Márcio Mossoró, o pequeno brasileiro que espalhou magia no meio-campo do Sporting de Braga entre 2007 e 2013, continua a guardar Portugal no coração. Com 35 anos e ao serviço dos turcos do Basaksehir, o médio que chegou ao nosso país pela porta do Marítimo, em 2006, garante que não esquece os tempos vividos no Minho e pondera regressar a um lugar onde foi "muito feliz". 

Em entrevista ao Desporto ao Minuto, Mossoró recorda todos os momentos marcantes vividos com a camisola dos arsenalistas e prevê um futuro brilhante para a equipa agora orientada por Abel Ferreira. 

Para lá destes temas, Mossoró recorda ainda os tempos em que foi orientado por José Peseiro, Jorge Jesus e Domingos Paciência. E sim, aquela final da Liga Europa perdida diante do FC Porto, em maio de 2011, nunca mais lhe sairá da memória. 

Mais uma época a começar, quais são os objetivos para este ano?

Os objetivos são bem claros. Assumimos a luta pelo título e é com essa vontade que vamos atacar esta época. Queremos o título de campeão e a Taça da Turquia. Esses são os nossos dois objetivos.

Na temporada passada, o Basaksehir terminou em terceiro lugar. Este ano podemos ver o Basaksehir mais envolvido na luta pelo título?

O ano passado fomos terceiros, no outro fomos segundos. Mas na época passada ficámos com os mesmos pontos do Fenerbahçe, no segundo lugar, mas perdemos no critério do confronto direto. Mas foi uma luta até ao fim. Se na última jornada terminássemos todos com os mesmos pontos, que era possível, teríamos conseguido o título. Infelizmente não conseguimos e acabámos por perder o segundo lugar. Mas este ano esperamos que o final seja bem diferente.

Mossoró está há cinco anos na Turquia e tem contrato com o Basaksehir até junho de 2019. © Reuters

O ano passado o Basaksehir defrontou o Sporting de Braga por duas ocasiões na Liga Europa. Como foi aquele regresso a Braga? O que sentiu? Sentiu-se bem recebido num clube onde jogou tanto tempo?

Foi um sentimento bem diferente do que já tinha vivido. Começou logo no dia do sorteio em que ficámos no mesmo grupo do Braga. Foi um dia inesquecível para mim e um jogo incrível. Jamais poderia esperar aquela receção incrível! Graças a Deus fui muito recebido e acarinhado por todos lá. Não tenho palavras para descrever o que sinto, mas é algo que ficará para sempre marcado na minha vida.

O Sp. Braga tem tentado aproximar-se dos três grandes -  FC Porto, Benfica e Sporting. Acredita que, em breve, o Braga pode ser campeão em Portugal?

Eu acredito que o Sporting de Braga está cada vez mais perto de ser campeão em Portugal. Na minha opinião, acho que o Braga tem um grupo muito jovem – sei que isso é uma filosofia de trabalho do [António] Salvador e do Abel [Ferreira], eles têm esse modelo de trabalhar com os miúdos para conseguirem vendas no final do ano -, mas acho que para chegarem mais longe e para serem campeões, é preciso misturar um pouco mais de experiência. A chegada de dois/três jogadores experientes com conhecimento do campeonato português iriam fortalecer este grupo jovem que, na minha opinião, é muito forte. Seria mais uma vantagem para poder ser campeão. Têm um treinador, com o qual não trabalhei, mas pelo que eu vejo é um dos melhores treinadores da atualidade do futebol europeu. Acho que estão no caminho certo, mas, na minha opinião, um pouco mais de experiência iria ajudar o Braga a chegar mais depressa ao título de campeão português.

Mossoró regressou a Braga na temporada passada, em confronto para a Liga Europa, e foi recebido de pé por parte dos adeptos minhotos.© Global Imagens

Quem acha que pode ser campeão esta temporada?

As quatro equipas têm possibilidades de ser campeão. O Benfica, o FC Porto, o Sporting e acrescento o Braga. Acho que podem lutar de igual para igual.

O Sporting é agora orientado por José Peseiro, treinador com quem se cruzou no Braga. Acredita que é o treinador certo para o Sporting nesta altura?

O Sporting passa por um momento crítico e preocupante. Eu falo pelo lado psicológico dos jogadores que ficaram lá. Para quem chega não é fácil reverter isso, mas o José Peseiro é um grande treinador e tenho a certeza que só vai acrescentar no Sporting. Tem muito conhecimento e experiência. Podem ter a certeza que ele só vai acrescentar valor ao Sporting.

Foi também orientado por Jorge Jesus e Domingos Paciência no Braga. Que recordações guarda desses tempos?

Só guardo boas recordações, tanto do Jorge Jesus como do Domingos Paciência. Foram dois treinadores que acrescentaram muito na minha vida pessoal e profissional, pelo tempo que convivemos juntos. Com o Jesus não tive muitas oportunidades, comparativamente com os dois anos do Domingos. Fomos vice-campeões em Portugal e da Liga Europa. Mas foi o Jesus quem me foi buscar ao Brasil e foi ele quem pediu a minha contratação. Acreditou muito em mim e ajudou-me a crescer muito taticamente. Com o Domingos consegui desenvolver o meu futebol. Os dois interferiram na minha carreira de forma positiva.

Durante cinco anos, Mossoró foi uma das maiores figuras do Sp. Braga. Pelos arsenalistas apontou 16 golos em 182 jogos e ainda ajudou a conquistar a Taça da Liga. © Reuters

Acredito que ainda se recorda daquele percurso na Liga Europa, onde Braga ganhou ao Benfica na meia-final diante e perdeu com o FC Porto na grande final. O Braga naquele ano de 2011 merecia mais?

Não tenho como esquecer. Foi um ano marcante na nossa vida. Não chegámos aquela final por sorte. Foi tudo fruto de muito trabalho. Eliminámos grandes equipas como o Liverpool ou Dínamo Kiev. Na meia-final foi aquele clássico com o Benfica, algo que eu também alimentei por causa da rivalidade. Foi naquela altura em que parti a perna contra o Benfica, envolvia muita coisa… Conseguimos chegar à final e acho que merecíamos muito mais. Logicamente que o FC Porto era favorito, mas nós tínhamos uma grande equipa e fizemos uma segunda parte incrível. Eu até tive uma grande oportunidade e talvez ali, se tivesse marcado, o jogo tivesse tido outro rumo.  Não ganhámos, mas fica marcado na história. Tenho a certeza que o Braga vai voltar a brilhar nas competições europeias e vai conseguir chegar a uma final e aí o fim da história vai ser diferente.

Após a final perdida diante do FC Porto, para a Liga Europa, Mossoró ficou inconsolável e acabou por ser reconfortado pelo compatriota Helton. © Reuters

Tem saudades de Portugal?

Tenho muitas saudades. Tenho muita vontade de morar e viver em Portugal. Pretendo estudar em Portugal para ser treinador. Estou a preparar as coisas paraque  quando me reformar possa realizar esse sonho de ser treinador de futebol. Tenho contrato até 2019 e ainda não parei para pensar porque sinto-me bem aqui. A minha intenção é ficar aqui mais um ou dois anos e aí volto para o Brasil ou regresso a Portugal. Vai depender de muita coisa, nomeadamente das oportunidades que apareceram. Se aparecer alguma coisa em Portugal, vou pensar com muito carinho porque é um lugar onde me sinto muito bem e onde fui muito feliz.