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"Benfica? O míster Rui Vitória nem sequer um minuto me deu para jogar"

João Amaral teve uma passagem muito fugaz pelo Benfica e rumou ao estrangeiro para jogar no campeonato polaco. Ao serviço do Lech Poznań, o extremo português de 27 revela-se "feliz" e garante ter tomado a melhor decisão. Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Amaral recorda ainda a pré-época ao serviço dos encarnados e lamenta não ter tido uma oportunidade para jogar alguns minutos.

"Benfica? O míster Rui Vitória nem sequer um minuto me deu para jogar"
Notícias ao Minuto

07:59 - 19/10/18 por Francisco Amaral Santos

Desporto João Amaral

A Polónia assume-se, no panorama atual, como um dos países que mais jogadores portugueses está a atrair. As condições oferecidas aos jogadores são bastante tentadoras, tanto a nível monetário como no que diz respeito às infraestruturas, e são já vários os portugueses que vão brilhando em solo polaco. 

João Amaral é um dos atletas lusos em maior destaque. Depois de ter chegado ao Benfica no início do passado verão, proveniente do Vitória de Setúbal, o extremo português de 27 anos acabou por não convencer Rui Vitória, tendo-se mudado para o estrangeiro. 

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o jogador de 27 anos lamenta a falta de oportunidades na Luz, mas garante estar feliz pela opção tomada. O futuro, o passado e o futebol português também foram temas de conversa com o português que alinha no Lech Poznań. 

Como está a correr esta aventura na Polónia? 

Para já, penso que a nível individual está a correr melhor do que coletivamente. Nos primeiros quatro jogos até tivemos na frente, mas acabámos por cair um bocadinho e deixámos fugir o primeiro lugar. Individualmente está a ir ao encontro daquilo que eu esperava. Tenho jogado, tenho marcado e tenho estado bem. Foi um bocadinho difícil adaptar-me ao futebol jogado, porque é mais físico, mas estou a gostar.

Em Portugal as coisas estão muito aquém dos outros campeonatosComo surgiu o convite?

Pelo que sei, através dos meus agentes, houve um olheiro que já me tinha visto, tal como ao Tiba, e que o clube e o mister estavam muito interessados em mim. Esperei um bocado para perceber o que iria aparecer, mas quando surgiu esta proposta, que em termos financeiros é bem melhor do que existe em Portugal, tive de aceitar. Infelizmente, em Portugal, as coisas estão muito aquém dos outros campeonatos. Foi também por essa razão que eu aceitei. Tive a oportunidade de melhorar a minha vida financeiramente.

No meio dessas decisões todas, não houve uma pequena expectativa de ficar no plantel do Benfica?

Sim, houve. Apesar de que, no início, tinham-me dito que não ia fazer a pré-época, mas depois, à última, deram-me uma oportunidade de a fazer. Quando isso aconteceu, tive a esperança de ainda conseguir ficar. O que posso dizer mais? Estou completamente de consciência tranquila porque enquanto lá estive dei tudo, apesar de não ter tido a oportunidade de jogar. Tivemos um torneio, mas o míster Rui Vitória nem sequer um minuto me colocou a jogar. Aí poderia ter sido um dos momentos em que poderia mostrar-me. Mas pronto, não aconteceu. Estou de consciência tranquila. Tenho noção que fiz tudo o que era possível para lá ficar, mas também sabendo que o que não falta no Benfica são extremos de grande qualidade. Mas é a vida. Se foi assim é porque assim tinha de ser.

Está então satisfeito por ter partido para esta aventura polaca?

Sim, estou muito feliz por sentir a importância que tenho para o míster e para as pessoas aqui.

Que condições encontrou? E qual a relação com os adeptos?

É incrível mesmo. Mais uma vez, as condições de trabalho que estas equipas têm são um ponto a favor em relação ao futebol português, infelizmente. Nós vamos a qualquer estádio, seja de que equipa for, e são todos praticamente idênticos em termos de condições. As condições de trabalho são realmente incríveis. Até campos temos dentro do balneário. Aqui na Polónia o que falta é um bocadinho mais de qualidade no futebol. Com estas condições, poderiam aproveitar muito mais. Eu nem quero imaginar o que um clube português faria com estas condições. É mesmo inacreditável. As condições daqui estão ao nível dos três grandes em Portugal.

Mas o futebol é demasiado físico?

Eles querem trabalhar muito fisicamente. Muito ginásio, muito trabalho de força… Por vezes também é bom, mas acredito que exageram de uma forma incrível porque acho que não era necessário tanto. Não aproveitam as condições que têm para trabalhar taticamente. Eu falo do clube em que estive antes, tirando o Benfica. No Vitória de Setúbal trabalhava todos os dias no estádio. Não tínhamos campo de treino, era todos os dias no estádio. Aqui, temos três campos para treinar. Temos dois de treino para além do estádio e ainda podemos ir à academia dos miúdos que tem mais três campos para treinar. Eles aqui aproveitam pouco porque pensam muito fisicamente.

O facto de o treinador, Ivan Durdevic, falar português também é uma importante ajuda?

Sim, sem dúvida. Antes de vir para cá falei com ele por telemóvel. Ajuda muito. Para mim e para o Tiba seria muito difícil se ninguém falasse minimamente a nossa língua. Apesar de termos um espanhol e um argentino na equipa, é muito complicado para nós porque é uma língua muito complicada. Nós temos aulas de polaco, mas é mesmo difícil. Temos de falar em inglês uns com os outros. Mas, sim, é muito importnate ter um míster que sabe o que é o futebol português e que consegue ajudar-nos com as nossas dúvidas. É importante ter alguém que nos diga, em português, aquilo que quer em campo.

Notícias ao MinutoAmaral revela-se rendido às condições de trabalho que encontrou no Lech. © Reprodução Facebook Lech Poznań

E em termos culturais, que país encontrou?

Bem, a comida, por exemplo, não é muito diferente (risos). Mas é um país muito diferente no que diz respeito ao humor.

O Pedro Tiba diz que os polacos são pessoas frias…

Acho que ele está a ser simpático… Nós vamos a qualquer lado e as pessoas não são simpáticas. Noto muito isso quando vamos, por exemplo, aos centros comerciais. As pessoas que não falam em inglês não nos tentam ajudar e não fazem um esforço para nos entenderem. Há poucas pessoas a falar inglês e as outras nem sequer tentam ajudar. De certa forma, devem dizer que nos temos de desenrascar (risos). Em Portugal as pessoas são bem recebidas. Claro que estou a generalizar. Já encontrei aqui pessoas que me ajudaram e que foram muito simpáticas comigo.

Há umas palavras do míster José Couceiro que eu não me esqueço

E as saudades de casa?

É complicado, claro. No entanto, acho que no nosso caso não custa tanto. Estamos a fazer aquilo que nós gostamos e que queremos fazer todos os dias. E isso acaba por abafar as saudades. Talvez seja mais complicado para as nossas mulheres, que vieram connosco, do que para nós jogadores. Nós treinamos, conversamos... Para elas, não será fácil estar longe de casa e não conseguirem criar relações com ninguém. O que nos vai safando é o facto de a minha mulher e do Tiba serem amigas.

Também existem duas paragens no campeonato…

Sim, isso também ajuda. Podemos ir a Portugal durante três semanas e isso acaba por compensar. Em outros países isso não acontece. Aqui acontece por causa do inverno rigoroso. Assim podemos ir a Portugal e estar um bocadinho em casa.

Olhando para o seu percurso, sente que chegou tarde à I Liga?

Eu acho que nada acontece por acaso. Se aconteceu assim é porque tinha de ser. Mas há umas palavras do míster José Couceiro que eu não me esqueço. Ele disse-me que nunca percebeu como é que eu andei tanto tempo nas divisões mais secundárias. Disse que poderia ter chegado bastante mais cedo ao principal campeonato. Mas todos nós sabemos os problemas dos direitos de formação e dessas coisas que têm de ser pagas. Claro que gostaria de ter chegado um pouco mais cedo, mas eu não posso ser egoísta. Há tantos miúdos com qualidade nas divisões secundárias e que nunca tiveram essa oportunidade ou essa sorte. Para além de todo o trabalho que tive, porque eu nunca tiro mérito ao meu trabalho, tive a sorte e a oportunidade de me poder mostrar na I Liga. Isso também devo muito ao míster Couceiro e ao Vitória de Setúbal. É um sonho concretizado ter conseguido chegar à I Liga. Não interessa com que idade foi, o que interessa é que consegui. É isso que digo a todos os miúdos que ainda não conseguiram. A minha vida deu uma volta muito grande. Parecia que já não tinha idade, mas agora estou aqui.

Notícias ao MinutoJoão Amaral já apontou cinco golos com a camisola da equipa de Poznań. © Reprodução Facebook Lech Poznań

Acha que ainda se olha muito para os jogadores estrangeiros ao invés de olhar para o que há cá dentro?

Agora já vejo uma pequena mudança e fico feliz com isso. Vejo jogadores portugueses com muita qualidade. Mas lá está, até aos 23 ou aos 24 anos, sei que isso já mudou mas não sei bem a idade, continuam a existir problemas porque os clubes têm de pagar os direitos de formação. Eu percebo que os clubes tenham direito a isso, mas de certa forma acabam por cortar as pernas aos jogadores que têm qualidade e que assim têm de esperar para chegar à I Liga. É muito complicado, mas já vejo uma pequena mudança, nomeadamente no Vitória de Setúbal.

Continua a acompanhar o campeonato em Portugal?

Sim, claro! Aliás, acho que vejo mais agora do que quando jogava lá! (risos) Enquanto estamos a jogar, estamos atentos a isso. Mas, agora que estou mais longe, gosto de ver porque serve sempre para recordar e até porque tenho amigos que gosto de ver jogar. Tenho sempre essa atenção de os poder ver.

Notícias ao MinutoJoão Amaral saltou do Pedras Rubras para o Vitória de Setúbal. Na equipa sadina assumiu papel de craque e contabilizou 14 golos em 78 jogos. © Global Imagens

Quem é que está mais perto de ganhar o título?

Penso que ainda é cedo. Acredito que Benfica, FC Porto e Sporting estão equiparados. Mas nunca sabemos quando podem cair fisicamente. Há sempre fases boas e menos boas. Mas ainda assim, acho que o Benfica e FC Porto estão um bocadinho acima do Sporting. Isto, sem tirar o mérito do Sporting de Braga. Têm estado muito bem. Estão a fazer um trabalho incrível e jogam bom futebol. Temos de dar valor porque é uma equipa que se está a candidatar para lutar com os três grandes. É uma equipa que muda muito pouco. A estrutura é praticamente a mesma.

Quais os objetivos pessoais para esta temporada?

Eu vim para aqui para ajudar a equipa a ser campeã. Nunca tive a oportunidade de estar numa equipa assim, portanto espero conseguir ganhar títulos. O principal é sermos campeões. Se conseguirmos ganhar também a Taça ainda melhor. Quero ganhar títulos e não penso em mais nada.

Pensa ficar na Polónia nos próximos anos?

Vou pensar nisso no final da temporada. No entanto, seria hipócrita da minha parte dizer que não penso noutras coisas. Quero fazer uma boa época e, se conseguir, claro que gostaria de dar mais um salto. Apesar de gostar de estar aqui, gostava de muito de jogar noutra liga, como a espanhola ou italiana. É um dos meus sonhos. Não vou dizer que não pensaria em mais nada. Acabei de fazer 27 anos e não me sinto satisfeito. Ainda quero um bocadinho mais.

Notícias ao MinutoJoão Amaral, ao lado de Pedro Tiba, numa aula... de polaco. © Reprodução Facebook Lech Poznań

A ambição alimenta os jogadores?

Claro que sim. Se não pensasse assim, estaria aqui tranquilo e a fazer o mínimo possível. Eu não quero isso, quero continuar a evoluir. Quem sabe também não possa regressar a Portugal para jogar num dos três grandes. Nunca se sabe...

Vamos continuar a ver muitos golos do Amaral na Polónia?

Este ano já foram cinco e espero que seja o mínimo. Um dos meus objetivos é ultrapassar a minha marca pessoal. O meu máximo foram nove… ou dez. Eu conto o dez! (risos) Digo dez porque o ano passado ‘roubaram-me’ um golo contra o Paços de Ferreira. Quero ultrapassar os dez e fazer o máximo possível.

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