O espetáculo volta ao palco da casa que acolheu a estreia, o Teatro da Cerca de São Bernardo (TCSB), e com dois terços do elenco renovados, face às características do GEFAC, grupo maioritariamente constituído por estudantes do ensino superior de Coimbra.

Dos alunos que participam, "pouco menos de metade" são estudantes internacionais, vindo de países como o Irão, Turquia, Argentina, Alemanha ou Itália, disse o coordenador geral do "De Novo Mar", Vasco Nogueira, em conferência de imprensa no TCSB.

O espetáculo estreou no âmbito dos 50 anos do GEFAC, em 2017, com o intuito de se debruçar sobre a memória, não como uma espécie de "elogio" ao grupo, mas como uma reflexão "sobre as diferentes dinâmicas da memória" e de qual "o papel da memória nos dias de hoje", disse Vasco Nogueira.

"A memória é uma âncora necessária, mas um barco, mais tarde ou mais cedo, tem de zarpar. Se a memória se tornar numa amarra deixa de perder sentido", notou.

O património cultural dos Açores acabou por ser uma escolha óbvia para servir de base ao espetáculo, explicou.

Por um lado, é um arquipélago onde se "sente de forma aguda as partidas e os regressos" e a relação entre o apego à terra e "a necessidade de sair para depois regressar". Por outro lado, nos Açores, as festas do Espírito Santo permanecem, apesar de terem sido banidas do continente "por terem sido consideradas pouco ortodoxas ao concederem ao povo e a quem trabalha a capacidade de mandar".

Bebendo das recolhas musicais de etnomusicólogos como Ernesto Veiga Oliveira e Alberto Sardinha e de danças tradicionais açorianas, o espetáculo reflete sobre a saudade e a memória, sem se esquecer da importância da dimensão do coletivo, presente na devoção ao Espírito Santo.

Segundo Vasco Nogueira, o Espírito Santo permite abordar "o sonho de superação coletiva", em que uma sociedade baseada em valores como "a partilha e generosidade" permite que o Homem ascenda "a um patamar quase divino".

Para além da reposição, o GEFAC lança também o DVD sobre "De Novo Mar", com entrevistas às pessoas que participaram na sua construção, e com filmagens do espetáculo.

'De Novo Mar' insere-se também "numa campanha de solidariedade" para angariar dinheiro para a República dos Inkas e "dar visibilidade" a estas casas de estudantes, face "à necessidade premente de se alterar a lei do arrendamento para se proteger este património material e imaterial de Coimbra", afirmou Vasco Nogueira.

O espetáculo conta com a colaboração de Filipa Malva (cenografia e figurinos), Leonor Barata (coreografia), Eduardo Pinto (vídeo) e Jonathan Azevedo (desenho de luz).