Foi sem dúvida especial. Dei o meu melhor e foi um momento inesquecível. No fim, tive a oportunidade de aplaudir os adeptos ao lado do Diogo Dalot. O Dalot é alguém com quem tenho uma enorme amizade e pensámos: 'Isto no Dragão deve ser uma coisa do outro mundo’. Fiquei contente porque o Dalot teve essa oportunidade e tenho a certeza de que foi outro momento inesquecível para ele.

Notícias ao MinutoJorge Fernandes afirma que não vai esquecer a estreia em jogos da equipa principal do FC Porto© Global Imagens

Mantém o sonho de também fazer essa estreia no Dragão?

Claro que sim. Seria um momento alto. Nunca tive a oportunidade de jogar lá na condição de jogador do FC Porto ou de jogador adversário, mas podem ter a certeza de que, se fosse adversário, também me ia morder todo para dar o meu melhor e fazer um grande jogo. Independentemente de onde estejas, tens de dar sempre o teu melhor no clube em que estás. Foi a educação que o FC Porto me deu. Se um dia isso acontecer, é isso que vou fazer. Dentro de campo não há amigos. É uma bola e um jogo de 11 contra 11. Mas, atenção, quando era miúdo joguei lá num jogo de apresentação ao serviço dos sub-14 contra o Ajax.

Já falou sobre o Sérgio Conceição e também mereceu oportunidades com o Pepa no Tondela. Que mais treinadores o marcaram ao longo do seu percurso?

Posso dizer que tive vários treinadores, tanto na formação como a nível profissional. Na formação, um deles foi o mister Folha. Foi um dos treinadores que mais presente esteve no crescimento da geração de 97. Foi alguém que me marcou muito. Há momentos em que passas mais tempo com o teu treinador e com os teus amigos do que com a tua família e os teus pais. Quando era miúdo, saía de casa para ir para a escola e só voltava à noite depois do treino. O mister Folha transmitiu-me muitos valores e princípios. Ele teve a sensibilidade de nos educar também enquanto pessoas. Também apanhei o Luís Castro na equipa B e na seleção o mister Peixe também ajudou-me a evoluir. E não estou falar porque foram treinadores que me meteram a jogar. Aliás, com o mister Luís Castro eu tive poucas oportunidades e o mister Pepa também não me colocou a jogar em alguns jogos por opção. Não é por isso que não reconheço que todos eles foram bons treinadores e que me fizeram evoluir. Eu agradeço a todos. Não é só jogar que faz um jogador evoluir. Com o mister Sérgio Conceição, também evoluí sempre que me dava orientações e me corrigia. Comparar treinadores não é justo nem sábio. No fundo, fui recolhendo um bocadinho de cada um deles.

Tem passagens pelos diversos escalões da seleção nacional. O sonho de chegar à seleção A também existe?

Claro que sim, trabalho para isso. Um dia gostaria de estar entre os melhores do nosso país. Exige trabalho e sacrifício, mas estou tranquilo. É um sonho que tenho, mas não é algo que me afeta. É mais do que evidente que somos um país que tem jogadores com muita qualidade para todas as posições. A seleção está num processo de renovação de defesas centrais… O Rúben [Dias] já se pode dizer que agarrou um lugar e foi um jogador com quem me cruzei na seleção. O Ferro também já foi convocado e também é outro jogador com quem tive a oportunidade de trabalhar. Acho que começa a chegar a hora da nossa geração e sinto que há muitos jogadores que vão ter a sua oportunidade.

Notícias ao MinutoJorge Fernandes passou pelos diversos escalões da seleção nacional© Getty Images

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