"Nothing is impossible, my friend! Nothing!" (Nada é impossível, meu amigo! Nada!) Esta é uma das frases mais emblemáticas de Jorge Mendes, o maior empresário do mundo, que encaixa na perfeição na história inspiradora, carregada de sacrifício, crença e perseverança, de  Fábio Rodrigo Gonçalves Costa, mais conhecido por Binho Black, o ilustre cabeleireiro de dezenas de craques do futebol mundial. Dougas Costa, Matuidi, Bentancur, Soares, Talisca, Grimaldo, Cervi, Felipe, Nélson Oliveira... Enfim, a lista de estrelas é infinita e tão impressionante como o 'livro' de vida do brasileiro que agora concilia os cortes e as tesouras com uma nova área: o agenciamento de jogadores. 

"Na verdade, tudo aconteceu de forma natural. Muitos jogadores, amigos meus, falavam comigo e comentavam algumas dificuldades que tinham, quer nos clubes, quer com os próprios empresários, e eu ficava a pensar como os poderia ajudar. Essa minha vontade levou-me por esse caminho. Algumas pessoas entraram em contacto comigo, mas decidi aceitar o convite de uma pessoa, a Noelia Galeano, e começámos a trabalhar juntos", conta o barbeiro/empresário, de 38 anos, em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, explicando a sua filosofia de trabalho: "O nosso objetivo é fazer com que os jogadores apenas se preocupem em jogar futebol. Tudo o resto, é da nossa responsabilidade. Só assim eles se conseguem focar no que é importante para eles."

Binho Black em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, no seu salão, no Montijo.© Instagram binhoblack_oficial

Contudo, apesar desta nova vertente de trabalho 'colorir' ainda mais o sonho de Binho Black, é com o cabelo que... mais brilha. Dadas as muitas dificuldades vividas no seu país Natal, o brasileiro encorajou-se e em 2010 mudou-se de 'armas e bagagens' para Portugal, em busca de melhores condições de vida. Numa fase inicial trabalhou na construção civil, mas nunca baixou os braços nem desistiu do seu foco: desempenhar a sua profissão. E assim foi! "Ia para as obras e levava a máquina e a tesoura. Poderia haver algum colega a querer cortar o cabelo e então eu aproveitava. Cheguei a passar mesmo muitas dificuldades...", lembra. Pouco tempo depois, essa espécie de passatempo para 'matar' o 'bichinho' transformou-se em ocupação total, ao receber o convite para trabalhar num salão de cabeleireiro, naquele que foi o último 'degrau' antes de se fixar a solo e... virar estrela. 

Danilo (Sp. Braga) e Talisca (Besiktas) foram alguns dos primeiros clientes ilustres.© Instagram binhoblack_oficial

"Este ‘boom’ começou através do Gustavo Henrique, que jogava no Nacional e viu o meu Instagram. Gostou dos meus trabalhos e, na véspera de um jogo com o Benfica, em Lisboa, mandou-me uma mensagem a perguntar se eu poderia ir ao hotel onde estava a equipa e cortar-lhe o cabelo. Aceitei, claro, e acabei por atender também o Washington. Achei esta experiência bastante interessante e, como adoro futebol, decidi enviar mensagem ao Talisca. Apresentei-me, ele perguntou-me se poderia deslocar-me a casa dele, combinámos e lá fui. A partir daí, comecei a enviar mensagens para vários jogadores. Uns responderam, outros não… Quando dei por mim, estava a trabalhar com uma quantidade enorme de craques", explica, de sorriso nos lábios, próprio de quem não esconde a paixão pelo que faz. 

JA ARRANJEI UM BARBEIRO @grimaldo35 tmj meu irmão ahahahaha #repostsocialbarbers#schorembarbier #kids #internationalbarbers @slbenfica #barberlife #barbergang #wahlpro #tbthursday #vivabeleza #wahldetailer #juniorsantoss_oficial #wahlclippers @esporteinterativo @esporteespetacular_oficial #nasty #barbersinctv @globoesportecom @esportefantastico #barbershopconnect #barbers_soul #barberlife #barber #Repost #thebarberpost #mesnfashionpost #menshairs #barbershopconnect #bestclippersontheworld #4amfaderemix

Uma publicação compartilhada por Binho Black The Barber (@binhoblack_oficial) em 5 de Jan, 2018 às 2:59 PST

Hoje, três anos depois dessa mensagem inesquecível no Instagram, a lista de clientes do universo futebolístico é bastante extensa e recheada de amigos. "É uma profissão que me faz sentir um privilegiado e honrado. Graças a ela fiz muitas e boas amizades e juntei o útil ao agradável. Conseguir atingir este patamar da minha carreira é algo único. Ainda não me caiu a 'ficha' de como cheguei aqui. Muitas vezes, fico a pensar como tudo começou. Saí da minha pequena cidade, que eu amo imenso, depois Portugal, onde passei muitas dificuldades no início, e hoje é isto... Nunca pensei desistir e sei hoje que valeu a pena", sublinha, salientando: "Já passei tantos bons momentos graças à barbearia! Amigos como o Soares, por exemplo, que conheço desde os tempos em que ele jogava no Nacional. Vou muitas vezes ao FC Porto, fico na casa dele, conversamos, brincamos, é fantástico! Sinto-me um sortudo por poder viver tudo isto."

A forte amizade com Tiquinho Soares permitiu ao brasileiro colocar a sua arte em prática no cabelo de outro jogador do FC Porto: Felipe.© Instagram binhoblack_oficial

O dia em que Douglas Costa se rendeu à sua arte

Com a vinda da Juventus a Lisboa, para defrontar o Sporting na Liga dos Campeões, Binho Black anexou mais alguns nomes ao seu vasto 'palmarés'. "Surgiu a oportunidade de ir ao hotel onde a equipa estava para cortar o cabelo a alguns jogadores. Um era o Douglas Costa. Pediu-me para fazer um corte, mostrou-se na internet o que queria e eu perguntei se poderia fazer um pouco diferente, pois achava que ia ficar melhor. Ele disse: 'Ok, confio em ti!' Quando me disse isso, eu pensei: 'Isto é uma grande responsabilidade!' Felizmente, correu bem. Cortei à maquina de lado, fiz um risco ao lado e ele gostou bastante, até porque nunca tinha feito e a verdade é que passou a usar até agora", conta, entre risos. 'Conquistado' o internacional brasileiro, Bentancur, Asamoah e Matuidi também aproveitaram para melhorar a sua imagem às mãos de Binho Black. Menos sorte tiveram Dybala e Higuaín que, apesar da vontade de experimentar os serviços do cabeleireiro... já não tiveram tempo.

Binho Black teve a oportunidade de cuidar da imagem de alguns jogadores da Juventus, antes do embate com o Sporting, para a Champions, nomeadamente Douglas Costa.© Instagram binhoblack_oficial

Do inferno ao estrelato

Porém, a felicidade com que recorda todo este caminho contrasta com as imensas dificuldades vividas na juventude. Natural de Lorena, uma pequena cidade do estado de São Paulo, Binho Black teve que sofrer (e muito) para sobreviver. "Eu morava numa pequena favela e foi lá que comecei a passar a máquina, mas nada de especial. Quando voltei para casa dos meus pais, no interior, um amigo pediu-me para lhe cortar o cabelo. Eu disse que sabia passar a máquina, mas nada mais. Então, ele disse-me: 'Experimenta a cortar com a tesoura por cima. Se ficar mal, passas a máquina em tudo.' E assim foi. Passei na casa da minha tia, que me emprestou os materiais, e cortei-lhe o cabelo. O resultado até foi tão bom que ninguém queria acreditar. Na altura, eu estava desempregado. Foi aí que tudo começou", recorda, num tom nostálgico, antes de explicar o passo seguinte.

"Tinha quatro reais no bolso. Passei numa loja de madeiras e comprei uma tábua. Depois, fui a uma loja de tintas e comprei uma lata de tinta e um pincel. Cheguei a casa da minha tia e escrevi: 'Corta-se cabelo. Dois reais.' A partir comecei a cortar um esta semana, outro na próxima, sempre na casa da minha mãe, na sala, com os materiais da minha tia. No entanto, como tirava muita privacidade aos meus pais, coloquei uma cortina no meu quarto, dividi-o e passei a cortar lá. Com o pouco que ia ganhando, consegui construir um pequeno anexo à frente da minha casa. Fui ao ferro velho, comprei cimento, tijolos, uma porta e uma janela e lá construímos. Foi esse o meu primeiro salão. É algo que me deixa mesmo muito orgulhoso", vincou.

Rúben Ribeiro (Sporting) é um dos clientes mais recentes de Binho Black.© Instagram binhoblack_oficial

O cliente mais desejado chama-se...

Extremamente feliz e grato com todo este fenómeno, Binho Black sente-se totalmente concretizado, mas não esconde que ainda tem alguns sonhos por concretizar e uns clientes para anexar à lista. O mais desejado chama-se... Cristiano Ronaldo. "Seria fantástico poder tê-lo no salão, cortar-lhe o cabelo e, mais tarde, olhar para a televisão e dizer: 'Fui eu que fiz este corte ao melhor do mundo!' Se isso não for possível, adoraria conhecê-lo, claro", admite o cabeleireiro, confessando que o compatriota Neymar também seria, obviamente, muito bem recebido.

A dupla do V. Setúbal, Patrick Vieira e Nenê Bonilha, também já transformou a relação profissional com o cabeleireiro numa grande amizade. © Instagram binhoblack_oficial

Solidariedade para com os que mais precisam

O crescente sucesso profissional trouxe a Binho a capacidade para ajudar os que mais precisam. Sempre às suas origens humildes, o cabeleireiro não perde a oportunidade para servir de exemplo ao mais novos no Brasil. "Tenho dado formação a vários profissionais da área. É uma tarefa que me deixa bastante realizado, pois estou a contribuir para algo que nunca tive, que é o ensino. Sempre aprendi tudo sozinho", garante, revelando: "Sinto que as pessoas da minha cidade lá gostam imenso de mim e eu tento ao máximo contribuir para o seu bem-estar. Já enviei equipamentos, luvas, botas e uma série de outros materiais para que os miúdos possam jogar futebol e livrar-se de outro tipo de caminhos." As visitas a hospitais, onde corta o cabelo a alguns doentes, são também outra preocupação do brasileiro que, em breve, será homenageado na sua cidade, com a criação de um torneio de futebol com o seu nome. 

Nélson Oliveira (Norwich) aproveitou a passagem por Portugal para se cuidar no salão de Binho Black.© Instagram binhoblack_oficial