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'Portugal à Lei da Bala' faz a História da violência política no sec. XX

O livro 'Portugal à Lei da Bala' de Luís Marinho e Mário Carneiro apresenta uma extensa cronologia dos períodos de violência política e conclui que os portugueses são um povo de brandos costumes, mas com "períodos de exceção".

'Portugal à Lei da Bala' faz a História da violência política no sec. XX
Notícias ao Minuto

19:03 - 16/03/18 por Lusa

Cultura Literatura

"O que nós fizemos foi um levantamento ao longo do século XX porque achámos quer era interessante perceber quais foram os períodos mais violentos e fazer uma cronologia dos factos", disse à Lusa o jornalista Luís Marinho, um dos autores do livro.

Luís Marinho refere que alguns períodos estão bem estudados - sobretudo os que dizem respeito ao regicídio (1908), o assassinato do presidente Sidónio Pais (1918) e a luta contra o Estado Novo - mas sublinha que há outros momentos sobre os quais "há algum mistério" como por exemplo a "Legião Vermelha" que aparece nos anos 1920 e que tem uma forma de atuar verdadeiramente "terrorista".

"Há atentados contra vidas humanas, nomeadamente forças de segurança e empresários, o que faz às vezes lembrar as atuações das FP-25 (Forças Populares 25 de Abril) nos anos 1980. Parece que há um certo paralelismo que é interessante", explica.

O livro refere que o termo "terrorismo" foi inicialmente aplicado ao poder do Estado saído da Revolução Francesa, concretamente ao período que ficou conhecido como 'Reino do Terror' (1793-94) de Robespierre.

Para Luís Marinho, "em termos de registo de alguma violência organizada" em Portugal destaca-se o final dos anos 1960 e o início dos anos 1970 com o aparecimento da LUAR (Liga de Unidade e Ação revolucionária) e das Brigadas Revolucionárias (BR).

'Portugal à Lei da Bala -- Terrorismo e violência política no século XX', à venda a partir de hoje, incluiu uma entrevista a Carlos Antunes em que o antigo operacional das Brigadas Revolucionárias - grupo que entre 1971 e 1974 desencadeou ações contra alvos militares - explica os motivos que o levaram a ação armada.

"Não era com papéis -- jornais, comunicados, etc. -- que se derrubava o regime. O sentimento dos oposicionistas ao regime era de que era necessário algo mais. E nós somos a consequência disso mesmo", diz o ex-operacional aos autores do livro.

"O Carlos Antunes diz claramente que a forma como as Brigadas Revolucionárias atuaram não era uma forma terrorista. Rejeita o termo terrorista porque houve sempre um grande cuidado para não haver vítimas. O que é verdade: houve de facto alguns acidentes, mas não se verificaram ataques deliberados para matar pessoas", explica Luís Marinho.

Por comparação, refere o jornalista, a situação na Europa e em Portugal, ao longo de décadas, tem alguma semelhança em determinadas épocas, mas a situação não é sempre constante.

"No inicio do século XX há uma vertente política que Portugal também regista, mas não com as mesmas formas com que se verificou em alguns países da Europa, nomeadamente em Espanha ou em França, onde os movimentos anarquistas se revelaram mais violentos, em atentados indiscriminados", diz Luís Marinho acrescentando que há fenómenos nacionais que vão conhecendo modificações ao longo dos tempos.

"A Carbonária, por exemplo, cumpriu uma missão e a seguir à queda da monarquia esvaiu-se. Assume outra formas, em fações dos republicanos, nomeadamente na fação de Afonso Costa e no aparecimento da chamada "Formiga Branca" porque era uma espécie de um exército particular do Partido Democrático, de Afonso Costa e desaparece de vez quando se verifica a ditadura, a partir de 1926", refere o jornalista.

O livro termina com factos e o surgimento de movimentos políticos armados após o 25 de Abril de 1974: o Exército de Libertação de Portugal (ELP), criado em 1975 e que "teve dois estrangeiros como fundadores" e elabora uma cronologia de todos os atentados levados a cabo pelo grupo de direita.

Os anos 1980 são marcados pelas ações das FP-25, responsáveis por 13 vítimas mortais entre 1980 e 1986.

"As FP-25 são muito provavelmente a organização terrorista que ocorre à memória da generalidade dos portugueses que vasculham a história e as suas lembranças, em retrospetiva, sobre o tema do terrorismo nacional", escrevem os jornalistas no livro que termina com o assassinato de Evo Fernandes, antigo secretário-geral da RENAMO em 1988, cujo corpo é encontrado entre a Malveira e Colares, em Sintra.

O livro segue e organiza as especificidades e as circunstâncias políticas que acompanham o século XX e que foram desaparecendo em Portugal e na Europa.

"Eu penso que há vários fenómenos a estudar: Por um lado, a União Europeia teve um papel importante através da tentativa uniformização económica e há um movimento económico que gera uma evolução da democracia. Apesar de ainda se verificar pobreza e desníveis sociais esses movimentos políticos acabaram e agora o que temos são fenómenos que vêm de fora através da religião e que não estão relacionados com a raiz da cultura europeia, mas que também afetam a vida da Europa e não só", conclui o jornalista.

Luís Marinho, jornalista, é autor dos livros 'Operação Mar Verde' e '1961 - O ano horrível de Salazar'; escreveu anteriormente com o jornalista Mário Carneiro os livros '1974 - O ano que começou em Abril' e '1975 -O ano que começou em Novembro'.

'Portugal à Lei da Bala -- Terrorismo e violência política no século XX', de Luís Marinho e Mário Carneiro (Temas e Debates / Círculo de Leitores, 476 páginas) incluiu fotografias, notícias e cronologias.

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