Renato Sanches não esconde que viveu claras dificuldades de adaptação no momento em que deixou o Benfica para rumar ao Bayern Munique a troco de 35 milhões, no verão de 2016. O internacional português é o protagonista desta terça-feira na Players Tribune e concedeu um testemunho emotivo, não esquecendo as dificuldades do passado, aquilo que está a fazer no presente e deixa também uma promessa sobre o futuro. 

"Há um momento em que eu percebi que a minha vida estava a mudar. Estava num restaurante em Lisboa com os meus amigos no dia 4 de dezembro de 2014. Estava a jogar pelo Benfica e tínhamos acabado de ganhar um jogo contra a Académica naquele dia. Eu marquei um grande golo nesse jogo, deviam vê-lo. Foi o meu primeiro ao serviço da equipa principal. Foi um momento fantástico e o resultado do muito trabalho que fiz por mim e pela minha família. Mas dentro de campo, eu não sei... Senti que foi apenas um golo", começou por contar Renato Sanches, prosseguindo. 

"Nesse restaurante estavam alguns adeptos a jantar a poucas mesas de distância e eu percebi que eles me viram. Eu já tinha jogado nas camadas jovens do Benfica e estava habituado que as pessoas me reconhecessem. Normalmente eram calmas e simpáticas. Queriam apenas que tu soubesses que tinham esperança de te ver chegar à equipa principal, e sempre diziam para trabalhares, como se fossem teus pais. Mas aqueles adeptos daquela mesa... Eles ficaram loucos. Foi como se eu fosse o Messi ou qualquer coisa. Eles ficaram malucos: 'RENATO! RENATO!!!!!!!! Temos que tirar uma foto, por favor! REEEEEENATO!". Olhei para os meus amigos e pensei do tipo: 'Ok, isto agora vai ser assim a partir de agora'", recorda Renato. 

No entanto, nem tudo foi um mar de rosas na ainda curta carreira de Renato Sanches. A primeira época do jovem médio português na Alemanha foi um dos piores momentos vividos por Renato, tal como o próprio admite. 

"Mudei-me para o Bayern um mês antes de ganhar o Euro'2016 com Portugal. Ganhar aquele europeu... não há palavras. Foi uma conquista da qual estarei orgulhoso por muito, muito tempo. Pensei que aquela competição tinha-me deixado preparado para a pressão da Bundesliga. Pensei que estava pronto. O futebol na Alemanha é muito diferente do futebol em Portugal. Em Portugal, eu só corria e corria porque tinha capacidades técnicas e físicas. Na Alemanha tu podes correr, mas o jogo é tão rápido que tens de ter uma enorme coordenação para não perderes a tua posição. Era tudo diferente. A minha primeira temporada no Bayern não foi a ideal. Eu sei disso. Eu ouvia o que as pessoas diziam sobre mim: 'Flop', 'Scheisse' [m****], 'Vendam-no o quanto antes'". A pior parte foi eu tentar tudo, mas não conseguir encontrar o meu jogo. Fui para o Swansea em 2017 porque precisava de jogar. Precisava de minutos. Queria fazer o possível para que a seleção nacional visse-me a jogar muito num campeonato forte para que fosse selecionado para o Mundial. Mas no País de Gales... É como se tudo desse errado. No momento em que entrei, contraí várias lesões estranhas, todas na mesma perna. Nunca tive lesões antes, mas lá tive fora vários meses, sozinho num apartamento em Swansea a olhar para a chuva o dia todo. 

Agora Renato acredita estar mais adaptado ao futebol alemão e não esconde o desejo de se afirmar de forma definitiva no Bayern Munique. 

"Quero estar numa boa forma. Quero jogar mais minutos. Quero continuar a ouvir as pessoas em Munique a dizer: 'Este é o Renato que nós contratámos.' Esta época está a melhorar para mim. Eu sei que podemos melhorar e que sou capaz de fazer mais. A minha carreira não tem sido fácil. Mas não acabou. Longe disso", rematou.