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A reflexão da Nova Companhia e o momento livre da bailarina Marlyn Ortiz

Um momento em que se sente livre, sem preocupações, foi como Marlyn Ortiz explicou à Lusa a sua atuação em "Cabarética", reflexão da Nova Companhia sob a forma de 'vaudeville', a estrear a 07 de fevereiro, em Lisboa.

A reflexão da Nova Companhia e o momento livre da bailarina Marlyn Ortiz
Notícias ao Minuto

14:36 - 27/01/18 por Lusa

Cultura Cabarética

"Personal trainer" de Madonna, bailarina profissional durante mais de 20 anos, Ortiz disse à Lusa que esta experiência com a Nova Companhia, no Teatro do Bairro, não é algo que lhe seja estranho, pois, ao longo da sua carreira, já fez espetáculos do tipo cabaret como este que a companhia põe agora em palco.

"Este espetáculo é feito em vários níveis, pelo que não se pode considerar um único 'show'", disse Marlyn Ortiz, com a sua pronúncia de Nova Iorque, e que agora reside em Lisboa, onde ensina 'pole dance' (dança de varão).

Espetáculos de burlesco não são, pois, um estilo que seja estranho à bailarina e coreógrafa, mas sim um género de que "gosta bastante", até porque "permite que a magia aconteça". "É como se algo nos incendiasse por dentro e tivéssemos de partilhar com os outros, para que a magia aconteça", frisou a bailarina.

"No momento em que encarno 'Lady M'" - a personagem que encerra "Cabarética", uma latina enérgica, sensual e provocadora, segundo o encenador Martim Pedroso - "não me questiono, não penso se estou bem ou pareço bem", diz Ortiz.

"Chego lá e transformo-me noutra pessoa, numa mulher que sai da sua bolha e que fica completamente livre, que celebra o corpo, o movimento, sem pensar se está ou não confortável naquela pele", ressalvou.

Lady M é, segundo Ortiz, alguém que "não se julga a si própria" e que "pouco se importa se a julgam".

Bailarina, coreógrafa, Marlyn Ortiz esteve em digressões de Madonna como "Re-Invention" (2004) e na mais recente "The Rebel Heart" (2015-2016), já como treinadora pessoal da criadora de "True blue" e "Like a prayer".

A personagem que agora encarna, Lady M, dá nome à terceira e última parte de "Cabarética", culminando uma sequência que abre com "Kiki" e segue com "Bas fond".

"Kiki" é a reposição de um texto de João Telmo, que a Nova Companhia já estreara, mas que agora modificou e que, desta vez, será interpretado por Carla Bolito, explicou o autor à agência Lusa.

"Embora a essência do texto se mantenha, Carla Bolito foi uma mais-valia e acrescentou muitos 'inputs' ao texto, pelo que acaba por ser também algo mais enriquecido", disse João Telmo sobre a primeira parte do espetáculo.

A peça inspira-se na vida de Kiki de Montparnasse -- Alice Ernestine Prin, conhecida como Kiki ou rainha de Montparnasse -, uma modelo, cantora de 'boîte', atriz e pintora, apresentada como "incontornável personagem da burguesia parisiense nos anos de 1920 e 1930".

"Bas Fond", que se segue na sequência do espetáculo, é um texto a duas vozes criado por João Telmo e Martim Pedroso, para ambos interpretarem, como se fossem dois palhaços esquecidos na noite, a levantarem questões sobre o mundo, no intuito de rirem e chorarem com o público - em Lisboa, Nova Iorque, Paris ou onde quer que seja.

Esta parte terá cada dia um convidado diferente e é também uma oportunidade para a Nova Companhia, coletivo de artistas criado em 2013, se questionar sobre "o trabalho que tem desenvolvido, o seu futuro, sustentabilidade, que legado pode deixar", disse Martim Pedroso.

Uma reflexão "em forma de cabaret, mas uma forma de levantarmos questões sobre nós próprios enquanto companhia", frisou o ator e encenador que também tem trabalhado com estruturas como o Teatro Praga, Materiais Diversos, Espaço Tempo ou o festival Alkantara.

Juntar estes três espetáculos num único foi assim a forma por que a Nova Companhia optou, pois todos gostam muito do formato cabaret e da expressão burlesca, além de ser "uma forma agradável de começar o ano", acrescentou.

Retomaram, então, "Kiki", por considerarem merecia ter mais visibilidade e maior carreira do que a que teve, à qual acrescentaram "Bas fond".

A 'performance' de Lady M surgiu mais tarde, explicou Martim Pedroso, depois de ter conhecido Marlyn Ortiz, por mero acaso, na Lx Factory.

"Tomámos um café, conversámos e como eu vi aulas dela e fiquei apaixonado pela energia e a força do seu movimento, decidimos convidá-la para participar para peça e ela aceitou", referiu.

E a colaboração não vai limitar-se a "Cabarética", já que Marlyn Ortiz colaborará também com "Filosofia na alcova", espetáculo a partir do livro homónimo do Marquês de Sade, que a Nova Companhia conta levar à cena em novembro, revelaram João Telmo e Martim Pedroso à Lusa.

"Agora começámos a colaborar, agora não nos param", disse Martim Pedroso, meio a brincar. "Com todo o gosto", completou a bailarina norte-americana, que entrou em produções da Broadway e da 'off Broadway', como "Tarzan", da Disney, "Fuerza Bruta", de Diqui James, e "De La Guarda", da companhia de novo circo.

"Cabarética" tem por objetivo "ser libertador em relação ao institucional e constrangedor que habitualmente se associam ao sistema", concluiu Martim Pedroso, que está na fundação da Nova Companhia.

Martim Pedroso tem em "Marcac¸o~es para um Crime" (2005), "Seres Humanos" (2007), "Purgato´rio" (2009), "Penthesilia, danc¸a solita´ria para uma heroi´na apaixonada"(2012), algumas das suas produções em cerca de 20 anos de carreira.

João Telmo encenador, realizador, ator e figurinista, formou-se na Royal Central School of Drama, em Londres, trabalhou com encenadores como Ruthie Osterman e Leah Bachar, no The Living Theatre, assinou espetáculos como "Vanitas" (2013), "Montparnasse" (2014) e "O Homem" (2016).

"Cabarética", homenagem ao 'vaudeville', vai estar em cena de 07 a 25 de fevereiro, no Teatro do Bairro, de quarta-feira a domingo, às 21:30.

Com texto de João Telmo, co-responsável com Martim Pedroso pela conceção e direção, "Cabarética" é interpretada por ambos, Carla Bolito e Marlyn Ortiz que, com Paulo Duarte Ribeiro, deu apoio ao movimento.

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