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Pedro e Tiago: Há uma dupla lusa a tentar acordar um gigante islandês

O Fram é o terceiro clube mais titulado do país, mas está há muito 'esquecido' na segunda divisão. O Desporto ao Minuto foi falar com o presidente Hermann Gudmundsson, o treinador Pedro Hipólito e o jogador Tiago Fernandes para perceber o que está a ser feito para levar o clube de novo à glória.

Pedro e Tiago: Há uma dupla lusa a tentar acordar um gigante islandês

No passado dia 1 de maio, o Fram Reykjavík festejou o seu 110.º aniversário. No entanto, mais do que festejar, neste momento, o histórico clube islandês pensa em trabalhar para recuperar a glória dos velhos tempos.

Feitas as contas, o Fram conta com 18 Ligas islandesas, oito Taças e seis Supertaças. É a terceira equipa mais titulada do país, mas uma séria crise económico-desportiva atirou-a por duas vezes para a segunda divisão, primeiro em 1995 e depois 2005. Desde então, não mais recuperou.

Foi então que, em 2014, Hermann Gudmundsson, um dos mais ricos empresários do país, tomou as rédeas do clube. E, três anos depois, tomou uma decisão que, até aos olhos do próprio, foi arriscada: contratou o português Pedro Hipólito para assumir o comando técnico da equipa.

“Foi uma decisão arriscada. Não só por causa da idade, mas principalmente porque nunca tinha trabalhado no estrangeiro. O inglês não é a segunda língua dele, mas melhorou bastante desde que chegou. Foi, sem dúvida, um risco que corremos, mas que estamos felizes de ter corrido”, afirmou o presidente do Fram, em declarações ao Desporto ao Minuto.

Na primeira temporada, o treinador ex-Atlético Clube de Portugal ficou-se pelo nono lugar. Esta época, com 13 jornadas disputadas, soma 18 pontos, o que o deixa no sexto posto, a nove pontos dos lugares de promoção ao principal escalão.

“Há um ano, surgiu essa oportunidade, graças ao meu advogado, o Dr. Rui Jesus. Vim cá conhecer o futebol, o clube e o país durante uma semana. Agradou-me bastante e aceitei o desafio”, explica-nos Pedro Hipólito.

O objetivo?: “É, sem dúvida, um gigante adormecido que passou por uma grande crise. Posso comparar um bocadinho o Fram ao Sporting, com muitas fações, com muitos problemas, o que o levou a esta situação complicada. Estamos a tentar reequilibrar o clube, penso que está a ser conseguido. O objetivo é recuperar a parte financeira ligando-a à desportiva, lançando jovens jogadores que possam ser rentabilizados, para que o Fram possa ter mais força para lutar pela subida de divisão”.

Notícias ao MinutoPedro Hipólito no Fram© DR

A 'revolução' de Pedro Hipólito

Até agora, Hermann Gudmundsson diz-se “muito feliz” com o trabalho levado a cabo por Pedro Hipólito. Mas, afinal, o que leva um presidente islandês a apostar num treinador português?

“Tínhamos um treinador local, mas o problema é que ele, tal como muitos outros treinadores islandeses, tinha outro emprego. Trabalhava noutro sítio, talvez das 8h às 17h, e depois treinava à tarde. Queríamos contratar um outro treinador, sem qualquer outro emprego, para que treinasse a primeira e a segunda equipa, para ser uma parte importante da estratégia do clube. Negociámos com o Pedro e, até agora, estamos muito impressionados com a sua qualidade e com o seu profissionalismo”, explica o empresário.

Trabalhar no futebol e também noutra atividade não é, no entanto, ‘mal’ exclusivo dos treinadores. Também os jogadores o fazem. Pedro Hipólito diz tratar-se de uma “questão cultural”. O atleta islandês “não abdica de ter outra profissão e outro salário”. Uma perspetiva à qual teve de se adaptar.

“Apesar de terem outra atividade, quis que tivessem mais tempo para desenvolverem as suas capacidades individuais para o futebol. Quis trabalhar com eles mais tempo e ter treinos bi-diários. Tentei criar essa mentalidade para os preparar, porque o projeto do clube passa pela aposta nos jogadores jovens, pela perspetiva de fazer negócio. Por isso, têm que estar preparados para essa exigência”, aponta.

Feitas as contas, desde que chegou ao clube, o técnico já promoveu um total de sete jogadores, e a aposta já começa a ter os seus frutos. Helgi, que completa 19 anos em agosto, é já o segundo melhor marcador da equipa, com sete golos. Já Egill, extremo de apenas 16 anos que já participou em 16 jogos pela equipa principal, foi, esta sexta-feira, transferido para a SPAL, da Serie A.

“Há qualidade em todo o lado, e o talento tanto vence na Islândia como em Portugal. Há muito talento em Portugal em quem ninguém pega, mesmo no Campeonato de Portugal. Nunca irão ter uma oportunidade, porque as oportunidades vão sempre para os mesmos”, lamenta Hipólito. E foi exatamente isso que levou Tiago Fernandes a também dizer ‘sim’ ao Fram, em fevereiro.

Notícias ao MinutoTiago Fernandes© DR

A 'arma' Tiago Fernandes

“Não queria jogar mais em Portugal. Estava jogar no Campeonato de Portugal, a minha época tinha acabado no Benfica de Castelo Branco, e sentia que precisava de outros objetivos. Apareceu a oportunidade na Islândia e não pensei duas vezes”, explica o médio de 23 anos.

Com uma longa passagem pela formação do Sporting, Tiago Fernandes rumou às camadas jovens do Belenenses em 2011. Em 2014, seguiu para o Fátima, ao qual se seguiram Vitória de Sernache e Benfica de Castelo Branco. Foi então que disse ‘basta’.

“Para já, o Campeonato de Portugal não está bem organizado, falta muita coisa para ser competitivo e para dar aos jovens mais condições para ambicionarem jogar profissionalmente na I e II Ligas. Pensei que, para mim, tinha acabado. Tinha jogado três anos no Campeonato de Portugal e queria outras coisas para mim, queria outra aventura. Surgiu a Islândia e vim para cá”, refere.

E o jogador de Vila Franca de Xira não demorou em deixar a sua marca. Até à data, leva quatro golos e sete assistências em 18 jogos. Pedro Hipólito vê nele “um excelente jogador”, com “um toque diferente”. Para Hermann Gudmundsson, tem sido “instrumental” na temporada do Fram. No entanto, Tiago Fernandes admite que não foi fácil adaptar-se a um futebol “muito direto, muito físico”.

“Tive a sorte de, no Fram, o treinador querer jogar futebol. Treinamos para isso. Acho que somos a única equipa que quer jogar futebol. Ao início, também tive alguma dificuldade por causa disso. Era muito físico, mas com o conhecimento dos colegas, já estou integrado”, reconhece. Pedro Hipólito prefere assumir uma postura mais diplomática.

“O Tiago e o seu lado português [risos]... É um futebol muito físico. Eles têm muita força, correm 90 minutos a um ritmo muito elevado, gostam muito do contacto físico, jogam bem no ar. É o estilo de jogo islandês, apostam no contra-ataque. Se virmos o campeão islandês, joga um futebol europeu latino, de pé para pé. Cada um tem o seu estilo. Mas há duas coisas que aqui são muito importantes: a intensidade e a agressividade dos jogadores”, afirma.

Otimismo e lamento pelo "esquisito" português

No que ao futuro diz respeito, o Fram consegue, por fim, ver a luz ao fundo do túnel. Hermann Gudmundsson rende-se à “disciplina” imposta por Pedro Hipólito e diz esperar poder lutar seriamente pela subida de divisão dentro de “dois anos”.

O treinador também quer lá chegar, mas com base num projeto que tenha “pés e cabeça”. Admite, inclusive, que gostaria de o fazer com a ajuda de “mais um ou outro” jogador português, não fossem eles tão “caros” e… “esquisitos”.

“É uma coisa que às vezes me faz um bocadinho de confusão. Estando o Campeonato de Portugal a pagar 500 ou 600 euros por mês, e estando alguns clubes da II Liga em tantas dificuldades, como é que é possível às vezes sermos tão esquisitos a abrir portas?”, questiona, 

Tiago Fernandes segue pela mesma toada cautelosa. Prefere pensar “jogo a jogo”. A nível individual, recusa a ideia de que, jogando na longínqua Islândia, possa ficar ‘esquecido’ por cá: “Desde que trabalhemos e demos o nosso máximo, as coisas acabam por acontecer naturalmente. Hoje em dia, no futebol tudo se sabe. Toda a gente vê futebol, mesmo estando longe. Não tenho medo de ficar esquecido porque estou a fazer um bom trabalho e sei que as pessoas o sabem”.

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