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"Quero ser aquele artista que todos respeitam, mesmo os que não gostam"

Aos 21 anos, Fernando Daniel lança o seu primeiro álbum, 'Salto', esta sexta-feira. Em conversa com o Notícias Ao Minuto, o jovem fez algumas revelações sobre as maiores inspirações que influenciaram este trabalho.

"Quero ser aquele artista que todos respeitam, mesmo os que não gostam"
Notícias ao Minuto

12:00 - 16/03/18 por Rita Alves Correia

Cultura Fernando Daniel

Foi o vencedor do ‘The Voice’ em dezembro de 2016, depois de ter protagonizado a melhor prova cega das versões internacionais desse ano. O sucesso bateu à porta de forma inesperada, mas não o assustou. Aos 21 anos, Fernando Daniel prepara-se agora para ganhar asas com o primeiro álbum, ‘Salto’, com lançamento marcado para esta sexta-feira.

Em conversa com o Notícias Ao Minuto, o jovem falou do curto, porém intenso, percurso e das maiores inspirações que marcaram a receita deste que é o seu primeiro trabalho.

A pressão causada pelo favoritismo do público durante o programa da RTP, as dificuldades passadas na infância e as polémicas relacionadas com as acusações de plágio durante o Festival da Canção foram alguns dos temas que dominaram a conversa com o jovem natural de Estarreja.

Tudo começou… no chuveiro. Cantar sempre esteve presente na sua vida?

Nem sempre, primeiro tive o sonho do futebol. Mas depois percebi que a minha vida passava por outra coisa e talvez fosse a música. E, lá está, cantava no chuveiro e gostava. Até que depois comecei a cantar em público e as pessoas gostavam e comecei a levar isto mais a sério. Concorri a alguns programas de talentos, levei 'nãos', mas achei que se calhar não era a altura certa ou talvez eu não estivesse à altura do programa. Trabalhei, cantei mais vezes no chuveiro, cantei em bares, tentei estar ao melhor nível para depois ganhar.

O que o motivou a participar uma terceira vez quando já tinha recebido esses 'nãos'?

Sou muito persistente, muito teimoso. Às vezes as pessoas dizem-me que não, mas se não me apresentarem justificações vou achar que me estão a despachar. Nunca me disseram que não cantava bem. Era novo, a minha voz estava a mudar. Fui para casa, trabalhei,  e acho que foram esses 'nãos' que me deram força.

A ‘prova cega’ que interpretou foi considerada a melhor das versões internacionais em 2016. Como descreve a noite em que o programa foi para o ar?

Estávamos a gravar outra etapa do ‘The Voice’ [as batalhas] e lembro-me que toda a gente estava eufórica e me deu os parabéns. Para mim, foi uma audição normal. Nessa noite fui dormir, adormeci a ler os tweets, os comentários no Facebook… Na manhã seguinte fiz o mesmo e vi um vídeo no Twitter que já tinha 50 mil partilhas. Fiquei mesmo: ‘O que é que se está a passar?’. Fui ao YouTube do ‘The Voice’ e vi que havia uma discrepância enorme de visualizações entre mim e os outros concorrentes daquele dia. Depois recebi propostas de entrevistas vários jornais internacionais e de repente vejo o meu nome a ganhar uma força muito grande.

Quando eu ia à rua as pessoas diziam-me: ‘Tu vais ganhar, ninguém está à tua altura’. Ao dizerem-me isso não me davam margem para falhar A primeira atuação deixou as expectativas do público bastante altas. Foi fácil gerir essa pressão gala após gala?

Não foi fácil. Teve mais vantagens do que desvantagens, mas uma das desvantagens foi essa pressão. Quando eu ia à rua as pessoas diziam-me: ‘Tu vais ganhar, ninguém está à tua altura’. Às vezes isso não me caía bem como devia. Ao dizerem-me isso não me davam margem para falhar. Por vezes ia-me abaixo.

A adesão das pessoas fê-lo sentir o favorito entre os concorrentes?

Sim, porque comecei a perceber que as pessoas apostavam mim. Mas sou sincero, nunca quis ser apontado como tal. Porque de certa forma sentia que os meus colegas me olhavam um pouco de lado.

Por norma, já sou uma pessoa introvertida. Isso juntamente com o facto de as pessoas verem que toda a gente me elogiava criou uma distância entre mim e outros concorrentes com quem até gostava de me ter aproximado.

A partir do momento em que percebo que é impossível agradar a todos, pensei: 'Vou deixar de cantar para as pessoas e vou começar a cantar para mim'Chegou também a confessar que tentou agradar a todos…

Sim, tentei agradar a toda a gente no sentido de cantar músicas que iam ao encontro do que as pessoas queriam ouvir. Mas a partir do momento em que percebo que é impossível agradar a todos, pensei: ‘Vou deixar de cantar para as pessoas e vou começar a cantar para mim’. E quando tomei essa decisão começaram a gostar ainda mais de mim.

E ganhou… Recorda-se do que pensou quando soube que era o vencedor do ‘The Voice’?

Perfeitamente. Mal ouvi o meu nome, senti as minhas pernas a falhar. Só dizia para mim: ‘Não acredito’. Tinha lá a minha família do Luxemburgo que veio para me ver. Tenho gravado o sketch da Catarina Furtado a anunciar o meu nome e quando estou mais em baixo vou rever para ganhar aquele ‘up’.

Apesar de ser novo, acho que sou uma pessoa madura. Sei bem aquilo que quero, tenho a cabeça no lugarPara um jovem de tão tenra idade, como foi lidar com tamanho sucesso?

Eu era o mais velho dos quatro finalistas, não senti que a minha idade fosse ‘uau’. Lidei bem [com o sucesso]. Apesar de ser novo, acho que sou uma pessoa madura. Sei bem aquilo que quero, tenho a cabeça no lugar.

Foi vencedor do programa em dezembro de 2016 e lança agora o primeiro álbum. Porque é que agora é o momento certo?

Agora é a altura certa porque a brasa ainda está morna e acho que posso aproveitar isso. De todos os concorrentes de programas, acho que consegui ser o mais rápido. Isso também demonstra que quero muito isto.

Primeiro quero cantar na minha língua. Não digo que num futuro próximo não cantarei em inglês, mas agora quero conquistar o meu paísLançou dois singles, ambos em português. Cantar na língua materna faz parte do seu ADN enquanto artista?

Tenho muitas pessoas a dizer que devia cantar em inglês. Eu concordo e discordo: Por um lado chegaria a mais pessoas, por outro ainda não tenho estofo. Não posso estar a armar-me em vedeta. Primeiro quero cantar na minha língua, na língua que aprendi a expressar-me. Não digo que num futuro próximo não cantarei em inglês, mas agora quero conquistar o meu país.

O disco chama-se ‘Salto’. Este trabalho simboliza a sua rampa de lançamento?

Sim, totalmente. Quero passar de um artista de ‘covers’, que canta em bares, que concorreu a um programa, para algo sério, para o Fernando Daniel enquanto artista. Tentei também na capa retratar alguém que está a saltar com ambição. Quando as pessoas ouvirem o meu nome quero que associem a alguém lutador.

A maior parte das músicas é da sua autoria, retratam a sua história. É-lhe fácil expor as emoções?

Sim, porque não retrato diretamente o que se passa comigo. Adapto mecanismos para falar de uma forma mais geral. Não tenho problemas nenhuns em falar de relações que tive e que tenho. Inspirei-me em várias coisas, nos meus pais, nas minhas irmãs… Os meus pais estão divorciados e houve certos confrontos de opiniões entre um e outro. Fui retendo tudo e analisando as coisas à minha maneira. A única coisa que não quero que aconteça, e se acontecer quero que ponham um travão, é falar diretamente disso.

Os fãs vão encontrar o mesmo Fernando Daniel do ‘The Voice’? O que é que o público pode esperar deste álbum?

O público pode esperar um Fernando Daniel mais maduro, com mais ambição, mais vontade de ser alguém na música. Já que estou aqui, agora quero mesmo ser alguém. E muitos concertos, já tenho perto de 50 datas acordadas.

O ano passado participou no Festival da Canção, a convite do maestro Nuno Feist. É um fã do festival?

Já fui mais, depois deixei e voltei a ser. Muitas das pessoas ‘estragavam’ o festival com críticas que não tinham nada a ver. O facto de levarem pessoas que, na minha opinião, não eram as melhores para representar o país também me afastou do festival.

Se não fosse o Nuno a convidar-me talvez não tivesse aceitado. Acho que não estava preparado. Mas aceitei pela honra que seria cantar uma música dele.

Plágio? Isso é só estúpido. Como alguém já dizia, a música não é infinita. É mesquinho da parte das pessoas

Como tem reagido às recentes polémicas que têm vindo a público relacionadas com o festival, nomeadamente sobre as acusações de plágio?

Isso é só estúpido. Como alguém já dizia, a música não é infinita. É mesquinho da parte das pessoas. No caso do Diogo [Piçarra], tínhamos uma música super bonita, com muita capacidade para representar Portugal. O ‘Jardim’ também está ótimo. Mas via na música do Diogo uma música que nos faria chegar longe na Eurovisão. As pessoas foram tão invejosas que acabaram por destruir o sonho de uma pessoa. Se fosse comigo, faria o mesmo do que ele.

Também desistiria?

Sim, a partir do momento em que estou a representar o meu país e o país desconfia da minha composição... Estou a dar o meu coração e o país não está a merecer aquilo que estou a fazer. Iria retirar-me e não tinha de dar justificações a ninguém. Acho que ele fez muito bem.

Este tipo de questões amedrontam-no enquanto artista musical?

Sim, tenho de ser sincero. Com o tema ‘Espera’ as pessoas começaram a dizer que era igual [a outras canções]. Não é igual, tem algumas parecenças com outras músicas. O início dessa canção era igual a uma dos One Republic e estive horas no estúdio a mudá-lo.

Gosto de estar na minha terra porque faz-me ter os pés no chãoÉ importante estar sempre ciente das origens?

Gosto de estar na minha terra porque faz-me ter os pés no chão. Isso faz-me sentir: ‘Ok, mantém-te humilde, mantém-te quem tu és. Sê ambicioso, mas não derrubes ninguém sem ser com o teu trabalho’.

Com um início de carreira marcado por tanta popularidade, é fácil para as pessoas mais próximas lidarem com o seu êxito?

Não é, é um bocado difícil. Os meus familiares tinham os perfis de Facebook públicos e pedi para que pusessem privados para manter a nossa privacidade. É bom para mim e é bom para eles.

A proximidade com os fãs alimenta-se muito através das redes sociais. Considera esse contacto essencial para se manter ‘vivo’ na memória do público?

Acho fundamental. Acho que já é demasiado treta um artista masculino não poder fazer sucesso porque tem namorada. Isso dá a imagem de que as mulheres são obcecadas por homens solteiros. Por ter namorada não significa que não possa ter fãs. Ela [a companheira] aceita bem e uma coisa não impede a outra. É fundamental alimentar as redes sociais.

Uma boa rede social faz meio artista. Manter as pessoas informadas é meio caminho andado para o sucesso ser constante

Isso também faz um artista?

Sim, e já disse isso anteriormente. Uma boa rede social faz meio artista. Manter as pessoas informadas é meio caminho andado para o sucesso ser constante.

A infância foi marcada por alguns episódios bastante fortes, nomeadamente o acidente do seu pai, quando o Fernando tinha apenas 10 anos, e o divórcio dos pais. Foi preciso ser sonhador a dobrar para tentar ultrapassar essas experiências?

Lembro-me perfeitamente de que quando o meu pai ficou em coma, eu olhava para ele com uma certa pena e pensava que se aquilo continuasse assim, se eu tivesse de abdicar da música para trabalhar num supermercado ou ter dois trabalhos ou três, eu faria. Além de querer ser músico, tenho muito o sonho de poder dar à minha família uma vida sem preocupações. Os meus pais não me puderam dar isso, não por culpa deles, mas por culpa da vida.

O meu pai teve um enfarte recentemente e não foi fácil de gerir. Já estava a gravar [o disco] e disse à minha editora que não conseguia, porque primeiro estava a minha família. Os médicos dizem que o meu pai vive só com 40% do coração a trabalhar e hoje em dia vivo com essa preocupação. Sempre que posso vou ter com ele, porque não sei o dia de amanhã. Essas experiências foram uma inspiração para este álbum.

Considera-se um romântico?

Sim e às vezes lamechas. Às vezes acabo por ser eu a mulher da relação porque eu é que peço as surpresas. Eu faço as surpresas e, de vez em quando, gosto de ser mimado. Gosto de jantar à luz das velas, de serenatas, de um fim de semana fora.

Eu sei que é sonhar demais, mas gostava de encher estádios e coliseus

Aos 21 anos, quais os maiores objetivos que tem traçados?

No que toca à música, quero ter um nome em que, mesmo que eu morra, as pessoas continuem a ouvir a minha música. Eu sei que é sonhar demais, mas gostava de encher estádios e coliseus. A nível pessoal, quero muito ser pai - agora não porque estou a começar a carreira e tenho de a solidificar. Mas é isso, ser aquele artista que todos respeitam, mesmo os que não gostam.

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