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Nova obra de Andreia Pinto Correia inspirada em poema de Hart Crane

A compositora portuguesa Andreia Pinto Correia estreia, no sábado, a primeira obra criada para quarteto de cordas, inspirada no poema 'The Bridge', do poeta nova-iorquino Hart Crane (1899-1932), por sua vez dedicado à ponte de Brooklyn.

Nova obra de Andreia Pinto Correia inspirada em poema de Hart Crane
Notícias ao Minuto

20:32 - 26/01/18 por Lusa

Cultura Compositores

Interpretada pelos norte-americanos JACK Quartet, a estreia de 'Quarteto para Cordas n.º1 - Espaço por Conquistar', encomendada pela Fundação Calouste Gulbenkian, está marcada para as 18:00, integrada no Festival dos Quartetos de Cordas daquela fundação.

O poema épico que inspirou Andreia Pinto Correia, publicado em 1930, foi o único longo de Crane, autor que pertenceu à chamada 'Escola de Nova Iorque', que marcou a poesia norte-americana no século XX, e inspira-se na ponte de Brooklyn, perto de onde mora a portuguesa.

O poeta via Nova Iorque e a ponte "como símbolo não só da América como do mundo, da poesia, da arte", "de tudo o que admirava, do sonho americano à descoberta, a desilusão ou a parte menos positiva da modernização", explicou à Lusa a compositora.

"Quando li o livro, identifiquei-me bastante com essa visão do Crane, ao mesmo tempo poética, musical, dramática, num épico muito denso, com simbologia, mitologia. É um texto muito rico, uma rede e um labirinto de associações e alusões", acrescentou.

A ideia de escrever o primeiro quarteto de cordas surgiu "há quatro anos, em conversa com Risto Nieminem", diretor do serviço de música da Gulbenkian, e ganhou força depois da amizade que mantém com o grupo norte-americano, que vai interpretar a obra.

Para Andreia Pinto Correia, escrever para um quarteto de cordas é "mais limitado", mas é "um desafio e uma prova de fogo", por ser num formato a que não está habituada.

"Não é um 'médium' a que esteja habituada, mas, ao mesmo tempo, redescobri a parte de mim como compositora que talvez não descobrisse se não escrevesse esta obra. Isso para mim é bastante importante, para perceber que estou a evoluir", explicou.

Durante a composição, "quanto mais escrevia mais gostava", depois do impacto "refrescante" que levou a "descobrir novas formas de escrita, de pensar, de abordagem em relação aos instrumentos", razão pela qual já pensa num segundo.

Apesar de ter ficado "surpreendida" por ter "gostado tanto do desafio", um dos fatores que ajudou à escrita foi a possibilidade de "escrever para este quarteto de nível tão bom", com quem mantém, de resto, uma amizade.

"Há uma certa intimidade em termos de escrita com eles, porque os conheço tão bem. Já tocaram em minha casa, quando fazemos concertos e noites musicais. É um luxo", atirou.

John Richards, membro e fundador do grupo, contou à Lusa que "Andreia esteve em todos os concertos do quarteto em Nova Iorque durante um ano". "É possível que entenda a nossa forma de tocar melhor do que nós", acrescentou o músico.

Quanto à peça que vão estrear em Lisboa, em quatro andamentos, cada um dedicado a um dos elementos do quarteto - o que também significa a cada um dos instrumentos - e a partes do poema de Crane, Richards descreve-a como tocando nos interesses da banda, pela "virtuosidade rítmica e intriga harmónica".

Além da peça de Pinto Correia, o programa inclui ainda 'Tetras', do grego Iannis Xenakis, uma encomenda da Gulbenkian de 1983.

A obra de Xenakis foi "a primeira peça que o JACK interpretou em conjunto, em 2005", e também a que mais frequentemente tocam. "'Tetras' tem o equilíbrio perfeito entre ser virtuoso, 'avant-garde', experimental, e totalmente cru. Tudo o que amamos", descreveu.

O programa termina com uma "obra extraordinária" de Georg Friedrich Haas, de 45 minutos, com a sala "em obscuridade total, tanto para público como músicos".

Quanto ao trabalho com Haas, John Richards destaca o 9.º Quarteto do austríaco, composto especificamente para o grupo, numa obra que cria "uma experiência nada usual para os músicos e uma experiência auditiva espetacular para a plateia", que tem um minuto de adaptação ao escuro, antes do início da interpretação.

"Tocar no escuro é um pouco desorientador. Por vezes, não sei exatamente onde estão as cordas. Ouvimo-nos muito mais intensamente no escuro, por isso talvez devêssemos tocar tudo com as luzes desligadas", considerou.

Para já, e depois da estreia na Gulbenkian, a compositora portuguesa está "a acabar uma encomenda para a League of American Orchestras", intitulada "Ciprés", com estreia marcada para o Ohio Theater, em Columbus, a 06 de abril, interpretada pela Orquestra Sinfónica de Columbus, conduzida pelo maestro Rossen Milanov.

"É uma peça para orquestra, de 15 minutos, que vai estar inserida num contexto muito diferente. Vai ser tocada com o Concerto para violino, de Jean Sibelius, pela solista Jennifer Cole, e a 'Symphonie Fantastique', de Berlioz", revelou.

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