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"Cansei-me da ginástica. Jogava à bola e partia a casa toda"

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Bárbara Marques explica que a decisão de deixar o Sporting para assinar pelo Fofó teve como objetivo "voltar à estaca 1 para poder ir para a 2, 3, 4 e por aí acima".

"Cansei-me da ginástica. Jogava à bola e partia a casa toda"
Notícias ao Minuto

08:04 - 12/09/19 por Carlos Pereira Fernandes

Desporto Bárbara Marques

Depois de três anos no Sporting, Bárbara Marques arranca, este fim de semana, uma nova 'aventura' num outro histórico clube português sediado em Lisboa. Desta feita, o Futebol Benfica, comummente conhecido como Fofó.

Para trás, fica o 'tormento' provocado por um "problema de crescimento ósseo", que acabou por atrasar a afirmação em pleno daquela que é tida como uma das grandes promessas do futebol português.

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, a avançada de 21 anos explica que o 'sim' ao Fofó teve como base a crença de que terá reais "condições para crescer e mostrar" aquilo que vale.

Bárbara Marques antecipa, ainda, os desafios que terá pela frente no decorrer da nova temporada, sem esquecer os primeiros passos dados no futebol.

Preciso de voltar à estaca 1 para poder ir para a 2, 3, 4 e por aí acimaComo tem estado a correr este início de época?

Tem estado a correr bem. Já temos o nosso objetivo traçado. Claro que é um bocadinho diferente do objetivo dos três grandes, mas queremos disputar o quarto lugar. É para isso que lutamos. Vejo também uma chance de ter, finalmente, a minha oportunidade.

Os problemas físicos já são passado?

Sim, isso já está ultrapassado. Até porque eu não tive propriamente uma lesão. Foi um problema de crescimento ósseo. Fui operada, ficou resolvido e não há qualquer tipo de problema.

Como é que lidaste com isso sendo tão nova?

Não lidei muito bem, para dizer a verdade… Na altura, as coisas já não estavam a correr como queria. Vejo este contratempo acontecer e fui-me um pouco abaixo. Mas foi uma situação que tinha de acontecer. As coisas acontecem por alguma razão, é o que acho. Tinha que ser assim, agora estou no sítio certo para ter a minha oportunidade e crescer.

As diferenças entre Sporting e Fofó são grandes?

São algumas… É um clube de bairro, com condições diferentes do Sporting. Mas tem um plantel muito experiente, com jogadoras que foram já muitas vezes internacionais. Acredito que posso ter ali condições para crescer e mostrar o que valho.

Foi fácil dizer que sim ao Fofó?

Estive três anos no Sporting e nunca tive realmente a minha oportunidade. Aceitei bem porque já tinha interiorizado que se está a passar tinha que acontecer agora, porque preciso de voltar à estaca 1 para poder ir para a 2, 3, 4 e por aí acima. Aceitei porque ali vou ter oportunidade para fazer isso.

Tens as mesmas expetativas agora que tinhas antes destes problemas?

Tenho as mesmas expetativas porque vou ter a minha oportunidade, com o tempo de jogo que mereço e de que necessito para crescer e cumprir os objetivos.

Em termos coletivos, quais são os objetivos para a temporada?

É ficar nos primeiros quatro lugares. Vai ser muito difícil… Existe o Sporting de Braga, o Sporting e o Benfica. De certeza que vão disputar os três primeiros lugares, mas nós queremos o quarto lugar. E se pudermos causar ali algumas dificuldades a estes três, melhor [risos].

A ginástica tornou-se muito monótona. É verdade. Eu já estava num patamar muito acimaComo encaras esta entrada do Benfica na competição, com um investimento tão avultado?

O Benfica está muito forte. Entrou bem no futebol feminino. Para uma II Liga, tinham uma equipa que se destacava bastante. E acredito que também se vão 'safar' muito bem. Investiram em jogadoras de muita qualidade, internacionais… Vão causar problemas ao Sporting de Braga, como já causaram, e ao Sporting.

E individualmente, que metas traçaste?

Cumpri todas as camadas jovens da seleção, mas claro que o principal objetivo não está cumprido, que é ir à seleção A. É esse o meu objetivo. Vou ter o meu tempo de jogo e quero mostrar que também tenho um lugar ali. Não sei se será este ano, mas é o objetivo de qualquer jogadora.

Aquela imagem de que o futebol não é para raparigas já desapareceu em Portugal?

Completamente apagada não digo, mas já mudou bastante. O futebol feminino em Portugal está diferente, está a crescer bastante. Já vejo mais condições para que as atletas evoluam. As jogadoras mais jovens que entram no futebol têm oportunidade de crescer e evoluir, e têm condições que nós não tivemos. Estamos a apanhar estas condições agora, elas estão a apanhá-las desde as camadas jovens. Têm muito mais condições para serem melhores, e isso já se nota nas seleções jovens, em que há melhores resultados.

E, no teu caso, como entraste no futebol?

Foi muito tarde. Só aos 13 anos. Estive na ginástica dos três aos 13 anos, só depois é que entrei no futebol, nas escolinhas do Benfica. A partir daí, comecei a ir à seleção distrital. Estive no CAC da Pontinha e aí passei para o Estoril, onde estive um ano, e depois fui para o Sporting. Foi muito curto.

Por que é que decidiste deixar a ginástica pelo futebol?

Tornou-se muito monótono [risos]. É verdade. Eu já estava num patamar muito acima. Eu ia para lá e cansava-me daquilo. Não era o que eu queria, porque jogava à bola em casa e partia a casa toda. Queria era ter uma bola nos pés. Disse: 'não quero mais ginástica, quero que me inscrevam nas escolinhas’. E os meus pais inscreveram-me, fizeram-me a vontade.

Os teus pais aceitaram bem essa mudança?

Aceitaram. O meu pai ajudava-me a partir a casa também [risos].

Notícias ao MinutoBárbara Marques© Notícias ao Minuto

Eu era uma estrela no Estoril. Quando recebi a proposta do Sporting, se calhar não estava à espera do que ia apanhar

Tem-se falado muito da questão do Equal Pay… Vês isso ser possível em Portugal?

Não vejo isso muito possível ainda… O nosso campeonato ainda é muito inexperiente. As jogadoras trabalham e jogam. Há clubes que se sustentam com as condições que podem. Se houver um apoio maior, isto vai melhorar, mas ser pago como pagam aos homens, não acredito que seja possível.

Foi o que aconteceu contigo?

Trabalhar e jogar não, mas estudar e jogar sim. E é diferente, não é? Não estamos a 100% num ou noutro. A verdade é que isso prejudica. Estamos ali 50/50, estamos mais cansadas quando vamos para o treino ou para estudar… Sempre consegui conciliar, mas não é a mesma coisa.

Mas sentes que conseguiste fazer o que querias quando entraste no futebol?

No início, sim. Depois, quando cheguei ao Sporting, numa equipa mais de topo, com atletas que se dedicavam 100% para aquilo, começaram a ver-se algumas diferentes. Também houve alturas em que estive melhor e não tive oportunidades… Não é por aí. É sempre possível conciliar. Quando queremos, dá sempre para tudo.

Com a experiência que tiveste, o que dirias agora a uma Bárbara mais jovem?

Nem sei… Acho que tinha feito igual. Completei os meus estudos, estou feliz por isso. Comecei a tirar uma licenciatura e estou feliz. No futebol, não sei. Na altura em que estava no Estoril e surge a proposta do Sporting, é sempre ‘Uau’. Eu era uma estrela no Estoril. Quando recebi a proposta do Sporting, se calhar não estava à espera do que ia apanhar. Nunca vi a possibilidade de ir para o banco ou de ter menos chances de jogar. Encarei como um 'vou ter a minha oportunidade e vou jogar ali também’. Correu de forma um bocadinho diferente do esperado, mas não mudaria nada. Estive com jogadoras muito experientes que também me fizeram ter outra oportunidade. O que teve que acontecer, aconteceu.

O que dirias a raparigas mais jovens que entram agora no futebol?

Que nunca desistam dos sonhos. Se têm os objetivos que têm, lutem por eles. Se têm o objetivo de estudar e jogar, estudem e joguem, que também é importante, porque o futebol não dura para sempre. Há condições para isso.

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