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Cartas entre Fernando Lopes-Graça e Eugénio de Andrade viram livro

A correspondência entre o compositor Fernando Lopes-Graça e o poeta Eugénio de Andrade, "que marcaram indelevelmente a cultura portuguesa do século XX", é publicada em livro, numa edição e transcrição de Tiago Manuel da Hora.

Cartas entre Fernando Lopes-Graça e Eugénio de Andrade viram livro
Notícias ao Minuto

19:39 - 27/02/18 por Lusa

Cultura Edição

Lisboa, 27 fev (Lusa) -- A correspondência entre o compositor Fernando Lopes-Graça e o poeta Eugénio de Andrade, "que marcaram indelevelmente a cultura portuguesa do século XX", é publicada em livro, numa edição e transcrição de Tiago Manuel da Hora.

No prefácio, Tiago Manuel da Hora afirma que da troca de cartas entre estas duas personalidades "resulta um legado que funde a música e a poesia numa obra de referência".

Na opinião do investigador da Universidade Nova de Lisboa (UNL), "este diálogo 'postal', em constante toada de pergunta e resposta, acarreta em si mesmo muito mais do que a partilha de ideias e a cumplicidade artística entre os dois vultos".

A obra "Fernando Lopes-Graça e Eugénio de Andrade. O diálogo entre a música e a poesia [Correspondência]" é apresentada na quinta-feira, às 18:30, na FNAC Colombo, em Lisboa, numa sessão que conta com as participações do tenor Fernando Serafim e do pianista Nuno Vieira de Almeida.

Da colaboração entre Fernando Lopes-Graça (1906-1994) e Eugénio de Andrade (1923-2005) resultaram três ciclos de canções: "As Mãos e os Frutos", "Mar de Setembro" e "Aquela Nuvem e Outras", e ainda a canção "Nana".

O ponto central que estimulou esta "cumplicidade entre compositor e poeta reside no facto de [se estar] perante um músico conhecedor e divulgador na produção poética e literária do seu tempo, e um poeta para o qual a música e o som são uma presença essencial e condição inerente à vivência e fruição do texto poético".

A primeira carta data de abril de 1956 e nela Lopes-Graça dá conta ao poeta que não "atinou" no tom conveniente.

"Tenho vergonha de lhe confessar que o gostoso projeto de musicar algumas das suas lindas poesias de 'As Mãos e os Frutos' se gorou", escreve Lopes-Graça, referindo em seguida: "Nada de jeito me saiu da cansada inspiração".

"Não atinei com o tom conveniente para os seus versos ou então, o que me parece mais certo, estou liquidado como compositor", alvitra Lopes-Graça, que se despede do poeta com "um abraço amigo".

A composição deste ciclo foi terminada em janeiro de 1959 e é apresentado ao público em dezembro desse ano, interpretado por Fernando Serafim, a quem Lopes-Graça o dedicou, tendo a edição discográfica saído no ano seguinte.

Manuel Dias da Fonseca (1923-2015), amigo dos dois, foi quem lançou o repto ao compositor tomarense para criar um ciclo de canções a partir de "As Mãos e os Frutos" (1948).

Tiago Manuel da Hora refere que o ciclo "As Mãos e os Frutos" é marcado "por um recurso constante a formas exclamativas e quadros contemplativos [e] atmosferas muito bem potenciadas musicalmente por Lopes-Graça".

A este ciclo sucedeu "Mar de Setembro" (1962), que o musicólogo aponta como "uma obra de menor profundidade dramática, se comparada" com "As Mãos e os Frutos", considerando, todavia, Lopes-Graça, numa das cartas, que a "mão já estava um pouco feita" para os versos de Eugénio.

"Mar de Setembro", "onde impera um caráter mais celebrativo e efusivo", escreve Tiago da Hora, foi apresentado em estreia em fevereiro de 1963 na então Emissora Nacional, com interpretação de Fernando Serafim acompanhado ao piano pelo próprio Lopes-Graça, que voltaria a este ciclo e incluiu mais três canções. A sua edição discográfica, amplamente revista pelo compositor, saiu em 1975.

Entre os dois ciclos, Lopes-Graça compôs sobre um outro poema de Eugénio, "Nana" (1957), e em 1987 concluiu o terceiro ciclo de canções do poeta, "Aquela Nuvem e Outras".

Sobre este último ciclo, Lopes-Graça, confessa ao amigo e poeta: "Receio que as minhas canções não estejam à altura da simplicidade admirável dos seus versos. Perdoará mas eu não pude resistir". Tiago Manuel da Hora refere-se a ele como uma "fantasia e inocência jovial".

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