William Bourdon, advogado de Rui Pinto, quebrou, esta sexta-feira, o silêncio em torno da situação do alegado hacker, numa extensa entrevista concedida à revista alemã Der Spiegel.
O francês considera que a ordem de extradição do seu cliente para Portugal é “um caso histórico, sem precedentes na Europa”, uma vez que se “baseia nos contrastes entre as ações agressivas das autoridades portuguesas, de um lado, e, do outro, o interesse de várias autoridades de investigação em obter o seu testemunho e em aceder a toda a informação e discos rígidos” que este terá em sua posse.
Para Bourdon, ao contrário da forma como foi “representado pela comunicação portuguesa”, Rui Pinto não é “simplesmente, um hacker”, mas sim “um importante whistleblower”: “Esta história tem as suas origens no amor pelo futebol. E o futebol foi danificado pelas coisas que ele descobriu”.
“Isso gerou um efeito dominó. A quantos mais documentos tinha acesso, maior se tornou a sua revolta e a sua indignação, e mais considerou que era seu dever revelar ao mundo que a sua paixão, o futebol, tinha sido danificada pela criminalidade, pela ganância, pela lavagem de dinheiro e pela fuga aos impostos”, refere.
“[Rui] Pinto acredita que tudo isto será positivo para o mundo do futebol a longo prazo, porque, neste momento, a lei da ganância prevalece no desporto. Ele espera um maior respeito pelo cumprimento das regras e pelos interesses dos contribuintes. Estas fugas de informação permitiram, certamente, que vários países europeus recuperassem milhões de euros para os cofres públicos”, acrescenta.
O caso Doyen
O advogado mostra-se, nesta entrevista, confiante de que Rui Pinto acabe por não ser extraditado para Portugal. Ainda assim, caso tal venha a suceder, teme que “a imparcialidade e neutralidade do sistema judicial” venha a ficar “comprometida”, e que tal não lhe permita o acesso a um julgamento justo.
“Tenho um grande respeito por Portugal, e sei que há procuradores e agências públicas satisfeitas com aquilo que [Rui] Pinto fez. Mas também há uma máfia que tenta trabalhar contra estas pessoas. Talvez sejamos positivamente surpreendidos. Neste momento, seria ingénuo não ser cético quanto à possibilidade de os portugueses estarem realmente dispostos a avaliar as informações e a tomar ação contra aquilo que parece ser um mundo paralelo muito poderoso”, alerta.
Ainda que Rui Pinto tenha vindo a ser associado à divulgação de correspondência privada do Benfica, Bourdon recorda que o pedido de extradição do seu cliente se deve a uma queixa de extorsão por parte da Doyen Sports, que o advogado agora explica.
“É absolutamente verdade que ele queria testar até que ponto estaria a Doyen disposta a chegar. Era mais uma partida infantil. No final, ele renunciou ao dinheiro do seu próprio acordo. Nada aconteceu, ninguém pagou dinheiro nenhum. Como tal, esta criminalização de [Rui] Pinto é exagerada”, alegou.
“Estamos convencidos de que ele não pode ser condenado sob o código criminal português. Isto foi-nos explicado pelo advogado português do Rui, Francisco Teixeira da Mota. O adversário [de Rui Pinto] está a tentar encobrir o facto de que ele é um ‘whistleblower’ proeminente. Estão a tentar retratá-lo como um pequeno rufia e a desacreditar tudo aquilo que ele fez”, rematou.