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"Leonardo Jardim no Monaco? Nunca se volta com os ex-namorados"

No dia em que se assinalam três anos da conquista mais importante para a Seleção Nacional, o Desporto ao Minuto entrevistou Olivier Bonamici, jornalista francês de ascendência italiana, com vários amores a ligá-lo a Portugal.

"Leonardo Jardim no Monaco? Nunca se volta com os ex-namorados"
Notícias ao Minuto

08:39 - 10/07/19 por Ricardo Santos Fernandes

Desporto Olivier Bonamici

Olivier Bonamici, reputado jornalista francês, que nos habituámos a ouvir, desde 2004, nas provas de ciclismo e partidas de futebol na Eurosport, agora também na SIC, é o entrevistado desta quarta-feira do Desporto ao Minuto.

Depois de uma primeira parte de entrevista em que convidámos o jornalista a falar sobre a sua costela lusitana, num dia em que se assinalam três anos da conquista de Portugal no Euro'2016, aproveitámos a ocasião para conversar sobre outros temas que marcam a atualidade.

Do regresso de Leonardo Jardim ao Monaco à chegada de Villas-Boas ao Marselha, Bonamici fez ainda uma surpreendente comparação entre o campeonato francês e o português, não passando ao lado de um dos temas do momento: a contratação de "risco" do Atlético de Madrid: João Félix.

Como jornalista, o Olivier tem duas paixões: o ciclismo e o futebol. Qual é a ‘praia’ de que gosta mais?

Acabou de me perguntar se gosto mais do meu filho ou da minha filha [risos]. A vantagem do ciclismo, relativamente ao futebol, é que durante a prova dá para relatar mais coisas do que no futebol, dá para contar histórias. O ciclismo, em seis horas de transmissão, dá para tudo, até para falar da tua vida pessoal, de geografia, de tudo. O que eu mais gosto de fazer é de contar histórias e isso é o que faço atualmente na SIC, onde eu até falo de um cavalo que nasceu na Austrália. Contar histórias com paixão é o que eu mais gosto de fazer, e sei fazer, porque tenho noção de que a maioria dos jornalistas sabe muito mais do que eu.

E como é que está o ciclismo português?

Há razões para acreditar num futuro risonho. Por exemplo, basta olhar para a equipa do FC Porto. É evidente que o 'nível de ouro' de Rui Costa, mesmo estando longe de ser um ciclista acabado, está longe do nível em que se encontrava quando foi campeão do mundo. Neste momento não existe em Portugal, apesar do bom resultado do Nelson Oliveira nos Jogos Europeus [medalha de prata no contrarrelógio], nenhum ciclista para o qual tu olhes e digas que vai explodir para um patamar de elite. Mas, também é verdade que o Rui Costa despertou uma enorme paixão dos adeptos pela modalidade. Há 20 anos, quando comecei pelas ruas de Lisboa, poucas pessoas sabiam falar sobre ciclismo. Hoje em dia a malta entre os 20/30 anos é uma loucura e muita gente segue a modalidade.

Há uma crise de treinadores em França gigante, há um problema de formação. E, ao revés, Portugal está no topoConsideras possível um português conquistar uma das três Grandes Voltas?

Não, neste momento não. Agora, não sou vidente. Daqui a dois anos pode nascer um português que desobedeça ao que estou a dizer e que até possa tornar-se um enorme prodígio.

Mudando de tema. O Olivier vai para a Eurosport em 2004 e, curiosamente, nesse ano, o FC Porto defronta na final da Liga dos Campeões o Monaco, clube do qual é adepto. Como é que viveu esse encontro?

Esse dia foi o horror. Organizei uma festa em casa e acabei destruído. Foi uma lição de futebol do FC Porto e um horror absoluto para mim. Aí não estava dividido.

Anos depois o Monaco sagra-se campeão com Leonardo Jardim, treinador que acaba por ser despedido na última época e recontratado no final da mesma. Foi uma boa decisão do emblema do principado?

Eu costumo dizer que nunca se volta para os ex-namorados, nunca. É o pior erro que podes cometer na tua vida. Mesmo que gostes da pessoa, nunca será a mesma coisa. O vaso partiu-se e mesmo que voltemos a unir os cacos nunca será a mesma coisa. Eu tenho dificuldade em acreditar que é uma história que vá acabar bem, mas o Monaco nunca devia ter recontratado o Leonardo Jardim, apesar de eu o considerar um dos melhores treinadores da história do clube.

Sendo assim, o prazo de validade de Leonardo Jardim no Monaco é curto?

Não sei se será curto. Eu é que não acredito em histórias de amor vencedoras pela segunda vez. Mas, importa referir que o Monaco não é um grande clube, nem um clube ganhador. Gasta muito dinheiro, mas não tem grande cultura desportiva.

 O João Félix é um risco, mostrou apenas durante seis meses as suas mais-valiasCultura desportiva tem, e muita, o Marselha, um dos maiores clubes de França, e que agora tem Villas-Boas ao comando. O futuro do português no Vélodrome tem hipóteses de ser risonho?

Eu estou confiante relativamente a Villas-Boas, pelo menos na primeira temporada. André Villas-Boas tem tudo para construir uma equipa sólida no Marselha, à semelhança do que fez no FC Porto. Mas importa referir uma coisa: o nível médio do futebol francês não se pode comparar ao nível médio do futebol português, porque é claramente inferior, mas isso é outro debate.

Um debate que podemos abrir desde já…

As equipas de nível médio em França têm mais dinheiro do que as portuguesas, mas é importante olhar para os treinadores que estão lá presentes. Não é acaso que em França, neste momento, os grandes clubes não têm treinadores franceses – Paris Saint-Germain, Lyon, Monaco ou Marselha. Há uma crise de treinadores em França, há um problema de formação. E, ao invés, Portugal está no topo no que diz respeito a esse capítulo.

À margem do Paris Saint-Germain, outro clube gaulês pode sonhar com o título nos próximos anos?

Zero. É óbvio que não. O Monaco tem muito dinheiro, mais do que Benfica e FC Porto, mas não basta ter dinheiro para competir com os maiores. E o Paris Saint-Germain é uma galáxia à parte. Só o Mbappé vale mais do que 70% dos planteis em França.

Bernardo Silva é o candidato n.º1 para um dia vir a ganhar a Bola de OuroO Paris Saint-Germain foi capaz de bater todos os recordes e pagar 222 milhões de euros por Neymar, a transferência mais cara da história do futebol. Ainda há limites no mercado?

Claro que não há limites, basta olhar para esta transferência do João Félix. Os três desportistas mais bem pagos do mundo, segundo a revista Forbes, são três futebolistas: Ronaldo, Messi e Neymar. O futebol tornou-se mais importante do que o basebol e o basquetebol. Antes havia o Tiger Woods, o LeBron James, hoje estes desportistas estão longe dos rendimentos globais [salários anuais mais publicidade] que os futebolistas recebem. Este é um novo ciclo que se inicia, em que o futebol é cada vez mais rei. E vai haver cada vez mais dinheiro no futebol.

Mas a 'classe média' também vai beneficiar desse incremento de receitas ou prepara-se para haver uma décalage ainda maior entre os clubes mais ricos e os mais pobres?

Claro que vai haver. O Paris Saint-Germain acaba com 25 pontos de vantagem para a concorrência, a Juventus igual em Itália, o Bayern Munique na Alemanha. Não há suspense nenhum, daí pensar-se na criação de uma nova Liga dos Campeões. Querem criar uma versão em que os maiores se juntam todos, mas isto, para mim, é um erro tremendo. Infelizmente, este vai ser o caminho.

Mas podemos acreditar em novos Ajax’s’[chegou às meias-finais da Liga dos Campeões]?

São casos pontuais. Nós vimos quatro equipas a jogar futebol ofensivo nas meias-finais da Champions e isso é que é de salientar. Espero honestamente que o futebol defensivo tenha morrido ou, pelo menos, que tenha menos sucesso. Eu sou francês, detesto a maneira como o Deschamps colocou a equipa a jogar no Euro-2016, por ser bastante defensiva, mas os franceses dizem que o importante é ganhar. Se não estiver a jogar a minha equipa, eu quero ver um clube a ganhar, jogando para atacar. E o que vimos na última edição da Liga dos Campeões pode ser o início de um bom caminho a percorrer.

Uma das grandes novelas de mercado chama-se de João Félix. Custou aos cofres do Atlético de Madrid mais de 120 milhões de euros. É uma aposta de risco? Pode deixar a ‘cabeça de Simeone’ a prémio, em caso de insucesso do português?

Vem mostrar, ao contrário do que todos pensavam, que o Atlético de Madrid é um clube riquíssimo. Salvo erro, Simeone é o treinador mais bem pago da Europa. Não digo que ele não seja um grande treinador, mas também tem de reconhecer que tem grandes recursos à sua disposição. O João Félix é um risco, mostrou apenas durante seis meses as suas mais-valias. É jovem e pode mostrar o seu valor num outro clube um ano, ou dois anos depois. Mas, considero inacreditável pagar-se isto por um jogador que ainda fez tão pouco. Podemos até comparar com o valor gasto pelo Paris Saint-Germain quando contratou o Mbappé. E o PSG saiu vitorioso dessa aposta. Mbappé fez três épocas ao mais alto nível e hoje está na órbita do Real Madrid. Não te posso dizer se João Félix chegará tão longe, mas o risco de Félix não ter sucesso na capital espanhola é grande.

Acredita que há algum jogador português em condições para ganhar uma Bola de Ouro?

Claro que sim. Bernardo Silva é o candidato n.º1 para um dia vir a ganhar esse galardão. Este ano não vai acontecer. Nem no top-5, Bernardo Silva entrará. Ele é o jogador que tem mais potencial para ser Bola de Ouro, mas ainda está longe disso.

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