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Yu Hua, o dentista que se tornou num escritor de sucesso mundial

O aclamado escritor chinês Yu Hua, que acaba de lançar a segunda obra em Portugal e vendeu já milhões de livros em todo o mundo, dedicou-se à literatura porque "estava farto" de ser dentista.

Yu Hua, o dentista que se tornou num escritor de sucesso mundial
Notícias ao Minuto

10:27 - 22/04/18 por Lusa

Cultura Literatura

"Detestava o meu emprego", recorda à agência Lusa o autor de "China em dez palavras", publicado esta semana pela Relógio d'Água. "Estava farto de passar oito horas por dia e seis dias por semana a olhar para a boca dos outros", diz.

Nascido em 1960, na província de Zhejiang, leste da China, Yu Hua vendeu já mais de dez milhões de livros em todo o mundo e foi traduzido para 35 línguas. Em Portugal, publicou também "Crónica de um vendedor de sangue", no ano passado.

Mas foi a busca por um estilo de vida mais descontraído que atraiu Yu para a literatura.

No final dos anos 1970, quando a China se começava a libertar da ortodoxia maoista, cabia ainda ao Governo estipular qual a profissão de cada chinês. A Yu Hua calhou ser dentista.

"Nem sequer tinha experiência na área, só depois recebi formação", revela.

Durante cinco anos, Yu Hua trabalhou "no duro", enquanto observava os funcionários do gabinete de Cultura da sua cidade a "levarem uma vida bem mais relaxada".

"Via-os na rua, a passear; pareciam sempre desocupados, e sentia enveja", recorda.

Para conseguir ser transferido para aquele departamento, porém, Yu tinha que publicar trabalho literário.

"Foi assim que enveredei pela literatura", lembra. "Não tinha grande ambição, mas continuei a escrever e ganhei-lhe o gosto".

Em 1983, o seu primeiro conto saiu numa revista literária de Pequim. Pouco depois, Yu foi transferido para o gabinete de Cultura da província de Zhejiang.

"Nunca pensei que um dia publicaria um livro em Portugal", admite. "Sou um homem com sorte".

Entre os escritores estrangeiros que mais admira, o autor destaca Yasunari Kawabata, Franz Kafka, Gabriel Garcia Marquez e Alain Robbe-Grillet.

Mas é Lu Xun, considerado o pai da literatura chinesa moderna, o seu escritor de eleição, e uma das palavras-chave que escolhe para explicar a China, na obra editada esta semana em Portugal.

Povo, Líder, Ler, Escrever, Revolução, Desigualdade, Pirataria, Raiz-de-erva e Aldrabar completam "China em Dez Palavras", livro que explora, em curtos ensaios baseados nas memórias de Yu Hua, as rápidas mudanças ocorridas no país desde a Revolução Cultural até ao início do século XXI.

O seu livro mais conhecido, porém, é "Viver", que foi adaptado pelo realizador chinês Zhang Yimou para um filme distinguido, em 1994, com o Grand Prix, o segundo prêmio mais importante do Festival de Cannes.

Yu Hua nasceu numa época em que o experimentalismo maoista, sobretudo o Grande Salto em Frente e a Revolução Cultural, uma radical campanha política de massas, causaram dezenas de milhões de mortos e afundaram a China no caos.

As suas obras oferecem descrições brutais da violência daquele período e da espetacular transformação económica que se seguiu, num estilo que não agradará às autoridades do país.

"China em dez palavras", por exemplo, não foi publicado na República Popular, mas antes em Taiwan, que funciona como uma entidade política soberana.

Yu Hua admite: "O Partido Comunista Chinês não gosta de mim". Mas não parece preocupado: "Já passei por pior; lembro-me de pais de amigos meus a suicidarem-se, serem presos ou fugirem", recorda sobre a Revolução Cultural (1966-1976).

"Nessa altura, vivíamos permanentemente com medo".

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