"Tinha na cabeça sair de Portugal para poder lutar por outras coisas"
Paulinho rumou ao AEK de Miguel Cardoso depois de uma época para esquecer no Desportivo de Chaves. Em entrevista ao Desporto ao Minuto, o defesa português de 28 anos revela estar adaptado à Grécia e não esconde alguma mágoa pelo meio ano que viveu em Braga.
© Reprodução Twitter AEK
Desporto Exclusivo
Paulinho é um dos seis jogadores portugueses que atualmente fazem parte do plantel do AEK. O clube grego quer voltar a conquistar títulos e contratou Miguel Cardoso para assumir o comando técnico. A ambição é grande e o lateral de 28 anos revela-se muito motivado para começar a temporada 2019/20.
Em entrevista ao Desporto ao Minuto, Paulinho revela que o facto de ser Miguel Cardoso o treinador do AEK "pesou" na hora de tomar uma decisão quanto ao futuro.
O jogador português formado no FC Porto admite alguma tristeza por conta da última época vivida no Desportivo de Chaves e não esconde alguma mágoa pelo meio ano que esteve ao serviço do Sporting de Braga.
Chaves? Ter três treinadores no mesmo ano nunca é fácil para ninguém
Quais as primeiras impressões do AEK?
As impressões têm sido positivas. O AEK é um clube grande que luta por outras coisas que em Portugal não estava habituado. O AEK luta para ser campeão grego e dá grandes condições aos jogadores. Uma pessoa aqui sente-se mais jogador. Assim que aqui cheguei, senti logo isso.
Como tem sido a adaptação a um país como a Grécia?
Tem sido fácil. Tenho aqui o André Simões, com quem já tinha jogado, e também já cá estava o Hélder Lopes. Entretanto, também chegaram o Chico [Francisco Geraldes], o David Simão e o Nélson Oliveira. A adaptação também tem sido fácil porque o treinador é português. Não tenho notado grandes diferenças. Sinto que estou a adaptar-me bem ao país e ao clube.
Falou no treinador. O facto de o AEK ser treinado por Miguel Cardoso ajudou na decisão de rumar à Grécia?
Sim, foi importante. O treinador é que fez força para eu vir para o AEK. Sabia que o meu nome já estava a ser associado ao clube e com a chegada do míster Miguel Cardoso… Ele viu o meu nome em cima da mesa e também me quis. Isso é importante e acabou por pesar um bocadinho na hora de tomar na decisão de vir para o AEK.
Paulinho joga com o número 25 ao serviço do AEK © Reprodução Twitter AEK
Acredita que era a altura certa para sair de Portugal e dar o salto para o estrangeiro?
Sentia que era a altura adequada. Estava a jogar em Portugal há muitos anos, sempre joguei lá e fiz agora 28 anos. Antes tinha expectativas de jogar num clube grande em Portugal, mas tal nunca chegou a acontecer por um ou outro motivo. Ainda cheguei a jogar no Sporting de Braga, mas as coisas não me correram bem. Até começaram bem, mas depois, com a saída de Jorge Simão, a situação complicou-se um bocado. Tinha na cabeça que queria sair de Portugal para poder lutar por outras coisas.
O Desportivo de Chaves teve uma época para esquecer e acabou por descer de divisão. O que aconteceu?
Havia qualidade no plantel, mas faltou ter uma equipa. A qualidade individual estava lá, mas o Chaves nunca teve uma equipa em campo na última época. Foi uma época atípica. Ter três treinadores no mesmo ano nunca é fácil para ninguém. Nem para o clube nem para os jogadores. Um treinador pede uma coisa e o outro pede outra. Estamos ali a assimilar ideias… O clube não merecia isto. O Chaves é um clube muito bom que dá todas as condições aos jogadores e é uma pena ter descido. O Chaves merece estar na I Liga.
Custou-lhe deixar o clube neste momento complicado?
Sem dúvida. Não queria sair desta forma, mas o futebol tem destas coisas. Uma pessoa tem de seguir em frente e só espero que o Chaves regresse rapidamente à I Liga.
Ainda assim, faz um balanço positivo do ciclo que fez no Chaves?
Claro que sim. Fiz meia época, dei dinheiro ao clube e ainda voltei. Fizemos uma grande época com o Luís Castro e na última temporada as coisas não correram nada bem. Tanto ao clube como a mim. Este ano foi mesmo uma época muito fraca para o clube e para os jogadores.
No Braga paguei a fava de ter ido com o Jorge Simão
Falando um bocadinho sobre a sua passagem pelo Sporting de Braga. Sai do Chaves no momento em que Jorge Simão também deixa o comando técnico para rumar ao Minho. O que falhou em Braga?
É difícil falar sobre isso… Eu cheguei ao Sporting de Braga e agarrei logo um lugar. Praticamente nem tinha treinado e fui logo titular. Talvez essa forma de entrar em Braga, num clube que tinha jogadores com estatuto, com muitos anos naquela casa, tenha sido uma forma errada. Praticamente não treinei e sou logo chamado para ser titular. Isso acaba por criar algum mal-estar e depois passaram-se outras coisas, como o facto de não termos ganho a Taça da Liga frente ao Moreirense. Muita coisa foi discutida e muita coisa se passou nesse ano. Acho que paguei a fava de ter ido com o Jorge Simão. Mas, pronto, é passado. Fiz o meu melhor, mas as coisas não correram bem, nem a mim nem ao Sporting de Braga. Fora outras coisas que não vale a pena estar a falar
Mas olha para essa experiência como algo com o qual pode aprender ou que apenas quer esquecer?
Como homem cresci muito. Chegar a um clube como o Sporting de Braga… Eu vinha de um grupo fantástico que o Chaves tinha nesse ano. Foi dos melhores grupos que apanhei no futebol. Depois fui para Braga e encontrei uma coisa diferente. Não estava habituado, mas tenho a certeza que cresci como homem.
Sente que o deixou mais preparado para este desafio no AEK?
Claro! Deixa-me muito mais preparado para jogar num clube grande.
Já falou nos vários jogadores portugueses que estão no AEK. O quão importante é ter companheiros de equipa que são do mesmo país?
Ajuda muito. Fazemos praticamente tudo juntos. Ainda hoje jantámos todos juntos. As mulheres dão-se todas umas com as outras. A adaptação fica mais fácil e cria-se um grupo bom. Ainda assim, é sempre complicado estar longe da família, da minha mãe e dos meus irmãos, mas faz parte. Um dia tinha que acontecer. O futebol acaba rápido e temos que aproveitar e desfrutar o máximo que conseguirmos para no futuro termos uma boa vida.
Paulinho ao lado de André Simões, Hélder Lopes, David Simão e Francisco Geraldes. © Reprodução Twitter AEK
Já está ansioso pela nova época?
Sim, está quase! Falta pouco… A 8 de agosto já jogamos para a Liga Europa, e na quarta-feira já temos o jogo da apresentação. Já existe aquele nervoso miudinho.
O que deseja alcançar no AEK?
Primeiro, quero ajudar o AEK a conquistar os objetivos coletivos e aquilo que o míster pedir. Jogar o máximo de jogos possível e fazer uma boa época aqui na Grécia.
.O jogador português em Portugal não é tão aproveitado como deveria serNo campeonato vai defrontar outras equipas lideradas por portugueses: o PAOK do Abel Ferreira e o Olympiacos do Pedro Martins. Isto é a prova de que o jogador e o treinador português têm muita qualidade?
Sim, sinto isso desde que aqui cheguei. Há uma grande diferença. O jogador português em Portugal não é tão aproveitado como deveria ser. Pela primeira vez saí de Portugal e sinto diferença no trato das pessoas perante os jogadores estrangeiros. Talvez os que vão para Portugal também sintam isso. Em Portugal não dão tanto valor ao jogador português e quando uma pessoa sai de lá sente-se valorizada e acarinhada. Saímos à rua e as pessoas já nos conhecem… É diferente. O clube é grande. É uma grande diferença.
Fez formação no FC Porto, no Leixões e no União da Madeira. Que recordações guarda deste seu percurso?
Dos tempos de formação guardo sempre um grande carinho pelo FC Porto. Estive lá nove anos e fiz bons amigos, alguns deles já nem jogam futebol (risos). Mas também guardo um carinho pelo Leixões, que foi o clube com quem assinei o meu primeiro contrato profissional e fiquei no plantel sénior no ano a seguir. Por todos os clubes por onde passei, sinto que as pessoas gostaram de mim. Na maior parte deles fui feliz e guardo um grande carinho por eles.
Teve algum treinador que o tenha marcado?
Há treinadores que marcam sempre. O Jorge Simão marcou-me porque conseguiu tirar muita coisa de mim. Com ele consegui jogar com o máximo das minhas capacidades. Fiz uma grande época com ele. O Luís Castro também me marcou... Na minha opinião, todos os treinadores marcam os jogadores. Na formação, lembro-me do Rui Gomes. Foi o treinador que me marcou mais naquela fase. Há sempre algum treinador que marca o jogador por algum motivo ou outro, nem que seja pela negativa. Há sempre uma marca. Pela positiva destaco o Jorge Simão, o Luís Castro, o Vítor Oliveira, entre outros… Ah e o Casquilha, que foi quem me lançou na I Liga no Moreirense.
Sente que se chegou agora ao AEK também o deve a eles?
Claro que sim. Se um treinador não aposta em ti, nunca vais conseguir mostrar as tuas capacidades. Agora no AEK nunca treinei com o míster Miguel Cardoso, mas ele devia estar atento a mim porque se me queria cá é porque gosta da minha forma de trabalhar. Tenho 28 anos e nunca precisei de um empresário para ir para o clube x ou y. Foram sempre os clubes que me quiseram e acho que é muito importante sentir isso.
Paulinho diz estar adaptado ao AEK e à Grécia. © Reprodução Twitter AEK
Fez a sua própria carreira…
Os clubes apareceram e foi por aí. Nunca precisei de empresário para além de negociar o contrato.
No futebol não há impossíveis, mas sei que chegar à seleção nacional é muito difícil
O que tem achado das ideias de Miguel Cardoso?
É um treinador que gosta de jogar com posse de bola, como aliás demonstrou quando treinou o Rio Ave. Acho que é o treinador ideal para treinar equipas grandes. Mete a equipa a jogar futebol e o no AEK estamos a adaptar-nos bem às ideias deles e fazer aquilo que ele pede. Para já, as coisas têm corrido bem.
Sente-se mais perto da seleção nacional agora que está num clube histórico como o AEK?
Já pensei mais nisso… Quando era mais novo pensava sobre isso porque naquela altura não apareciam muitos laterais direitos. Hoje em dia a realidade é diferente e temos de ter essa consciência. Há muitos laterais direitos com qualidade e que estão a jogar em grandes clubes, como João Cancelo, Nélson Semedo ou Ricardo Pereira. No futebol não há impossíveis, mas sei que chegar à seleção nacional é muito difícil. Nunca se sabe o dia de amanhã, mas há sempre uma pequena esperança.
Tem algum sonho que queira cumprir ou prefere pensar no presente?
Neste momento, é passo a passo. Pensar no AEK e nesta eliminatória na Liga Europa para conseguirmos um lugar na fase de grupos. É esse o grande objetivo e depois logo se vê. Ao longo do campeonato vamos vendo. O AEK é candidato ao título, mas o campeão o ano passado foi o PAOK. Empenho não faltará.
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