"Manuel Reis soube antecipar e concretizar apelos de uma cidade moderna"
O empresário Manuel Reis, de 71 anos, que morreu no domingo, foi um empreendedor de talento, ao qual "uniu a capacidade de mudar, inovar e realizar projetos com ousadia e com sensibilidade", afirma o Governo.
© Global Imagens
Cultura Castro Mendes
O ministro da Cultura, Luís Filipe de Castro Mendes, numa nota de pesar emitida hoje, afirma que, "recordado pelos amigos como um 'príncipe de Lisboa', Manuel Reis soube, desde a década de 1980, antecipar e concretizar os apelos de uma cidade moderna e em constante mudança".
"Ao talento, Manuel Reis uniu a capacidade de mudar, inovar e realizar projetos com ousadia e com sensibilidade, que deixam uma marca viva na nossa capital. Ficamos também a dever-lhe essas obras", escreve Castro Mendes.
O ministro refere que a discoteca Frágil, no Bairro Alto, e o Lux-Frágil se afirmaram "como espaços fundamentais da noite lisboeta, mas também como polos culturais importantes para o encontro de artistas e intelectuais de todo o país".
O empresário Manuel Reis iniciou-se como antiquário, no Bairro Alto, em Lisboa, e inaugurou, em 1982, a discoteca Frágil e o restaurante Pap'Açorda, ambos no Bairro Alto. Em 1998, abriu portas a discoteca Lux-Frágil, em Santa Apolónia, junto ao rio Tejo.
Rive-Rouge, no mercado da Ribeira, ao Cais do Sodré, foi o último espaço que inaugurou, em 2016.
Joana Stichini Vilela e Pedro Fernandes, autores do livro "LX 80", afirmam que Manuel Reis foi o grande responsável pela mudança de hábitos no Bairro Alto.
Manuel Reis inicia o percurso em "março de 1974, [com] uma loja pequeníssima no 33 da travessa da Queimada, e acaba a orquestrar uma nova forma de estar, com amigos que chama e outros que atrai". "Das antiguidades com a Loja da Atalaia à restauração com o Pap'Açorda; da moda com a Jónatas à meca da noite alfacinha, o Frágil. Por outras palavras: casa, comida, roupa -- e diversão", afirmam.
Os autores descrevem Manuel Reis como "tímido, avesso a entrevistas", tendo cultivado "uma aura de distância e discrição".
"Os que o rodeiam adjetivam-no com substantivos: 'líder', 'mito', 'Papa', 'Jedi'. Na verdade, mais do que as palavras que pudesse proferir nas centenas de entrevistas que recusará, é a cidade que encetou e burilou o seu principal testemunho", lê-se na mesma obra.
As exéquias do empresário realizam-se na terça-feira à noite, no Teatro Thalia, às Laranjeiras, em Lisboa.
"Foi hoje, em Lisboa, a cidade que ele escolheu. A cidade que agora se despede de um dos seus maiores inventores. O Manuel fez maior esta cidade, o nosso mundo e as nossas vidas também", afirmou o Lux-Frágil, no domingo à noite, no comunicado sobre a morte do empresário.
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