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Júnior Moraes: O novo 'czar' que Paulo Fonseca resgatou ao rival

Passou pela Roménia, Bulgária e China, mas foi na Ucrânia que se tornou ídolo. Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o avançado que trocou o Dínamo Kiev pelo Shakhtar falou da oferta do Belenenses, dos rumores sobre o Sporting, das experiências com Jonas, Lima, Pato e até das partidas com Miguel Veloso e Antunes.

Júnior Moraes: O novo 'czar' que Paulo Fonseca resgatou ao rival
Notícias ao Minuto

08:03 - 19/06/18 por Fábio Aguiar

Desporto Exclusivo

Duas semanas depois de ser confirmada a saída de Facundo Ferreyra rumo ao Benfica, o Shakhtar Donetsk anunciou o novo homem-golo. Ídolo na Ucrânia, Júnior Moraes é o novo 'czar' do ataque de Paulo Fonseca. O brasileiro terminou contrato com o Dínamo Kiev, rejeitou a proposta de renovação e decidiu rumar ao rival, com o qual assinou um contrato válido para as próximas duas épocas.

Na primeira grande entrevista como jogador do bicampeão, o avançado explicou a decisão, fez o balanço dos últimos anos na Ucrânia e abordou ainda outros temas do passado, presente e futuro. A proposta do Belenenses, os rumores sobre o interesse do Sporting, as experiências com Jonas e Lima, o 'Ferrari' Pato, as partidas com Miguel Veloso e Antunes... Enfim, uma conversa que condiz com o estilo do jogador: objetiva e... com 'samba'. Um exclusivo Desporto ao Minuto!

Aluísio Chaves Ribeiro, o mais recente reforço do Shakhatar Donetsk. Gosta deste título?

(risos) É isso, mas falta aí o Moraes Júnior!

Aluísio Chaves Ribeiro Moraes Júnior, é isso? Como é que se 'transformou' em Júnior Moraes? 

Primeiro porque o nome seria muito grande! Já eu tinha feito a jogada toda e o narrador ainda nem tinha dito o meu nome. (risos) Não, mas tem a ver com o meu pai. Ele chama-se Aluísio Chaves Ribeiro Moraes e o Júnior veio como brinde para mim. Sempre tive complicações em aeroportos e até mesmo em casa porque quando ligam e perguntam pelo Aluísio, referindo-se... ao meu pai. Eu sempre fui tratado por Júnior.

Prepara-se para viver o segundo dia desta nova etapa. Como se sente?

Estou muito feliz com esse novo desafio na minha carreira. Acredito que trabalhar com Paulo Fonseca vai acrescentar muito. Já o conheço há algum tempo, falámos um pouco e já me desejou muita sorte.

Notícias ao MinutoJúnior Moraes deu a primeira grande entrevista como jogador do Shakhtar Donetsk, em exclusivo, ao Desporto ao Minuto.© Fábio Aguiar

Depois de três épocas no Dínamo Kiev, que impacto tem esta mudança para o maior rival?

O Shakhtar é um clube que luta sempre para ser campeão, com uma ambição enorme. Foi por isso que decidi aceitar o convite, porque me sinto bem na Ucrânia e a minha família também já está adaptada. Por isso, foi perfeito.

Que expectativas traz para este novo desafio?

Quero ser campeão, esse é o maior objetivo! Vou trabalhar no limite para ajudar a equipa e certamente tudo irá correr bem.

Chega para ocupar um lugar que era de Facundo Ferreyra, entretanto contratado pelo Benfica. Considera que recebe uma espécie de herança de um jogador que apontou quase 50 golos nos últimos dois anos?

Não chego para ser o substituto do Ferreyra, mas sim para escrever a minha própria história neste clube. Com trabalho, dedicação e foco tenho a certeza que o vou conseguir.

Vai ser treinado por um português que deixou rendida a Ucrânia nos últimos dois anos: Paulo Fonseca. Como o descreve?

Todas as pessoas pensavam que ele fosse ter algumas dificuldades de adaptação, porque substituiu um treinador que estava no clube há 13 anos. Chegar um português, que não conhecia o clube, nem o futebol ucraniano, nem mesmo os jogadores... Enfim, previa-se que fosse difícil. Mas ele adaptou-se muito bem e fez duas épocas de sonho.

Notícias ao MinutoAntigo camisola 11 do Dínamo Kiev assinou um contrato de duas épocas com o Shakhtar.© Facebook

O Shakhtar será o terceiro clube que representa na Ucrânia, depois de Metalurh Donetsk e Dínamo Kiev. Como se chega do Brasil e se conquista um país, um povo e um futebol?

Foi muito difícil adaptar-me à Ucrânia. A minha primeira época (2010/11) foi muito dura. No entanto, a força de vencer e a ambição de querer que as coisas dessem certo superaram tudo. Agora sinto-me muito acarinhado, as pessoas respeitam-me imenso, gostam do meu trabalho e, cinco anos depois, posso dizer que sou muito feliz e estou grato por todo o reconhecimento.

Que balanço faz destes cinco anos na Ucrânia?

Não houve um ano em que eu possa dizer que a época não me correu bem. A melhor foi a segunda, ainda no FC Metalurh Donetsk, em que fiz 19 golos e disputei o troféu de melhor marcador do campeonato, juntamente com o Luiz Adriano. Foi aí que surgiu o interesse do Dínamo Kiev e do Shakhtar Donetsk, bem como outros clubes da Europa e da China. Infelizmente, o clube não me quis vender de forma alguma, cumpri os três anos de contrato e depois saí livre. Esta época, no Dínamo, penso que estive muito bem, pois consegui estar a um bom nível na Liga Europa (sete golos). Por isso, essas duas temporadas marcaram-me e penso que foram as mais bem conseguidas.

Era exatamente isso que ia perguntar. Esta prestação fantástica na Liga Europa na temporada transata serviu para fortalecer ainda mais o nome Júnior Moraes?

Sim, porque há  pessoas que não seguem o campeonato ucraniano, mesmo no Brasil. Mas é uma Liga muito difícil, com as equipas muito fechadas defensivamente e um futebol extremamente físico. Não é um estilo fácil de jogar. Aliás, todos os jogadores brasileiros que jogaram na Ucrânia e tiveram sucesso, estão hoje em clubes de topo e representam a Seleção Brasileira. E não são poucos! Fernandinho, Luiz Adriano, Douglas Costa, Willian, Fred, Alex Teixeira, Taison... Enfim, são imensos! Por isso, penso que essa boa prestação na Liga Europa pode provar que não sou um jogador apenas do nível do campeonato ucraniano, mas também de nível europeu. 

Notícias ao MinutoAtacante foi um dos principais destaques da última edição da Liga Europa, com sete golos.© Reuters

Falámos há pouco da adaptação. Quando estive em Kiev, no ano passado, fiquei com a ideia de que o povo ucraniano vive ainda um pouco na sombra das dificuldades do passado. Sentiu isso também?

Sim, é um povo, digamos, triste. Não foi fácil adaptar-me! Aliás, pelo contrário. Foi um choque. Teve um impacto enorme em mim e penso que a grande maioria dos brasileiros e portugueses que chegam ao país notam isso. Os ucranianos têm uma cultura totalmente diferente da nossa, não quer dizer que sejam más pessoas. Nada disso! Mas, por exemplo, quando cheguei, dizia 'bom dia' aos meus companheiros e eles viravam-me a cara. Senti-me mesmo mal com isso, mas depois fui percebendo, respeitando e, aos poucos, ganhando a confiança deles. De facto, comprovei que são pessoas totalmente diferentes daquilo que eu pensava. Ou seja, quando não conhecem, preferem manter-se no seu canto até a pessoa 'estranha', que chega ao seu país, se dar a conhecer. Tenho amigos que vão ficar para a vida toda, mas no início foi difícil lidar com eles.

Já jogou com alguns portugueses na Ucrânia...

(interrompe) Sim, primeiro foi o Ricardo Fernandes, depois o China, o defesa-esquerdo, e o Mário Sérgio, todos eles no Metalurh Donetsk. Depois é que estive com o Antunes e o Miguel Veloso no Dínamo. Fiz grande amizades com eles, ficaram até hoje e gosto imenso deles. E continuam sempre em contacto...Sim, tanto o Miguel como o Antunes são fantásticos, alto astral, pessoas do bem... O Antunes é um pouco mais fechado e o Miguel é mais 'figurão', mas engraçado. São grandes amigos que, tenho a certeza, terei para o resto da vida.

Pelo que o Antunes já nos contou, viveram grandes momentos no Dínamo...

Nós andávamos sempre juntos e adorávamos pregar partidas uns aos outros. O Derlis González, por exemplo, um dia foi apanhado por nós. Numa chávena colocámos um shot, mas ele pensava que era café porque nunca tinha bebido álcool. Combinámos: 'Vá, vamos beber aqui um cafezinho e tal...' Quando bebeu, até bufou... Cuspia fogo! (risos) Brincávamos imenso, jogávamos Uno... Era muito bom. 

Notícias ao MinutoBrasileiro mantém forte amizade com os portugueses Antunes e Miguel Veloso, com quem jogou no Dínamo Kiev. © Facebook

Chegou à Europa em 2009, então com 22 anos. Essa mudança aconteceu naturalmente ou tinha, de facto, esse sonho de emigrar?

Eu fiz a formação no Santos e estava acostumado a vencer sempre. O meu primeiro ano como profissional foi maravilhoso, mas depois o treinador mudou e não tive mais oportunidades de jogar. Quis sair a todo o custo e acabei por representar duas equipas mais pequenas (Ponte Preta e Santo André). Foram duas experiências horríveis, que apenas serviram para eu crescer. Depois desse desgosto, decidi sair do país e procurar novos ares. Na altura, tive propostas do Belenenses e do Gloria Bistrita, da Roménia. Acabei por optar pela segunda, não só pela parte financeira, como também pelo facto de o empresário ter mais contacto com o clube. Era um amigo do meu pai e então foi mais por aí. Essa etapa ajudou-me bastante porque apesar de ser um clube pequeno, tinha uma excelente estrutura, um estádio fantástico e era cumpridor. Foi um tiro no escuro, mas acabei abençoado.

No Santos, jogou ao lado de várias figuras, como Jonas, Lima, Zé Roberto... Como recorda esses tempos?

Aquele grupo era muito forte! Tive a sorte de chegar à primeira equipa com um conjunto de jogadores de exceção. No dia da minha apresentação, entrei ao lado do Zé Roberto. Corremos juntos à volta do campo e foi um momento brilhante. Aprendi imenso com todos eles, tal como com o Kléber, que foi campeão do Mundo de clubes com o Corinthians e jogou na Seleção Brasileira, o Maldonado, da seleção chilena, o António Carlos, que jogou muitos anos na Roma... Foram muito importantes para mim. 

Jonas é hoje uma das maiores figuras do Benfica. Reconhece-lhe algumas características semelhantes às que evidenciava já nessa altura, ainda no Brasil?

Era sensacional! Tinha uma técnica muito acima da média, tratava a bola como ninguém. No Brasil não lhe deram o valor merecido. Saiu do Santos de forma estranha, foi para o Grémio e fez uma grande época. Depois acabou por sair quando ninguém o valorizou. Acredito que um jogador de qualidade acima da média, por muito que as lesões atrapalhem, vai sempre ter capacidade para dar a volta por cima. Eu vejo isso no Jonas, vi isso no Ronaldo 'Fenómeno' e vi isso no meu irmão, que também teve muitas lesões. As pessoas achavam que ele não ia conseguir e a verdade é que demonstrou um tremendo espírito de sacrifício que lhe permitiu recuperar sempre. 

Antes do Jonas brilhar de águia ao peito, houve precisamente outro antigo companheiro no Santos que se tornou homem-golo na Luz: o Lima...

Tinha um poder de finalização brutal, via-se que era goleador. Ambos já demonstravam que iriam atingir níveis muito altos.

Seguiu-se uma época na Bulgária, ao serviço do CSKA Sofia, onde, de resto, deixou marca. Verdade?

Sem dúvida! Fui um período curto mas maravilhoso. Os adeptos foram fantásticos e, ainda hoje, quando falo deles, arrepio-me. Nunca vi uma massa associativa como a deles. Adoram o clube, vivem o clube e acarinham muito os jogadores. Felizmente, a época correu muito bem. Fui o melhor marcador do campeonato e fiz grandes amizades. Sinto-me um privilegiado por ter sido convidado para a celebração dos 70 anos do clube, em que estive junto das maiores estrelas do CSKA Sofia. Eles consideram-me também uma, mas eu sinto-me muito pequeno ao lado deles. Estamos a falar de grandes nomes que marcaram a história do país. Estar ali junto deles é algo que nunca vou esquecer. 

Notícias ao MinutoAvançado representou os romenos do Gloria Bistrita entre 2009 e 2010, naquela que foi a sua primeira experiência na Europa. © Facebook

Já jogou no Brasil, Roménia, Ucrânia, Bulgária e China... Enfim, é quase um 'globetrotter'. Que sensações guarda de cada um desses países?

Na Roménia tudo era novidade, até a neve, que nunca tinha visto. (risos) Foi um país de superação, pois foi lá que dei a volta a tudo. A Bulgária foi a consagração porque foi o ano em que me afirmei como um jogador de alto nível. Mantive o mesmo nível da Roménia, mas num grande clube da Bulgária. Na Ucrânia foi onde senti maiores dificuldades, também devido à cultura. Por isso, posso dizer que foi o país da conquista. Consegui ultrapassar e conquistar tanto! Na China, estive apenas quatro meses, cedido pelo Dínamo, na última época. Não há muito a dizer... Foi apenas uma aventura. 

O poder financeiro é, de facto, o principal trunfo que leva os jogadores a aceitar disputar um campeonato menos mediático como o chinês?

Sim, acho que é o que mais atrai, sem dúvida. É muito acima dos restantes mercados. Não sou contra isso. Por exemplo, o Witsel, que jogou comigo lá, tinha uma proposta da Juventus e acabou por optar por ir para a China. É a opção de cada um e a verdade é que o nível dele não baixou. Lembro-me que nos registos dos treinos era sempre destaque, quer na parte física, quer nos restantes aspetos. É um jogador muito profissional. 

Em Portugal ficou a ideia de que poderia ter gerido a carreira de outra forma. Concorda?

Não sei... Ele vive bem com isso. Nós falávamos muito sobre isso e a verdade que ele está feliz lá, tal como a família. Nos jogos que fez foi na maioria deles o melhor em campo. São decisões... Como há pessoas que gostam de camisas brancas, ele optou por 'vestir' uma laranja. O que interessa é que esteja bem.

Outro nome sonante do Tianjin Quanjian é o Alexandre Pato, um jogador que quando apareceu, com 16/17 anos, era dado como uma das maiores promessas do futebol mundial. No entanto, acabou por não corresponder às expectativas... Conhecendo-o muito bem, encontra alguma explicação para tal?

O Pato é um artista! (risos) Como pessoa é sensacional, de um coração enorme e no tempo em que estive lá passei muita coisa com ele. Estávamos os dois sem a família, saíamos para almoçar e jantar e fizemos uma grande amizade. Profissionalmente, é um avançado fora de série. O Cannavaro dizia mesmo que ele era um Ferrari, que apenas necessitava de alguém ao lado para o conduzir. E eu concordo, porque tecnicamente é muito bom, um fora de série. Teve a infelicidade de não seguir a carreira que todos esperavam, também devido à lesão grave que sofreu, mas é um jogador que trabalha muito, mesmo que às vezes não pareça. Quem o conhece no balneário sabe que isso é verdade. Antes e depois do treino fica a trabalhar. Contudo, por vezes, passa uma imagem que não é a correta, de não se esforçar, de pensar muito nele... Não acho que seja bem isso, mas sim a forma como ele se expõe.

Notícias ao MinutoAvançado jogou com Axel Witsel e Alexandre Pato nos chineses do Tiankin Quanjian.© Facebook

Voltando a si, a última vez que jogou em Portugal, no estádio da Luz, frente ao Benfica, não lhe deixou boas memórias. Como recorda esse jogo?

Sim, já tive duas experiências em Portugal. Uma muito boa no Porto e uma horrível em Lisboa. Na primeira, garantimos praticamente o apuramento para os oitavos de final da Liga dos Campeões, frente ao FC Porto, e na segunda, diante do Benfica, perdemos e deixámos escapar a possibilidade de seguir em frente na mesma prova. Pior que isso, falhei o penálti, algo que no Dínamo nunca tinha acontecido.

Mas esse momento menos positivo não afetou o amor pelo nosso país, calculo...

Claro que não, amo Portugal! Venho para cá todos os anos e tenho conversado com a minha família ao ponto de pensar em viver cá depois de acabar a carreira.

Há cerca de dois anos falou-se do interesse do Sporting. Houve, de facto, essa possibilidade?

Sim, ligaram-me algumas pessoas para falarmos sobre isso, inclusive há bem pouco tempo atrás voltaram a fazê-lo, mas nunca tive uma proposta concreta. 

Voltar a jogar ao lado do seu irmão, Bruno Moraes, ainda é um sonho?

Tivemos essa oportunidade na Roménia, mas apenas durante três meses. Foi um sentimento engraçado, pois estávamos preocupados um com o outro dentro de campo. Além disso, o entrosamento era fantástico. Bastava olhar e já sabíamos o que o outro ia fazer. Fizemos muitas combinações atacantes e foi único. Sinceramente, ainda penso nisso. Agora, mais maduros, seria muito bom.

Notícias ao MinutoJúnior Moraes é irmão de Bruno Moraes, avançado que passou pelo FC Porto e que na última época vestiu a camisola do Sp. Espinho. © Facebook

Daqui a 10 anos, onde se vê?

No meio do futebol, não sei em que país nem em que função, mas no futebol. Seguramente!

O que gostava que dissessem, nessa altura, sobre o Aluísio Chaves Ribeiro Moraes Júnior?

(risos) Boa pergunta... Não gosto muito de falar sobre mim, fico meio 'travado'. Mas gostava que dissessem que tive uma carreira de sucesso e que era uma boa pessoa. 

Obrigado e boa sorte!

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