Rui Silva: A muralha portuguesa que esperou um ano e meio para se erguer
Guardião português de 24 anos afirmou-se esta temporada depois de um período muito complicado. Em entrevista ao Desporto ao Minuto, o ex-jogador do Nacional revela-se agora feliz e aponta para os objetivos do Granada.
© Reprodução Twitter Granada CF
Desporto Exclusivo
Em Granada nasceu uma muralha portuguesa que tem sido um porto seguro para o clube espanhol. Rui Silva, antigo guardião do Nacional, mudou-se para Espanha no início de 2017, mas apenas esta época conseguiu provar todas as qualidades que lhe foram apontadas.
Depois de um período de um ano e meio "muito complicado", o guardião português de 24 anos finalmente teve uma oportunidade e agarrou-a com unhas e dentes. Rui Silva é assim o guardião titular do Granada em 2018/19 e parece que não vai perder o lugar tão cedo.
Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o atleta nascido na Maia recorda os primeiros momentos da mudança para Espanha, garante que todos os jogadores precisam de força mental para ultrapassar as barreiras e, claro, não esconde o sonho de um dia ser chamado por Fernando Santos à seleção nacional.
As pessoas não fazem a mínima ideia daquilo que os jogadores sentem quando não estão a jogar
Que balanço faz desta aventura em Espanha?
Felizmente, este ano o clube decidiu apostar em mim. O sentimento é espetacular e estou a desfrutar deste momento jogo após jogo.
Como geriu este ano e meio à espera de uma verdadeira oportunidade?
Foi um ano e meio complicado. O primeiro meio ano já sabia que seria complicado. Vinha do Nacional, ainda não conhecia a Liga espanhola e estava o Ochoa que era um grande guarda-redes. Sabia que seria difícil e era uma fase de adaptação. Mas fiquei um bocado triste quando faltavam quatro jornadas para acabar a Liga e não me deram a oportunidade de me estrear. Creio que era merecido, já tinha feito 20 jogos no Nacional e como já tínhamos descido de divisão... Depois, quando descemos à segunda divisão, pensava que ia ser aposta do clube, mas quando vejo a contratação de guarda-redes para a nova época.... Era um guardião experiente e era aposta do treinador. Foi um ano complicado e onde aconteceu um pouco de tudo.
O que lhe passou pela cabeça nessa altura?
Não me senti arrependido. Senti tristeza e mágoa. Foi um ano e meio muito complicado. Questionei-me várias vezes se teria feito uma boa opção, mas nunca me senti arrependido. Sabia que no primeiro meio ano seria complicado, mas na segunda época… Dei o meu melhor sempre. Mas no futebol nem sempre o trabalho chega para jogar. Foi muito complicado e, claro, pensei um pouco de tudo.
E entretanto houve algum convite pelo meio para regressar a Portugal?
Sim, houve. Houve uma abordagem a meio da época passada, no Natal, mas o Granada não deixou.
Agora já se sente feliz?
Quando as coisas correm bem, quando jogas e quando ganhas tudo se torna mais fácil, mas as pessoas não fazem a mínima ideia daquilo que os jogadores sentem quando não estão a jogar.
Exige uma capacidade mental muito grande...
Sim, muita mesmo. Em primeiro lugar, tens o facto de estares num país diferente. Estás longe da tua família. Depois, a língua também é diferente. Dava-me bem com todos os jogadores, mas é sempre aquela coisa. Não tinha tanto aquela ligação. Foi um período complicado.
Agora já tem a alcunha de muralha nazarí...
Após a entrevista que fiz ao clube, há cerca de três semanas, eles apelidaram-me de muralha. Foi algo que surgiu a partir daí. O Granada sempre teve grandes guarda-redes e espero alcançar uma boa marca aqui. Mas sei que tenho um longo trabalho pela frente.
Quais são os objetivos deste Granada?
O ano passado o nosso objetivo era subir e ficar nos dois primeiros, havia muita pressão por parte da direção. No entanto, não conseguimos e as coisas mudaram. Este ano o pensamento é diferente. Sabemos que a II Liga espanhola é muito competitiva e isso ficou provado no ano passado. Mesmo para quem vem da I Liga, isso não chega para ganhar jogos. Este ano, o clube está mais consciente. Agora, o objetivo é ganhar jogo a jogo e depois pensar na subida. Temos os pés bem assentes no chão.
Rui Silva e os companheiros do Granada em plena celebração após mais um triunfo. © Reprodução Twitter Granada CF
A II Liga espanhola é muito competitiva?
O ano passado perdemos os jogos em casa em que éramos teoricamente mais fortes. Aliás, chegámos à liderança a meio da temporada passada e depois perdemos contra o último classificado em casa! Esta é a prova de que este campeonato é realmente competitivo.
E quais as condições do clube?
A nível de condições posso garantir que é um clube de I Liga. Dos dez melhores. É um clube com muitas boas condições. Proporciona aos jogadores uma grande qualidade a nível de trabalho e alimentação. É um clube muito organizado. É tudo recente. É um clube espetacular.
Do lado mais pessoal, como correu a adaptação a Espanha?
Ao início tive alguns entraves, por causa da língua. Não foram bem entraves. Mas é sempre mais complicado quando queremos tratar de assuntos mais burocráticos. Coisas como procurar casa ou tratar dos problemas com bancos nem sempre são fáceis quando se chega a um país diferente do nosso. Foi um bocado complicado ao início. Não estava habituado, mas a cidade em si é espetacular. É uma cidade grande, não tão grande como o Porto, mas tem tudo. Para viver é do melhor que há. Tem uma excelente qualidade de vida. Neste momento está tudo a correr às mil maravilhas. A jogar e estando numa cidade assim, não me posso queixar. Eu prefiro uma cidade mais tranquila como esta do que, por exemplo, uma cidade como Madrid. Gosto desta tranquilidade.
É difícil gerir as saudades de Portugal?
Tenho a felicidade de estar aqui com a minha namorada e isso ameniza sempre um pouco. Neste momento aguento muito mais tempo sem ir a Portugal. Custava-me mais quando estava na Madeira. Como estava sozinho e estava numa ilha, sentia a necessidade de ir a casa mais vezes. De duas em duas semanas lá tinha de ir, se não parecia que dava em maluco. Agora, aguento mais um bocadinho. Sinto-me mais estável agora.
Continua a acompanhar o futebol português?
Aqui tenho a televisão portuguesa por satélite. Sempre que posso, acompanho os jogos. Portugal é o meu país e fiz muitos jogos na I Liga. Além disso, deixei muitos amigos lá.
Quem está mais perto do título?
É muito cedo e é muito difícil apontar um candidato ao título. Os três grandes estão bem e o Sporting de Braga também tem estado muito bem. Está em ascendente e espero que consiga manter-se perto dos três grandes durante a temporada. Para Portugal isso é bom, para não ficar aquela imagem de que apenas os três grandes lutam pelo título. É bom para o futebol português.
Como viveu o regresso do Nacional ao principal escalão?
Fiquei muito contente por terem regressado. Ainda tenho lá alguns amigos e sempre que posso acompanho os jogos. Sei que vai ser um ano complicado, como sempre foi, mas com trabalho e confiança os resultados vão aparecer. Espero que se mantenham na I Liga por muitos anos.
O Nacional fazia falta à I Liga?
Sim, claro sem dúvida! O Nacional é um clube de I Liga. É um clube que já esteve em competições europeias. É impensável estar na II Liga… É a minha opinião.
Durante quatro anos e meio, Rui Silva vestiu as cores do Nacional. © Global Imagens
E é sempre um adversário complicado frente aos grandes...
Para os grandes e para qualquer equipa que vá jogar à Choupana!
Como tem visto estas polémicas em torno futebol português?
Tenho acompanhado e, estando do lado fora, fico muito triste. O futebol português é muito mais que isto. São factores que não devem estar no futebol português. Como português fiquei muito triste ao ver tudo aquilo que aconteceu na temporada passada.
Sente-se agora na melhor fase da carreira?
Sim, sinto que evoluí muito desde que saí de Portugal. Claro que com os jogos, com a idade e com o tempo sinto-me agora mais experiente e maduro. Quero continuar a evoluir para alcançar outros palcos e quero continuar assim. Sei que tenho capacidade para isso. Agora, resta-me trabalhar.
Quão importante é o jogo de pés para os guarda-redes?
Eu acho que é muito importante. Aqui em Espanha trabalha-se muito isso. Os treinadores obrigam-nos a sair a jogar. Isso transmite confiança à equipa e acabamos por funcionar como líbero. És mais uma solução para sair a jogar. O guarda-redes não é só estar ali entre os postes para defender e sair aos cruzamentos. O jogo dos pés é mesmo importante. Fico contente que em Portugal também haja essa evolução.
Tem algum guarda-redes que acompanhe de perto?
Adoro o Ter Stegen do Barcelona. A facilidade com que joga e a tranquilidade com que está em campo... A mim encanta-me. É quase como um modelo. A nível de jogo de pés, identifico-me muito com ele.
Tem algum sonho? Há jogadores que sonham chegar à Premier League...
A Premier League é um campeonato que gosto muito. Mas agora estou feliz em Espanha e tenho o objetivo de chegar à I Liga espanhola. Neste momento gosto do futebol daqui. A nível de Seleção, é o sonho de qualquer jogador representar o seu país. Eu sou mais um.
Quais os desejos para esta temporada?
Desejo que o Granada possa voltar à I Liga. Sabemos que será complicado, é uma liga competitiva. Espero continuar a ajudar o clube a crescer e a evoluir. O mais importante é o clube atingir os objetivos.
Rui Silva recuperou o sorriso após um ano e meio muito complicado. © Reprodução Twitter Granada CF
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