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Artesanato e design moderno juntos em exposição para salvar tradições

O Museu de Arte Popular inaugura hoje uma exposição com peças de design contemporâneo, inspiradas pelo artesanato e técnicas ancestrais das Aldeias de Xisto, criadas com um olhar no futuro, para preservar as tradições e o desenvolvimento rural.

Artesanato e design moderno juntos em exposição para salvar tradições
Notícias ao Minuto

15:38 - 22/03/18 por Lusa

Cultura Museu

A exposição 'Agricultura Lusitana. 2015-18. Craft+Design+Identidade', que está patente até dia 20 de dezembro, nasce da preocupação de preservar o património cultural, explicou hoje aos jornalistas o diretor do Museu de Arte Popular, Paulo Costa, especificando que o projeto envolveu mais de 150 artesãos de aldeias de todo o país.

Integrada no projeto 'Agricultura Lusitana 2015-18' e enquadrada na programação da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), a propósito do Ano Europeu do Património Cultural, a exposição é uma iniciativa da rede das Aldeias do Xisto, projeto de desenvolvimento sustentável, de âmbito regional, liderado pela ADXTUR - Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto.

"Um dos sentidos da exposição foi dar a conhecer o projeto e mostrar como o trabalho no design e no 'craft' se pode traduzir em desenvolvimento rural", disse Paulo Costa.

A ideia é usar perspetivas e técnicas ancestrais, projetá-las para o futuro e trazê-las para a contemporaneidade, ou seja, "pensar o presente como construções de futuro" para valorizar o património rural e preservar "tradições ameaçadas", acrescentou.

Outro dos objetivos é interpelar o público sobre alguns dos desafios que se colocam atualmente às comunidades das Aldeias do Xisto, sobretudo numa altura em que as populações recuperam dos incêndios que assolaram a região Centro no ano passado, esclareceu.

A exposição apresenta-se organizada em três núcleos temáticos: uma primeira sala que apresenta a terra, os artesãos e o trabalho por eles desenvolvido, através de mapas, fotografias e instrumentos de trabalho; uma segunda, onde estão expostos trabalhos resultantes de projetos de investigação de professores e alunos universitários; e uma terceira ala, com projetos de design de 22 ateliers de 'craft' e artesanato.

Na primeira sala, é possível encontrar, por exemplo, instrumentos de trabalho tradicionais como um conjunto de enxadas, emprestadas - e devidamente identificadas -- por agricultores, em uso nas aldeias de xisto, um painel de fotografias dos "guardiães das aldeias, as pessoas que garantiram que chegava até nós o seu legado", ou um arado - único exemplar na coleção, das 66 do Museu de Etnologia -- que era puxado por pessoas e era usado em talhões muito pequenos, e que foi recolhido em Pampilhosa da Serra, em 1964, explicou Rui Simão, coordenador da ADXTUR.

O segundo núcleo é dedicado ao trabalho feito por nove universidades e politécnicos, em nove cidades, e que apresentam peças contemporâneas feitas por alunos, inspiradas pelas tradições.

A ideia da ligação às escolas foi "chamar jovens designers portugueses para inventarem novos objetos ou reinventarem outros já existentes", disse João Nunes, curador da exposição.

Algumas dessas peças são um conjunto de cozinha, que consiste numa panela de chanfana inspirada na sobreposição das pedras das aldeias de xisto, máscaras de cortiça, dois bancos inspirados nas tripeças que existiam nas cozinhas, um em latoaria, inspirado nos assadores de castanhas, e outro em madeira e linho, cuja superfície reproduz um desenho de Fernando Galhano, considerado um dos melhores desenhadores etnográficos.

Na mesma sala, duas estudantes da Universidade de Aveiro apresentaram também o seu projeto, de inspiração na agricultura medicinal, que partiu, não da técnica ou do objeto, mas do conhecimento das pessoas, que antigamente usavam as plantas que "tinham ao alcance" para se curarem.

O resultado foi uma série de óleos, pomadas, infusões e xaropes feitos com plantas da região das aldeias de xisto, um almofariz em madeira - com a inscrição "quem bem se cura, muito dura" - e pilões de pedra.

O último núcleo da exposição junta peças de artesanato tradicional, como a cestaria, uma tradição perto de se perder, ou as escadas, feitas a partir do castanheiro, sem o matar, com peças de design moderno concebidas por 22 ateliers, entre as quais se encontram botas inspiradas nas socas, mas com recurso à técnica agrícola da enxertia, capas de burel que resgatam a tradicional capucha, ou peças de joalharia contemporânea, em prata, baseadas nas dedeiras que as ceifeiras usavam para proteger os dedos.

Rui Simão destacou que estas peças "remetem para o que era o país não há muito tempo atrás, e evocam também o abandono do interior do país, o seu despovoamento", deixando um apelo: "É preciso conhecer o território não só geográfico, mas social, cultural, da prática da vida e dos seus ritmos".

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