'The Shape of Water' ('A Forma da Água') é o melhor filme do ano para a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos. Guillermo del Toro, de 53 anos de idade, natural de Guadalajara, coloca assim o México novamente no centro do mundo do cinema, perpetuando uma sucessão de vitórias iniciada em 2014 com Alfonso Cuáron e continuada em 2015 e 2016 por Alejandro González Iñarritu, ambos tendo conseguido os prémios de Melhor Realizador. Em apenas cinco anos, por quatro vezes um autor mexicano vê o seu trabalho galardoado com prémios principais nos Óscares.

O filme, recorde-se, conta a história de Elisa (Sally Hawkins), uma empregada de limpeza muda que trabalha num laboratório científico com fins militares, em Baltimore. Tendo como pano de fundo a Guerra Fria (o filme tem lugar em 1962), o coronel Stickland (Michael Shannon) leva para o laboratório uma criatura humanóide capturada no Amazonas para que os seus poderes sejam usados contra a URSS. No entanto, a inocente Elisa acaba por se aproximar do anfíbio, com quem desenvolve uma relação próxima, e vai tentar salvá-lo do que parece ser a inevitável dissecação. No laboratório, um dos cientistas (Michael Stuhlbarg) é também um espião russo.

Este romance fantástico carrega todas as características de um bom filme de Guillermo del Toro: um conto de fadas negro como veículo de dramas humanos, uma personagem central doce ao serviço de uma história trágica. Traços que vimos na obra-prima em forma de fábula história que é ‘El Laberinto del Fauno’ (2006), a primeira nomeação para Óscar do realizador (Melhor Argumento Original), e sem dúvida o pináculo da sua marca, que é o equilíbrio entre inocência e a escuridão.

‘The Shape of Water’ recupera o autor de ‘O Labirinto do Fauno’ (2006), entregue há algum tempo a projetos de outras aspirações, mais comerciais, embora não com a mesma eficácia do primeiro. Este filme era um projeto desejado há muito pelo realizador mexicano, uma espécie de homenagem ao clássico ‘O Monstro da Lagoa Negra’ (1954), mas que sofreu algumas mudanças de planos. Talvez, por isso, tenha resultado numa história melhor preparada.

Um surpreendente vencedor de Melhor Filme, sendo a fantasia um género que raramente se vê nesta categoria (mais nomeados nas categorias técnicas, como efeitos especiais ou som) e quando entra, regra geral, perde. ‘Lord of The Rings - The Return of the King’ era o único filme do género fantasia a conquistar melhor filme, em 2003, e falamos de um género que inclui ‘E.T. - The Extra-Terrestial’ (1982) e ‘The Wizard of Oz’ (1939), dois clássicos que se ficaram pelos Óscares técnicos, perdendo nas principais categorias.

De mais a mais, a longa-metragem de Guillermo del Toro descreve o romance entre um monstro e uma donzela, sendo que tanto um como outro não são nada tímidos em relação à sua sexualidade, uma combinação polémica de fantasia e filme para adultos que não entranharia, no papel, junto dos conservadores membros da Academia.

Veja abaixo o posicionamento de 'The Shape of Water' em relação a outros filmes com um elevado número de nomeações.

From its 13 nominations, 'The Shape of Water' took home four #Oscars https://t.co/oAR3hJQpXk Read more from #Oscars90 https://t.co/QJsAZOdGI6 pic.twitter.com/crB71vdPB1

— Reuters Showbiz (@ReutersShowbiz) 5 de março de 2018