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Venceu a obesidade e o cancro: "Hoje cruzo uma meta no triatlo e choro"

Paulo Neto é para quase todos um perfeito desconhecido, todavia já representou e representa as cores de Portugal. Um homem que há 13 anos tinha 157 quilos e que derrotou um cancro nos testículos, tem agora missão de vencer a prova mais difícil do triatlo.

Venceu a obesidade e o cancro: "Hoje cruzo uma meta no triatlo e choro"

Imagine pegar em 15 garrafões de cinco litros. Agora faço-os desaparecer da sua casa. Uma missão complicada? O entrevistado do Desporto ao Minuto, desta segunda-feira, chama-se Paulo Neto e, sim, conseguiu eliminar 15 garrafões de cinco litros do seu próprio corpo.

Em 2005, foi diagnosticado com um tumor benigno nos testículos, um ano depois atingiu o seu peso máximo (157 quilos), não conseguia subir um único lance de degraus, e atar os sapatos era uma missão quase impossível.

Em 2009, Paulo Neto abraçou uma piscina e pensou que ia morrer depois de nadar os primeiros 25 metros. Hoje, compete entre os maiores campeões de triatlo. Chora no final de cada meta cruzada, por agradecimento a quem o apoia.

O momento que nunca se esquece? O abraço de duas filhas que nunca desistiram dele.

Como é que chegou até ao triatlo?

Fui um obeso mórbido, pesei 157kg, comecei a fazer uma dieta e o desporto permitiu-me reinventar-me como pessoa. O triatlo é um desporto muito interessante, porque no fundo permite combinar três desportos, sem nunca nos cansarmos de nenhum. É um desporto de superação individual. Eu estou sempre a competir com o Paulo Leite de 2006, e estou sempre a reinventar-me. É um desporto único, porque estamos sempre a competir ao lado dos campeões. Se fosse jogar futebol nunca poderia jogar ao lado do Ronaldo e no triatlo eu estou ao lado do campeão nacional. É um desporto em que há muito espírito de entre-ajuda, de partilha e superação.

Quando é que tudo começou?

Comecei a competir aos 44 anos e atualmente tenho 47. Comecei no final de 2015, fiz as primeiras provas em 2016, no Estoril-Praia – por onde continuo até aos dias hoje -, depois iniciei-me nas provas nacionais, prosseguindo para os Europeus dos age group em 2017. Já participei em dois campeonatos da Europa, representando Portugal.

Como é que se chega aos 157 quilos?

Nós ganhamos peso muito facilmente, como se estivéssemos a subir degraus. Com o desleixo vamos ganhando sempre e pensamos ‘são só mais uns quilos’. Depois chegamos a uma altura em que tudo se torna uma grande dificuldade. Custava-me mais a apertar os sapatos todos os dias, do que fazer uma prova de triatlo agora.

Quando foi o virar de página…

Em 2006 detetaram-me um tumor benigno nos testículos. Nada de grave. Mas, nesse momento, o meu peso influenciou a minha recuperação e a cicatrização. Foi a primeira vez que fui confrontado com as dificuldades que o meu peso trazia ao meu corpo. Nunca tive colesterol, nem diabetes, nem coisa nenhuma, no fundo nunca tinha sofrido o impacto do peso na minha saúde. Aí soube que tinha de fazer alguma coisa.

Perdeu o peso equivalente a 15 garrafões de cinco litros...

Eu antes levantava-me e andava com 15 garrafões, depois perdi 64 quilos, hoje peso 96 e meço 1,84m.

Que coisas considerava impensáveis fazer quando tinha obesidade mórbida e faz agora tão facilmente…

Subir escadas para mim era uma coisa impensável. Hoje trabalho num sexto andar e subo todos os dias a pé. Pelo prazer e pela disciplina, adoro. Uma pessoa com 157 quilos não pode subir escadas. Adoro ir de férias sem ter de levar quatro ou cinco mudas de roupa. Encontrar um fato de banho para as minhas medidas era impensável. Se eu tiver um infortúnio, eu posso ir a uma loja de roupa e comprar uma camisa ou uns calções de banho, e antes não o podia fazer.

No meio de tudo isto, a única coisa má que lhe aconteceu foi o dinheiro que teve de despender no seu novo guarda-roupa...

É uma forma que tenho de me disciplinar. Como eu sou muito forreta, não me deixo engordar, para não ter de comprar roupa outra vez [risos]. É um problema bom, porque posso comprar roupa mais barata. Quando tinha 157 quilos tinha de comprar roupas especiais, e os preços eram sempre mais caros.

Como é que se ultrapassam ‘montanhas’ de tanta dificuldade... desde a obesidade mórbida ao tumor benigno nos testículos?

Eu sou um positivista nato. Eu genuinamente acredito no positivismo, e mantive sempre ao longo da vida esta filosofia. Acreditei sempre em mim próprio. Nós fazemos muitas vezes a pergunta, quando a acontece alguma coisa: porquê eu?. Eu sou mais adepto do ‘por que não eu? Acho que é isso que me motiva e acredito sempre em não baixar os braços.

E considera-se um exemplo a seguir?

Sei que sou uma inspiração. Mas eu gosto de ser uma inspiração e ser inspirado. Eu partilho imensas experiências e falo com muitas pessoas nas redes sociais. Consegui convencer uma pessoa que nunca vi na vida, um indiano, que pesava um pouco mais de 130 quilos, e hoje já faz triatlo. Nós realmente podemos fazer a diferença no mundo, e eu gosto de ser uma fonte de motivação. Isso deixa-me feliz. Conseguir fazer a diferença na vida das pessoas.

Como é que as suas filhas o acompanharam neste processo?

Foi uma jornada de família. As minhas filhas acompanharam-me desde o início. Agora, não estando tão perto, estão sempre a motivar-me, e preocupadas em ajudar-me a dar a volta.

E nunca brincaram consigo, dizendo por exemplo que já viram dois pais diferentes?

[risos] Realmente as minhas filhas tiveram um papel muito importante nessa minha evolução…

Recorda-se de alguma coisa que elas tenham dito ou feito e que o tenha marcado?

Sabe que cada vez que eu cruzo uma meta no triatlo eu acabo por chorar, é sempre uma emoção muito grande. Quando eu terminei a minha primeira prova de longa distância, elas abraçaram-me na zona da meta, num momento ímpar da minha vida. Foi algo único, eu estar abraçado às minhas duas filhas. Elas sabiam o que aquele momento significava para mim, foi um momento só nosso. Elas levantavam-se às seis da manhã, às 16h para ir comigo à escola, e nunca reclamaram de nada. Sempre me ajudaram com uma enorme alegria. Participei no campeonato Europeu de triatlo, na Áustria, e uma delas pediu férias para ir comigo. Muito mais do que disseram, elas estiveram sempre lá.

E as lágrimas que caiem sempre no final de cada prova… o que é que vem à cabeça nesse momento?

O caminho que tive de percorrer até aqui e o que era impensável. Eu recordo-me que a primeira prova que fiz foi uma corrida de cinco quilómetros, no Brasil, em 2009, e terminei a prova em 39 minutos. Hoje em dia faço 10 quilómetros em 48 minutos. A diferença é abissal, o choro é realmente o resultado de que foi possível. Tenho muitas pessoas a apoiarem-me e, muitas das vezes, também choro por isso… por gratidão. Eu sou muito grato mesmo por ter conseguido chegar aqui.

Qual foi o grande triunfo que somou no triatlo, aquele que teve um sabor ainda maior?

Talvez dois. A primeira prova, que se tratou de um triatlo muito pequenino, em que nadei só 350 metros. Já não nadava há 20 anos. Recordo-me do dia em que me inscrevi no triatlo, e na segunda-feira a seguir fui para uma piscina. Nadei 25 metros e pensava que ia morrer. Terminei a prova completamente a arfar. E a outra prova que me marcou muito foi o triatlo longo em Setúbal, há dois anos, com 900 metros a nadar, 50km de bicicleta e uma meia-maratona no final. Foi duro, mas uma sensação ótima terminar essa prova.

E agora o maior objetivo passa por onde?

Fazer o Ironman (uma modalidade de triatlo de longas distâncias). Vou fazer, tenho a certeza absoluta. Já estamos a falar 3,8km a nadar, 170 quilómetros de bicicleta e 42km a correr. É duro, mas sei que vou fazê-la.

Que mensagem gostaria de deixar às pessoas que vão ler a sua história?

Acreditem, porque valerá a pena. Existe muito mais vida para além disto. Não há nenhum gordo infeliz, eu não conheço nenhum gordo infeliz. Acabamos por nos desleixar, mas acreditem que vale a pena lutar contra isso (o peso a mais).

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