O 'Rato' que nasceu na Luz, cresceu em Alvalade e conquistou a Indonésia
Paulo Sérgio deu os primeiros passos no futebol nas escolinhas do Benfica, foi dispensado e, mais tarde, após ser cobiçado de novo pelas águias, optou pelo... Sporting. Hoje, é ídolo na Indonésia e não irá perder um segundo do dérbi.
© Instagram Paulo Sérgio
Desporto Paulo Sérgio
Quando esta noite, em Alvalade, Sporting e Benfica derem o pontapé de saída no escaldante dérbi, do outro lado do mundo, na Indonésia, estará um jogador português a acordar de madrugada (02h30, mais precisamente), apenas para assistir ao embate entre dois clubes que tem no coração.
Depois de dar os primeiros passos no clube da Luz, nas escolinhas, Paulo Sérgio completou toda a restante formação nos leões e hoje não irá perder um segundo do embate entre os dois rivais.
"É uma hora difícil, mas tem que ser. Vou estar atento a esse grande jogo. Acredito que o Benfica possa vencer. Resultado? Penso que 1-0. Se o Jonas voltar, é ele que marca", começou por dizer o extremo que atua no Bhayangkara, em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, antes de recordar as marcas que ficaram das passagens pelos dois emblemas.
"O Benfica foi o viver de um sonho, pois era o clube do coração. Estava completamente realizado, mas depois mandaram-me embora quando surgiram as equipas B. Fiquei super triste e disse que nunca mais iria jogar no Benfica se fosse chamado. Fiquei mesmo magoado. Já sobre o Sporting não tenho nada a apontar. As pessoas sabiam que eu era do Benfica e a verdade é que foram sempre fantásticas comigo. Devo tudo o que sou hoje ao Sporting porque me fez crescer como homem e como jogador e me deu a oportunidade de ter esta carreira. Passei anos valentes ligado ao clube e estou muito grato", sublinhou.
No Sporting, Paulo Sérgio brilhou ao lado de um tal menino chamado... Cristiano Ronaldo.© Facebook
A mudança para o outro lado da Segunda Circular acabou por ser bem interessante, segundo nos contou a irmã do jogador. Após ser dispensado das águias, o "Rato" - alcunha que tinha no futebol, por ser baixinho e rápido - rumou ao Vitória de Lisboa, das Olaias, até chegar ao Oriental. Foi com a camisola do clube de Marvila que o português participou num torneio que o colocou entre os alvos dos grandes clubes nacionais.
Considerado o melhor jogador, o extremo arrecadou ainda o prémio de máximo goleador e Sporting, FC Porto, Boavista e Estrela da Amadora 'correram' atrás do jovem prodígio, tal como... o Benfica.
Paulo Sérgio [à esquerda] partilhou grandes alegrias com Cristiano Ronaldo no Sporting.© Facebook
Contudo, essa mágoa do passado com o clube do coração levou-o a optar, algum tempo depois, pelos leões. No ano seguinte, já como juvenil do clube de Alvalade, Paulo Sérgio disputou a final de um torneio de formação diante do Benfica e... brilhou. Numa equipa que contava com um tal de Cristiano Ronaldo, Paulo Sérgio foi eleito o melhor jogador da prova e recebeu o troféu daquele que ainda é hoje uma das suas grandes referências: Fernando Chalana.
Extremo é hoje um ídolo no Bhayangkara e mostra-se grato e orgulhoso pela carreira construída.© Facebook
Uma carreira de desafios
Terminada a formação no Sporting, Paulo Sérgio estreou-se pela equipa principal no encontro da 4.ª eliminatória da Taça de Portugal, frente ao 1.º Dezembro, em 2003. Foi o primeiro capítulo de uma carreira de desafios. Passou depois por clubes como Académica, Belenenses, Estrela da Amadora, Desp. Aves, Portimonense, Olhanense, V. Guimarães e Arouca, teve a oportunidade de jogar em Espanha, no Salamanca, antes de experimentar o futebol cipriota, ao serviço do AEL Limassol, em 2012/13.
No entanto, as maiores aventuras estavam para chegar. Em 2014, o jogador português viajou para o Brunei para vestir a camisola do DPMM FC, clube que representou durante três temporadas, antes de voltar a fazer a mala e emigrar, há duas temporadas.
Na Indonésia, o jogador português não esconde a surpresa pelo contraste entre aquele que são os "lugares maravilhosos" e os "sítios degradantes". © Instagram Paulo Sérgio
Um ídolo na Indonésia que até é alvo... de assédio
Hoje, aos 34 anos, Paulo Sérgio cumpre a segunda temporada no Bhayangkara, da Indonésia, onde construiu um estatuto de ídolo logo na época de estreia. Além de se assumir como figura de proa - nove golos em 28 jogos - na conquista do título, o extremo foi considerado o melhor do campeonato, motivo pelo qual o clube não desistiu até conseguir a sua renovação.
"O clube está em fase de renovação, tem um bom projeto, mudou a direção e os responsáveis demonstraram um esforço enorme em criar melhores condições aos jogadores e em contar comigo. Por isso, decidi aceitar. A abordagens das pessoas é totalmente diferente do ano passado. Sinto um um carinho enorme. Até nos jogos, onde tenho sempre dois adversários a seguirem-me quase até à 'casa de banho'", explica, entre risos, fazendo revelações, no mínimo... curiosas: "As raparigas aqui, apesar de não parecer, são um pouco ousadas! Eu tento sempre aceder a todos os pedidos de autógrafos e fotografias, mas por vezes fico em situações um pouco constrangedoras."
Paulo Sérgio conquistou o título de campeão na última época e ainda foi eleito o melhor jogador da Liga na Indonésia.© Instagram Paulo Sérgio
Uma realidade verdadeiramente chocante
Quando chegou à Indonésia, Paulo Sérgio já "esperava uma realidade diferente, hábitos e costumes distintos e um futebol, naturalmente, de menor qualidade", mas a verdade é que acabou... "chocado". "Quando pesquisamos na internet por Bali, encontramos sítios maravilhosos. Mas essa é apenas a parte bonita porque a outra certamente ninguém gosta. Há sítios degradantes mesmo, muitos sujos, mas, por outro lado, as pessoas são amáveis, carinhosas, amáveis, e isso é o mais importante. No entanto, no início, ver carrinhas/bicicletas a vender comida na rua com um aspeto, enfim, horrível, custou-me imenso, pois a pobreza é enorme. Em Jacarta, por exemplo, existe a parte rica, mas quando se sai dos condomínios a realidade muda logo", lamenta.
A pobreza extrema nas ruas da Indonésia chocaram o português. Nas ruas, a comida é vendida nesta motorizadas.© Instagram Paulo Sérgio
O futebol duro e rápido em campos piores do que... a Alameda
Mesmo assim, o jogador português enaltece ainda "a ótima segurança" que existe no país e admite que a "presença da família é fundamental". Quando ao futebol, há ainda um longo caminho a percorrer. "Todas as equipas têm três jogadores estrangeiros mais um asiático e isso aumenta a competitividade da liga. Eles aqui têm um futebol muito duro e rápido, a que muitos jogadores não se adaptam, pois é extremamente exigente. Além disso, a arbitragem deixa muito a desejar. Ainda esta semana, um adversário ia-me 'arrancando' a perna, numa entrada por trás. Em qualquer parte do mundo seria cartão vermelho direto e ele nem amarelo levou", conta, obviamente bem mais bem disposto do que na altura do lance, deixando ainda um reparo às condições dos relvados.
"Há uma semanas fomos jogar a um sítio lindíssimo - para lá chegar demora horas e a estrada nem alcatrão tem - mas que o campo é incrível. Nunca tinha jogado num sítio assim, até os jardins da Alameda, onde jogava quando era miúdo, têm relvados melhores. É horrível mesmo! Quando a Federação tentar resolver este tipo de aspetos, seguramente que o futebol vai subir de patamar qualitativo", considerou.
Qualidade dos campos na Indonésia é um dos aspetos que exige uma rápida (e forte) evolução.© Instagram Paulo Sérgio
O golo marcado esta época que correu o mundo
Se a última temporada vai ficar na memória de Paulo Sérgio, esta já deixou marca na carreira do português. Há duas semanas, o extremo apontou um golaço no encontro com o Parcela, 10.º classificado do campeonato, que correu o mundo e lhe valeu centenas de mensagens. "Já no ano passado marquei alguns golos de belo efeito, de fora da área também. Felizmente, aqui, tenho-me 'enganado' com frequência", atirou, à gargalhada, admitindo que este tem lugar reservado no top-3 da carreira.
No aspeto coletivo, a revalidação do título continua a ser o principal objetivo do Bhayangkara. Apesar do 8.º lugar, decorridas sete jornadas, o clube do português está a apenas cinco pontos da liderança, ocupada pelo Persipura Jayapura. "A nível de resultados ainda não está como nós queremos. Também temos jogado em casa emprestada, a cerca de 1h40 de distância, de avião, pois o nosso estádio está em obras. Além disso, tivemos alguns jogos que podíamos ter ganho facilmente, mas vacilámos. Contudo, estamos na corrida, obviamente", frisou.
O desejo para o momento em que 'pendurar' as botas
Embora conte já com uma carreira de 15 anos no futebol sénior, Paulo Sérgio não pensa ainda no adeus. "Sinto-me em perfeitas condições! Mesmo em termos de recuperação, estou bem. Claro que tenho cuidado com a alimentação, com a preparação, o descanso e todos esses pormenores que no futebol acabam por ser determinantes, mas tenho todas as indicações que posso jogar por mais algum tempo", sublinha o jogador, de 34 anos, revelando um sonho: "Qualquer jogador tem o sonho de representar a Seleção Nacional, mas tenho plena consciência que isso está muito longe. O que eu quero é continuar a sentir-me feliz a jogar. Quando isso deixar de acontecer, páro e acabo a carreira."
A terminar, o "Rato" que nasceu na Luz, cresceu em Alvalade e conquistou a Indonésia deixa apenas um desejo para quando esse momento de 'pendurar' as botas chegar. "Espero que digam que eu sou uma boa pessoa, pela forma como jogo, como trabalho, como falo e como convivo. Não por ser ser bom ou mau jogador, mas sim por ser uma pessoa correta, respeitosa, honesta, humilde e brincalhona. Não quero ser recordado como uma estrela, apenas como uma pessoa de bem. Isso é o que tem mais valor para mim", finalizou.
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